quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Travessuras e Gostosuras ou fortalecimento da Cultura Popular Brasileira em 31 de Outubro - dia do Halloween ou dia do Saci?

 

A Mangue Jornalismo publica na seção PONTO DE VISTA o texto de Marcel Reginato, publicitário e corintiano. Ele aproveita que 31 de outubro é Dia do Saci para mostrar, de modo histórico-didático, como o marketing envolvendo as importações do Halloween e Black Friday entram nas vidas dos brasileiros.

Marcel acredita que a cultura popular continua a fornecer uma base de sustentação sólida e estável para o combate à ignorância e ao rebaixamento civilizacional. Ele aposta que o slogan “Halloween é o cacete! Viva a cultura nacional!” vai “bombar nas redes”, porém, menos do que as imagens “instagramáveis” de Halloween.

“Hoje é dia de quebrar a garrafa e de torcer para que, livre, o saci gere redemoinhos que arrastem as abóboras de plástico, as teias de aranha, as máscaras de psicopatas e americaníssima família Adams (entre outras famílias de monstros) para bem longe de nossa vizinhança. Ainda há esperança. Ainda que ela pule em uma perna só”.

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https://manguejornalismo.org/ponto-de-vista-hoje-e-dia-do-saci-que-ele-arraste-as-aboboras-de-plastico-do-halloween-para-bem-longe/

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O desafio é trabalhar a cultura popular de forma bem potente na primeira infância até a pré adolescência, como isso não acontece, quando chega na fase da  adolescência fica mais difícil. Por outro lado, nem trata-se de  realizar o Halloween ou não, mas de não realizar atividades mais constantes e mais consistentes com a nossa cultura popular, inclusive com a cultura popular infantil, como as brincadeiras de roda, os contos ou histórias como a do Saci, as danças populares e etc. Espero que agentes  culturais e/ou educadores estejam atentos  a isso, quanto a apresentação de projetos para os editais da Política Nacional de Cultura Aldir Blanc (PNAB). Para estimular o debate, recomendo o filme Tarja Branca de Cacau Rhoden, citado por  este que escreve na  apresentação do filme "Nunca me Sonharam" no curso de extensão virtual promovido pelo canal Não é Heresia em parceria com a UFS, e realizado nessa última segunda-feira.

Abaixo, meu filho  Raoni  Smith como Saci, quando tinha por volta dos 8 anos e  estudava em uma unidade escolar do SESC-SE. Isso foi em fins da primeira década deste século. Até então as escolas do SESC em Sergipe investia muito bem na articulação cultura e educação.

Por outro lado como também em casa consideramos a diversidade cultural como um valor importante,  Raoni participou de eventos na escola do SESC como  Mago Merlin , Peter Pan e etc...

Zezito de Oliveira



O documentário investiga as memórias infantis dos adultos e reflete sobre a importância do brincar em diferentes fases da vida e os impactos dessa escolha na vida social.


Padre Leonardo Lucian Dall' Osto sobre o Dia das Bruxas. Nada como um religioso sensato,  depois do que vimos publicados nas redes por uma bocado de religiosos fundamentalistas e sem abertura cultural para pensar de forma menos dogmático ou estreita.
Os católicos e o Halloween
"Virou moda nos últimos anos católicos e evangélicos preocuparem-se com a celebração do Halloween, chamada popularmente de “dia das bruxas”. A festa é literalmente demonizada, como uma espécie de adoração ao demônio (demônio como se compreende a partir da visão cristã, claro), portanto celebrar essa festa seria uma “armadilha” do diabo para enganar as pessoas e fazê-las adorar ao Maligno.
Não vou entrar no mérito da origem da festa, muito mais antiga do que possamos imaginar, remetendo a tradições pré-cristãs. Aqui interessa apenas fazer uma pequena reflexão sobre a “periculosidade” dessa festa. A expressão halloween “All Hallows’ Eves”, literalmente “véspera de todos os santos”, remonta a uma adaptação de uma antiga festa céltica ao ambiente homogeneamente cristão medieval. 
No ambiente católico All Saints Day, “Dia de Todos os Santos” era e ainda é celebrado no dia 01 de novembro, provavelmente também já tendo em conta fazer uma contraproposta cristã à festa de origem pré-cristã. No ambiente pós-reforma, desaparece a festa do “Dia de Todos os Santos”, mas culturalmente sobrevive o Halloween. Porém, essa festa culturalmente pré-cristã é um problema espiritual ou apenas uma jogada de marketing? Então, essa é a questão: tem muitos religiosos afirmando que nesse dia se invocam as forças das trevas, que os satanistas fazem adorações ao diabo, que as crianças ficam suscetíveis ao poder do mal, etc. 
As origens dessas informações são, em geral, oriundas de religiosos bem exaltados. Gente que usa como argumento a “opinião de exorcistas”, de ex-satanistas e outras fontes bastante questionáveis e, assim, demonizam aquilo que não faz parte da tradição cristã. Particularmente penso que muito mais do que o diabo o que está por trás do Halloween, celebrado em todo o mundo, seja um poder real bem mais concreto: o mercado. Aliás, como dizia o Pe. Libanio ninguém exige tantos sacrifícios como o “deus mercado”, vide as guerras atuais.
Num ambiente cristão, demonizar uma festa é algo perigoso. Num passado não tão distante, demonizamos celebrações e pessoas e isso gerou dor e morte. Basta imaginar que a festa de Halloween, também é chamada de “dia das bruxas” e que a bruxa, no imaginário popular está ligada ao demônio. Por conta dessa ligação entre a bruxaria e o demônio (muito por culpa de um sociopata chamado Heinrich Kramer que escreveu o Malleus Maleficarum), milhares de mulheres foram perseguidas, torturadas e mortas nos ambientes cristãos em plena modernidade. Demonizar o diferente causa muitos estragos. Basta ver como hoje ainda tem cristãos que demonizam as religiões de origem africana a partir dos mesmos preconceitos, considerando suas entidades como demônios. 
Por fim, penso que Halloween é uma jogada de marketing e que não faz parte do nosso modo de ser brasileiro. No entanto a cultura está em processo continuo de evolução e talvez, no futuro, essa será uma festa “assimilada” por nós. Contudo penso que dia 31 de outubro, o dia de Halloween, poderia ser para nós um dia “penitencial”. Para não cairmos no erro de voltar a perseguir pessoas, olhemos para o nosso passado e peçamos perdão pelo mal que causamos a partir do nosso fanatismo religioso. Nunca queimamos ou enforcamos bruxas, queimamos e enforcamos mulheres. Nos ajudará muito celebrar todos os santos olhando para a nossa história e perceber que não somos todos santos, tão pouco nossa história foi santa. As “bruxas” que queimamos são uma recordação de que em muitos momentos estivemos mais ao lado do diabo do que de Deus."
Pe. Leonardo Lucian Dall’Osto


Nascimento de Carlos Drummond de Andrade e morte de Arthur Moreira LIma em 31 de Outubro

 

Carlos  Drummond de Andrade em Copacabana

Poeta no seu banco preferido no  calçadão de Copacabana.

