sábado, 5 de outubro de 2024

Meditação pastoral do Pe. Anderson Gomes para este momento de eleições em Sergipe e no Brasil.

 VIVA LA VIDA, mesmo com todas as forças econômicas, culturais e políticas em contrário. 

Geração de Inumanos. Vi a entrevista do Roda Viva segunda com a ministra Cármen Lúcia, ela com requintes de Adélia Prado e Aleijadinho falava de quatro desafios que a Corte enfrenta em termos de volume e intensidade das informações e dos fatos no cenário atual. São eles: volume, velocidade viral e verossimilhança. E alargava eu e trazia isso pra vida num todo, pensando comigo. A geração pós coca-cola não mais se contenta com o fático, ou seja, não precisa se comprovar algo ou qual sua pretensão para vir a consequência da atitude. Queremos viver sem leis, ou não medimos as nossas atitudes. Porque eu sou a medida da minha lei. A sociedade do volume sem medida é flácida e destrutiva. A velocidade da violência e da desumanidade encanta os seres que deveriam se tornar mais humanos e éticos, inclusive. Fico me perguntando como num País como o nosso, que bebeu da vida de Cristo, humano demasiadamente humano, caiu na arte da guerrilha em nome de Jesus? 

Concluo que um falso Cristo e uma falsa cidadela fundamentou os ritos e cultos e discursos no Brasil. Estamos meu bem por um triz, pro dia nascer feliz!”, cantava eu, cantava Frejat, o Barão vermelho e canta Dolores Duran (ela que cantava o amor e seus mistérios). Cantava Luiz Gonzaga e o abc dos sertanejos, e dizia ele, anos atrás, como um profeta da poesia e do Brasil — agora em chamas: cuidem dos rios e dos mananciais, das florestas; um nordestino poético e utópico. Quanta mentira contam aos meninos e meninas de hoje! Uma geração que não suporta uma noite de frio, repleta de grandeza, mas falta a coragem de se abraçar e abraçar o próximo, o Rosto humano de Deus, de Maria e José. Mentiras contadas em contraposição à cidadania e ao respeito ao diverso. Mentira que leva à desumanidade, à negação da Constituição e seus valores. Mentira que gera personalidades formatadas para matar. E isso à luz do dia, não meditando que a nossa casa nunca estará protegida se a gente alimenta o mal, mesmo na discrição da noite. A vida é trem bala, parceiro! A vida não engana ninguém! Ela devolve sempre a resposta que fizermos, seja para o bem, seja para o mal. Num mundo narcotizado pelo viral, o 'crack' da moda é a notícia falsa, nos alimentamos do ocaso do dia até a noite, quando a paz nos deveria visitar e a noite cintilar descanso; a gente gasta energia fixados nas telas que consomem nossa energia vital, passamos a noite repassando mentiras programadas e feitas pelos homens incivilizados e inumanos, que não pensam nas consequências das sua inteligência artificial. Um lado obscuro do nosso ser deseja a morte do outro, não sabendo nós que isso é o nosso fim. 

A geração viral é alucinógena e sem volta. Viramos tribais dentro da nossa casa, não conseguimos identificar a nossa mãe e o nosso pai, pois os nossos ídolos não só são mais os mesmos, eles são idênticos, verossimilhantes, indagam nossa finitude e a nossa dimensão real da vida. 

Como viver numa sociedade que não lê? Não pesquisa? Não respeita? Não inclue? Como viver numa sociedade que precisa de redes sociais — não para informar, sociabilizar e humanizar as futuras gerações, mas para dominar e desinformar? Nossas crianças não mais sabem pegar no lápis e desenhar o futuro delas. Igrejas e Instituições estão insalubres, a política se tornou coisa macabra e sádica! Candidatos de todos os lados ensinando a população a ser incivilizada. A política para os gregos era arte do bem governar, com suas nuances contraditórias e seus limites. Estamos chegando para mais um momento decisivo para nossos Municípios. E sua cidadania e seus parlamentos? O que temos para meditar? Quem escolher? Como escolher? É um desafio! E cada um segue sua consciência, sacrário íntimo e inviolável, e que pode estar corrompida pelos três V’s da poética ministra do STF. Gente do tipo dela está quase em extinção! É dela que nós precisamos. Uma mulher que chega à Corte máxima do País, filha das Minas Gerais e com a civilidade e honestidade intelectual. Precisamos de humanos assim nos parlamentos e Igrejas, nos Supremos e nas favelas. 

Reconhecer o valor do outro, aplicar bem o recurso público, não fazer dogmatismos vazios em nome de Jesus de Nazaré e de uma fé, seja ela qual for, não querer usurpar leis em nome de si (Isso é um vírus que está em todas as camadas sociais, e precisa parar!) são situações que descrevem o ser o humano político de verdade.  

Gosto de meditar sobre a vida e sonho com dias melhores. Em 5 de Outubro completamos 36 anos da promulgação da Constituição de 1988 e, no dia 06 de outubro, vamos às urnas. Será um dia para escolher os nossos prefeitos e vereadores. Data magna e necessária para sairmos da lama e do sufoco. 

Como monopolizaram Deus em nome da falsa política, meditarei bastante antes de ir às urnas. Os civilizados e humanizados merecem nossa atenção e pesquisa de programas de governos. Quem não defende Estado Laico e respeito à Constituição, não merece nosso voto. Quem quer implantar doutrina religiosa, seja de qual ordem for, não merece nosso voto. Geralmente essas pessoas são oportunistas do sentimento religioso das pessoas e das suas carências, que são tantas!

Outro dia escrevi algo que vale para esses dias: o poeta pode morrer só, nunca na solidão! 

Bom voto! E viva à Democracia! 

Pe. Anderson Gomes 

Pároco na Igreja São Pedro Pescador - Arquidiocese de Aracaju


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