domingo, 21 de julho de 2024

Fatos da semana reforçam relevância do livro Políticas do encanto. Em fase de lançamento pela editora elefante.

 


 A última semana reforçou a relevância de Políticas do encanto: extrema direita e fantasias da conspiração, de Paolo Demuru, que acabamos de lançar. Enquanto o livro chegava às livrarias (e, claro, à casa de quem aproveitou a pré-venda com desconto no site da Elefante), o candidato republicano à presidência dos Estados Unidos, Donald Trump, surgia como vítima de um atentado. As imagens e as publicações que se seguiram nas redes sociais e na imprensa (nas quais pouco importa o que é verdade ou mentira; o que vale é como a mensagem é transmitida) apenas confirmam as teses de Políticas do encanto.

 “Toda era tem seu paradoxo. O da nossa é oscilar entre dois choques: um choque de realidade e um choque de fantasia”, escreve Paolo Demuru. “Fatos como a pandemia, os genocídios e o aquecimento global foram e seguem sendo negados. A eles sobrepôs-se uma teia de narrativas fantásticas sobre a ‘verdadeira realidade’ do mundo, à qual poucos eleitos teriam acesso.” Assim agem as milícias digitais de políticos como Trump e Bolsonaro, entre muitos outros. “Com eles, o conspiracionismo chegou ao poder. Aliás, pode-se dizer que o discurso político que mais se impôs no começo do século XXI é justamente aquele do ‘populismo conspiratório’ de extrema direita.”

 Políticas do encanto é um livro em dois tempos. Para começar, Demuru busca compreender o funcionamento das fantasias da conspiração, investigando o poder e a influência que desempenham na formação de opiniões e maiorias eleitorais. “É disso que me ocupo no Primeiro Ato do livro (‘Da magia do extremismo’)”, explica o autor. “Em seguida, em Interlúdio (‘Contra o suprematismo da razão’), abordo criticamente as técnicas de combate às teorias de conspiração e à desinformação, baseadas, em grande maioria, em apresentação de dados, checagem de fatos e argumentos lógicos.”

 No Segundo Ato (“Quebrar o feitiço”), a partir da constatação de que as redes sociais se tornaram um território essencial para a disputa política e que não podem ser ignoradas, apesar de todas as suas limitações, Demuru faz algumas propostas concretas para mudar os rumos dessa batalha, defendendo que “não adianta enfrentar os encantos do extremismo de direita apenas com fatos, dados e raciocínios. Se queremos mudar a realidade, precisamos mudar os trilhos da imaginação social, reconquistar a fantasia, inventar e semear histórias, outras histórias. A luta da vez é a luta pela maravilha.”

 No mesmo dia em que Trump emergiu como vítima de um atentado, o escritor Julián Fuks escreveu uma coluna no UOL influenciado pela leitura de Políticas do encanto. “O convite aqui parece ser pela retomada da ação política em sua dimensão mais ativa, solar, transformadora, quimérica”, afirma. “Só assim, munidos de uma nova razão e uma nova sensibilidade, devolvidos à materialidade das ruas e das palavras sinceras, é que seremos capazes de ver algo de nunca visto, com olhos frescos, reencantados. Abrir mão, quem sabe, de toda essa calmaria e essa falsa neutralidade, para voltar a pensar num mundo novo, mundo de novo utópico, ainda incerto, impreciso, a ser construído palmo a palmo.”

 SINOPSE

Movidas a algoritmos que potencializam discursos de ódio e administradas por bilionários ultracapitalistas muito bem relacionados com a nata do conservadorismo internacional, as redes sociais se tornaram um jardim florido para a extrema direita — e um atoleiro para a esquerda — no Brasil e no mundo. A partir dessa constatação, que hoje em dia não é segredo para ninguém, Paolo Demuru se propõe corajosamente ao arriscado desafio de pensar e propor saídas que comecem por um uso diferente, mais sagaz, das plataformas digitais — já que, queiramos ou não, elas se tornaram o principal espaço de disputa ideológica e eleitoral da atualidade, e não podem ser ignoradas — e deságuem em estratégias de reencantamento com os ideais políticos realmente emancipatórios, sobretudo na dimensão off-line, longe das telas dos smartphones, tarefa da qual as forças progressistas já foram capazes antes de se tornarem tristes defensoras de uma ordem injusta e desigual.

Autor

Paolo Demuru (Sassari, Sardenha, 1981) é doutor em semiótica pela Universidade de Bologna, Itália, e em semiótica e linguística geral pela Universidade de São Paulo. É docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisador do Centro de Pesquisas Sociossemióticas da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É vice-presidente da Associação Brasileira de Semiótica e foi coordenador do Grupo de Trabalho Práticas Interacionais, Linguagens e Produção de Sentido na Comunicação da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (2021-2023). Autor do livro Essere in gioco: calcio e cultura tra Brasile e Italia (Bononia University Press, 2014) e de diversos artigos científicos publicados em revistas internacionais. Pesquisa atualmente, em parceria com estudiosos europeus e latino-americanos, sobre a linguagem e as práticas discursivas do populismo digital do século XXI, as teorias de conspiração e outras estratégias de desinformação.

