Um autodidata, um colecionador de relíquias, nos bastidores do audiovisual de Sergipe.
José Evangelista dos Santos (VANGE) nasceu em Penedo – Alagoas, há 60 anos. Vindo com a família para Sergipe ainda criança, completando agora 40 anos de profissão no audiovisual em Aracaju. Começou como contratado do SESC em serviços gerais, para dar cobertura ao meu pai que ali trabalhava na época e já se sentia cansado. Foi quando o SESC teve interesse em que eu aprendesse trabalhar em outras áreas. Então Assistente Social do SESC, responsável pela programação cultural na época, Ana Virgínia Araújo o convidou para trabalhar com sonorização, atendendo atividades do SESC na hora do almoço e final de semana no SESC do Siqueira campos, sábado e domingo para os comerciários. Fiquei um tempo na limpeza e passava duas horas no áudio, meu chefe era seu Mendes. No horário do intervalo de meio dia ia aprender.
Aprendi sobre o áudio. Foi então que surgiu o VHS o audiovisual e o SESC Nacional deu uma câmera ao SESC de Sergipe. Uma câmera acoplada com o cabo e o videocassete. Tinha cabo de 3 m e de 10 m. Ligado na energia. Nada de bateria ainda. Era uma câmera Sharp. Na rua ligava no poste ou numa loja, pedindo a alguém. Depois veio a outra câmera mais moderna, que o SESC adquiriu aqui em Aracaju, com a minha indicação e eu fiz um treinamento pra trabalhar com ela. Depois fiz cursos no SESC de Petrópolis, Paraíba, Salvador e São Paulo, por volta de 1984. Comecei então a trabalhar fazendo as primeiras gravações com o “Domingão do SESC” que era na unidade do Siqueira Campos. Daí em diante tudo do SESC era gravado.
Muita coisa hoje faz rir pela simplicidade e precariedade, mas foi tudo gravado. Depois o SESC passou e desenvolver projetos de apoio a grupos de teatro de Sergipe e então gravei espetáculos de 3 grupos. Imbuaça, Mamulengo de Cheiroso e o Grupo Teatral Mambembe. Saí do SESC e fui trabalhar na TASVIDEO e depois em 2010 montei minha Produtora. Hoje vivo desse trabalho e multiplico os conhecimentos formando outras pessoas nessa área, no serviço de publicidade.
O SESC apoiou o Grupo Teatral Mambembe de Sergipe, no ano de 1986 e me incumbiu de gravar a peça do Grupo “Quem Matou Zefinha?” na filmagem foi utilizada apenas uma câmera muito boa, uma Camcord da Sharp. Precária para o uso profissional na época, mas que para o trabalho de amador e de registro dava muito bem. Ela era usada no ombro e também em tripé. Durante a filmagem muitas imagens foram capturadas no ombro, sobre um praticável, que dava imagens aéreas e no tripé também. A gente fazia capturas panorâmicas, aéreas, Podia fazer movimentos para ter a melhor cena, facilitando a compreensão da peça para quem assistisse a gravação. Acompanhando e dando a melhor visibilidade para o público. Aquele zoom, eu usava a câmera num tripé pois se botasse a câmera no ombro, como estava distante da cena se botasse no ombro a imagem podia ficar balançando muito então pra dar estabilidade era melhor usar o tripé. Para que a imagem ficasse fixa e de boa qualidade. O zoom dessa câmera para a época era muito moderna. Era uma câmara 8X. Mas não tinha o zoom manual. Era zoom automático. Você controla o zoom na câmera, tem uma velocidade. Do mínimo ao máximo. Apertando, pressionando o botão vai acelerando, controla no dedo aperta o botão ele vai acelerando como se fosse um motor pra pegar a rotação. Você pode fazer ele rápido. Se pressionar com força, o zoom é mais rápido. Uma pressão do dedo mais leve, o zoom é mais lento.
Iniciei meus trabalhos em VHS e depois passei a utilizar outra câmera Sharp, que para fazer uma gravação tinha de levar junto com a câmera, além dos cabos, o aparelho de vídeo-cassete. A edição era muito louca. Com 2 vídeos cassete, com a fita gravada em um vídeo e a fita virgem em outro vídeo. Era uma edição caseira. Mas eram muitas limitações. Vejam que para fazer os cortes era muito complicado. Pois tinha de apertar o botão dando um espaço de contra até 9 para o equipamento começar a gravar a cena. Isso todas as vezes que fazia um corte. Isso era um macete. Eram algumas tentativas para dar certo o corte. Foi difícil, mas foi prazeroso. A legenda era feita em cartaz. E subia com a câmera pra simular uma rolagem na tela.
