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Sim, o “agro” é o vilão do colapso climático
Se nada for feito, temperaturas no Brasil crescerão acima da média global. Secas e inundações serão mais frequentes. E virão crises sociais, urbanas e sanitárias, com milhões de “refugiados do clima”. Enquanto isso, o ruralismo continua com “salvo-conduto” para devastar.
https://outraspalavras.net/terraeantropoceno/sim-o-agro-e-o-vilao-do-colapso-climatico/
Olá,
Tem histórias que surpreendem até mesmo os jornalistas que as contam. Esse é o caso da fazenda que mais pegou fogo no Brasil.
Foi assim: começamos investigando a relação entre focos de incêndio e fazendas. Isso porque já tínhamos descoberto que, em São Paulo, a maioria das queimadas aconteceu dentro de terras particulares. Você deve se lembrar do mês de agosto, quando incêndios arrasaram o interior do estado.
Será que a mesma situação estava se repetindo nos estados do Centro-Oeste ou do Norte?
Cruzamos dados e nos surpreendemos: uma única fazenda despontava como o recorde de queimadas. Foram 608 focos detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desde o início do ano. A segunda fazenda que mais teve incêndios no mesmo período registrou 290 – menos da metade.
Mas que lugar era esse?
A fazenda no caso se chama Bauru, também conhecida como Magali. Ela é enorme. Muito maior que o centro de Colniza, município do Mato Grosso, quase na divisa com o Amazonas, onde fica a terra. Para você ter uma ideia, ela é maior que a área da cidade de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais.
Junto ao meu colega, Gabriel Gama, com edição da Giovana Girardi, descobrimos que o lugar é palco de uma briga judicial. Isso porque uma dupla bastante peculiar fez um acordo de compra da terra em 2012: o ex-governador Silval da Cunha Barbosa (MDB), condenado a seis anos por corrupção e lavagem de dinheiro, e o ex-deputado José Geraldo Riva (PSD), condenado a 26 anos de prisão por desvio de recursos públicos.
Uma investigação policial apontou que o dinheiro para comprar a mega fazenda — ao todo seriam R$ 18,6 milhões — também seria fruto de corrupção. No caso, parte da grana teria sido repassada por frigoríficos do Grupo JBS, da Marfrig e de outras empresas como propina em troca de benefícios de isenção fiscal durante a gestão de Barbosa.
Para piorar, descobrimos que a fazenda já foi palco de um “dia do fogo”. Isso é, de uma arquitetação criminosa para queimar terras. Em 2022, uma operação policial descobriu um plano para provocar queimadas coordenadas em vários pontos de Colniza.
Ah, e antes, em 2019, a empresa responsável pela fazenda Bauru foi multada em R$ 4 milhões pelo Ibama por destruir mais de 540 hectares de vegetação com uso de fogo.
Como diz o ditado, onde tem fumaça, tem fogo - em Colniza, o reverso também é verdadeiro. As queimadas na fazenda Bauru ajudam a colocar o município no topo da quantidade de focos de calor em Mato Grosso em 2024. A baixa qualidade de ar aumentou a procura por atendimento médico nas unidades de saúde em setembro, sobretudo crianças e idosos, segundo relatou o G1.
Mas enquanto a população de Colniza sofre, apuramos que não há nenhuma menção de combate ao fogo ou ao desmatamento no plano de governo dos candidatos à prefeitura local apresentado ao TSE. Antes o contrário: as propostas vão mais no sentido de flexibilizar regras ambientais. O atual prefeito, Milton de Souza Amorim, do União Brasil, fala em coibir o excesso de força em ações da Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso e do Ibama.
É isso. A fazenda que pega fogo no Mato Grosso tem relação com a fumaça que atrapalha a vida de quem mora em Colniza, em São Paulo, e que pode ser vista até do espaço. Mas também tem relação com as eleições, com o que os políticos prometem e com o que ignoram.
E foi justamente por isso que apuramos essa história. Todos os repórteres da Pública estão dedicados a olhar para as eleições sob a ótica urgente das mudanças climáticas.
Além de São Paulo e Brasília, onde ficam as redações da Pública, nossos repórteres visitaram os estados de Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Pernambuco, e, em breve, trarão histórias inéditas dessas localidades.
Nossa equipe também está percorrendo a BR-163, entre os estados do Mato Grosso e Pará, para investigar como o tema das mudanças climáticas vem sendo discutido nas eleições municipais da região marcada por conflitos e desmatamento, com cidades que registram grande adesão ao bolsonarismo.
Mas fazer jornalismo independente pelo Brasil custa caro. A Agência Pública só consegue garantir apurações como essa com o apoio dos nossos Aliados. Por isso, te convido a somar na nossa cobertura do Clima das Eleições. Com menos de 1 real por dia, você financia cerca de 30 reportagens por mês. Junte-se a nós por mais informação de qualidade!
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