quarta-feira, 17 de julho de 2024

O CENTRO DOM BOSCO E UM ATAQUE ESTRATÉGICO A DOM JOAQUIM MOL

 Romero Venâncio (UFS)



Estudo e monitoro nas redes digitais alguns grupos e youtubers da extrema direita católica. Observo como funcionam dentro destas redes: o tipo de câmara que usam, o tipo de intelectual de direita que escolhem ser, os temas, a ideia de formação sistemática nos assuntos conservadores e tradicionalistas e quem escolhem atacar dentro da Igreja Católica. Nesse tema último, um desses grupos têm se tornados pródigos. Sabem quem e quando atacar certas figuras proeminentes do que eles entendem por “Teologia da Libertação” ou “Esquerda católica”. Como são discípulos de Olavo de Carvalho, basta o ataque com pouca ou nenhuma verificação. Interessa o estrago feito em público. É o caso do Centro Dom Bosco com Dom Joaquim Giovani Mol Guimarães, bispo auxiliar da Arquidiocese de Belo Horizonte.

O Centro Dom Bosco (CDB) nasceu em 2016 (ano sintomático para uma extrema direita que estava nas ruas e nas redes digitais desde 2013). E desde o seu nascimento, escolheram a estratégia moralista e fundamentalista de ataque público. Começaram se mostrando nos ataques ao grupo “Porta dos fundos”, numa virulência sem tamanho e se colocando no lugar de defesa de um catolicismo, onde acreditam viverem numa última cruzada. Inventaram que a Igreja Católica (deles!) estava sob ataque cerrado e que eles tinham que ser a defesa final. Triste entrada na cena pública. E não mudaram nada de lá para cá. Cresceram em adesão no seu canal e nos seus cursos doutrinários e avançaram na aproximação a Bolsonaro e seu terrível governo (2018-2022). Tornaram-se figuras públicas relevantes nos últimos anos.

Os ataques da parte desse obscuro Centro têm sido constantes e seletivos. Sabem quem atacam e porque atacam. Podemos ver vários vídeos de ataques a Dom Mol, a Dom Vicente Ferreira, a CNBB, as pastorais sociais e várias atividades de católicos progressistas nas redes digitais. Nos últimos dois anos, eles cerraram fogo contra Dom Mol. Fiquei matutando aqui e me perguntando o porquê da escolha seletiva deste bispo que atua em Belo Horizonte. Analisei os vídeos, procurei informações e li algumas entrevistas de membros do CDB. Em resumo, eles sabem o que fazem e fazem. Eles sabem porque atacam Dom Mol. Estão pensando no presente e no futuro. 

De todos os Bispos da CNBB atacados pelo CDB, Dom Mol é quem mais aparece em seus vídeos. Atacaram Dom Mol por atividades na PUC/Minas, por participação em atividades do Grito dos Excluídos junto aos movimentos sociais do Brasil, atacaram por conta do tema “hóstia na boca ou na mão”, atacam por conta de sua visão junto a “influenciadores católicos” e atacaram por sua leitura teológica e pastoral da “opção pelos pobres” (invocam a velha e gasta ladainha de “comunista”). Não é preciso ser inteligente para perceber que os ataques são sistemáticos, diretos e com intenção obscura - método desses grupos de extrema direita nas redes digitais.

No mais recente ataque a Dom Mol num vídeo intitulado “Missionários digitais de mãos dadas com a TL”  numa série chamada “Chave Católica” com um tal de Luciano Pires (que se apresenta com ar de fundamentalista católico mais-do-que-o-Papa). Trata-se de um programa de ataques com aquele “método-do-mofo” em julgar pessoas e fatos. Um triste catolicismo que mais envergonha do que enobrece e menos ainda evangeliza. O vídeo começa com uma fala recortada de Dom Mol a um grupo de Católicos sobre “influenciadores digitais católicos” em uma paróquia. Nada de mais, a princípio. O bispo católico é apoiador/organizador de uma rara coletânea publicada pela editora Paulus: “Influenciadores digitais católicos: efeitos e perspectivas” (2024). O capítulo 5 merece destaque: "Influência católica conservadora: aspectos políticos e religiosos”. É preciso que se diga o nome da coisa e como ela aparece e atua. 

O ataque é Dom Mol tem como objetivo central desgastar e macular a imagem pública do bispo. Por quê? Lembremos aqui que a arquidiocese do Rio de Janeiro deverá ter seu Cardeal “aposentado” este ano. Para o CDB, que tem seu centro de atuação no Rio de Janeiro, a escolha de um Dom Mol para ficar à frente da Arquidiocese será fatal. Dom Mol faz parte de uma das mais lúcidas e ativas atividades com meios de comunicação da Igreja Católica no Brasil. Ele faz parte de um “Observatório de comunicação religiosa”, tem uma visão de pastoral urbana moderna, trabalha com juventude e apoia pessoas nas pastorais que atuam junto a pessoas em situação de rua. Um homem na melhor condição para enfrentar uma necessária pastoral urbana nesse Brasil. Um Bispo com rara sensibilidade para o diálogo inter-religioso. Tudo que a extrema direita católica ataca. Imaginemos Dom Mol na Arquidiocese do Rio de Janeiro? E imaginemos o pesadelo do Centro Dom Bosco? Simples assim, mas nem tanto. Saibamos que no meio do caminho tem um Núncio apostólico e seus erros fatais em indicação/nomeação de bispos nas arquidioceses. Pronto. Sem mais. O resto, fica nas mãos do imponderável.


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