segunda-feira, 4 de março de 2024

#1964+60 - CARTA DA ASSOCIAÇÃO DEMOCRÁTICA E NACIONALISTAS DOS MILITARES AO SENHOR PRESIDENTE

 


ADNAM

ASSOCIAÇÃO DEMOCRÁTICA E NACIONALISTAS DOS MILITARES

 SENHOR PRESIDENTE

Neste momento da vida brasileira em que a Nação começa a registrar a reconstrução de um país que seja mais justo com seu povo, e manifestamente soberano diante de outras Nações, ao  SENHOR  cabem todos os méritos , pois tornou-se também uma liderança global, quando levou  para o mundo, uma palavra de esperança, sobretudo  para aqueles povos,  que estão ainda a vivenciar as práticas obscuras e  criminosas dos seus governos. Tem o Senhor insistentemente proclamado e sugerido ,  que  todos os governantes condenem as práticas genocidas, naturalizadas por alguns,  , e que trabalhem para  o surgimento de regimes mais humanos. Todavia, nestes tempos, onde ainda grassa algum obscurantismo, o nosso heróico povo brasileiro vê-se novamente diante de retrocessos , que o impede de ver "raiar a liberdade, numa democracia que precisa se consolidar, para  alcançar direitos plenos, arquitetado  ,  contra todos aqueles que têm apreço à Democracia, à liberdade, ignorando os 21 anos de combate ao obscurantismo, “os anos chumbo”,  que suprimiu,  até  com violência,   os direitos de muitos brasileiros. E foi nesse tempo, que a vida de muitos se foi, contrários que eram  às  barbáries praticadas por agentes do Estado do regime implantado, que detinham condições  superiores ás daqueles que o combatiam. Por conta desse contexto, melhor que parem de alegar injustificadas razões, que,na verdade, são especulações, que só servem para sepultar as atrocidades que praticaram,  porquanto é sabido que esses agentes substituiram a Democracia por um regime de exceção. Desses tempos trevosos ainda temos a lembrança dos muitos mortos  e  desaparecidos,   que o Estado se recusa a informar onde se encontram. Em 1964, vale recordar, os militares que poderiam opor resistência ao Golpe de Estado implantado, cerca de 7.500,   foram todos punidos e banidos de suas carreiras pelo primeiro Ato Institucional e outrs instrumentos de exceção. A trama golpista   posta em prática, vigorou durante um pouco mais de 21 anos, interrompida pela mobilização do povo brasileiro,  que foi às  ruas clamar por uma Anistia Ampla, Geral e Irrestrita, e pelo volta do País à legalidade, ( o retorno do País aos quadros constitucionais ), e pelo fim da Ditadura.  Servidores Civís e Militares, trabalhadores e seus Sindicatos , Estudantes  homens e mulheres de todas as profissões, empenharam-se, todos,  nessa luta,  sobretudo, pelo fim do regime de exceção .

O Senhor mesmo, no exercicio de sua liderança sindical destacou-se entre tantos, pelo destemor  e pela condução responsável de sua liderança. Desta feita, causou uma profunda estranheza, porque não dizer, repulsa, com a devida vênia, as infelizes afirmações contidas em sua entrevista dada a um jornalista de que “não pretende pautar o tema dos 60 anos do golpe, porque ele deseja, olhar para o futuro e não “remoer passado.”

Acontece, PRESIDENTE, nós queremos, induvidosamente, olhar, sim, para o futuro, mas também lutar para o fim desse contencioso entre perseguidos políticos e o Estado de Exceção, até que sejam identificados e punidos os que atuaram na prática de torturas.

As Comissões da Verdade precisam continuar existindo e funcionando, para que os beleguins a serviço desse regime ditatorial, não mais utilizem a barbárie como instrumentos de repressão, e sim as leis que integram o arcabouço jurídico do nosso regime democrático. É preciso que entendam, que a  punição baseada apenas em conveniência politica, através de investigações sumárias, e sem um processo regular de provas e contra-provas, é juridicamente considerada um ato patológico , pois a essência de tal ato inspira-se numa ”lógica de guerra”, que é incompatível com os postulados democráticos.  Não podemos descartar o passado. Ele será sempre uma referência, capaz de nos mostrar que a história de um país só pode ser compreendida olhando-se para trás, e que só pode ser vivida olhando-se para a frente. O  passado, portanto,  não pode  ser esquecido, mas sim lembrado como lições, para seguir com  a vida.

