Confira as qualidades de um organizador revolucionário de acordo com Saul Alinsky, autor do livro "Regras para radicais", que chega primeiro para os assinantes do Armas da Crítica, o clube do livro da Boitempo
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Por Saul Alinsky
Curiosidade
Só um povo que pergunta “por quê?” é capaz de desafiar o statos quo e começar a se rebelar. O questionamento precede a revolução.
Irreverência
Só porque as coisas sempre foram feitas assim, será mesmo a melhor opção? Um questionador não considera nada sagrado. Ele contesta, insulta, agita e desacredita. Provoca inquietação.
Imaginação
Combustível que mantém a força de um organizador, é a base para a tática e a ação efetivas. Um organizador se deixa mover pela imaginação anormal que leva à estreita identificação com a humanidade. Ele sofre, se enfurece com a injustiça e organiza a rebelião.
Senso de humor
Um organizador que tem a mente livre e aberta, desprovida de certezas e dogmas, encontra no riso não só a maneira de manter sua sanidade, mas também uma chave para entender a vida.
Uma vaga noção de mundo melhor
Boa parte do trabalho diário de um organizador é lidar com minúcias. Manter o movimento tendo vaga noção do grandioso mural constituído em conjunto com outros. Cada parte é essencial para o todo.
Uma personalidade organizada
É preciso ser bastante organizado para se manter confortável em uma situação desorganizada. Um organizador deve aceitar irracionalidades e operar com elas com o propósito da mudança.
Um esquizoide político bem integrado
As pessoas só agem quando se veem convencidas. Um organizador deve se cindir em dois: uma parte na arena da ação, polarizando questões e liderando forças para o conflito; a outra parte negociando. Ele precisa se cindir e, não obstante, permanecer composto.
Ego
Trata-se da confiança irrestrita na própria capacidade de fazer o que se acredita que deva ser feito. Um organizador tem de aceitar, sem medo nem preocupação, que as probabilidades estão sempre contra ele.
Uma mente livre e aberta e relatividade política
Ao viver com curiosidade, irreverência, imaginação, senso de humor, falta de confiança no dogma, auto-organização, compreensão da irracionalidade de boa parte do comportamento humano, o organizador se torna uma personalidade flexível, não uma estrutura rígida que quebra quando algo inesperado acontece.
Saiba que a vida é a busca da incerteza; que o único fato certo da vida é a incerteza; e conviva bem com isso.
Regras para radicais: guia prático para a luta social
Publicado pela primeira vez em 1971, Regras para radicais, do estadunidense Saul Alinsky, foi escrito em meio a efervescências políticas como a Guerra do Vietnã e a luta pelos direitos civis. A obra, que desde então virou referência na formação de ativistas, apresenta os princípios teóricos e políticos do movimento de organização das comunidades estadunidenses, em especial as urbanas. Como um guia político, Regras para radicais traz ideias e orientações para mudanças sociais a partir de construções coletivas, além de abordar os princípios organizativos e de formação de lideranças populares.
A obra chega ao Brasil pela primeira vez e em meio a disputas jamais imaginadas por Alinsky, como a concentração de poder das big techs, a ascensão da extrema direita no mundo e novos debates sobre identidade e interseccionalidade. Para Áurea Carolina e Roberto Andrés, que assinam a orelha da obra, as táticas propostas pelo autor permanecem atuais: “Elas foram pensadas para que o lado mais frágil da sociedade seja capaz de vencer disputas contra aqueles com muito poder”.
Regras para radicais, de Saul D. Alinsky, tem tradução de Nélio Schneider, prefácio de Alessandra Orofino, orelha de Áurea Carolina e Roberto Andrés e capa de Mateus Rodrigues.
Saul D. Alinsky nasceu em Chicago em 1909 e foi educado primeiro nas ruas e depois na universidade daquela cidade. O trabalho de graduação em criminologia pela Universidade de Chicago o levou a conhecer a gangue de Capone e, mais tarde, a penitenciária Estadual Joliet, onde estudou a vida na prisão. Seu trabalho de organização dos pobres para lutar por seus direitos como cidadãos foi reconhecido internacionalmente. No fim da década de 1930, ele organizou a área de Back of the Yards em Chicago. Mais tarde, por meio da Fundação Áreas Industriais, que ele inaugurou em 1940, Alinsky e sua equipe ajudaram a organizar comunidades não só em Chicago, mas em todo o país, do gueto negro de Rochester (Nova York), aos bairros mexicano-estadunidenses da Califórnia. Os esforços iniciais de organização de Alinsky o levaram a ser preso de tempos em tempos, e foi nessas ocasiões que ele escreveu grande parte de seu primeiro livro sobre organização comunitária, Reveille for Radicals.
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