Produzido nos anos da Segunda Guerra Mundial e lançado em 1945, A rosa do povo é um dos livros mais importantes de Carlos Drummond de Andrade, e certamente o mais político. Foi a época em que o poeta se aproximou do comunismo. Os 70 anos de sua publicação fizeram com que girasse em torno desse livro a programação de 2015 do Dia D, o evento anual liderado pelo IMS para homenagear Drummond na data de seu aniversário, 31 de outubro.


A Rádio Batuta convidou o poeta e filósofo Antonio Cicero para ler poemas de A rosa do povo. Neste programa estão 15, como A flor e a náusea e Retrato de família.


Ouça AQUI


Rarrapaz conversa com Carlos Drummond de Andrade

Estatua de Carlos Drummond de Andrade. Foto por @BiaCisne18  03:30 - 18 de jan de 2014


Morreu hoje Arthur Moreira Lima... Um pianista de tradição comunista... Luto!



Arthur Moreira Lima | Show "De Repente" (1988)




João Lopes
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Morreu agora a noite o grande pianista Arthur Moreira Lima. Uma enorme perda pra a música e também para o campo progressista, uma vez que o premiado pianista nunca se furtou em se posicionar sempre do lado certo da história.
O também pianista Júlio Draghi, professor da Escola de Música da UFRJ, tomou a brilhante iniciativa junto à reitoria e ao departamento de música da universidade, em premia-lo com o título de Doutor Honoris Causa poucos dias atrás.
Tudo foi providenciado a tempo para que o músico recebesse a honraria em vida.
O engajado pianista ganhou prêmios importantíssimos no início da carreira e recebeu no fim da vida o mais que merecido reconhecimento da academia.
Nas últimas décadas ele dedicou-se em levar sua arte pelos mais diversos pontos do país, como se vê no mapa acima.
Ele percorreu com seu "Caminhão Palco" por mais de cento e trinta mil quilômetros em centenas de cidades em todas as regiões do país levando, não só música clássica, mas principalmente o choro, a mais genuina da nossa música em praças públicas e teatros populares.




Alma brasileira

Homenagem a Arthur Moreira Lima

Alma Brasileira traz o pianista brasileiro interpretando Chopin e Nazareth



quarta-feira, 30 de outubro de 2024

Câmara conclui regulamentação da reforma tributária. Deputados rejeitam taxar grandes fortunas

 BRASÍLIA (Reuters) - O plenário da Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira a análise da segunda etapa da regulamentação da reforma tributária, e rejeitou um destaque que propunha a criação de um Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF).

A decisão ocorreu durante a votação do projeto que cria as regras para o Comitê Gestor do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), órgão que cuidará da arrecadação dos impostos e sua distribuição aos Estados e municípios.

O projeto agora segue para o Senado, onde já está em tramitação a primeira parte da regulamentação. A conclusão dessa análise pelo Congresso ainda neste ano é prioridade do governo federal.

A emenda constitucional da reforma tributária, uma das matérias mais discutidas durante décadas no Congresso, foi promulgada pelo Congresso no final do ano passado. Agora, os parlamentares articulam a aprovação de propostas de regulamentação para que a reforma seja efetivamente colocada em prática.

A emenda rejeitada que propunha o imposto sobre fortunas, apresentada pela federação partidária Rede-PSOL, previa a tributação anual de patrimônios superiores a 10 milhões de reais, com incidência sobre a propriedade, posse ou domínio útil de bens e direitos. O destaque foi rejeitado por 262 votos contra e 136 a favor.

Para Mateus Nicacio, especialista em Direito Tributário, a rejeição da emenda demonstra a dificuldade histórica de tributação desses valores, a despeito da previsão expressa de isso ocorrer na Constituição Federal.

"A taxação se mostra muitas vezes ineficiente, em razão da estrutura jurídica que poderia ser criada pelos contribuintes com patrimônio superior a 10 milhões de reais, conforme prévia o texto rejeitado, evitando a incidência do imposto", destacou ele, que é sócio do Chinaglia Nicacio Advogados.

(Reportagem de Ricardo Brito)

IMPOSTO SOBRE GRANDES FORTUNAS.

Veja como votou cada deputado. A emenda nº 8 foi rejeitada por 262 votos a 136.

https://graficos.poder360.com.br/tA4Vn/1/?s=09

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https://www.brasil247.com/economia/camara-conclui-regulamentacao-da-reforma-tributaria-deputados-rejeitam-taxar-grandes-fortunas?utm_source=mailerlite&utm_medium=email&utm_campaign=boa_noite_name_as_principais_noticias_desta_noite_no_brasil_247&utm_term=2024-10-30




Enchente nunca antes vista em #valencia na #espanha. Em uma só imagem, causa e consequência. Os cientistas, o Papa Francisco, os povos Indígenas e os ambientalistas tem razão. Leiamos a Laudato Si e assistamos o filme a Carta, de Francisco.

 Título a partir da frase inicial do frei Vanildo Luiz Zugno complementada pelo editor desse blog, professor Zezito de Oliveira. 






A tempestade que atingiu parte da Espanha deixou pelo menos 158 mortos e dezenas de desaparecidos, a maioria na região de Valência. https://bbc.in/3C4Jdrj

É PEDRA NÃO E GENTE AINDA - Pepeu Gomes 
aula de Mareline Jales - 2- São José do Divino -MG

Em poucas horas, caiu o equivalente a um ano de chuva em algumas áreas, provocando grandes enchentes que devastaram cidades inteiras na Espanha, deixando milhares de pessoas ilhadas.
O que provocou a tempestade? https://bbc.in/4ehrsCo



Pesquisadores explicam conceitos em destaque nas Humanidades

 Assuntos que ganharam relevância em discussões científicas se tornaram frequentes em reportagens da revista. 

Christina Queiroz

Edição 344

out 2024

O Antropoceno define a emergência de uma nova era geológica, provocada pela ação humana no planeta

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

Termos disseminados nas ciências humanas e sociais nos últimos 25 anos – o tempo de existência de Pesquisa FAPESP – refletem o avanço do conhecimento científico em áreas como economia, história e sociologia. Nesse período, as universidades brasileiras se tornaram mais diversas e foram desenvolvidos novos enfoques para analisar questões históricas e culturais. Além disso, percebe-se uma maior preocupação com assuntos que tradicionalmente estiveram mais presentes em outros campos do saber, como o meio ambiente e as novas tecnologias.

A editoria de Humanidades de Pesquisa FAPESP vem acompanhando de perto essas mudanças e compilou uma breve lista com alguns dos conceitos que foram abordados em nossas reportagens. A pedido da revista, partindo de definições próprias ou apoiados em referências de outros especialistas, pesquisadores de diferentes instituições elaboraram definições que procuram sintetizar aspectos essenciais relacionados aos termos.

Antropoceno

As formas pelas quais as sociedades se desenvolveram, sobretudo a partir da era industrial, iniciada no século XVIII, produziram impactos na Terra. Os efeitos do crescimento populacional, da urbanização, da exploração de recursos naturais e do desenvolvimento de tecnologias e artefatos que utilizam combustíveis fósseis foram capazes de alterar características naturais, como o clima, modificando o funcionamento do sistema terrestre. Nesse contexto, surge a ideia de Antropoceno. O biólogo Eugene Stoermer (1934-2012), da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, cunhou o termo na década de 1980. Mas o conceito ganhou visibilidade a partir de um trabalho que elaborou em parceria com o químico holandês Paul Crutzen (1933-2021) no ano 2000. O vocábulo indica a emergência de uma nova época geológica cujas mudanças observadas no planeta teriam sido impulsionadas por ações humanas. Porém ele nunca foi consenso. Em março de 2024, após um debate que durou cerca de 15 anos, um comitê de especialistas em geologia refutou que essas mudanças sejam tão profundas a ponto de ser declarada uma nova era geológica. Apesar disso, o termo continua a ser utilizado por cientistas de diversas áreas, inclusive das ciências humanas e sociais, que o consideram útil para explicar as ameaças ambientais induzidas pela humanidade.

Gabriela Marques di Giulio, pesquisadora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP)

Dentre os pilares da bioeconomia estão a valorização da biodiversidade e o fortalecimento de mercados locais

Léo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP

Bioeconomia

Busca o desenvolvimento sustentável, que valoriza a conservação da biodiversidade, a inclusão social e o uso responsável de recursos naturais por meio de cadeias de valor que fortalecem a economia local e regional. Isso seria possível por meio da geração de empregos dignos e do acesso equitativo a benefícios decorrentes da utilização de elementos da natureza, da tecnologia associada a conhecimentos tradicionais, à conservação do meio ambiente, dentre outros elementos.

Jacques Marcovitch e Maria Sylvia Macchione Saes, da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP

__Cidadania digital

Conforme o Marco Civil da Internet, criado em 2014, o termo representa os direitos e os deveres dos cidadãos quanto à utilização responsável e segura de redes e plataformas digitais. Diz respeito à responsabilidade moral e jurídica dos usuários dessas ferramentas com relação a terceiros. Abarca a exigência de uso de tecnologias da informação para finalidades socialmente aceitas, incluindo a busca de fontes de conhecimento seguras e o cuidado na produção e retransmissão de conteúdo.

Celso Campilongo e Lucas Fucci Amato, da Faculdade de Direito (FD) da USP

__Decolonialidade

Refere-se ao processo de desconstrução de estruturas de poder, conhecimento e cultura que foram estabelecidas durante o colonialismo e continuam a influenciar as sociedades contemporâneas. De acordo com essa perspectiva, o pensamento teleológico colonial impõe um modelo único de história e sociedade, o europeu, que oprime outros tipos de existência no planeta. A decolonialidade é a luta pela superação da estrutura colonial e a libertação de outras epistemologias e formas de vida.

Márcio Seligmann-Silva, professor do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp)

__Desinformação

Veiculação de fatos, declarações, atributos falsos e distorcidos sobre pessoas, situações, processos e produtos. O termo refere-se, especialmente, à transmissão massiva e difusa de informações falsas por meio de plataformas digitais. Porém o conceito de desinformação nesse contexto possui múltiplas facetas, como não informar; ou causar dúvida no consumidor, provocando confusão, falsidade ou falsificação.

Celso Campilongo e Lucas Fucci Amato, da FD-USP

__Economia circular

É um sistema focado no desenvolvimento sustentável, que dissocia o crescimento do consumo de recursos. Ela é restaurativa e regenerativa, projetada para eliminar resíduos e poluição. Enfatiza a permanência dos materiais no sistema econômico pelo maior tempo possível, extraindo o valor máximo durante o uso e regenerando os recursos após cada ciclo.

Marly Monteiro de Carvalho e Roberta de Castro Souza Piao, da Escola Politécnica (Poli) da USP, Jacques Marcovitch e Maria Sylvia Macchione Saes, da FEA-USP

__Cuidadores de idosos integram a força de trabalho remunerada da economia do cuidado

Rafa Neddermeyer / Agência Brasil

Economia do cuidado

As bases do conceito apareceram em 1969, em trabalhos de economistas feministas que desafiavam enfoques consolidados sobre processos econômicos. O principal argumento era o de que a teoria do valor-trabalho deveria ser analisada não apenas pela perspectiva do trabalho produtivo e improdutivo, mas também a partir da chamada reprodução social. Esse paradigma defende que a base de toda a produção econômica é o ofício de cuidado não remunerado, desempenhado nos lares quase exclusivamente por mulheres. Sem ele, o funcionamento da economia torna-se inviável. Diferentes autoras começaram a mensurar o custo dessas atividades em sentido amplo, instituindo, assim, o campo da economia do cuidado.

Jorge Félix, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP

__Gamificação

Gamificação é um conceito que, em sua versão contemporânea, surge em 2003 com o britânico Nick Pelling, programador e designer de games. No entanto, o termo só adquire uma maior popularidade a partir de 2010. A definição de gamificação envolve a utilização de recursos de design de jogos fora do contexto deles. São estratégias comuns aos games de entretenimento adotadas em ambientes empresariais, educacionais ou de treinamentos.

Sérgio Bairon, historiador da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP

__A interseccionalidade analisa as desigualdades sem hierarquizar gênero, raça e classe

Fernando Frazão / Agência Brasil

Interseccionalidade

O conceito ocupa um lugar central em teorias que abordam as desigualdades multidimensionais, oferecendo uma chave para compreender os sistemas de opressão e exploração de maneira interdependente e relacional. Introduzido no mundo acadêmico pela jurista e socióloga norte-americana Kimberlé Crenshaw em 1989, o termo abriu novas perspectivas nas ciências humanas, ao propor uma análise das desigualdades sem hierarquizar os fatores de gênero, raça e classe e distanciando-se, assim, de abordagens tradicionais. No Brasil, a filósofa Lélia Gonzalez (1935-1994) foi uma das pioneiras a desenvolver o pensamento interseccional em suas análises, destacando, em suas obras, a discriminação tríplice vivida por mulheres negras: social, racial e sexual. Pelas mãos dessas mulheres, o conceito de interseccionalidade tornou-se incontornável nas teorias sociais contemporâneas.

Flavia Rios, socióloga e diretora do Instituto de Ciências Humanas e Filosofia da Universidade Federal Fluminense (UFF)

__Justiça ambiental e climática

A noção de justiça ambiental e climática defende que problemas ambientais, como os efeitos do aquecimento do planeta, são desigualmente distribuídos em termos socioespaciais, tanto em relação às responsabilidades como aos seus efeitos. Assim, em sociedades desiguais, como a brasileira, a maior parte dos danos ambientais e impactos climáticos afeta de forma mais significativa populações de baixa renda, grupos sociais discriminados e povos étnicos tradicionais, como os quilombolas.

Gabriela Marques di Giulio, da FSP-USP

__Mandatos coletivos

Os mandatos coletivos são formados por um grupo de pessoas que se candidatam para um único cargo eletivo no Executivo ou Legislativo em níveis municipal, estadual ou federal. A vinculação jurídica do mandato fica a cargo de um dos candidatos, filiado a um partido. São distintos dos mandatos compartilhados, que derivam de campanhas eleitorais feitas por um indivíduo. Em ambos os casos, os membros se comprometem a exercer o mandato de modo coletivo e participativo, mas nos coletivos os coparlamentares dividem funções. O modelo ainda não é regulamentado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Debora Rezende de Almeida, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (Ipol-UnB)

__Migrações transnacionais

Definem os processos migratórios que envolvem o deslocamento por diferentes países e, muitas vezes, incluem o lugar de nascimento, com o qual a pessoa mantém vínculos. Em geral, ocorrem entre países do hemisfério Sul em face das restrições impostas pelo Norte Global para imigrantes indesejados. Trata-se de relações sociais que imigrantes e refugiados estabelecem com diferentes lugares de destino e suas origens: é estar lá e aqui, em um sistema transnacional de reprodução social. Esses processos são resultantes tanto da dinâmica da globalização quanto de práticas sociais. Para entender tal fluxo, pesquisadores levam em conta aspectos econômicos, políticos, jurídicos, entre outros.

Rosana Baeninger, do Núcleo de Estudos de População (Nepo) “Elza Berquó” da Unicamp

__O Sul Global abarca países que foram explorados pelo colonialismo e pelo imperialismo

Alexandre Affonso / Revista Pesquisa FAPESP

Sul Global

Termo que surge no século XXI no contexto da autoafirmação política de nações do hemisfério Sul. Refere-se a uma categorização geopolítica e econômica que engloba os países e as regiões que, historicamente, foram marginalizados ou explorados no sistema econômico mundial, especialmente durante o colonialismo e o imperialismo. Abarca algumas nações da América Latina, da África, da Ásia e do Oriente Médio. A ideia de Sul Global opõe-se a conceitos comprometidos com a noção de história linear e única, entre eles a ideia de “países em desenvolvimento” e “Terceiro Mundo”. A articulação de saberes e poderes políticos do Sul visa romper com a hegemonia política e epistemológica de países que se alimentaram e ainda dependem da violência (neo)colonial.

Márcio Seligmann-Silva, do IEL-Unicamp

__Necropolítica

Conceito filosófico que, baseado em relações hierárquicas de poder, descreve o senso de naturalização de processos de morte. Uso do poder político e social, especialmente por parte do Estado, de forma a determinar, por meio de ações ou omissões, quem pode permanecer vivo ou morrer. O conceito foi cunhado pelo filósofo, teórico político e historiador camaronês Achille Mbembe e publicado pela primeira vez em ensaio homônimo em 2003. Ele tomou como ponto de partida a discussão elaborada sobre “racismo de Estado” pelo filósofo francês Michel Foucault (1926-1984).

Alan Alves Brito, astrofísico da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Dicionário da Academia Brasileira de Letras (ABL) e Guia didático e histórico de verbetes sobre a morte e o morrer (Casaletra, 2022)

__Racismo institucional

Termo introduzido na sociologia na década de 1970 pelo político e ativista norte-americano Stockel Charmichel (1941-1998) e disseminado por Robert Blauner (1929-2016), da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. Para Blauner, essa forma de racismo está presente em regras e procedimentos institucionais. O racismo institucional, também denominado racismo sistêmico, é um mecanismo estrutural que garante a exclusão seletiva de grupos racialmente subordinados, como negros, indígenas e ciganos. Opera de forma a induzir, manter e condicionar a organização e a ação do Estado, suas instituições e políticas públicas, assim como a atuação de instituições privadas.

