“Esse Papa encontra uma cúria desmoralizada”
O teólogo Leonardo Boff fala sobre o futuro da Igreja e a escolha do novo Papa
Fonte: Portal CMais
15/03/13 15:46 - Atualizado em 19/03/13 00:20
O Roda Viva entrevistou no dia 18 de março o teólogo Leonardo Boff.
Entre as pautas que nortearam o programa estavam a eleição do Papa
Francisco, o futuro da Igreja enquanto instituição e a conturbada
relação com Bento XVI, responsável por conduzir um processo que proibiu
Boff de falar em público, dar aulas e publicar textos durante um ano.
O teólogo falou com grande esperança sobre o novo Papa, como se o
conhecesse profundamente. Homem cristão, simples e de caráter foram
algumas das qualidades que destacou sobre Francisco. Para Boff, ele está
inaugurando o terceiro milênio. “um estilo novo para honrar o seu
inspirador que foi São Francisco de Assis. Vivendo um evangelho que
nasce de baixo. Com elementos muito significativos”.
Uma espécie de líder cristificado? Para o teólogo, o novo Papa vai
lutar por uma igreja dos pobres para os pobres. Uma igreja que fará
justiça, que veio para os oprimidos. Um Francisco, Papa, mas sem
vaidades, preocupações com as aparências e que é adorado nas regiões
periféricas. Ele que antes foi o cardeal argentino Jorge Mario
Bergoglio, agora assume o nome um frade, que ficou conhecido pela sua
simplicidade, imitador de Cristo.
“Para mim, São Francisco significa o sentido da igreja. Esse Papa
encontra uma cúria desmoralizada”. Segundo Boff, a igreja foi atingida
na sua essência e vem se perdendo força. O novo Papa simboliza a
renovação da esperança de um novo tempo. No entanto, a modernidade pode
ser um grande problema para Francisco, que é contra as pílulas
anticoncepcionais, o aborto e foi militante contra o movimento LGBT na
Argentina. Ainda assim, o teólogo acredita que na posição de Papa
colocará essas questões em discussão.
Outro assunto que pode surgir e até surpreender é o intocável celibato.
Uma questão polêmica, mas que é evitada pela igreja. De acordo com
Leonardo, essa pode ser uma forma de resolver problemas ministeriais
como a falta de padres. Boff defende que essa não deveria ser uma
condição imposta para servir a igreja e sim uma opção do padre. “Quer
que o padre seja mais humano? Então deixa ele se casar”. O teólogo
destaca ainda que muitos padres têm vida dupla porque não aguentam o
celibato. “A sexualidade é uma força vulcânica”.
Leonardo é um grande nome da teologia da libertação, uma filosofia que
une marxismo e catolicismo. Deu aulas em diversas faculdades do Brasil e
do mundo, além de escrever mais de 60 livros. Por sua postura liberal,
Boff foi julgado e até condenado pela Igreja. Ameaçado de novas
punições, abandonou definitivamente a batina em 1992. Mesmo assim
continuou próximo do cristianismo.
Apresentado pelo jornalista Mario Sergio Conti, o Roda Viva ainda
teve a participação do cartunista Paulo Caruso e contou com os
seguintes entrevistadores para esta edição: Roldão Arruda (repórter de
política do jornal O Estado de S. Paulo), Ricardo Kotscho (comentarista do jornal da Record News, editor do blog Balaio do Kotscho e repórter especial da revista Brasileiros), Maria José Rosado (presidente da ONG Católicas pelo Direito de Decidir), Reinaldo José Lopes (repórter de ciência do jornal Folha de S. Paulo) e Sandra Duarte de Souza (doutora em Ciências da Religião).
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