sábado, 6 de julho de 2024

Cidades: convite a outras cosmovisões

 O pensamento de Krenak e Nêgo Bispo sobre a crise urbana sugere: o modelo de “concreto, aço e asfalto” só levou às catástrofes. Mas a ancestralidade pode contribuir para superá-lo. Rever a cisão entre Natureza e Cultura é o primeiro passo.



Escuta? São os gritos de socorro das cidades. A catástrofe no Rio Grande do Sul, deixando rastros de lama e mortes, é o mais recente deles no Brasil. Afinal, são tempos de eventos climáticos extremos – de grandes inundações e secas a ondas de calor extremo – nas cidades. E o preço da inação é mais alto que o boleto enviado ao poder público por consultorias estrangeiras e grandes empreiteiras para a reconstrução de cidades.

Neste ano pré-COP, os olhos do mundo estão voltados para a Amazônia – e outros biomas ameaçados. Com justiça, evidentemente. Os ativismos, principalmente os indígenas, lançam-se em defesa da “floresta em pé”, numa batalha corajosa contra o agronegócio, as mineradoras e as petroleiras. A questão urbana diante da crise climática, no entanto, é uma pauta a se batalhar por mais espaço – afinal, segundo a ONU Habitat, as cidades ocupam 2% da superfície da Terra, mas consomem 78% da produção de energia e produzem mais de 60% das emissões de gases de efeito estufa.

No Brasil, elas representam menos de 1% do território nacional (0,63%) e concentram 160 milhões de pessoas, ou seja, 84,3% da população; quase um terço dela em metrópoles. O modelo de assentamento, quase sempre, é o de “fortaleza de concreto, aço e asfalto” que assassinou, no último século, biomas inteiros, rios, lagos e lençóis freáticos; devastou a biodiversidade que resistia no espaço urbano; e expulsou milhões para as periferias, muitas delas erigidas em áreas de risco.

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