quinta-feira, 4 de julho de 2024

A ditadura interroga o educador. Inquérito Paulo Freire

 


Em 1964, Paulo Freire foi preso duas vezes pelo 4o Exército. Na primeira, em 16 de junho (aniversário de sua esposa, Elza), foi levado de casa por dois soldados e permaneceu com paradeiro desconhecido por cerca de 24 horas. Oficiais chegaram a negar que Freire estivesse detido, mesmo com sua família tendo testemunhado a prisão. Depois, admitiram que ele estava encarcerado na Segunda Companhia da Guardas do Recife. […] Freire ficou preso por mais de setenta dias, entre junho e setembro de 1964, na Segunda Companhia da Guardas do Recife e na Cadeia de Olinda. Amargou o começo da prisão numa cela solitária, com apenas 60 centímetros de largura e 1,7 metro de comprimento, com “paredes de cimento áspero, [que] não dava para encostar o corpo” , como lembraria mais tarde. […] O primeiro interrogatório do tenente-coronel Hélio Ibiapina com Paulo Freire ocorreu em 1o de julho de 1964, quinze dias depois de sua “prisão para averiguação”. Constava no prontuário da Delegacia de Segurança Pública de Pernambuco que Freire “era um dos responsáveis pela subversão no campo da alfabetização de adultos” e que “essa subversão era executada com recursos financeiros do próprio governo federal, com ajuda da Aliança para o Progresso”. […] O segundo interrogatório registrado no IPM ocorreu em 16 de setembro, foi mais duro e mais breve. […] O Inquérito Policial Militar de Paulo Freire é um documento conhecido dos historiadores. Com este pequeno livro, o conteúdo integral dos dois interrogatórios aos quais foi submetido entra em circulação para um público mais amplo, integralmente revisado e com notas de contextualização. É uma fonte histórica que pode mobilizar uma interessante variedade de debates formativos que tratem, por exemplo, das formas da repressão na ditadura brasileira, do significado documental de um IPM, da situação de Pernambuco em 1964, das modalidades das acusações, do esquema mental dos opressores, da paranoia anticomunista dos golpistas e da natureza do medo do opressor frente à pedagogia freiriana — enfim, do tenso encontro, dentro de uma sala, entre dois projetos antagônicos de Brasil.

— Joana Salém Vasconcelos, na Apresentação 

SOBRE A ORGANIZADORA
Joana Salém Vasconcelos é historiadora graduada pela Universidade de São Paulo (2010), mestra em desenvolvimento econômico pela Universidade Estadual de Campinas (2013) e doutora em história econômica pela Universidade de São Paulo (2020). É autora da tese “O lápis é mais pesado que a enxada”: reforma agrária no Chile e pedagogias camponesas para transformação econômica (1955-1973), que aborda o papel de Paulo Freire na reforma agrária chilena durante seu exílio, e do livro História agrária da revolução cubana: dilemas do socialismo na periferia (Alameda, 2016), e co-organizadora de Cuba no século XXI: dilemas da revolução (Elefante, 2017) e de Paulo Freire e a educação popular: esperançar em tempos de barbárie (Elefante, 2023). É professora visitante da Universidade Federal do ABC. Desde 2010, atua como educadora popular na Rede Emancipa. Também é coordenadora editorial da revista Latin American Perspectives e autora de artigos e dossiês sobre América Latina contemporânea.



Para adquirir o livro, aqui






terça-feira, 2 de julho de 2024

“Gente Humilde”: uma homenagem e uma reflexão. Confira artigo de Leonardo Boff em homenagem à Chico Buarque e seus 80 anos

 

Por Leonardo Boff

Da Página do MST

“Gente humilde” é uma canção de Chico Buarque feita em parceria com outros. De sua vasta e complexa obra, esta canção é para mim a mais bela e significativa. Ela fala dos anelos que animam a teologia da libertação que confere centralidade à “gente humilde” e reconhece neles uma força histórica, pouco valorizada pelos analistas sociais.Quero homenageá-lo pelos seus 80 anos com uma pequena reflexão a partir desta canção. Nela tudo é verdadeiro.