Para adquirir AQUI
 
LEIA TAMBÉM

DESCRIÇÃO
Como resposta ao generalizado mal-estar social, econômico e ecológico que são consequências da expansão da modernidade, Fabricio Pereira da Silva dá voz a uma busca que é bandeira há muito defendida pelas esquerdas: o anseio por um modo de vida mais justo, equânime, livre dos valores modernos de individualismo, exploração e crescimento econômico inconsequente e desmesurado, a partir do resgate e da releitura de formas de vida pré-capitalistas. Este livro é movido pela urgência de uma utopia que recupere as ideias de comunalidade gestadas na periferia global para inspirar outro tipo de futuro. Em busca da comunidade apresenta um rol de perspectivas teóricas criadas no chamado Sul global, com o intuito de superar uma “monocultura de saberes”. Fabricio Pereira da Silva analisa o socialismo indo-americano de Mariátegui, os conceitos de negritude e de ubuntu, os socialismos africanos do século XX, a ideia de Bem Viver (sumak kawsay/suma qamaña) e a felicidade interna bruta do Butão. Ao “ilustrar a riqueza das propostas da periferia”, o autor nos oferece recursos teóricos outros, capazes de fazer frente à “crise da modernidade, à crise do marxismo ocidental e dos projetos socialistas em chave modernista”.

***

Este livro é, em grande medida, uma história de conceitos periféricos que percorrem temas semelhantes. Uma de suas principais motivações é […] apresentar a riqueza de pensamentos periféricos, sobretudo de projetos periféricos emancipatórios, de uma intelectualidade crítica, de uma esquerda “não ocidental” que (remetendo a Mariátegui) não deve ser “decalque e cópia”, mas “criação heroica”. […] Outra proposta do livro é ensaiar uma modesta reflexão sobre o tempo, enfatizando (para aqueles, como este autor, formados num determinado “futurismo”) que o passado pode nutrir projetos de futuro. Desse modo, é inevitável questionar o tempo histórico da modernidade, do “progresso”, da “evolução”, da “aceleração”, do “sempre em frente”. Mas é possível fazer esse questionamento sem cair no “presentismo”, se o que precisamos é exatamente voltar a ter futuro. E sem que nos refugiemos em qualquer “passadismo” como suposta alternativa. Em meio a sucessivas crises do capitalismo, a uma pandemia, à erosão das democracias, ao esgotamento do planeta, os passados nos servem para projetar novos futuros — enquanto ainda é tempo.

O livro se estrutura da seguinte forma: o capítulo 1 (“A aposta na comunidade”) apresenta alguns debates centrais para sustentar os argumentos aqui desenvolvidos. Mais especificamente, destaca leituras que inspiraram estas páginas. Além disso, aborda dois momentos fundadores das reflexões aqui analisadas: o debate sobre a comunidade nos diálogos entre o populismo russo e Karl Marx, e o recurso ao tema na obra de José Carlos Mariátegui. O capítulo 2 (“A invenção da negritude”) analisa o conceito de negritude como criação do “Atlântico Negro”, a partir das obras de Léopold Sédar Senghor e de Aimé Césaire, bem como de seus críticos, e questiona sobre a possível atualidade do conceito. O capítulo 3 (“Comunalismo nas descolonizações africanas: os socialismos africanos como busca pelo próprio”) aborda os chamados “socialismos africanos” dos processos descolonizadores do continente, em particular as propostas desenvolvidas por Kwame Nkrumah, Julius Nyerere e o já citado Senghor, que defendiam (com argumentos um tanto distintos daqueles da negritude) a potencialidade do comunalismo africano como base para projetos socialistas alternativos.

Nos três capítulos seguintes, são discutidos conceitos que ganharam destaque contemporaneamente. O capítulo 4 (“Ubuntu: a essência africana revisitada”) trata do conceito de ubuntu, seus diferentes usos, sua expansão global e de como ele retoma argumentos presentes nas ideias negras apresentadas anteriormente. O capítulo 5 (“Comunalismo nas refundações andinas do século XXI: o sumak kawsay/suma qamaña”) apresenta o desenvolvimento do conceito que poderia ser (mal) traduzido como “Viver Bem” ou “Bem Viver”. O capítulo propõe uma tipologia dos diversos usos do termo e aponta suas potencialidades. O capítulo 6 (“A felicidade nacional bruta e seu insuspeito potencial transformador”) procura investigar o papel desse conceito como aglutinador do Estado e da identidade nacional butanesa, e seu potencial de assumir (particularmente a partir de sua expansão global) usos até mesmo revolucionários, sobretudo como uma crítica potente às noções hegemônicas de “crescimento”, “desenvolvimento” e “progresso”. Por fim, na conclusão (“A incessante busca pela comunidade”) são retomados argumentos anteriores, de modo a sistematizar algumas conclusões que de fato são “abertas”. Ela aponta mais para projetos futuros e projetos de futuro, em lugar de procurar esgotar quaisquer dos temas aqui abordados.

— Fabricio Pereira da Silva, na Apresentação

 SOBRE O AUTOR
Fabricio Pereira da Silva é professor da graduação e da pós-graduação em ciência política na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) e do mestrado em estudos contemporâneos da América Latina na Universidade da República (Udelar), no Uruguai. É doutor em ciência política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) e realizou estágio de pós-doutorado no Instituto de Estudos Avançados da Universidade de Santiago do Chile (Usach). É co-organizador de Os futuros de Darcy Ribeiro (Elefante, 2022) e autor de Democracias errantes: reflexões sobre experiências participativas na América Latina (Ponteio, 2015) e América Latina em seu labirinto: democracia e autoritarismo no século XXI (Ponteio, 2019), além de diversos artigos sobre teoria política, política latino-americana e pensamento latino-americano e africano.

Para adquirir AQUI


Nenhum comentário: