domingo, 17 de março de 2024

Aracaju completa 169 anos neste 17 de Março de 2024. Como a cidade está se preparando para ser governada por uma mulher evangélica de direita, quase extrema-direita?


Zezito de Oliveira 

 Neste dias que antecedem o aniversário de Aracaju, o maior intelectual negro destas terras outrora dos cajueiros e das araras, Severo D' Acelino publicou no facebook "Aracaju Gospel! 169 - Alê meu Santo Antônio. Aweto! (*)

E como resposta escrevi: Ao contrário do que afirmou Jorge Ben anos atrás, quem estão chegando nestes tempos que rugem não são os alquimistas, mas àqueles que querem transformar o Brasil em uma espécie de talibã cristão. E sem swing, sem o swing. Quão diferente são os alquimista do genial Jorge Ben. 

E abaixo outra pessoa comenta nessa mesma postagem de Severo: Teologia do dominio.

Dias antes,  Ras de Sá, agente cultural de longa data em Aracaju,  nos enviou a seguinte observação.

Eu não sei se você sabe disso

Que o Restaurante Padre Pedro em Aracaju agora é como se fosse um núcleo neopentecostal

As pessoas aguardam suas refeições sentadas na quadra do antigo Vasco Clube.

Ouvindo músicas gospel

Funcionários dessas igrejas ficam lá fazendo uma coisa ou outra, ou nada

Mas ficam também. Fui informado que pastores aparecem na quadra e chamam toda a multidão (a quadra está sempre lotada no horário do almoço) a fazer orações de estética neopentecostal

Os neopentecostais estão infiltrados em tudo e em um país com tantas pessoas sem esperança, a tendência é que o número deles continue subindo rapidamente

A pobreza e os narcóticos são verdadeiras fábricas em grande escala desses adeptos

Não é exagero algum dizer que as cúpulas neopentecostais terão todos os poderes do país nas mãos em um futuro próximo.

Já no Instagram, outra grande liderança e intelectual orgânico de nossa cidade, José Firmo, apresenta artigo de sua autoria publicado no site da agência Mangue Jornalismo. A quem pertence Aracaju?

A minha resposta:  Por isso é a cidade mais do haverá do que houvera. Como diz Paulo Lobo em uma de suas belas canções. E o haverá já está presente com a degradação ambiental, aumento da temperatura na cidade, desconforto no trânsito, transtorno nas chuvas, perda irreversível da memória e identidade cultural. E o mais grave, não há outro veículo de imprensa para dar a importância merecida às questões citadas no artigo e nesse comentário. As candidaturas para as próximas eleições, salvo exceções, também não apresentarão propostas de mitigação ou de redução de danos que mereçam atenção. É um cenário desolador.

Ruas de Ará

Vamos ao artigo:  A quem pertence a jovem Aracaju? A cidade tem pouquíssimos donos que dominam as estruturas de poder e o rol de normas para facilitar esse domínio

Do ponto de vista histórico e geográfico, Aracaju “nasceu” de Nossa Senhora do Socorro. Ou seja, a Resolução 413, de 17 de março de 1855, transformou a Vila de Nossa Senhora do Socorro da Cotinguiba, cujo território não era apenas o atual, em Aracaju.

Do ponto de vista econômico e social, Aracaju “nasceu” por interesse dos poderosos produtores de cana, destronando a então capital, São Cristovão, que era uma cidade com condições urbanas estáveis, sendo implantada uma Aracaju no meio do nada, dentro de uma área totalmente inapropriada.

O dispêndio, o prejuízo social, financeiro e ambiental foram muito grandes. Da reação contra a mudança da capital do estado de São Cristóvão para Aracaju, quase não se tem registro, exceto o conhecido caso de João Nepomuceno Borges, também conhecido como João Bebe-Água.

Ignácio Barbosa e as leis provinciais estavam a serviços da fidalguia daquela época.

Do resumo introdutório acima, o que mudou nos 169 anos de Aracaju? Eu diria que praticamente nada mudou.

Assim como em 1855, os atuais donos de Aracaju não somos os mais de 600 mil habitantes de hoje. Aracaju tem pouquíssimos donos, os quais dominam as estruturas de poder e o rol de normas usadas para facilitar esse domínio.

A dinâmica urbana de Aracaju sofre forte interferência do mercado imobiliário. A agressão à flora e à fauna é cotidiana e vem com ares de legalidade.

O espalhamento da cidade em direção ao litoral sul – o pouco que resta de flora e fauna ainda preservadas – se dá de forma veloz e violenta.

Os últimos mandatários de Aracaju, de ambos os poderes, não revisam o Plano Diretor e demais regras urbanas; não licitam e não organizam o sistema de transporte coletivo e a mobilidade no geral; não atendem com equipamentos urbanos básicos várias comunidades e ainda assim não sentem vergonha de olhar na cara e de falar com a população.