As coisas verdadeiras e identificadoras das pessoas se realizam para além da consciência reflexa. São forças que atuam a partir do profundo da vida e do universo, do inconsciente abissal e de arquétipos ancestrais que assomam à consciência das pessoas e através delas se anunciam e emergem na história. Digo isso para superar certa interpretação que dá valor absoluto ao sujeito e ao sentido consciente que ele pretende conferir à sua obra. O sentido da produção de Chico Buarque vai além do sentido que ele mesmo, talvez tenha querido dar a ela. Seguramente ele não pretende ter o monopólio do sentido da realidade por ele cantada e descrita. Há múltiplas facetas de sentido que podem ser captadas pelos ouvintes e leitores, que então se fazem co-autores da obra. Transcrevo a canção “Gente Humilde”

“Tem certos dias em que eu penso em minha gente

E sinto assim todo o  meu peito se apertar

Porque parece que acontece de repente

Feito um desejo de eu viver sem me notar

Igual a eles como quando eu passo no subúrbio

Eu muito bem vindo de trem de algum lugar

E aí me dá como uma inveja dessa gente

Que vai em frente

Sem nem ter com quem contar

São casas simples com cadeiras na calçada

E na fachada escrito em cima que é um lar

Pela varanda flores tristes e baldias

Com a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito

Feito um despeito de eu não ter como lutar

E eu que não creio peço a Deus por minha gente

É gente humilde, que vontade de chorar”

No ofício de teólogo e há 50 anos andando com os dois pés, um na academia e outro nos meios pobres, considero esta obra de Chico a mais comovente e perfeita. Ela traduz à maravilha duas realidades.

A primeira, “da gente humilde”, de seu completo desamparo social. Não há ninguém por eles. Vão em frente com suas poucas forças, sem contar com ninguém, nem com o Estado, nem com a sociedade fechada em seus interesses excludentes de classe, às vezes, nem com as igrejas, embora uma porção da Igreja Católica fez uma opção pelos pobres, contra sua pobreza e por sua libertação. Mas geralmente só contam com Deus e com eles mesmos. As casas, quando as têm, são simples, com cadeiras na calçada, de onde veem o mundo e compartem as amizades. Possuem um senso ético elevado e um sentido sagrado de família. A casa é pobre mas é “um lar”. Flores tristes, raquíticas, semelhantes a eles, enfeitam a casa, mas reina discreta alegria e serenidade.

A segunda realidade que a canção traduz com fina percepção ética e psicológica é a reação de quem não é “gente simples” mas é sensível, humano e solidário com esta condition humaine, no caso, do Chico, Vinicius de Morais e Garoto, co-autores da letra e da música. O compositor pensa “em minha gente”, quer dizer, para Chico, ela existe e está aí, quando para tantos ela não só é invisível como não existe ou é vergonhosamente desprezada. Percebe a diferença de estatuto social: ele vem muito bem de trem; eles, seguramente a pé, caminhando muito. Seu “peito se aperta”, gostaria de viver como eles, anônimos, sem ser notado. Mais ainda: tem “inveja desta gente” por sua coragem de enfrentar sozinha a vida, lutar e sobreviver sem ninguém para ajudar.

E aí irrompe a solidariedade e a compaixão no sentido nobre do termo: como ajudar e estar junto deles? Eclode o sentimento de impotência, “a tristeza no […] peito/ feito um despeito de […] não ter como lutar”.

A Teologia da Libertação, que envolve ainda milhares de cristãos nos vários continentes, começou ao se enfrentar com essa situação relatada por Chico.Esses cristãos assumiram um compromisso libertador, confiando na “gente humilde” e em sua força histórica. Mas a chaga é grande demais. A nossa geração nem a próxima talvez  não consiga fechá-la. Assola-nos um sentimento de impotência mas sem nunca perder a esperança de que um outro mundo é possível e necessário. 

É então que recorremos à Última referência. Deve ter Alguém, senhor do mundo e do curso das coisas, que dê jeito nessa humilhação. Mesmo alguém que não crê, mas que não perdeu seu sentido de humanidade, percebe o sentido libertador da categoria “Deus”. E aí, com emoção incontida, canta o poeta: “E eu que não creio peço a Deus por minha gente/ é gente humilde, que vontade de chorar”.

