domingo, 14 de julho de 2024

Missão de Vida - A autenticidade do discipulado - A missão arriscada e incômoda - XV Domingo comum: Mc 6, 7- 13. Chico Alencar, Chico Machado, Pe. José Soares, Irmão Marcelo Barros, Pe. Júlio Lancellotti, Antônio Cardoso.

 MISSÃO DE VIDA - Chico Alencar.

(breve reflexão para cristãos ou não)

O Evangelho lido hoje em milhares de comunidades de fé do mundo é o do "envio" (Marcos 6, 7-13).

Jesus dá aos seus discípulos dicas sobre como cumprir a missão de fazer o bem, espalhar benefícios, servir.

Como ajudar a curar, hoje, os adoecidos pelo egoísmo e pelas neuroses, os possuídos pelo demônio do autocentramento, da acumulação, do ódio ao outro.

A orientação do Mestre é objetiva: ir leve, despojar-se de tudo que possa atrapalhar o essencial, que é pregar a boa nova do Amor. "Não levar nem pão, nem sacola, nem dinheiro" (😎.

Na missão de vida compartilhada que nos é dada - para lhe dar sentido! - nunca caminhar sozinho: buscar companhia ("um mais um é sempre mais que dois" - Beto Guedes e Ronaldo Bastos, "O sal da terra").

Deixar-se acolher, hospedar. Amigo é casa! Mostrar-se sinceramente igual ao outro que se busca. "Precisamos de pouca coisa: apenas uns dos outros", ensinou Carlito Maia (1924-2002). 

A missão de generosidade que Jesus propõe aos seus (e a todos nós) contrasta com os apetrechos, tesouros e negócios de muitas igrejas, que veneram mais poder e dinheiro do que Deus... Vai na contramão da soberba e dos dogmas de certos "pregadores", donos da verdade.

Pedro Casaldáliga (1928-2020) entendeu, proclamou e praticou  - com inteira coerência - o ensinamento de Jesus: "não ter nada, não levar nada, não poder nada, não matar nada, não calar nada. Somente o Evangelho, como faca afiada, e o pranto e o riso no olhar, e a vida, a cavalo, dada. E este sol e estes rios e esta terra comprada, como testemunhas da Ressurreição já estalada. E mais nada!".

Caminhemos, doando-nos. Lutando, com firmeza e ternura, contra as estruturas de opressão. Despojados, com alegria e boa companhia!

15a estação da Via Sacra da Libertação - Adolfo Perez Esquivel


A autenticidade do discipulado

(Chico Machado)

Décimo Quinto Domingo do Tempo Comum. Estamos no Ano litúrgico B. Se no Ano A, lemos e refletimos o Evangelho de Mateus, no Ano B, ficamos com Marcos, e no C Lucas. João é requisitado nas solenidades celebradas pela Igreja Católica. Marcos foi o primeiro Evangelho a ser escrito, servindo de base para os demais Evangelhos. Lembrando que ele relata, de forma singular, toda a atividade de Jesus como o anúncio e a concretização da vinda do Reino de Deus (Mc 1,15). E isso se manifesta pela transformação radical das relações humanas: o poder é substituído pelo serviço (campo político), o comércio pela partilha (campo econômico), a alienação pela capacidade de ver e ouvir a realidade (campo ideológico).

Tivemos talvez a noite mais fria aqui pelas bandas do Araguaia. Um vento forte percorreu toda a noite, fazendo com que a sensação térmica estive numa temperatura mais abaixo que o normal por aqui. Quem esteve acompanhando o “show musical” na praia, deve ter passado uns maus bocados. Como não sou apreciador deste tipo de sertanejo atual (universitário), optei pela cama, que estava mais aconchegante. Não tive coragem de fazer como o Raul Seixas num dos versos de sua canção: “Enquanto todos praguejavam contra o frio, e fiz a cama na varanda!”

No dia 14 de julho , comemoramos mundialmente o Dia da Liberdade de Pensamento. Livre pensar é só pensar! Infelizmente, grande parte de nossa educação brasileira, não mais ensina a pensar. A contragosto de nosso maior educador Paulo Freire, as escolas deixaram de ser espaços de produção de conhecimento e pensamento, para se transformarem num depositário de conteúdos, uma vez que nem os nossos “educadores” de hoje, exercem a arte do saber pensar por si mesmos. Neste sentido, estou com o escritor, historiador e filósofo iluminista francês Voltaire (1694-1778) quando diz: “Quando não há, entre os homens, liberdade de pensamento, não há liberdade”.

“Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós”. Liberdade como a de Jesus para anunciar e praticar o Reino querido e desejado por Deus para nós. Mais uma vez, vemos o Mestre Galileu fazendo o primeiro envio missionário dos doze apóstolos (Mc 6,7-13). Trata-se de um texto bastante emblemático que aparece nos três evangelhos sinóticos (Mt 10,1.9-14; Lc 9,1-6). Depois de sofrer a forte rejeição pelos seus conterrâneos, em sua terra natal (Nazaré), estando Ele num sábado, ensinando na sinagoga, conforme foi relatado no texto do domingo passado, Jesus não se intimida e faz com que seus discípulos de tornem apóstolos, enviados a proclamar, levando adiante a missão de anunciar e construir o Reino. Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e Deus dará a vocês, em acréscimo, todas essas coisas. (Mt 6,33)

O texto do evangelho de hoje omite o versículo anterior e que nos dá uma compreensão melhor de quem são os destinatários da missão dos apóstolos: “Jesus começou a percorrer as redondezas, ensinando nos povoados”. (Mt 6,6b) A preocupação maior de Jesus não era com os religiosos e políticos do centro do poder, mas os moradores das periferias, dos povoados. Estes sim eram os destinatários primeiros da missão dos apóstolos. Estando com Jesus, recebem dele o empoderamento para darem continuidade à missão da Boa Notícia, como o próprio profeta Isaías já havia pré-anunciado: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu. Me enviou para anunciar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros”. (Is 61,1) Nisto consiste a missão de Jesus e também a de seus apóstolos. A verdadeira autenticidade dos apóstolos é a de estar com Jesus e abraçar a missão do Reino, no aqui e agora de nossa história. 

Enviados para proclamar a Boa Notícia da libertação e os destinatários são os pobres, porque eles estão mais abertos à fraternidade e à partilha. Os discípulos são enviados para continuar a missão de Jesus: pedir mudança radical da orientação de vida (conversão), desalienar as pessoas (libertar dos demônios), restaurar a vida humana (curas). Eles devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem as mudanças/transformações, porque se beneficiam dos privilégios que são fruto de uma sociedade de exploração dos pequenos. Como continuadora da missão de Jesus, esta é também a leitura que a Igreja hoje precisa fazer, se quiser ser fiel à proposta do Reino, anunciado por Jesus. Uma pena que alguns, dentro da nossa Igreja, não atentaram para esta tarefa, uma vez que estão mais preocupados com seus status clericais de poder, a ostentação de suas vestes litúrgicas, o carreirismo eclesiástico e os “penduricalhos sagrados”, num verdadeiro culto às suas personalidades. Pregam a si mesmos e não o Reino de paz e justiça, anunciado e vivido por Jesus de Nazaré. Como disse o Papa Francisco: "a Igreja não existe para si mesma, mas para levar Jesus ao mundo, para proclamar o Evangelho às nações e estar próxima da dor dos mais pobres".

ROTEIRO DOMINICAL – 15º DOMINGO do TEMPO COMUM – O profeta Jesus envia os seus discípulos (ANO B – MARCOS). Pe. José Soares

A LITURGIA DESTE domingo começa com uma resposta dura e enigmática de Amós ao sacerdote do templo: “Respondeu Amós a Amasias, dizendo: Não sou profeta nem sou filho de profeta; sou pastor de gado e cultivo sicômoros” (Amós 7,12). Se ele cuida de gados porque aceitou profetizar? Vamos compreender o contexto.

a) A profecia. Ela começa no coração de Deus e é derramada sobre aqueles e aquelas que o Senhor escolheu. A vocação profética se impõe pela situação de pecado, injustiça, desgraça e sofrimento que vive o povo. Amós saiu de sua terra – ele era do reino do Sul – e foi pregar no Norte. Amós grita que foi Iahweh que o enviou e ele não pôde resistir, porque o chamado foi mais forte do que sua vida. Profecia não é para agradar ao povo e nem ao rei, nada de bajular a monarquia ou afirmar que no Templo tudo está correto. Profecia também é para desagradar e mostrar os erros cometidos e por isso, sempre a perseguição será o pagamento para o profeta. O profeta é livre e deve responder diretamente a Deus por sua inquietude e seu desejo de correr mar e terra para anunciar a Palavra de Iahweh. Como Jesus, o profeta não é empregado do poder, ele é servo da Palavra e por ela vai sucumbir se for preciso. Na profecia de Jesus está o modelo do segundo testamento e, com ele, iremos também anunciar o Reino de seu Pai. 

b) A sacola dos seguidores/as de Jesus. O modo como ele envia é muito dinâmico e exigente: “Recomendou-lhes que não levassem nada para o caminho, a não ser um cajado; nem pão, nem sacola, nem dinheiro na cintura (Marcos 6,8). O propósito do mandato missionário é para sair de casa em casa e não se prender aos bens materiais e aos lugares. Parece, que diferentemente de Mateus 10 e Lucas 10, Marcos aponta mais a itinerância como o detalhe decisivo na missão. As marcas fundamentais para os homens e mulheres seguirem em missão são estas: o Espírito e o despojamento de tudo. Largar tudo, os bens materiais, as certezas da vida, as ideologias, os laços biológicos e/ou afetivos que adoecidos, interferem na beleza da missão. Jesus manda de dois em dois (6,7), não admite ninguém sozinho pois a soberba e a petulância arruína o trabalho. Jesus gosta de trabalhar em grupo e, talvez seja esse traço, que mais exige o despojamento e nos ajude a perceber com clareza que o Reino de Deus não é meu e sim de todos e todas que seguem a Jesus. Missão é vida no Espírito e gratuidade, por isso, muitas comunidades só estão vivendo de missas e a tendência é fechar, porque estão matando a proposta do “IDE DE JESUS”. BOM DOMINGO! 

N.B. ESTE ano de eleição municipal será um dos pleitos mais desafiadores e com muita ganância pelo poder e dinheiro (Amós e Jesus, pregam o contrário). Esta eleição será utilizada para expor muita gente com agenda religiosa e mentirosa, a exemplo de Amasias no templo de Betel (só ler Amós). Essa eleição será de grande risco para os profetas e profetizas que se sentem livres em relação ao poder; as igrejas que se cuidem, para não “venderem gato por lebre”. BASTA!

P. José Soares de Jesus. 

Vigário na S. Pedro Pescador e assessor das CEBs em Aracaju.

A missão arriscada e incômoda - XV Domingo comum: Mc 6, 7- 13.  Irmão Marcelo Barros

A missão arriscada e conflituosa a qual Jesus nos envia 

              Neste XV domingo do ano, o evangelho de Marcos 6, 7- 13 conta como Jesus enviou os discípulos em missão. No capítulo 3 o evangelho conta que Jesus chamou os doze, um a um e o texto diz: chamou para si. Agora, novamente, o texto afirma: Jesus chamou e enviou. São como três passos do processo vocacional: 

1 - o chamado para o seguimento. 

2 – a pertença ao grupo – a comunhão do discipulado.

3 – a missão no mundo, por amor a todos e todas. 

Para se tornar discípulo, o primeiro passo foi o chamado para o seguimento. Precisamos passar da dispersão do mundo e de uma vida vivida de uma forma qualquer para estar com Jesus, ouvir sua Palavra que nos chama sempre de novo e segui-lo, ou seja, assumir o caminho do amor solidário que ele viveu e nos propôs. 

Aí vem o segundo passo da vocação: Jesus nos coloca no grupo dos discípulos e discípulas. O chamado é pessoal e único, mas ele nos coloca na comunhão de intimidade sua e do seu grupo. A partir de agora, não estamos mais sós. Devemos sempre contar com a comunidade, uma comunidade de destino e de missão. Por isso, vem o terceiro passo que esse evangelho de hoje descreve: o envio em missão. No verso anterior, o evangelho dizia que Jesus percorria a Galileia, “ensinando”. De fato, para Marcos, tudo é ensino: a palavra em forma de enigmas (parábolas), mas principalmente as curas que Jesus faz para libertar as pessoas das doenças que as oprimem e das energias negativas que as dominam. 

Conforme Marcos, o contexto a partir do qual Jesus envia os discípulos em missão é o fato de ter sido rejeitado em sua terra natal. Já que Nazaré fecha suas portas ao testemunho do projeto divino, Jesus envia os discípulos às aldeias das redondezas. “Enviados” é a tradução do termo grego: apóstolos. Eles são enviados para a mesma missão do mestre: testemunhar que o reinado divino está chegando. 

É o terceiro passo: Novamente, Jesus chama “para si” e envia dois a dois na direção do mundo, dos outros, principalmente do povo doente, carente e sofrido. O programa que Deus tem para o mundo vai logo se realizar. Esse reinado tem o poder de libertar o povo das energias ruins (o texto começa dizendo que ele, Jesus, deu aos discípulos o poder sobre os espíritos maus). 