Antonio Sérgio Guimarães, sociólogo da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, e Geledés – Instituto da Mulher Negra

A reportagem acima foi publicada com o título “Movimento das Humanidades” na edição impressa nº 344, de outubro de 2024.

Pesquisadores explicam conceitos em destaque nas Humanidades. Assuntos que ganharam relevância em discussões científicas se tornaram frequentes em reportagens da revista

Christina Queiroz, da Revista Pesquisa FAPESP

Este texto foi originalmente publicado por Pesquisa FAPESP de acordo com a  licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.


segunda-feira, 28 de outubro de 2024

Emilia Correia prefeita eleita de Aracaju debuta na midia nacional mostrando a crise estética que nos atravessa. Mas de Recife chega outro conceito de como lidar com perfomance, arte e comunicação.

 Emília Corrêa, prefeita eleita em Aracaju, como toda boa evangélica é cringe até umas horas. No primeiro dia após sua vitória, já mostrei toda sua rad1oatividade num cosplay gospel de Cheetara do Thundercats. Hélder e Calejon comentam. 


A coisa é grave. A crise estética é generalizada. Faltou investimento em cultura da sucessão de governos progressistas que passaram por Aracaju em quase três décadas. Conclusão, este tipo de performance conta com a anuência de um grupo significativo de munícipes. ZdO

O Roda Viva entrevista o prefeito do Recife, João Campos. 



Qual Brasil emerge pós segundo turno das eleições municipais de 2026? Mauro Lopes (Fórum), Carta Capital. ICL, Bruno Torturra&Gregório Duvivier

 Uma apresentação detalhada sobre as eleições


Na edição final do DIRETO DAS ELEIÇÕES, Thais Reis Oliveira e Leonardo Miazzo recebem o cientista político Jorge Chaloub para uma análise das eleições municipais de 2024, um dia após os participantes em 51 cidades irem às urnas para o segundo turno do pleito. A votação terminou com reveses para o campo progressista — destaque para a derrota de Guilherme Boulos contra Ricardo Nunes em São Paulo — mas também com perdas para o bolsonarismo. Ao final, o PSD de Gilberto Kassab liderou o ranking de prefeituras, com 887 vitórias nestas eleições, seguido pelo MDB, PP e União Brasil. Veja também: Os resultados nas principais capitais e a resposta de Boulos à acusação de Tarcísio Nunes. O governador de São Paulo, em entrevista coletiva ao lado de Ricardo Nunes, sem provas, apontou que o Primeiro Comando da Capital (PCC), a principal facção criminosa do estado, teria orientado voto no candidato do PSOL. Guilherme Boulos acusa o governador e prefeito de cometer abuso de poder político e uso indevido de meios de comunicação.



OBRIGADO, SÃO PAULO
Quero agradecer aos 2.323.901 votos que recebemos ontem. Muita gente depositou esperança nas urnas e me orgulho de ter liderado essa batalha. Enfrentamos uma campanha muito dura, com ataques e mentiras sem precedentes, com direito a laudo falso às vésperas do Primeiro Turno e crime eleitoral do governador no dia do Segundo Turno. Mas terminamos esse processo de cabeça erguida e com dignidade. Eleição se perde ou se ganha, mas nossos valores são inegociáveis. Fomos derrotados nas urnas, não só em São Paulo. Há aqueles que tirarão disso a conclusão de que a esquerda tem que recuar mais e ceder em nossas visões de mundo. Eu não. Aliás, não foi assim que o bolsonarismo ganhou parte importante da sociedade. Acredito que o caminho que temos que trilhar para derrotar a extrema direita no país é disputar valores na base da sociedade e conversar olho no olho com nosso povo. Nem sempre é possível colher os resultados no tempo de uma campanha eleitoral. Temos agora os próximos anos para isso. Contem comigo, na vitória ou na derrota, para essa missão de construirmos uma sociedade mais justa e humana. Sempre com coragem, firmeza e brilho no olho. Obrigado a todos que acreditaram e lutaram. Vamos levantar a cabeça e seguir em frente!


Derrota e Descaminho

Fiasco eleitoral do governo é dramático e expõe necessidade de mudança de rumos. Porém, Fazenda insiste no erro e pode tornar Lula refém do rentismo e do Centrão. Há alternativas; mas presidente não tem muito o tempo para buscá-las

https://revistaforum.com.br/brasil/sudeste/2024/10/28/video-comemorao-da-prefeita-eleita-de-aracaju-que-chocou-brasil-168287.html

A derrota de Guilherme Boulos e a eleição de figuras da extrema direita foi como um s0co no estômago de muita gente, mas não surpreendeu. Enquanto muitos membros do grande balaio das esquerdas procuram algo ou alguém para culpar, Mano Brown chama o povo todo para se responsabilizar por suas escolhas. Hélder e Calejon comentam. 


