quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Bispos alemães pedem que fiéis não votem na ultradireita. E a CNBB no Brasil? Quando vai perceber que é preciso combater a extrema direta católica?

 Conferência dos bispos alemães apela para que membros da Igreja Católica não votem no partido AfD e aponta que o extremismo de direita é incompatível com os valores fundamentais do cristianismo

Deutsche Welle Deutsche Welle e Ópera Mundi

Bonn (Alemanha)

22 de fev de 2024 às 19:50

Bispos da Alemanha fizeram nesta quinta-feira (22/02) um apelo aos fiéis católicos do país para que se oponham ao crescente nacionalismo de extrema direita, argumentando que essa corrente política é incompatível com as crenças fundamentais do cristianismo.

"O nacionalismo étnico é incompatível com a concepção cristã de Deus e do homem", apontou uma declaração conjunta apresentada pelo bispo Georg Bätzing, o chefe da Conferência dos Bispos Alemães (DBK), durante um encontro na cidade de Augsburg.

O apelo foi considerado incomum por parte da imprensa alemã, já que nas últimas décadas bispos alemães vinham adotando a prática de não manifestar posicionamentos sobre partidos do país.

No entanto, o apelo também ocorre em meio à ascensão nas pesquisas do partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem aparecido em segundo lugar nas pesquisas nacionais, com mais de 19% das intenções de voto.

Fundada em 2013, inicialmente como uma sigla eurocética de tendência mais liberal, a AfD rapidamente passou a pender para a ultradireita, especialmente após a crise dos refugiados de 2015-2016. Com posições radicalmente anti-imigração, membros que se destacam na imprensa por falas incendiárias ou racistas, a legenda é rotineiramente acusada de abrigar neonazistas e é vigiada de perto por serviços de inteligência da Alemanha como uma ameaça potencial à ordem constitucional do país.

O partido também tem conexões com a extrema-direita mundial. Em 2021, uma de suas deputadas, Beatrix von Storch, foi recebida pelo então presidente brasileiro Jair Bolsonaro.

Extrema direita não pode ser 'um local de atividade política para os cristãos'

Em seu apelo, os bispos alemães abordaram diretamente a conduta da AfD, hoje o segundo maior partido de oposição no Bundestag (a câmara baixa do Parlamento alemão), com 78 dos 735 deputados da Casa. "Depois de vários surtos de radicalização, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) está agora dominado por uma atitude nacionalista".

Segundo os bispos, dessa forma, "os partidos extremistas de direita e aqueles que proliferam nas margens dessa ideologia não podem, portanto, ser um local de atividade política para os cristãos e também não podem ser elegíveis".

A declaração também aponta que "a participação em políticas de extrema direita – e particularmente qualquer forma de racismo ou antissemitismo – é incompatível com emprego ou serviço voluntário na Igreja Católica". A Igreja Católica alemã, especialmente por causa do seu braço beneficente, a organização Caritas, é um dos maiores empregadores da Alemanha depois do Estado, por meio da administração de uma ampla rede de hospitais, escolas e casas de repouso.

Ainda no mesmo documento, os bispos também se dirigiram a toda a Alemanha: "Apelamos aos nossos concidadãos, inclusive àqueles que não compartilham da nossa fé, para que rejeitem e repudiem a política da extrema direita. Qualquer pessoa que queira viver em uma sociedade livre e democrática não pode abrigar essas ideias".

O bispo Bätzing também afirmou que era imperativo que a Igreja Católica assumisse uma posição clara, já que pesquisas vêm mostrando a AfD na liderança das pesquisas de intenção de voto para os três pleitos estaduais que devem ocorrer no leste da Alemanha neste ano: na Turíngia, na Saxônia e em Brandemburgo.

Os levantamentos vêm provocando o temor de que a legenda possa finalmente eleger seu primeiro governador, no estado da Turíngia, um reduto da AfD na Alemanha.

A Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) também se posicionou contra a AfD no início de dezembro e declarou que a conduta do partido "não era de forma alguma compatível com os princípios da fé cristã”.

Em janeiro, milhares de alemães foram às ruas para protestar contra a ultradireita após a revelação pela imprensa de uma reunião realizada em Potsdam com a participação de neonazistas e membros da AfD, na qual foi apresentado um plano para a deportação em massa de milhões de imigrantes e "cidadãos não assimilados".

Você que chegou até aqui e que acredita em uma mídia autônoma e comprometida com a verdade: precisamos da sua contribuição. A informação deve ser livre e acessível para todos, mas produzi-la com qualidade tem um custo, que é bancado essencialmente por nossos assinantes solidários. Escolha a melhor forma de você contribuir com nosso projeto jornalístico, que olha ao mundo a partir da América Latina e do Brasil.

Contra as fake news, o jornalismo de qualidade é a melhor vacina!

Leia mais:

O Centro Dom Bosco e sua nova cruzada I

Romero Venâncio

Romero Venâncio é Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco e professor da Universidade Federal de Sergipe (Departamento de Filosofia e Núcleo de Ciências da Religião). Atua em pesquisas sobre: Marx, Sartre, F. Fanon, Enrique Dussel e o pensamento Decolonial Latino Americano.

Neste momento abordaremos a nova cruzada do Centro Dom Bosco por meio de dois textos sobre a campanha do CDB do Rio de Janeiro, a saber, “contra a comunhão na mão”. Seria uma coisa completamente ridícula e anacrônica tal campanha em pleno Século XXI se não fosse um dado conjuntural interno ao catolicismo romano a retomada do tradicionalismo como única alternativa ao modernismo. 

Só que não se trata apenas de discursos de cunho tradicionalistas e conservadores; através do uso massivo das redes digitais esses discursos se tornam práxis. E, assim, incentivam à ação. Tornam-se verdadeiras “cruzadas” sem o mundo medieval europeu como chão histórico. Há toda uma tentativa por meio de cursos em plataformas digitais, aparições de nossa senhora e suas “previsões”, retomada de livros e documentos dos Papas do Século XIX até Pio XII e um conjunto bem articulado de teorias da conspiração sobre uma “perseguição aos cristãos” que ajuda a animar os fiéis da extrema direita católica nas redes digitais, nas paróquias e dioceses.

A nossa pesquisa sobre a “Extrema direita católica nas redes digitais” tem um demarcador fundamental que foi o ano de 2013. No Brasil, a partir da efervescência daquele ano que culminou com as “jornadas de junho” e todo um desdobramento à direita que aquele fenômeno de rua trouxe. Aconteceu, durante e após as jornadas, uma reorganização das direitas no Brasil. 

Continua..... https://esquerdaonline.com.br/2024/02/27/o-centro-dom-bosco-e-sua-nova-cruzada-i/

A manipulação “nas entrelinhas” do Brasil Paralelo

Produtora camufla seu ultradireitismo sob o manto da suposta imparcialidade. Estratégia é o negacionismo cognitivo, borrando fronteiras entre conhecimento e crença. O que isso revela sobre a crise da comunicação e da confiança nas instituições?

https://outraspalavras.net/crise-brasileira/brasil-paralelo-modos-manipulacao-verdade/


Nenhum comentário: