domingo, 28 de julho de 2024

REPARTIR É GANHAR. - Dep. Fed. Chico Alencar, Irmão Marcelo Barros, Pe. José Soares, Pe, Júlio Lancellotti, Papa Francisco, Zé Vicente e Antônio Cardoso.

 Chico Alencar 

·(breve reflexão para cristãos ou não)

Nesse domingo, o Evangelho de João (6, 1-15) nos interpela sobre ter empatia, repartir e doar, a partir de gestos concretos de Jesus.

De cara, diante da multidão, há um Jesus interessado nos outros: "onde vamos encontrar pão pra tanta gente?".

Depois, um Jesus generoso. Um menino - portador de esperança - chega com 5 pães de cevada e 2 peixes; Jesus dá graças (pelos dons da vida) e com eles alimenta a multidão! 

Milagre é sinal sempre solidário: espalhar benefícios, não conformar-se com a fome.

Há também um Jesus que não quer o desperdício: "recolham o que sobrou".

E, por fim, um Jesus que recusa o poder: tendo saciado a fome do povo, se afasta, solitário, dos que o querem aclamar rei. Nenhum fascínio pela glória terrena...

E nós, preocupamo-nos com os 800 milhões de famintos, 10% desses ainda no Brasil? Valorizamos os pequenos produtores, as cooperativas e a agricultura familiar baseadas na agroecologia? Combatemos o desperdício da sociedade do consumo frenético e do descarte? Deixamo-nos seduzir pelo poder e a notoriedade na sociedade das aparências?

Papa Francisco alerta: "enquanto queremos multiplicar e acumular, Jesus quer que dividamos, partilhemos!".

Como temos agido nesse mundo que valoriza mais posse que doação, mais acumulação que distribuição, mais ganho pessoal que compartilhamento?

Temos, como o Mestre, ido "para a outra margem", livres da bagagem pesada do autocentramento, da busca do exclusivo interesse individual?

Estamos aqui para fazer diferente, para "desafinar", "destoar". Para ir, amorosamente, contra a corrente. Para "forjar no trigo o milagre do pão" (Milton e Chico B.). Para virar o mundo "em festa, trabalho e pão" (Gil).

Sintamo-nos numa Olimpíada da Fraternidade/Sororidade, em que o pódium é possibilitado a tod@s!

O milagre dos peixes é trazer vida. O milagre dos pães é a repartição.



A prioridade da partilha para a fé
XVII Domingo comum: Jo 6, 1- 15. 

                                            A prioridade da partilha em um mundo fechado ao amor.

Irmão Marcelo Barros

                 A ONU aponta que, de 2020 para os nossos dias, o número de pessoas afetadas pela fome em todo o mundo aumentou em milhões. Atualmente, calcula-se que quase um bilhão de pessoas vive em situação de fome ou de insegurança alimentar. No Brasil, mesmo com os esforços do atual governo federal e seus programas emergenciais, milhões de pessoas ainda são vítimas dessa forma de organizar a sociedade, a partir da ambição da elite e da política centrada no ódio e na morte. 

 Já na década de 1960, Dom Helder Camara expressava a sua dor diante do fato de que o mundo é assim. Ele chamava a atenção para o fato de que os países que mais oprimem os outros e são os maiores responsáveis pela desigualdade social e pela exclusão de milhões de pessoas das mínimas condições de vida são, justamente, os que se dizem de origem e cultura cristã. Dom Helder percebia que, no decorrer da história, com exceções de algumas figuras excepcionais, mais ou menos dissidentes, em geral, as Igrejas têm legitimado e sustentado o sistema social e político assassino e opressor. Em Riobamba, no Equador, nos seus últimos momentos de vida, o bispo Leónidas Proaño murmurava: - “Meu Deus, agora vejo com tristeza e dor que minha Igreja tem uma responsabilidade imensa de culpa por tudo o que os povos indígenas sofrem”.  

É à luz dessa realidade que convido vocês a meditarmos no texto evangélico, lido pelas comunidades, neste XVII Domingo comum do ano: Jo 6, 1 – 15.


 Esse relato é contado por uma comunidade, constituída por gente pobre, na qual muitos/as viviam no Império Romano do final do primeiro século da nossa era como residentes sem documento, isso é, não tinham sua cidadania reconhecida. 

Desde os anos 80, as comunidades cristãs tinham rompido com as sinagogas judaicas, mas em termos de administração social, nas cidades do Império, continuavam a depender da jurisdição dos rabinos. Os donos do império não faziam distinção entre judeus e cristãos. Por isso, as assembleias de discípulos e discípulas de Jesus, (as Igrejas de base) começavam a ser mal vistas e perseguidas pelas autoridades do Império. Esse foi o contexto histórico, no qual as comunidades joaninas recordam o episódio do evangelho que contam no texto que lemos hoje. No decorrer da história, essa cena ficou conhecida como “multiplicação dos pães”, embora, em nenhum lugar do texto, se fale em multiplicação. O evangelho diz que Jesus repartiu (o verbo grego é distribuir) pão e peixe. 

Um forte sinal de que a preocupação com o fato de que o povo tenha o que comer (é o que, hoje, chamamos segurança alimentar) é tão importante para os evangelhos é o fato de que, fora dos relatos da paixão de Jesus, esse episódio no qual Jesus alimenta uma multidão no deserto é o único acontecimento da vida de Jesus que os quatro evangelhos reproduzem, sendo que dois deles (Marcos e Mateus) contam como se esse fato tivesse ocorrido duas vezes. (Marcos 6, 35 – 44 e de novo no capítulo 8, 1- 9 e Mateus 14, 13 – 21 e de novo 15, 32 – 38) 

 O relato de João sobre esse episódio da partilha dos pães e dos peixes no deserto tem algumas particularidades, como o fato de ligar esse fato à festa da Páscoa (“Estava próxima a Páscoa dos Judaítas). Além disso, João esclarece que isso aconteceu na margem do lago que o evangelho chama de Mar de Tiberíades, por causa da cidade construída em honra a Tibério. O fato de Jesus não ter subido a Jerusalém para a Páscoa já chamava a atenção. No entanto, o fato de reunir muita gente daquela região era ainda mais grave. Pelo fato de estar em um território habitado por não judeus, as pessoas já eram consideradas impuras e pecadoras. Não poderiam mesmo entrar no templo de Jerusalém, nem celebrar a Páscoa. O evangelho diz que Jesus celebrou com aquele povo outra forma de comunhão. Provocou os discípulos sobre como comprar alimento para tanta gente. O evangelho diz claro que queria colocá-los à prova. Queria que compreendessem que a solução para a comida não poderia vir do dinheiro. 

Nos outros evangelhos, os discípulos dizem que seriam necessários duzentos denários, o equivalente ao salário de um trabalhador durante um ano para alimentar aquela multidão. Nesse evangelho, Filipe diz que nem essa soma seria suficiente. Hoje, sabemos que a fome e a insegurança alimentar da humanidade nunca será resolvida por soluções capitalistas. Jesus contrapõe a economia do dom e da partilha ao que podemos chamar de economia do lucro. Essa economia solidária e alternativa se expressa hoje no modo de organizar a economia das comunidades originárias. Significa a organização comunitária da troca, da gratuidade e da reciprocidade.


No evangelho de João, é Jesus que toma a iniciativa de distribuir a comida a partir dos cinco pães e dois peixes que um menino tinha trazido. Diferente dos outros evangelhos, João diz que os pães eram de cevada (o único pão que os mais pobres podiam comer, porque era mais barato) e os peixes eram secos, alimento que as pessoas podiam levar para viagem, sem estragar. Jesus dá graças (em grego é fez eucaristia) e distribuiu.  É possível que o verdadeiro milagre tenha sido o fato de que, ao verem o menino colocar em comum o pouco que tinha trazido para comer, outras pessoas tenham aceitado fazer o mesmo. Assim, aquilo que era impossível aconteceu: todos comeram. Jesus manda os discípulos recolherem o que sobrou. Há quem diga que somente com o que se desperdiça e joga fora do que sobra no comércio e nas casas, se conseguiria resolver a fome do mundo. Mas, para isso, seria necessária a cultura do cuidado com os outros e da partilha. O 

Infelizmente, a religião centrada no culto não cria isso. Para suscitar a partilha, Jesus reúne o povo no deserto. Como no tempo antigo, o Amor Divino alimentou o povo no deserto com o maná (Cf. Ex 16). Agora, na vida de Jesus, essa partilha dos pães e dos peixes é a Páscoa que retoma o novo Êxodo do povo que continua sendo marginalizado pela política, mas também pela religião do templo. 

Provavelmente, uma aglomeração de tanta gente na Galileia já era vista como evento subversivo e perigoso. O povo reage ao sinal da partilha que Jesus cria dizendo: Esse é o profeta! Isso significa: Ele é o Messias que nos vem libertar. A multidão quer proclamar Jesus como rei. Assim como Moisés, magoado e irritado, quebra as tábuas da aliança e sobe de novo o monte Sinai, também Jesus rejeita a realeza, como sendo idolatria e se evade para a solidão da montanha. 


Para nós, hoje, fica o apelo profético: superar o messianismo fácil do poder e testemunhar por nossa vida que o reinado divino vem a partir da comunhão e da partilha. 