DOIS TURNOS DE 2024: PONTOS PARA UM BALANÇO
Por: Valter Pomar
A eleição no primeiro turno ocorreu em 5569 municípios.
Portanto, há 5.569 balanços municipais a serem feitos.
Ou, no caso do PT, 3.550 balanços, que é o número total de municípios onde (segundo o Grupo de Trabalho Eleitoral do partido) lançamos candidaturas.
Também é necessário fazer 26 balanços estaduais (no Distrito Federal não acontecem eleições municipais).
Mas, para além dos balanços municipais e estaduais, há um balanço nacional a ser feito.
Sobre este, algumas opiniões preliminares.
Primeiro: as direitas
Os partidos que vão do centro à direita receberam mais votos, conquistaram maior número de prefeituras e maior número de vereanças. Isso aconteceu no primeiro turno e se repetiu no segundo turno.
Os números (aproximados) no primeiro turno foram os seguintes:  
*91 milhões de votos em candidaturas do centro à direita, 22 milhões de votos para candidaturas do centro à esquerda;
*4726 prefeituras conquistadas por candidaturas do centro à direita, 740 prefeituras conquistadas por candidaturas do centro à esquerda;
*48.106 mandatos de vereança conquistados por candidaturas do centro à direita, 10.308 mandatos conquistados por candidaturas do centro à esquerda.
No segundo turno, os números (aproximados) foram os seguintes:
*17 milhões de votos em candidaturas do centro à direita, quase 5 milhões de votos em candidaturas do centro à esquerda;
*45 prefeituras conquistadas por candidaturas do centro à direita, 6 prefeituras conquistadas por candidaturas do centro à esquerda.
Por quais motivos os partidos do centro à direita venceram? 
Entre estes motivos, há que considerar a força acumulada, dinheiro, mídia, crime, influência dos aparatos, legislação eleitoral que os favorece, emendas parlamentares, uso da máquina, linha política etc. 
Mas há, também, o que nós da esquerda fizemos ou deixamos de fazer.
Segundo: os nem nem
Tanto no primeiro quanto no segundo turno, houve um imenso número de pessoas que não compareceram para votar; ou compareceram, mas votaram branco ou nulo. 
Estamos falando de mais de 40 milhões de brasileiros e brasileiras.
Há quem compreenda este fenômeno como uma demonstração do “fracasso” da democracia, outros como uma manifestação antisistêmica de parte da população, outros ainda como uma confirmação da natureza burguesa do nosso sistema política. 
Qualquer que seja a avaliação, trata-se de um fenômeno que merece ser analisado em detalhe, para informar medidas que precisam ser tomadas com urgência.
Terceiro: o desempenho das esquerdas
Desde 1982 até 2024, já tivemos 12 processos eleitorais municipais. 
Em todos estes processos, os partidos do centro à direita tiveram mais votos, conquistaram mais prefeituras e vereanças. Portanto, o que ocorreu em 2024 não foi um ponto fora da curva.
Entretanto, em eleições anteriores, o desempenho das esquerdas em geral e do PT em particular foi relativamente melhor do que o de 2024. 
Melhor significa: tivemos um percentual maior de votos válidos, conquistamos um número maior de prefeituras e vereanças, conseguimos uma distribuição mais equilibrada dessas prefeituras pelo território nacional, alcançamos vitórias em maior número de cidades estratégicas.
Tudo relativamente, ou seja, relativamente aos nossos inimigos e relativamente ao nosso próprio desempenho.
Vejamos o caso específico do PT, que é o Partido que possui o melhor desempenho nas esquerdas.
Se compararmos o desempenho de 2024 (metade do governo Lula 3) com o desempenho de 2004 (metade do governo Lula 1), 2008 (metade do governo Lula 2), 2012 (metade do governo Dilma 1) e 2016 (depois do golpe), o resultado para prefeituras é o seguinte:
2004 409
2008 558
2012 635
2016 256
2020 183
2024 252
Portanto, observando a curva, voltamos agora a números absolutos parecidos com os que tivemos em 2016. E superiores aos de 2020. Mas inferiores aos dos anos anteriores.
Se compararmos 2024 com 2020 (metade do governo Lula 3 com metade do governo cavernícola), o desempenho foi melhor: de 183 para 252, 69 cidades a mais.
Mas quando levamos em consideração o porte das cidades, a coisa muda de figura.
Nas cidades com mais de 100 mil eleitores, caímos de 9 para 8 prefeitos/as. A grande novidade é que agora temos uma capital.
Nas cidades com 50 a 100 mil eleitores, crescemos de 7 para 15 prefeitos/as.
Nas cidades que tem entre 20 à 50 mil eleitores, crescemos de 20 para 41 prefeitos/as.
E nas cidades com menos de 20 mil eleitores, crescemos de 147 para 188 prefeitos/as.
Ou seja, este ano elegemos 69 cidades a mais, mas a maior parte disto (41) foi em cidades de pequeno porte.
Além disso, é bom lembrar que - quando a eleição começou - o PT governava não 183 cidades, mas sim 265 cidades. Isto porque prefeitos eleitos por outros partidos, resolveram filiar-se ao PT depois da vitória de Lula. 
Portanto, a rigor, caímos de 265 para 252. 
Além disso, a distribuição das prefeituras eleitas por estado revela uma concentração brutal: 202 das 252 estão concentradas em cinco estados. Bahia e Piauí com 50 cada, Ceará com 47, Minas Gerais com 35 e Rio Grande do Sul com 20. 
Vale destacar que apenas em dois estados (Bahia e Piauí), o número atual de prefeituras é o maior já obtido. Nos outros três (Minas, Rio Grande e Ceará), o PT já governou, no passado, um número maior de cidades.
Vale destacar que houve um crescimento importante foi o número de pessoas governados por administradores petistas.  Em 2020 governávamos 4,4 milhões de pessoas, agora vamos passar a governar 7,6 milhões de pessoas (lembrando que Fortaleza sozinha tem 2,4 milhões). Um crescimento de 73% em termos da população governada. 
Mas este crescimento precisa ser considerado relativamente: o PL governava 6,6 milhões em 2020 e agora passou a governar 19 milhões, um crescimento de 189%. O PSD e o Republicanos também tiveram um crescimento expressivo em termos proporcionais.
Ademais, quando comparamos o PT consigo mesmo, o resultado é o seguinte: o PT governava 19,9 milhões em 2008, 27 milhões em 2012, 4,3 milhões em 2016, 4,4 milhões em 2020 e agora vamos governar 7,6 milhões.
Por esses e por outros motivos, quando analisamos do ponto de vista nacional, o resultado para as esquerdas em geral e para o PT em particular não deve ser apresentado como uma vitória eleitoral. 
Claro que há derrotas eleitorais que são vitórias políticas. Aliás, o fato de termos obtido alguns resultados mais positivos do que os de 2020, o fato de termos vencido ou de termos tido grande crescimento em algumas cidades, tudo isto demonstra que o resultado nacional poderia ter sido outro. 
Mas, quando olhamos o resultado nacional de conjunto, não é correto falar nem de vitória eleitoral, nem de vitória política. Vitórias políticas, com ou sem vitória eleitoral, foram obtidas em um número importante de cidades. Mas no conjunto do país, o resultado f…

Em entrevista ao Bom dia 247, o jornalista Breno Altman analisou o resultado do segundo turno das eleições de 2024




domingo, 27 de outubro de 2024

Boulos: "Recuperamos a dignidade da esquerda"

  


https://noticias.uol.com.br/eleicoes/2024/10/27/kotscho-tarcisio-bolsonaro-boulos.htm?cmpid=copiaecola

SOBRE A CAMPANHA DE BOULOS EM SÃO PAULO E O RESULTADO DAS ELEIÇÕES.