A minha equipe era apenas duas pessoas eu e José Lino Souza. Ele ficava encarregado mais da parte sonora. Mas gravava também. O nosso setor era de som e vídeo. Quando era acompanhamento de filmagem ele ficava com o som e eu ficava com o vídeo. Tenho hoje os equipamentos de quando eu comecei a minha carreira, minha trajetória. Tenho pra mim que o que a gente compra pra ganhar dinheiro não deve se desfazer, vender. Se já está obsoleto, deixe guardado. Apenas me desfiz de pouca coisa, visando adquirir outros mais atuais. Mantenho o equipamento deixar ele morrer por ele mesmo. Tenho muitos aí que tá funcionando ainda. O mais antigo é o VHSC, tenho, VHS, Hi8. Guardo suportes e mídias.
Eu fazia tudo com apenas uma câmera, um tripé uma bateria e a fita. Hoje para fazer um trabalho similar levo um caminhão de equipamentos, e no mínimo 5 pessoas pra fazer um trabalho como esse. Mas hoje uma equipe costuma ter 4 cinegrafistas, 4câmeras, um produtor, 3 assistentes, um motoristas, um iluminador com 3 assistentes que têm também mais 3 assistentes, isso para um filme comercial.
Tenho câmeras, fitas e aparelhos de vídeo. As mídias procuro guardar sempre em lugar livre do mofo. Em caixas de isopor. Tenho um armário apropriado que é uma pequena estufa. Os equipamentos eu procuro sempre de 3 em 3 meses fazer uma limpeza. Dar aquele banho de óleo WD, limpo cabeças de vídeo, aprendi limpar com papel ofício que não solta resíduos nem fiapos. Mas tem um couro, um tecido apropriado. Mas mantenho com o papel. Tenho um acervo formado não por carcaças mas equipamentos vivos que ainda funcionam. Funcionam as câmeras, e os aparelhos de reprodução. Guardar é preservar, dar manutenção, não é guardar num armário. Se tivesse uma instituição eu confiaria meu acervo sim. Meu sonho era um dia fazer um museu com meus equipamentos. Quando um dia fui fazer uma matéria na TV Aperipê vi que lá havia um grande acervo de equipamentos da emissora. Me interessei elo assunto e veio o desejo de fazer um museu com minhas relíquias, onde eu seja o curador, pegando equipamentos de outros produtores, mantendo o equipamento vivo. Não sei se os equipamentos da Aperipê ainda existem. Mas esse é um assunto de grande interesse.
Eu parei os estudos quando conclui o meu segundo grau. Não priorizei o estudo, mas valorizei em minha vida o aprendizado. Só 10 anos após de me iniciar como autodidata no audiovisual é que chegou na Universidade Federal de Sergipe – UFS o Curso de Radialismo e Televisão.
Eu aprendi fazendo. Eu sou cinegrafista, sou editor, faço eletricidade e faço hidráulica. O Cinema eu comecei também pelo SESC. Aprendi projetar em 16mm no CULTART da UFS com Djaldino Mota Moreno. Vivo o universo da prática do audiovisual. Através do SESC fiz treinamento com muita gente de fora de Sergipe, a exemplo do Roteirista e Crítico de Cinema Rubens Ewald Filho (1945-2019).
Não continuei com o cinema por não dar retorno de sustentação. Cinema dá troféu, mas aqui não dá dinheiro. Meus troféus são meus equipamentos. Escolhi a publicidade porque a prestação de serviço nesta área sempre foi mais promissor, dá pra sustentar a família.
Aprendi e busco acompanhar o avanço da tecnologia. Aprendi estudar as novas tecnologias e me adaptar aos avanços dos equipamentos. Saí do VHS fui para o MniDV, estudei o equipamento e o formato, comprei equipamento e me procurei me adequar a ele, fui pra o HD, a mesma coisa. Do HD fui para o FULL-HD e ainda continuamos. Hoje a gente tem o 4k e 6k então estou trabalhando com o 6K. O equipamento é praticamente o mesmo, mas com maior qualidade. Estou fazendo do FULL HD até o 6k.E as câmeras têm mais funções. Exige conhecimento técnico e muito estudo. Faço produção e outras funções. Faço transmissões ao vivo. O uso da internet trouxe mais qualidade àsu transmissões. Hoje faço captação, edição e transmissão. Agora estou trabalhando com uma Câmera Blackmagic Poket 6K-Pro. Estamos indo para a 8K, em breve terei também. Sigo fazendo mídia e criando novos profissionais.
Depoimento concedido ao blog da cultura.
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