Em 2021, sem demonstrar o menor receio, os poderes Executivo e Legislativo de Aracaju, em pleno auge da pandemia da COVID-19 e sem qualquer tipo de diálogo com a população local, de uma só tacada, transformou tudo que era Zona de Expansão Urbana em bairros.

As desculpas dadas foram as mais absurdas. Se agissem com responsabilidade não era sequer para fragmentar a legislação. Porém, se houvesse a real necessidade de atualização, que fosse feito no bojo da revisão do Plano Diretor.

A intenção de integrantes do Poder Executivo Municipal e da maioria dos vereadores não era o que se falou naqueles dias. Paralelamente à mudança de Zona de Expansão (povoados) para bairros, uma série de licenciamentos já vinha sendo gestada. E uma característica desses licenciamentos é a pouca ou nenhuma preocupação com o meio ambiente, assim como a permissividade para se cercar as margens dos rios Vaza Barris e Santa Maria.

Neste ritmo, em pouco tempo o acesso aos rios vai ser um direito apenas de quem puder pagar pelo lote nos condomínios.

O modus operandi de parte dos empresários

Ainda falando do modus operandi de parte dos empresários, está algo que torna a cidade ainda mais refém da destruição: tratam-se de pessoas supostamente representantes da sociedade ou profissionais ditos conscientes, mas que estão a serviço desse invisível progresso.

Um exemplo dessa perigosa relação, testemunhamos no mês de novembro do ano passado, quando, em 21/11/2023, numa audiência pública convocada pela procuradora da República Gisele Dias de Oliveira Bleggi Cunha, justamente para tratar das agressões à flora e à fauna e dos possíveis crimes ambientais em Aracaju.

Pasmem, dentro do MPF, num claro de desrespeito ao órgão e à procuradora -, várias pessoas se fizeram presentes se dizendo representar entidade da sociedade, entretanto, no dia 24/11/2023, a Câmara Municipal de Aracaju realizou uma Audiência Pública, cujo tema foi “O mercado das incorporações imobiliárias e as associações pró-construção no âmbito do município de Aracaju” e aquelas mesma pessoas, participaram da audiência na Câmara Municipal discursando como representantes e defensoras das construtoras.

Assim, os pouquíssimos donos da cidade arranjam meios para dispor do solo urbano, dentro da legalidade e obtendo seus lucros em detrimento da esmagadora maioria da população, sem se importarem com o meio ambiente, com a falada qualidade de vida e com as atuais e futuras gerações.

Esse mesmo povo (os pouquíssimos donos da cidade e os seus serviçais) certamente jurará amores e desejará feliz aniversário à cidade, a qual, aos poucos, ele próprio vai destruindo.

*Integrante do Fórum em Defesa da Grande Aracaju, especialista em gestão urbana e planejamento municipal.

E voltando a postagem principal, sobre  o porquê do título, o fundamento são as pesquisas de opinião que colocam em melhor posição na disputa eleitoral de 2024, mulheres de direita bolsonaristas e/ou ligadas ao centrão, nem todas evangélicas, é verdade, mas independente disso, a força da teologia do dominio dentro da câmara dos vereadores e da prefeitura de Aracaju  tende a sair mais fortalecida,  mesmo na Aracaju governada até o final de 2024,  por um prefeito trabalhista e ex-comunista e por outros do mesmo naipe, desde 1985, quando  Jackson Barreto foi eleito prefeito da capital pela primeira vez, e depois incluindo Marcelo Déda, petista, durante seis anos..

Ou seja,  a despeito disso,  perdemos a guerra cultural em nossa cidade, por isso Aracaju está culturalmente madura para ser governada por homens e mulheres de direita, quase extrema-direita.  Como já acontece em muitas cidades brasileiras e assim o sonho de cidades  e de  uma nação realmente solidária (s)  e plural (is) vai encontrando mais dificuldades e obstáculos para se realizar, sonho manifestado nas duas canções abaixo:

Tomara

Coração Civil



Quanto a esquerda, tomara que consiga dobrar a bancada de dois para quatro nomes na câmara de vereadores, o que não será fácil. 

E para completar o meme que abre essa postagem, "eleitores inteligentes escolhem quem prioriza a cultura local". O que significa priorizar também por meio da arte e da cultura de forma transversal - educação, saúde, segurança pública, geração de renda e etc.

Que venham candidatos "inteligentes" o blog está aberto para conhecer e divulgar suas proposta de Felizcidade. Aweto!! 

(*) A palavra Aweto na língua Bantu significa “que assim seja” ou “Amém”.

É uma saudação utilizada para atrair coisas positivas! Utiliza-se como resposta também quando alguém te deseja coisas boas!



Leia/assista também:

Aracaju vista do Industrial. Por Pe. Anderson Gomes



domingo, 18 de fevereiro de 2024

Aracaju está entre ‘a vez mulheres’ e o perigo da falsa quebra de paradigma. Por Narcizo Machado






Nenhum comentário: