domingo, 25 de fevereiro de 2024

MAIS QUE FIGURAR: TRANSFIGURAR-SE! Chico Alencar & Marcelo Barros & José Soares

 (Breve reflexão para crentes ou não)

O Evangelho desse 2o domingo da Quaresma (Mc 9, 2-10) é arrebatador.

Jesus sai do "agito" e sobe ao monte com três dos seus (Pedro, Tiago e João). No silêncio vivencia melhor a transcendência.

Ali reencontra Elias e Moisés. Faz a ponte entre a tradição, representada por profetas do Velho Testamento, e o contemporâneo, através dos seus assustados discípulos.

Sabendo-se filho do Todo Poderoso Amor ("Este é meu filho amado, escutai-o!") entra no êxtase da plenitude: torna-se iluminado, mil sóis resplandecem sobre Ele, suas vestes ficam alvas como a neve.

Trata-se de um chamado para que apostemos na possibilidade da nossa própria transfiguração. Da iluminação, que não é alucinação!

Um desafio: passar da passividade para a luta. Do lugar de alienado que o sistema nos reserva - "gado", multidão boiada que obedece a qualquer berrante dissonante - ao protagonismo crítico e amoroso, no qual cada um "compõe a própria história e carrega em si o dom de ser capaz - e ser feliz" (Almir Sater).

Não ceder à tentação de "armar ali três tendas", para só fruir, instalados, do bem bom, do céu na Terra. 

É hora de enfrentar os desafios: da solidão para a comunhão, do fastio com a rotina do sistema que nos quer passivos consumidores para a ação por cidadania ativa.

Transfigurar é transitar da indiferença à generosidade não piegas, organizada. Do embotamento aburguesado/embrutecido dos sentidos à vibração com tudo que faz o humano desabrochar. Da objetividade do cálculo para acumular à compreensão de que  "a vida é amiga da arte, é a parte que o sol me ensinou" (Caetano, Força Estranha).

Tudo isso pode nos fazer resplandecer como o Mestre! Como os três, os seis no alto da montanha (olhe bem!). E nos faz ver Deus, nuvem carregada de Amor - sombra e água na árdua caminhada.

Só dá pra transfigurar, iluminar, ter o coração e a face brilhantes (sem "harmonização" que não seja natural), fazendo a costura da justiça e da fraternidade - ódios e mágoas superados.

Saiamos da apatia, ascendamos à alegria Daquele que "faz novas todas as coisas". As dores são inevitáveis, mas sem  essa de desânimo, sem essa de cansaço. Sempre é tempo, o tempo é aqui e agora!

"Deus é mais belo que eu. E não é jovem. Isto sim, é consolo" (Adélia Prado)

C.A.

Somos de barro e luz, atados à terra mas capazes de transcendência. Transfiguremo-nos!

ROTEIRO QUARESMAL – 2º Domingo da Quaresma
SUBIR A MONTANHA, para que?

Devemos manter a experiência de Jesus e dos três discípulos que subiram a montanha e nela, o filho de Maria transfigurou-se. Essa manifestação que é própria da divindade merece uma meditação bem pontuada. Serão três elementos: 
1. A quem Marcos se dirige? A comunidade do seu evangelho é formada por cristãos/ãs perseguidos em Roma e outros lugares e Marcos quer apontar um caminho. É bom ler antes da Transfiguração o texto de Marcos 8,31-35 quando Jesus mostra o caminho da paixão. Seguir o Senhor é exercitar a negação de si mesmo e aceitar uma cruz dura e cruel. 
Marcos se dirige a homens e mulheres com medo e sofrendo muito. Essa, não raro, é a situação de muitas comunidades que buscam a Deus com justiça e amor. Não é fácil viver defendendo um Jesus que se aproxima dos pobres, dos últimos, dos que penam e são assassinados nas ruas, dos sem voz e vez.
Marcos não quer glamour e mostra que o esplendor de Jesus – ele usa expressão forte, “suas roupas ficaram brancas e brilhantes” 9,3 – representa a força daquele que é o Vencedor. A força do martírio e de uma exposição sem limites que abraça nossa humanidade que adora viver de festa, esplendor e mentira. O Jesus de Marcos não pode conviver em nossas comunidades com a exploração e a mentira. Muita ATENÇÃO.
2. Escutai-o. Já na primeira leitura – Gênesis 22 – Abraão exercitou o dom de deixar Deus falar e conduzir o processo do sacrifício de Isaac. O desejo do Senhor não é a morte do seu filho, mas arrancar de seu coração o dom da obediência. Escutar não é ouvir de modo dissimulado e seguir o caminho, agindo por conta própria e de modo atabalhoado. No processo da escuta, a Palavra de Deus chega ao coração e não a mente, provocando um “dilúvio” de emoções e de escolhas. 
Escutar é obedecer e custa muito caro. “Este é o meu Filho amado. Escutai o que ele diz” (Marcos 9,7). Há pouco ele falou da cruz e agora é preciso escutar o que? Para que ouvir o que ele diz? Para ser discípulo/a e não perder o caminho de Jerusalém. Para estar ao lado dele e saber que antes da ressurreição a morte será o passo inevitável. Para não ficar extasiado com a “roupa branca” (9,3) e se perder em adorações longas e cheias de cantoria, com muito emocionalismo e sem rumo, aonde aquele que reza põe-se no lugar de Deus e manda cair, levantar, gritar e etc. Não podemos viver desses fatos tolos e sem orientação espiritual que nos afasta do caminho da escuta. Discípulo/a é para escutar e não atrapalhar a vida dos outros, por que o Senhor nos espera na “montanha”.
3. Descer da montanha. Neste ponto devemos unir nossa quaresma ao tema da CF 2024: Amizade Social. Não suba na montanha se não for para conviver como amigos e irmãos do Senhor (João 15,15). Não desça da montanha para criar conflitos, guerras e inimizades que só dilaceram nossas comunidades (Texto base, n. 55 e 66).
Moisés e Elias estavam na montanha e trouxeram a experiência deles do antigo Israel. Moisés subiu o Sinai e Elias fugiu para o deserto. Estava  morrendo de medo porque Jezabel mandou matar todos os profetas do Senhor - 1 Reis 18,4 (bom ler o capítulo 18 e 19). Elias foi acordado pelo anjo do Senhor e teve que voltar. Deserto e montanha são lugares de passagem e que fortalecem a espiritualidade. Mas o certo é descer da montanha e lutar pelo reino, lutar com aqueles e aquelas que acreditam na proposta de Jesus. Ele continua a transfiguração na vida de tantos e tantas deserdados e a margem de nossas Igrejas. FELIZ DOMINGO! 

P. José Soares. CEBs de Aracaju e Vigário São Pedro PESCADOR.

Marcos 9:2-10
    
2Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte, onde ficaram a sós. Ali ele foi transfigurado diante deles.

3Suas roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las.

4E apareceram diante deles Elias e Moisés, os quais conversavam com Jesus.

5Então Pedro disse a Jesus: "Mestre, é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias".

6Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados.

7A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: "Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!"

8Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus.

9Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos.

10Eles guardaram o assunto apenas entre si, discutindo o que significaria "ressuscitar dos mortos".


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