A impotência é superada porque triunfa a comoção do coração. Deus é invocado, desesperadamente, como derradeira fonte de sentido. Diante da gente humilde, sofrida, anônima, toda descrença seria cinismo, toda indiferença, desumanidade. O efeito final é esse mesmo: “dá vontade de chorar”. E choramos ou enxugamos discretamente lágrimas de comoção, de indignação e de compaixão.

Não há vez que escute esta canção que não me venham lágrimas aos olhos, pois a verdade é tanta e o sentimento tão verdadeiro que a única reação digna são as lágrimas que, segundo São Paulo, é um dom do Espírito Santo. Isso é puro humanismo, testemunhado também por Jesus de Nazaré que se comoveu diante de seu povo abandonado como ovelhas sem pastor.

E aqui cabe uma reflexão de teólogo sobre “a não crença” de Chico, dita nesta canção. Precisamos fazer um discernimento e resgatar qual é a verdadeira crença e qual, a falsa. Isso aparece claro quando conscientizamos o sentido verdadeiro de “Deus” e onde Ele se deixa encontrar sob outros nomes.

Há os que dizem que não creem, mas se preocupam com a “gente simples”, são sensíveis à justiça e se recusam a aceitar o mundo perverso que encontram. E há os que creem em Deus mas nem veem a “gente simples” e são insensíveis à injustiça social e se inserem tranquilamente no mundo perverso em que se encontram.

Onde está Deus? De que lado Ele se encontra? De tudo o que aprendemos dos profetas e da reflexão cristã, Deus está infalivelmente do lado de quem se acerca da “gente simples”, se compromete com a justiça e se enche de iracúndia sagrada contra esse mundo perverso. Isso porque o verdadeiro nome de Deus é justiça, é solidariedade e é amor.

Quem tem Deus continuamente em seus lábios e O professa em suas palavras mas se distancia da “gente humilde”, se faz mouco aos reclamos da justiça e não se incomoda com a solidariedade, está longe de Deus e falto de sua graça. O Deus em que crê não passa de um ídolo porque não há amor, solidariedade e justiça.

Chico se colocou, sem pretendê-lo, ao lado do Deus vivo e verdadeiro porque se situou ao lado da “gente humilde”. Seu engajamento o situa infalivelmente do lado de Deus e no coração de seu projeto de um Reino de amor,de justiça e de paz.

Mais ainda. Na tarde da vida, quando tudo vai se decidir, o critério será, segundo Jesus (veja o evangelho de São Mateus 25, 41-46), o quanto tivermos sido sensíveis à “gente humilde”, aos famintos, aos sedentos, aos pobres e penalizados desta nossa história. Estes que assim fizeram, ouvirão as palavras de infinita bem-aventurança: ”foi a mim que o fizestes”; “vinde, pois, abençoados de meu Pai e tomai posse do Reino preparado para vós desde a criação do mundo”.

Para mim, bastaria “Gente humilde” para eternizar Chico no coração de todos os que não passam ao largo dos caídos na estrada, mas se detêm como samaritanos, sofrem e choram junto. Chico viveu a mesma experiência de seu patrono Francisco de Assis. Essa experiência o converteu de filho de um rico comerciante a um amigo e companheiro dos mais pobres dos pobres, os leprosos (hansenianos). Ele falava deles como sua “gente poverella”, gente humilde da Toscana. De burguês e membro da “jeunesse dorée” que era, largou tudo e fez-se pobrezinho como eles. Era chamado simplesmente de “o poverello de Assis”.

E agora digo como teólogo: atrás desta “gente humilde” de todos os “poverellos” se esconde o Filho de Deus. Dignificar a “gente humilde”, como fez Chico, é resgatar o melhor da herança humanística de nossa história e do Jesus histórico que  viu nos pobres, os primeiros herdeiros de seu sonho. Sempre esteve ao lado do cego, do coxo, do psicologicamente afetado (possessão,na linguagem da época) e se fez ele também um pobre.