                                        Cântico: Pão em todas as mesas

Zé Vicente









 ROTEIRO DOMINICAL - 17o DOMINTO DO TEMPO COMUM (ANO B - SÃO MARCOS)
JESUS E O SINAL DO PÃO
Pe. José Soares

NA COMUNIDADE DE JOÃO, Jesus é aquele que sempre nos alimenta e ainda provoca a nossa capacidade de viver a partilha. Se estamos no ano de Marcos, porque agora aparece João? Ele nos socorre com sua capacidade litúrgica de nos ensinar, nos mostrar o pão da vida e nos mostrar caminhos pastorais. Vamos aos textos: 
NA PRIMEIRA LEITURA um homem trouxe alguns pães para Eliseu e o profeta agiu com sabedoria pedindo que fosse tudo distribuído para o povo comer. O servo estava assustado e o profeta bem confiante e sereno, porque onde Deus bota a mão sobra abundância e partilha: “Como vou distribuir tão pouco para cem pessoas? Eliseu disse outra vez: Dá ao povo para que coma; pois assim diz o Senhor: ‘Comerão e ainda sobrará’” (2 Reis 4,43).
O PÃO é sempre sinal de abundância e de que Deus acompanha a nossa carência e a nossa humilde condição de pecador. Pão é alimento e sempre está relacionado com outros temas da sagrada escritura e da vida: pão recorda e se relaciona com mesa farta, peixe, alimento do céu, pão é palavra, carência e fome, bolsa família, banquete, benção e fartura, miséria e ausência e também pão é eucaristia que se faz na presença e com a vida de Jesus; não existe eucaristia sem compromisso com os pobres e famintos e não podemos alimentar a ilusão que eucaristia é só celebrada; eucaristia é vida partilhada no amor que gera unidade e paz (ler Paulo na segunda leitura Efésios 4,2-3).
NO EVANGELHO, Jesus sinaliza para o pão como resposta a incapacidade de Filipe enxergar a partilha. Vamos primeiro entender o que está fazendo Filipe nesse lugar. Seu nome tem origem grega e significa “amigo dos cavalos”. Filipe passa confiança e passa muita lealdade para com Jesus. Filipe aparece em momentos cruciais e depois desaparece. Ele age como aquele que deve apontar a luz e não sê-la. Filipe em João “gosta de incomodar” o Senhor: João 12,21-22; 14,8-9, bom ler e teremos uma visão ampla dele e do que significa sinal em João. 
“Levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão estava vindo ao seu encontro, Jesus disse a Filipe: Onde vamos comprar pão para que eles possam comer” (João 6,5). 
SINAL TEOLÓGICO e pastoral é como Jesus levanta seu olhar para nos enxergar como multidão faminta e sedenta de sua palavra. Jesus é o próprio sinal de um Deus que se preocupa com a nossa fome e providencia o pão para que comamos e partilhemos. Jesus não gosta de limitar a vida da comunidade a ter que sempre comprar. Triste mania essa nossa de gastar, consumir, comprar e dar um jeito de dizer cinicamente que os que não tem devem ficar fora da fila. Jesus enxerga no garoto com os pães e os peixes que a hora do banquete chegou e Ele próprio – não é assim em Mateus, Marcos e Lucas, só no evangelho de João – é quem distribui o pão, sinal de abundância para o povo comer. Jesus é o pão do céu e nos indica como pastoral: parem de construir santuários, reformar igrejas, comprar cálices de ouro e custódias caríssimas, sinos de prata e roupas vistosas. Parem de fazer da pastoral um lugar de pura exibição e olhem a multidão com fome, pois nela eu estou à espera da Igreja. BASTA!

ASSESSOR das CEBs e Vigário no Bairro Industrial - Aracaju.



Antonio Cardoso na Canção e a Prece: "Daqui do meu lugar"

O cantor, compositor e catequista está presente no Programa Brasileiro da Rádio Vaticano todos os domingos com o espaço especial intitulado "A Canção e a Prece". No programa de hoje: “Esse é verdadeiramente o profeta”…

Vatican News

Quanta falta tem de pão. Pão para essa humanidade faminta. O pão da solidariedade. O pão da fraternidade. O Pão da justiça. Senhor dai pão a quem tem fome e fome de justiça a quem tem pão. Hoje o Evangelho é para que possamos pensar no modo como agimos e no modo como nos transformamos em pão que parte e se reparte. Em meio a tantas multidões famintas nos tantos continentes, mas também no nosso país. Esse é verdadeiramente o profeta, aquele que deve vir ao mundo, é assim que todos diziam pelos sinais de Jesus…

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