O projeto “Prefeitura nos Bairros”
liderado pela gestão de João Alves Filho (DEM) vem propagandeando que a
cultura está sendo levada às comunidades mais desassistidas da cidade.
Neste artigo o documentarista Fábio Rogério contesta, e aponta a
necessidade de se valorizar a produção local.
*por Fábio Rogério
A Prefeitura de Aracaju iniciou no dia 02
de março, no conjunto Almirante Tamandaré, o projeto “Prefeitura nos
Bairros” com atividades e ações de todas as secretarias desenvolvidas
naquela comunidade. A ideia é que a cada quinze dias, o projeto aconteça
em algum bairro da cidade.
É uma ação interessante e ainda mais
levando em conta que a atual gestão tem apenas dois meses. No projeto, a
Funcaju (futura Secretaria de Cultura) promoveu atividades de teatro,
música, dança e cinema. Segundo o coordenador de eventos da Funcaju,
Emídio Cunha, “é de suma relevância trazer para a população os eventos,
apresentar a cultura da nossa cidade, trazendo artistas locais para
mostrarem também a sua arte para próximo da comunidade”, ou seja, o
propósito das atividades da Funcaju dentro do projeto “Prefeitura nos
Bairros” é levar arte sergipana para os bairros da nossa cidade.
Esse propósito foi cumprido de forma
parcial. O espetáculo teatral foi realizado pelo grupo sergipano “Teatro
de Cordel da Rabeca”. O show foi realizado pela dupla sergipana
“Fernando e Manuel”. As apresentações de dança foram realizadas pelos
grupos sergipanos “Príncipes do Gueto” e “Mistura e Hit’s”.
E o cinema? O filme exibido foi a
produção americana “Rio”. O custo para a liberação da exibição pública
desse filme não é barato e se Funcaju não pagou à Fox Filmes, empresa
que detém os direitos de distribuição do filme, corre um grande risco de
ser processada por ela.
Mas por que não exibir filmes
sergipanos? Por que não realizar um edital convidando os realizadores
sergipanos a exibirem seus filmes mediante o pagamento de um cachê pela
exibição?
Esse projeto é a grande oportunidade que
a Funcaju tem de exibir os filmes sergipanos para os aracajuanos. Se o
objetivo do projeto é levar a “nossa arte” para as nossas comunidades
não vejo sentindo nenhum a exibição de filmes que não seja sergipano,
afinal, a prefeitura de Aracaju não precisa fazer esforço nenhum para
que filmes como “Rio” sejam exibidos em nossa cidade, afinal, na época
do lançamento, ele foi exibido nos cinemas da cidade.
Não há nada contra a exibição de filmes
estrangeiros, o problema é quando se exibe unicamente filmes
estrangeiros. Afinal, nenhuma cinematografia se desenvolve de forma
isolada e sem contato com as outras.
Um dos papéis de uma secretaria de
cultura é incentivar a produção e a difusão do cinema de sua cidade
feito pelos seus moradores, pois são os realizadores sergipanos que mais
estão preparados para pensar e refletir a nossa sociedade, o nosso modo
de ser, as nossas angústias, os nossos desejos.
Ou será que estamos satisfeitos com os
filmes que foram produzidos aqui em nosso estado por pessoas e empresas
que não possuem nenhum tipo de relação com o nosso estado e que ainda
receberam volumosos apoios dos órgãos públicos sergipanos? A exibição de
filmes sergipanos no projeto “Prefeitura nos Bairros” é apenas uma das
inúmeras demandas dos que fazem cinema em nossa cidade.
É necessário que a Funcaju tenha um novo
modelo de gestão pública e essa mudança precisa ser construída
juntamente com o Fórum Permanente de Audiovisual em Sergipe.
É inadmissível que a Funcaju continue
exibindo filmes estrangeiros e saia afirmando que está levando “a
cultura da nossa cidade” para as comunidades. Ou a Funcaju muda, ou
mudaremos a Funcaju.
Leia no site de origem AQUI
Para saber mais sobre a cena cultural sergipana, clique AQUI
Sugestões para os novos prefeitos, gestores de
cultura dos municipios e vereadores eleitos em 2012. AQUI
Um comentário:
Muito bem colocado pelo realizador sergipano . È preciso botar a boca no trombone. O povo precisa conhecer a sua própria cultura.
Jorge Pacoa
Produtor cultural e documentárista.
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