Valeu a campanha!!!! Considerada vitoriosa, mesmo antes do resultado desta eleição. Agora é seguir na luta, porque a vitória na guerra cultural antecede a vitória nas disputas eleitorais. E a luta no campo cultural é árdua, longa e renhida... Tomara que muitas lideranças da esquerda que não perceberam isso a tempo, não demore muito a perceber, porque desse tempo, dependerá a reconquista do terreno perdido no campo da batalha de ideias, de significados e de sentido....Aquele abraço!!

Vamos precisar de mais ação cultural como tenho insistido desde 1980. Frei Betto chama de  educação política. E também vem falando e fazendo isso há muito tempo. Romero Venâncio fala e faz educação popular.

 Outros falam em trabalho de base. Uns também fazem, mas o número é bem aquém do necessário. O resultado é o que estamos vendo nestas eleições.  Como a mudança cultural leva tempo  e necessita de alto investimento, e não apenas econômico. Serão tempos muito difíceis. E não conseguiremos superar em pouco tempo. Se a maioria das lideranças de esquerda forem capazes de entender, poderemos voltar a ter melhores resultados no médio prazo. Quanto tempo levará isso, dependerá da verdadeira compreensão do que foi citado no início dessa pequena nota.

ZdO

"Eu vi
vencedores
nos olhos de muitos
derrotados.
Dignidade é tudo."

Sergio Vaz

O candidato do PSOL declarou que, apesar da derrota para Ricardo Nunes, sua campanha resgatou o contato com povo ao fazer o "olho no olho"

POLÍTICAS SOCIAIS MUDAM A CABEÇA DO POVO?

