terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Lula reconhece. Brizola e Darcy Ribeiro tinham tinham/tem toda a razão quando o assunto é educação.

 

“É importante a gente ter humildade para reconhecer que muitos educadores do meu partido nunca aceitaram a ideia do Cieps”, disse o presidente. “Nós agora estamos nos rendendo ao Brizola e ao Darci Ribeiro que ficaram sozinhos defendendo a ideia da escola em tempo integral

O presidente Lula teve um gesto de grandeza e, ao mesmo tempo, de humildade, na última quarta-feira (7), ao aproveitar o anúncio do lançamento do novo Instituto Federal de Educação, que será construído no Complexo do Alemão, no centro do Rio de Janeiro, para pedir desculpas públicas ao ex-governador Leonel Brizola e ao educador Dary Ribeiro, pelo fato de seu partido ter sido contra e combatido as escolas de tempo integral que os dois defendiam e implantaram.

Eu vou fazer um pedido de desculpas em nome da educação brasileira. Acho que eu tenho autoridade moral para fazer isso. Durante muito tempo esse Rio teve um governador chamado Leonel de Moura Brizola e teve um educador chamado Darci Ribeiro que fizeram os Cieps. E eles acreditavam que através da escola de tempo integral que a gente ia salvar as crianças do Rio de Janeiro. É importante a gente ter humildade para reconhecer que muitos educadores do meu partido nunca aceitaram a ideia do Cieps”, disse Lula.

“A escola de tempo integral era criticada. Porque não sei das quantas, etc e tal, e o Brizola ficava sozinho batendo. Ele e o Darcy Ribeiro”, acrescentou o presidente. Muitos educadores no Brasil criticaram os Cieps. Disseram que não era possível, que não era necessário e nós agora estamos nos rendendo ao Brizola e ao Darci Ribeiro”, prosseguiu Lula diante do prefeito do Rio, Eduardo Paes e de políticos do estado.

Educação: o Manifesto dos Pioneiros, 90 anos depois

Em 1932, documento marcou a defesa do ensino universal e laico. Construído por educadores como Anísio Teixeira, movimento enfrentou desigualdade entre a escola do povo e a da elite. Sua memória opõe-se ao contrassenso do “Novo Ensino Médio”

https://outraspalavras.net/outrasmidias/educacao-o-manifesto-dos-pioneiros-90-anos-depois/



Lula pede desculpas para Leonel Brizola e Darcy Ribeiro





Marinho a Brizola: “construir escolas, está bem… Mas não precisa disso tudo, faça umas escolinhas

Luiz Augusto Erthal

Não poderia publicar uma matéria sobre os Cieps sem dar um depoimento pessoal, por mais que me doam algumas das lembranças hoje sopesadas na distância desses 30 anos. Tive o privilégio de ver esse programa nascer e acompanhar cada passo da sua implantação. Talvez seja o jornalista que mais colocou os pés dentro dessas escolas, em muitas delas quando ainda se encontravam na fundação.

Estive no Palácio Guanabara, como jornalista e assessor de imprensa, nos dois governos Brizola (1983-1987 e 1991-1995). Cheguei em 1984 para participar de um projeto jornalístico, cujo objetivo era criar um caderno noticioso dentro do Diário Oficial do Estado, o D.O. Notícias, como ficou conhecido, uma estratégia para tentar enfrentar o cerco da mídia contra o governo. Fui designado pelo editor, Fernando Brito, mais tarde assessor-chefe de imprensa do governador, para cobrir as áreas de educação e esportes.

Passávamos os dias como combatentes às vésperas de uma grande batalha naqueles primeiros meses. Brizola conquistara o governo fluminense superando grandes obstáculos, desde atentados à sua vida até a fraude da Proconsult, uma tentativa desesperada de impedir sua chegada ao governo fluminense.

