Brasília – Agricultores, ferreiros e marceneiros do Semiárido que
tenham desenvolvido estratégias inovadoras para enfrentar os impactos da
estiagem e garantir a permanência na região podem entrar em contato com
o Instituto Nacional do Semiárido (Insa) para cadastrar a iniciativa. O
órgão, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, está
mapeando tecnologias sociais que possam ser disseminadas e usadas por
outras famílias.
O projeto estava previsto para começar em março, conforme informou a Agência Brasil
no ano passado, mas foi antecipado. Desde janeiro, foram identificadas
12 estratégias: duas para plantio, duas para armazenamento de água e
oito de apoio à produção.
Com custo de fabricação entre R$ 10 e R$ 1.600, as tecnologias usam
principalmente material proveniente de descarte e mão de obra local.
O agrônomo João Macedo, pesquisador do núcleo de desenvolvimento de
tecnologias sociais do Insa, ressaltou que as experiências não constavam
de nenhum cadastro, o que reforça a ideia de que há inúmeras
tecnologias desenvolvidas a partir das demandas do dia a dia na região
que podem ser fomentadas e difundidas.
“Existem muitas experiências exitosas que são conhecidas e usadas
apenas localmente, por uma comunidade específica. Precisamos conhecê-las
e dar-lhes visibilidade, porque elas têm cumprido um papel muito
importante para fixar o agricultor no campo, na medida em que melhora
suas condições de trabalho e de produção”, disse, acrescentando que o
reconhecimento da tecnologia contribui para a valorização de quem a
desenvolveu.
Segundo Macedo, uma das iniciativas catalogadas é do ferreiro Rogério
Araújo, do município de Caturité (PB). Por meio da reciclagem de peças
danificadas de tratores, como o disco de grade de aração, ele constrói
um enxadão, usado pelos agricultores para capinar ervas espontâneas e
para recolher o estrume de animais do curral e levá-lo para o roçado,
onde o material orgânico funciona como adubo.
“O artefato tem baixo custo, cerca de R$ 20, e vida útil mais longa do
que o enxadão tradicional. Por causa da lâmina do disco do trator, que é
grande e resistente, permite juntar o esterco com bastante facilidade”,
explicou.
Rogério Araújo desenvolveu a ferramenta há uns cinco anos e, desde
então, não precisou mais comprar enxadão. Ele conta que o enxadão de
disco de trator faz tanto sucesso que, com frequência, recebe encomendas
de agricultores da região.
“Sempre tem encomenda, porque o pessoal gosta. O enxadão vendido no
mercado enverga com muita facilidade, dependendo do trabalho, ele não
aguenta. Já esse que eu faço dura mais de um ano, é muito resistente”.
Pelo cronograma, na primeira fase do programa, este ano, serão
observadas práticas de 900 famílias de agricultores familiares,
assentados da reforma agrária e comunidades tradicionais, em nove
estados (Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Sergipe, Bahia,
Paraíba, Alagoas e Minas Gerais).
No ano que vem, durante a segunda etapa, serão selecionados os exemplos
com maior impacto e caráter inovador e que podem ser multiplicados com
mais facilidade pelas famílias do Semiárido. Com o apoio de centros de
pesquisa e universidades, serão feitos estudos de caso para avaliar os
impactos científicos e sociais das estratégias.
Por fim, em 2015, com base nos resultados apurados que comporão um
banco de dados, serão formuladas sugestões de políticas públicas e de
ações para outros institutos e organizações socais que atuam na região. O
Insa também pretende divulgar cartilhas e fichas técnicas para
facilitar o acesso das famílias aos resultados do projeto, que conta com
o apoio, na implementação, da Articulação do Semiárido (ASA), rede
formada por mil organizações da sociedade civil que atuam nos estados do
Nordeste e em Minas Gerais.
Os contatos com o Insa podem ser feitos por telefone, no número (83) 3315-6451 ou (83) 3315-6452, ou pelo e-mail da instituição é insa@insa.gov.br.
Edição: Tereza Barbosa
- Direitos autorais: Creative Commons - CC BY 3.0
Articulação exige política de convivência com o semiárido brasileiro
Adital
Uma articulação entre movimentos sociais e sindicais, organizações não
governamentais e da Igreja produziu como resultado um conjunto de diretrizes
entendidas como passíveis de orientar a construção de políticas públicas para a
convivência sustentável com as particularidades do semiárido. E é esse
documento, com 88 itens que tratam sobre os mais diferentes eixos, que será
apresentado à sociedade, no próximo dia 20 de março, às 14h, no auditório G2
da Unicap, no Recife/PE, e entregue a governos e parlamentos nos níveis
municipais, estaduais e federal. Para o evento, são aguardadas cerca de 400
pessoas, vindas, inclusive, em caravanas do interior e de outros estados no
Nordeste.
O objetivo do documento é convocar setores da sociedade e do governo a
não pensarem na região semiárida apenas em tempos de seca. O texto fala
da construção de uma Política Nacional e de Políticas Estaduais de Convivência
com essa região, reconhecendo e valorizando os povos e culturas lá existentes e
suas potencialidades.
Ao apontar diretrizes, a sociedade civil diz que a questão central é
fazer a reforma hídrica, isto é, democratizar o acesso à água. Isso porque, no
geral, a escassez identificada na região advém basicamente da destruição e
poluição de mananciais e a concentração da água em mãos de particulares e/ou em
atividades específicas, como os perímetros ou canais de irrigação. Tudo isso só
faz piorar a situação em momentos de longa estiagem, como o vivenciado
atualmente.
A decisão de reunir parceiros para a construção desse documento foi do
Movimento Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, por meio da
Fetape, e da Arquidiocese de Olinda e Recife. A produção do texto foi
subsidiada pelas experiências de convivência com o semiárido, desenvolvidas
pela sociedade civil, nos diferentes estados do Nordeste.
"Temos a consciência de que as iniciativas estruturantes necessárias
para a convivência com essa região não podem ser fragmentadas, isoladas. Elas
precisam ser trabalhadas na perspectiva da complementariedade, de forma sistêmica
e respeitando as características dos estados, a realidade cultural e os saberes
de suas populações”, afirma o presidente da Fetape, Doriel Barros.
A expectativa é de que sejam pactuados compromissos para a construção de
uma nova realidade para o semiárido. "A sociedade civil, que tem acúmulos nesse
debate e traz experiências que comprovam essa possibilidade, precisa ver
presente, nesse momento, pessoas e instituições que se comprometam com uma vida
digna para as cerca de 25 milhões de pessoas que vivem nessa região”, completa
Barros.
Assinam
o documento: Arquidiocese de Olinda e Recife, Contag, Fetape e Federações dos
Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais dos outros oito estados do Nordeste,
Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, CUT/PE, ASA Brasil, Cáritas NE2, Centro
Sabiá, Instituto Cidadania do Nordeste, CPT e MST. O deputado Manoel Santos, de
Pernambuco, apoiam a iniciativa.
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