PRESIDENTE LULA

As familias dos Mortos e Desaparecidos querem, sim, os seus mortos. As Comissões da Verdade precisam ser reativadas. Nenhuma razão ou desculpa pode ser alegada ou invocada, mormente pelo Estado brasileiro, que, se hoje navega em democracia, isso se deve sobretudo àqueles que sustentaram uma luta, ainda que  em desvantagem , expondo-se e arriscando   as suas vidas, e a dos seus, contra um Estado Ditatorial,  autoritário, que sempre fez uso continuado dos seus violentos aparatos repressivos, sob a alegação de que assim agia, para defender o regime de exceção de ações dos “seus inimigos” Em respeito à memória desses perseguidos politicos , já que estamos no pleno exercício da Democracia, induvidosamente, as suas famílias têm esse direito.

Aproveitamos a oportunidade para também subscrever um trecho do documento apresentado pela Coalisão Brasil por Memória, Verdade , Justiça à Reparação e Democracia, que assim afirma:

“É a tradição histórica de não punir os golpistas e torturadores do passado que faz com que essas elites econômicas e setores amplos das Forças Armadas se sintam à vontade para continuar buscando soluções de força para impor seus projetos ao largo da democracia e da soberania popular.”

Por conta disso, é preciso que se tenha olhares,  também para a nossa ANISTIA , instrumento mal cuidado ,  e pleno de interpretações restritivas, porquanto das leis editadas, será necessário a correção de alguns procedimentos, que agridem a Constituição Federal, sobretudo no caso dos servidores civis e militares e de suas famílias, visando sustar alguns atos normativos, que têm exorbitado na interpretação  do texto da viciada Lei 10559/2002, sobretudo no estamento militar, ensejando restrições aos direitos desses anistiados, obrigando-os a buscarem a tutela do Judiciário. E preciso dar um fim a esses procedimentos, porque é inconcebível que 59 (cinquenta e nove) anos depois o Estado brasileiro ainda continue punindo esses servidores, e até retirando direitos que já detinham, e que lhes foram concedidos por leis  constitucionais.    A inspiração de qualquer ato jurídico jamais poderá desprezar os direitos fundamentas da pessoa humana. Os perseguidos de ontem não podem ser tratados, hoje, como se inimigos fossem. É preciso repelir, e até sepultar, essa idéia  de, a cada crise, apelar-se para a  intervenção militar. Como é preciso, também, construir-se a decisão de punir-se quem conspira contra a ordem democrática. A história das anistias havidas no Brasil registra, repetidamente, a premiação sempre assegurada aos sediciosos. Não foi diferente em 1964 . As constantes e repetidas violações aos direitos humanos praticadas pelos agentes da Ditadura de 64, assegurou-hes a permanência na carreira, sem a perda de qualquer direito inerente à sua condição militar. E preciso, sim, remoer esse passado, punindo quem tenha feito violações aos direitos humanos. Há muito deixamos de ser uma República de Bananas!

NÃO PODE HAVER PERDÃO PARA OS CRIMES PRATICADOS.

 Diante dessa caracterização histórica, a palavra ANISTIA enseja, sem demora , uma crítica ao modo como a mesma está sendo banalizada.

 SENHOR PRESIDENTE

A efetiva pacificação, com o desarmamento dos espíritos e a demora na restituição, sem restrições, dos direitos dos punidos pelo regime de 64, por força de injustificadas omissões e procedimentos dos que se colocaram a serviço da Ditadura, é o que se impõe. Todavia, ainda remanescem os  ranços autoritários, que fazem  com  que  ainda permaneça  uma condenação eterna aos que se colocaram em defesa de um governo legitimamente constituído,  e que foi deposto por quem,  ainda  hoje, também se dispõe a julgar os anistiados.

É PRECISO, SIM, REMOER O PASSADO, PARA QUE NÃO MAIS ACONTEÇA !

Rio de Janeiro, 2 de março de 2024 - COMTE. LUIZ CARLOS  MOREIRA  (  Advogado) -  GENERAL   BOLIVAR MEIRELLES - CORONEL IVAN PROENÇA - CAPITÃO DE MAR E GUERRA FERNANDO DE SANTA ROSA - CAPITÃO DE MAR E GUERRA JOSÉ TIBURCIO BARROSO – CLAUDIA LAMARCA (FILHA DO CAPITÃO CARLOS LAMARCA) – PEDRO LUIZ MOREIRA LIMA (FILHO DO BRIGADEIRO RUI MOREIRA LIMA)

 A história dos 6,5 mil membros das Forças Armadas perseguidos pela ditadura militar

  • Letícia Mori - Da BBC News Brasil em São Paulo - 13 dezembro 2018  LEIA AQUI

 FILME | Militares da democracia: os militares que disseram não, 2014


Cinco fatos sobre a ditadura militar

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