Havia uma enorme expectativa em torno dele desde a posse no Palácio Guanabara, que mais pareceu a queda da Bastilha, com o povo ocupando de forma descontrolada aquele símbolo de poder.  Afinal, nos estertores da ditadura, cada naco de poder reconquistado pelo povo era valioso. Vigiado de perto pelos militares, que permaneciam ainda no controle, bombardeado pela mídia conservadora e sufocado economicamente, Brizola tinha pouco espaço de manobra. Até que algo aconteceu.

“Agora esse governo começou!”, lembro bem da exultação do Brito ao voltarmos da apresentação do projeto dos Cieps, com a presença de Brizola, Darcy Ribeiro e Oscar Niemeyer, no Salão Verde do Palácio Guanabara. Uma revolução havia sido colocada em marcha. Estava claro para todos nós.

Brizola não tinha condições políticas de retomar naquele momento, como nunca mais teve, a reforma agrária e as outras reformas de base preconizadas por ele e por Jango em 64. No entanto, cria como ninguém no poder transformador da educação. Órfão de pai, que morreu emboscado ao retornar da última revolução farroupilha, em 1922, ano do seu nascimento, Brizola e seus irmãos foram alfabetizados pela mãe em Carazinho, interior do Rio Grande do Sul. Calçou os primeiros sapatos e usou a primeira escova de dentes aos 12 anos, na casa de um reverendo metodista, cuja família o adotou. Pode, então, estudar até formar-se em engenheiro. Fora salvo pela educação.

Quando governador do Rio Grande do Sul (1958-1962), construiu nada medos do que 6.300 escolas. “Nenhum município sem escola”, era o lema. Mas a realidade do Rio de Janeiro nos anos 80 era bem diferente. Ao retornarem do exílio, após 15 anos, Brizola e Darcy se depararam com a obra macabra da ditadura: o inchaço das grandes cidades, a favelização, a desestruturação familiar e o surgimento do crime organizado, que separavam, como bem sabemos hoje, nossos jovens de seu futuro. Aquelas escolinhas alfabetizadoras e formadoras de mão-de-obra técnica e rural do Rio Grande do Sul não resolveriam o problema do Rio de Janeiro pós-golpe.

A solução: uma escola integral em turno único, ofertando educação, cultura e cidadania; mantendo os jovens durante todo o dia longe das ruas e da sedução do crime organizado; dando alimentação, assistência médica, esportes e muito mais. Tudo isso, porém, tinha um custo e exigiria a ruptura de um velho paradigma da política brasileira – de que os recursos públicos sejam colocados à disposição das nossas elites e não do povo. A inobservância desse princípio levou o presidente Getúlio Vargas ao desespero e suicídio; o presidente João Goulart à morte no exílio e a presidente Dilma, agora, a um completo isolamento político, culpados, todos eles, por fazerem transferência direta dos recursos públicos para o povo e não para as elites.

Logo após o lançamento do programa dos Cieps, Brizola ainda tentou estoicamente obter o apoio do então presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho. Sabia o quanto ele seria capaz de influenciar, para o bem ou para o mal. Apresentou-lhe pessoalmente o projeto e nos relatou depois:

“Ele olhou, olhou, olhou e não disse uma palavra. Em uma segunda oportunidade em que nos encontramos, eu cobrei: ‘Então, doutor Roberto, o que achou do nosso projeto’. Então ele disse: ‘Olha, governador, se o senhor quer construir escolas, está muito bem. Mas não precisa disso tudo. Faça umas escolinhas… Pode até fazê-las bonitinhas, tipo uns chalezinhos…’.” Depois disso não houve mais diálogo entre eles.

Os Cieps começaram a brotar do chão com a arquitetura inconfundível de Oscar Niemeyer. Eu fazia sobrevoos de helicóptero para fotografar as obras e, vistas do alto, indisfarçáveis, pareciam pragas que irrompiam da terra árida dos subúrbios e das cidades da Baixada Fluminense. Era a praga rogada pelo povo esquecido que, enfim, tomava sua forma visível e ameaçadora, pois apontava para uma nova ordem.