No primeiro capítulo do evangelho de Marcos, a missão de Jesus começa com a prisão de João Batista. João foi preso e Jesus o substitui como profeta. E partilha essa missão com os primeiros discípulos. Agora, esse segundo momento ou etapa da missão (dos discípulos) está ligado ao martírio de João (v 14- 29). É importante esse fato: a missão de testemunhar o reino sempre está ligada à profecia, à prisão e ao martírio. A missão não é algo tranquilo: é conflitiva e perigosa. 

Conforme o evangelho de Lucas (Lc 8, 1- 4), além dos discípulos homens, um pequeno grupo de mulheres seguiu Jesus e participou dessa missão desde a Galileia. Esse grupo feminino vai ter muita importância na hora da paixão. As mulheres serão as primeiras testemunhas da ressurreição de Jesus. Jesus chamou homens e mulheres para serem discípulos. Talvez, isso tenha sido uma revolução tão grande para a cultura judaica e oriental da época que, mesmo algumas décadas depois de Jesus, as comunidades que escreveram os evangelhos não foram fieis a essa profecia. Temos de completar esse relato do evangelho e se referir às mulheres também enviadas em missão. Só assim, seremos fieis a Jesus e aos textos que falam de Maria Madalena e outras discípulas como “apóstolas dos próprios apóstolos”. 

A primeira coisa que chama a atenção no texto de Marcos é que Jesus chama os discípulos e discípulas para si e os/as envia. É a união com ele que permite que eles e elas partam em duplas. Em um mundo no qual os caminhos eram extremamente perigosos e violentos, andar em duplas possibilitava o mínimo de segurança. Nos lugares e casas que não os/as receberem, eles (elas) devem fazer o que os judeus faziam quando voltavam do estrangeiro à sua terra: sacudir o pó das sandálias contra essas pessoas. 

Atualmente, em vários países, alguns ministros de Igrejas cristãs se ligam a políticos de extrema-direita e a governantes, responsáveis por guerras, por bloqueios econômicos assassinos e por outras decisões de crueldade humana. Para esses senhores da hierarquia, governantes podem matar pessoas pela violência armada ou pela tortura da fome. Eles lamentam, mas não reagem, contanto que essas pessoas se mantenham favoráveis às pautas de Moral Sexual que essas hierarquias eclesiásticas defendem como sendo de Jesus. 

Ao contrário desse tipo de postura, conforme o evangelho que meditamos hoje, o núcleo principal da missão a qual Jesus envia os discípulos e discípulas é o anúncio do reinado divino através da Paz e da Solidariedade. Jesus chega a dizer que contra quem não aceita a proposta divina da Paz, se sacuda até o pó das sandálias, como se fosse necessário evitar qualquer resto de contato com a ambiguidade. Jesus dá aos discípulos e discípulas poder sobre as energias negativas e lhes manda curar e libertar as pessoas do mal. O padre André Chouraqui fez uma tradução dos evangelhos, na qual  ressalta o sentido original de cada palavra. Na tradução desse texto, ele traduz o termo antigo “possessão diabólica” por sopro contaminado. 

Nestas orientações que Jesus dá aos discípulos para a missão não há nenhuma palavra religiosa. A missão não visa diretamente construção de Igreja, nem pastorais internas ou a piedade individual. Tem como meta o testemunho do projeto divino no mundo. É eminentemente social e política. 

Até hoje, há grupos eclesiais e ministros que confundem Igreja com o reino de Deus. É preciso retomar essa distinção fundamental e testemunhar que o reinado divino está presente e atuante em toda iniciativa solidária, aonde quer que seja. A missão dos discípulos e discípulas de Jesus é valorizar essa ação divina e com ela colaborar.  

O Deus que me criou, me quis, me consagrou

Para anunciar o Seu amor

O Deus que me criou, me quis, me consagrou

Para anunciar o Seu amor

Eu sou como a chuva em terra seca

Eu sou como a chuva em terra seca

Pra saciar, fazer brotar

Eu vivo pra amar e pra servir

Pra saciar, fazer brotar

Eu vivo pra amar e pra servir

É missão de todos nós

Deus chama, eu quero ouvir a Sua voz   (Zé Vicente)



Antonio Cardoso na Canção e a Prece: "Aprendiz de peregrino"
O cantor, compositor e catequista está presente no Programa Brasileiro da Rádio Vaticano todos os domingos com o espaço especial intitulado "A Canção e a Prece". No programa de hoje: “Essa é a palavra, a conversão”…

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