Frei Betto
       Minha resposta à pergunta acima é não. Em setenta anos de União Soviética, o povo foi beneficiado com direitos que o Ocidente ainda não conquistara. Homens e mulheres desempenhavam os mesmos trabalhos e tinham igual remuneração. Já na década de 1920, 600 mulheres ocupavam cargos similares ao de prefeita, enquanto na maioria dos países ocidentais elas nem tinham direito a voto. 
       A União Soviética foi o primeiro país da Europa a apoiar direitos reprodutivos, em 1920. As mulheres detinham plena autoridade sobre seu corpo.[1] O ensino escolar era gratuito, inclusive a pós-graduação. Os estudantes recebiam do poder público livros didáticos e material escolar.[2] Também o sistema de saúde era inteiramente gratuito. O número de usuários de drogas era extremamente baixo e os poucos que conseguiam entorpecentes o faziam através de turistas que contrabandeavam para dentro do bloco.[3] Foram os soldados que ocuparam o Afeganistão, no fim da década de 1980, que infestaram de drogas os países do bloco soviético. 
       Apesar de tudo, a União Soviética colapsou sem que fosse disparado um único tiro. O povo deu boas-vindas ao capitalismo. Hoje, a Rússia é um dos países onde a desigualdade social é mais alarmante.
       O socialismo soviético não fez a cabeça do povo em prol de uma sociedade solidária. Do mesmo modo, o Estado de bem-estar social, predominante na Europa “cristã” até ruir o Muro de Berlim, não fez a cabeça do povo.
      Antonio Candido dizia que a maior conquista do socialismo não se deu nos países que o adotaram, e sim na Europa Ocidental, onde o medo do comunismo levou a burguesia a ceder os anéis para não perder os dedos.
     Findo o socialismo, a burguesia ergueu os punhos e revelou sua verdadeira face: prevalência dos privilégios do capital sobre os direitos humanos; repúdio aos refugiados; privatização dos serviços públicos; alinhamento à política belicista dos EUA. 
Governos do PT
       O Brasil conheceu 13 anos de governos do PT que asseguraram à população de baixa renda vários benefícios: Bolsa Família; salário mínimo corrigido anualmente acima da inflação; Luz para Todos; Minha casa, Minha vida; Fies; cota nas universidades; redução drástica da miséria, da pobreza e do desemprego; aumento da escolaridade etc. 
       No entanto, Dilma Rousseff foi derrubada sem que o povo fosse às ruas defender o governo. E Bolsonaro foi eleito presidente em 2018. Em 2022, perdeu para Lula pela diferença de apenas 2 milhões de votos, de um total de 156 milhões de eleitores.
Freud e Chomsky
       Segundo Freud, “a massa é extraordinariamente influenciável e crédula, é acrítica, o improvável não existe para ela. (...) Os sentimentos da massa são sempre muito simples e muito exaltados. Ela não conhece dúvida nem incerteza. Vai prontamente a extremos; a suspeita exteriorizada se transforma de imediato em certeza indiscutível, um germe de antipatia se torna um ódio selvagem. Quem quiser influir, não necessita medir logicamente os argumentos; deve pintar com imagens mais fortes, exagerar e sempre repetir a mesma fala. (...) Ela respeita a força, e deixa-se influenciar apenas moderadamente pela bondade, que considera uma espécie de fraqueza. Exige de seus heróis fortaleza, até mesmo violência. Quer ser dominada e oprimida, quer temer os seus senhores. No fundo, inteiramente conservadora, tem profunda aversão a todos os progressos e inovações, e ilimitada reverência pela tradição.”[4]
       Quem faz a cabeça do povo é o capitalismo, que exacerba nosso lado mais individualista e narcisista. E promove 24h por dia a deseducação da sociedade ao estimular o consumismo, a competitividade, a ambição de riqueza, o “salve-se quem puder”. 
       Noam Chomsky[5] enumera os recursos do sistema para evitar a consciência crítica: o entretenimento constante (vide a programação de TV); disfarçar os abusos como necessidades, como o aumento das tarifas dos transportes (“Medidas que são, na verdade, prejudiciais à população por favorecer os interesses escondidos de uma minoria, passam a ser implantados como se fossem garantir benefícios em comum”); tratar o público como criança e manter a consciência infantilizada; fazer a emoção prevalecer sobre a razão; manter o público na ignorância e na mediocridade, como a linguagem cifrada utilizada nas matérias sobre economia; autoculpabilização (sou o único responsável por meu fracasso ou sucesso); convencer que a grande mídia sabe mais do que qualquer pessoa etc. São o que Chomsky denomina as “armas silenciosas para guerras tranquilas”. 
       O PT governou por quatro vezes os municípios de Maricá (RJ) e Ipatinga (MG), assegurando grandes benefícios às suas populações. Em 2022, Bolsonaro venceu nos dois turnos nas duas cidades.
       Isso significa que é real o risco de a direita voltar à presidência da República em 2026. Por mais benefícios que o governo Lula venha a garantir ao povo brasileiro. Qual é, então, a saída? Como evitar que isso venha a ocorrer?
Educação política
       Só há uma alternativa: intenso e imenso trabalho de educação popular, pelo método Paulo Freire, utilizando dois recursos preciosos que o governo dispõe, a capilaridade e o sistema de comunicação. Capilaridade seria adotar a pedagogia paulofreiriana na formação dos agentes federais em contato com os segmentos mais vulneráveis da população, como saúde, IBGE, Embrapa etc. Por que não incluir no Bolsa Família, que atende mais de 21 milhões de famílias, uma terceira condicionalidade, além da escolaridade e da vacina? Seria a capacitação profissional. Além de propiciar qualificação aos beneficiários, de modo a que possam produzir a própria renda, as oficinas de capacitação seriam pelo método Paulo Freire. Mulheres que se inscreverem para se capacitarem em oficinas de culinária e costura, por exemplo, aprenderiam esses ofícios segundo o método que desperta consciência crítica.
A rede de comunicação do governo federal
       O outro recurso é a EBC – Empresa Brasileira de Comunicação -, poderoso sistema de comunicação em mãos do governo federal, desde a “Voz do Brasil”, ouvida diariamente por 70 milhões de pessoas.
       A TV Brasil, Canal 2, rede de televisão pública, conta com 50 afiliadas em 21 estados. Em 2021, ficou entre as 10 emissoras mais assistidas do país. O sistema de rádio EBC engloba 9 emissoras próprias em 2 estados e no Distrito Federal. A EBC dispõe do maior sistema de cobertura nacional de rádio, com 14 rádios afiliadas. A Rádio Nacional é uma rede de emissoras da EBC. É formada pelas seguintes emissoras: Rádio Nacional do Rio de Janeiro (alcance em todo o território nacional por transmissão via satélite); Rádio Nacional de Brasília; Nacional FM (Brasília); Rádio Nacional da Amazônia (sede em Brasília, mas programação voltada para a região Norte); Rádio Nacional do Alto Solimões (Tabatinga, AM); e as Rádios MEC e MEC FM (Rio de Janeiro).
       A comunicação do governo federal dispõe ainda da Radioagência Nacional, agência de notícias que distribui áudios produzidos pelas emissoras próprias da EBC e emissoras parceiras. Segundo a estatal, mais de 4.500 emissoras de rádios utilizam os conteúdos da Radioagência. E a Agência Brasil, focada em atos e fatos relacionados a governo, Estado e cidadania, alcança 9,19 milhões de usuários por mês. 
       Há ainda o Portal EBC, plataforma na internet que integra conteúdos dos veículos (Agência Brasil, Radioagência Nacional, Rádios EBC, TV Brasil, TV Brasil Internacional) da Empresa Brasil de Comunicação e da sociedade em um único local. 
       A EBC, além de gerenciar as emissoras públicas federais, também é responsável pela formação da Rede Nacional de Comunicação Pública (RNCP). A RNCP visa estabelecer a cooperação técnica com as iniciativas pública e privada que explorem os serviços de radiodifusão pública. Atualmente, a rede conta com 38 emissoras espalhadas por todo o país.  
    Dentro da política da RNCP, a EBC pode solicitar a qualquer tempo canais para execução de serviços de radiodifusão sonora (rádio FM), de sons e imagens (televisão) e retransmissão de televisão por ela própria ou por seus parceiros. São as chamadas Consignações da União. Atualmente, 13 veículos são operados dessa forma em todo o país: TV Brasil Maranhão, com o Instituto Federal do Maranhão; TV UFAL, com a Universidade Federal de Alagoas; TV UFPB, com a Universidade Federal da Paraíba; TV UFSC, com a Universidade Federal de Santa Catarina; TV Universidade, com a Universidade Federal do Mato Grosso; e TV Universitária, com a Universidade Federal de Roraima.
       Imagina o leitor ou a leitora toda essa rede voltada para o despertar da consciência crítica do público. Basta para isso mudar a chave epistemológica, passar da lógica analógica, que apenas se foca nos efeitos dos problemas sociais, à lógica dialética, centrada nas causas dos problemas sociais. 
       Quando vemos na TV campanhas em favor de quem tem fome, em geral aparecem indicações de locais de coleta de alimentos e doações de cestas básicas. Em nenhum momento o noticiário levanta as perguntas: por que há pessoas com fome? Por que não têm acesso aos alimentos? É natural que haja abastados e famintos? Como superar essa desigualdade? 
       Há muito a fazer para conscientizar, organizar e mobilizar o povo brasileiro. Recursos existem. E há vontade política por parte de Lula e da Secretaria Geral da Presidência da República, monitorada pelo ministro Márcio Macedo. Faltam apenas maior empenho, produção de material para os veículos de comunicação social e verba para que o governo disponha de uma rede de educadores populares de, no mínimo, 50 mil pessoas!
       
Frei Betto é escritor e educador popular, autor de “Por uma educação crítica e participativa” (Rocco) e, com Paulo Freire, “Essa escola chamada vida” (Ática), entre outros livros. Livraria virtual: freibetto.org 
[1] Abortion, Contraception, and Population Policy in the Soviet Union, David M. Heer.
[2] A Geography of Russia and its Neighbors", do geógrafo Mikhail S. Blinnikov
[3] Arquivo da CIA: The USSR and Illicit Drugs: Facing Up to the Problem.
[4] Psicologia das massas e análise do eu, 1921.
[5] Mídia – propaganda política e manipulação, São Paulo, Martins Fontes, 2013