Para viver esta dimensão não precisa ser religioso nem crer em Deus. Logicamente se é religioso e crê em Deus se vê reforçado. Mas não é indispensável. Basta ser humano, amante da justiça e um cantador do amor. Nisso se realiza a religião autêntica e aí se encontra o verdadeiro Deus.




Conheça os 10 filmes que marcam a 11ª edição do 8½ Festa do Cinema Italiano 2024

 Em Sergipe, de 04 a 9 de julho, no Cine Vitória,  os filmes que se destacam no cinema italiano recente como parte da programação da edição de 2024 do 8½ Festa do Cinema Italiano.

Um dos destaques é o longa de estreia da diretora Léa Todorov, Maria Montessori - Ensinando com Amor. A produção traz um olhar inovador sobre inclusão, respeito às diferenças e feminismo no início do século 20, ao se aprofundar no método criado pela pedagoga italiana Maria Montessori, pautado sobretudo na liberdade e na autonomia da criança. O longa é protagonizado pela atriz Jasmine Trinca, que esteve na edição de 2023 no Brasil, como convidada do Festival.

Outro destaque é o longa Segredos, de Daniele Luchetti, uma adaptação do romance do autor italiano Domenico Starnone, protagonizada pelo ator Elio Germano: dois amantes decidem confessar segredos, em muitos casos obscuros, e o que era uma brincadeira nos leva a questionar profundamente sobre a natureza humana.

Uma das grandes provocações fica a cargo de O Sequestro do Papa, de Marco Bellocchio, que nos apresenta um olhar rigoroso sobre a complexidade das relações entre o Estado e a Igreja, sob um viés de filme de terror. Exibido na competição oficial do Festival de Cannes e vencedor de cinco David de Donatello 2024, de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino, Melhor Maquiagem e Melhor Cabelo/Penteado, o longa tece uma crítica ao moralismo católico e se baseia em uma história real. Além disso, o filme levou o Globo de Ouro italiano, prêmio dado pela imprensa estrangeira da Itália aos melhores filmes do ano.
Também integram a programação o longa A Imensidão, de Emanuele Crialese, protagonizado por Penélope Cruz, e indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2022. A produção aborda questões de gênero vividas por um adolescente e representa muito bem o gênero coming-of-age

Outro grande destaque da programação deste ano é um dos maiores sucessos de bilheteira da história recente do cinema italiano: Ainda Temos o Amanhã, de Paola Cortellesi, vencedor de cinco prêmios David di Donatello: Melhor Direção Estreante, Melhor Roteiro Original, Melhor Atriz (Paola Cortellesi), Melhor Atriz Coadjuvante (Emanuela Fanelli), Prêmio da Juventude.

Estão confirmados também: Lubo, de Giorgio Diritti, baseado no romance “Il seminatore”, de Mario Cavatore; Enea, de Pietro Castellitto, que integrou a competição Oficial no Festival de Veneza 2023; Il Boemo, de Petr Václav, A Última Noite de Amore, de Andrea Di Stefano; e O Divino Zamora, de Neri Marcorè, que marca a estreia do diretor no cinema.

Confira aqui as 19 primeiras cidades que se estão preparando para receber a edição de 2024 do maior evento dedicado à cultura italiana.

O 8 ½ Festa do Cinema Italiano é uma realização do Ministério da Cultura, da Associação Il Sorpasso e da Risi Film Brasil, com o apoio da Embaixada da Itália e da rede diplomático-consular italiana no Brasil, dos Institutos Italianos de Cultura do Rio de Janeiro e de São Paulo e da Cinecittà. A organização logística é da Bonfilm.

Desde 2020, o 8 ½ Festa do Cinema Italiano é realizado com o patrocínio principal da Generali Seguros e, pela primeira vez em 2024, através da Lei de Incentivo à Cultura. 

Em 2024, o Festival também conta com os parceiros de mídia Canal Curta!, Papo de Cinema e Revista Comunità Italiana.

Critica - O SEQUESTRO DO PAPA - Se preferir, leia a sinopse, 
assista o trailer e o filme  e depois leia a critica... AQUI 
Confira sinopses e traillers de outros filmes do festival. AQUI










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