“As gerações formadas pelos Cieps farão por este País aquilo que nós não pudemos ou não tivemos a coragem de fazer”, afirmava Brizola. Esta, e só esta, é a razão do ódio e do horror que essas escolas incutem até hoje em nossas elites.

Eles ainda estão aí. Descaracterizados, desconstruídos, desativados, degradados. Mas cada um desses 508 Cieps ainda traz consigo a semente da grande revolução sonhada por Brizola e Darcy. São quinhentas “toras guarda-fogo” feitas de concreto armado, uma imagem dos pampas gaúchos com que Brizola gostava de ilustrar o futuro do nosso povo:

“Às vezes a fogueira do gaúcho parece ter-se apagado à noite, mas existe sempre a tora guarda-fogo, que esconde aquela centelha interior. Pela manhã, basta assoprá-la para a chama ressurgir.”

Tem mais coisas, mas começo pelo depoimento pessoal que dá, no qual eu tenho culpa, porque “matriculei-o” por dois anos nos Cieps, em horário integral. Mas como jornalista, capaz de trazer detalhes, propostas, conquistas e dificuldades do mais ambicioso projeto educacional que este país já viveu. Ia dizer já viu, mas não o posso fazer porque não viu, pois essa revolução educacional, que mobilizou milhares de professores e centenas de milhares de crianças, jovens e adultos, numa área construída maior do que Brasília, na sua inauguração, foi criminosamente boicotada pela mídia.

Uma grande e generosa aventura, que jamais sairá de nossos corações, de nossas vidas e de nossos sonhos, que deixo que ele conte, porque o faz melhor que eu.

O LIVRO DOS CIEPS - POR DARCY RIBEIRO. baixe AQUI 






"A maioria dos manifestantes era composta por homens (62%), brancos (65%) e com ensino superior (67%), segundo levantamento conduzido pelos pesquisadores do grupo, coordenado pelos professores Pablo Ortellado e Márcio Moretto Ribeiro.

Os resultados da pesquisa mostram um cenário distinto do perfil étnico da população em geral. O Censo 2022 do IBGE indica que 45,3% dos brasileiros se autodeclaram pardos, e 10,2% se dizem pretos. Na manifestação da Avenida Paulista, esses grupos representavam 26% e 5% dos presentes, respectivamente.

A renda média dos manifestantes também não reflete a situação econômica da maioria do eleitorado no Brasil. Foram 10% os que disseram ter renda familiar de até dois salários mínimos por mês, contingente equiparável aos 9% que relataram ganhos superiores a 20 salários mínimos mensais. Mais da metade informou recebimentos que os enquadra numa faixa de renda média ou média-alta: 26% disseram ganhar entre três e cinco salários mínimos, e 25% afirmaram receber de cinco a dez salários mínimos por mês.

Só 3% dos manifestantes têm idades entre 16 e 24 anos. Numericamente, os maiores grupos etários que participaram do ato bolsonarista foram os de 55 a 65 anos (25%), de 45 a 54 anos (23%), de 35 a 44 anos (21%), e acima de 65 anos (19%). Considerando a margem de erro estimada em quatro pontos percentuais para mais ou menos, não dá para precisar qual desses segmentos estava em maior número na Paulista. Mas é possível afirmar que os jovens eram franca minoria na multidão.

Cerca de dois terços (66%) dos participantes do ato são moradores da região metropolitana de São Paulo, enquanto 34% disseram viver em outras regiões. Foram organizadas caravanas que chegaram à Paulista vindas de diversos estados, como Pernambuco, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Apesar da identificação do bolsonarismo com o público evangélico — um dos organizadores do ato foi o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo —, os católicos estiveram em maior número na manifestação: eram 43% dos participantes. Os evangélicos foram 29% do público, contra 11% que se declaram espíritas/kardecistas e 10% que disseram não seguir nenhuma religião."


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