Ariano Suassuna (Wikimedia Commons)
O escritor Ariano Suassuna fala sobre a aula-espetáculo que apresentará
nesta quarta-feira (20/3), às 18h30, no Centro de Convenções Brasil 21,
em Brasília, durante a I Conferência Nacional de Desenvolvimento
Regional, promovida pelo Ministério da Integração Nacional.
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Brasília - Por cerca de uma hora, o
escritor paraibano Ariano Suassuna prendeu a atenção do público durante
palestra, nessa quarta-feira (20), na 1ª Conferência Nacional de
Desenvolvimento Regional, em Brasília. O autor de uma série de romances,
entre eles Auto da Compadecida,
valorizou a cultura brasileira, divertiu o público com histórias que
viveu e ouviu pelo país e reivindicou o Brasil como berço de sua própria
manifestação cultural.
“Os jesuítas trouxeram uma contribuição maravilhosa ao teatro, mas
quando aqui chegaram, já encontraram o teatro. Já encontraram uma
música, uma dança. A cultura brasileira vem de muito antes do ano de
1500”, disse à plateia, que teve a presença do presidente em exercício,
Michel Temer, e dos ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra
Coelho, e da Aquicultura e Pesca, Marcelo Crivella. A conferência tem
por objetivo discutir a reformulação da Política Nacional de
Desenvolvimento Regional.
O ocupante da Cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras, 85 anos,
tratou de uma série de assuntos, como religião, sua paixão pelo circo e o
medo de viajar de avião, sempre com bom humor. “Uma vez, uma moça me
recebeu no aeroporto e disse professor, a viagem foi boa?. Eu disse:
minha filha, eu não conheço viagem de avião boa. Só conheço dois tipos
de viagens de avião: as tediosas e as fatais. Avião é uma coisa tão ruim
que a gente reza para a viagem ser tediosa”.
Suassuna mostrou fotos antigas de cantadores nordestinos e de uma cena
de teatro indígena, com a riqueza cultural do país, muitas vezes
esquecida, segundo ele. “Machado de Assis dizia que no Brasil existem
dois países, o oficial e o real. Todos nós somos criados, formados e
deformados pelo Brasil oficial. Mas a gente tem que olhar para o Brasil
real. Foi o que fiz no Auto da Compadecida, olhei para a literatura do povo brasileiro e procurei me manter fiel a ela”.
Antes de encerrar, Suassuna criticou a falta de referência ao próprio
país nas universidades. Lembrou que, ao falar para estudantes de nível
superior, todos conheciam o filósofo alemão Immanuel Kant, mas ninguém
conhecia Matias Aires, filósofo brasileiro e contemporâneo de Kant. “A
universidade brasileira ensina de costas para o país e para o povo. Eles
todos já ouviram falar em Kant, mas não em Matias Aires, o maior
pensador de língua portuguesa do século 18. A gente não dá importância a
um pensador da qualidade de Matias Aires”.
O escritor leu para o público um texto de Matias Aires: “Quem são os
homens mais do que a aparência de teatro? A vaidade e a fortuna governam
a farsa desta vida. Ninguém escolhe o seu papel, cada um recebe o que
lhe dão. Aquele que sai sem fausto nem cortejo e que logo no rosto
indica que é sujeito à dor, à aflição, à miséria, esse é o que
representa o papel de homem. A morte, que está de sentinela, em uma das
mãos segura o relógio do tempo. Na outra, a foice fatal. E com esta, em
um só golpe, certeiro e inevitável, dá fim à tragédia, fecha a cortina e
desaparece”.
Edição: Graça Adjuto
- Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
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