sexta-feira, 29 de março de 2024

LAVARMO-NOS OS PÉS, REPARTIR O PÃO & QUEM SEGUE CRUCIFICANDO JESUS? Chico Alencar nas reflexões sobre a semana santa.

 (breve reflexão para abrir os dias finais da Semana Santa)

Jesus e os seus - estamos todos e todas convidados! - reúnem-se para a ceia. A sala abriga, a refeição congrega. Os inimigos estão à espreita, mas ali, naquele momento mágico, reina a Paz.

A mesa sustenta, aconchega, prepara para o que virá depois (há o veneno da traição). A mesa alimenta, fortalece para a tormenta.

Jesus surpreende: lava, um a um, os pés dos amigo/as. Pedro reage, considera o gesto de humildade uma humilhação. O Mestre ensina: "se não o fizer, não terás parte comigo" (João 13, 1-15). Todos devem servir, re-partir.

Partilha, fraternura, amor entre iguais - como somos todos, apesar das estruturas sociais que reproduzem desigualdade.

Depois, a repartição do pão e do vinho, na contramão da egoísta acumulação. Eucaristia. 

O que se ingere nos constitui, vira carne e sangue e alma. Eternamente. Deus é pão, é vinho: o amor compartilhado ganha corpo, vivifica para sempre.

Comunhão: comum-união dos comuns, dos iguais. Toda refeição serena é comunhão.

Na Missa dos Quilombos (de Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra), Milton Nascimento e Fernando Brant cantam:

"Todo o amor será comunhão/ a alegria do pão e vinho/ você bem pode me dar a mão/ você bem pode me dar carinho (...)

O homem tem de ser comunhão/ a vida tem de ser comunhão/ o mundo tem de ser comunhão/ a alegria de vinho e o pão/ o pão e o vinho enfim repartidos".

Assim seja!

Hanna-Cheriyan Varghese (1938-2009)

(breve reflexão sobre a Paixão de Cristo)

"Jesus estará em agonia até o fim dos tempos" (Blaise Pascal, 1623 -1662)

A Via Sacra de Jesus tem enorme repercussão, em quase todo o mundo, porque o sofrimento é inerente à condição humana. Dores são inevitáveis.  

Mas agonia e aflição, por si mesmas, não são redentoras e não nos amadurecem: é preciso buscar suas razões e meios de superação e/ou aceitação. Como a ciência médica faz com as enfermidades, sem remediar nossa finitude, nossa impermanência.

Hoje é um dia de reflexão profunda sobre o que leva o ser humano ao ódio, à tortura, à destruição do outro. Como aconteceu com o Nazareno - o filho do Deus vivo, para os cristãos.

"Tornei-me o opróbrio do inimigo, o desprezo e zombaria dos vizinhos e objeto de pavor para os amigos; fogem de mim os que me veem pela rua. Os corações me esqueceram como um morto e tornei-me como um vaso despedaçado" (Salmo 30). 

Jesus foi torturado e morto pelo poder político do Império Romano e pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém.

Jesus continua sendo crucificado pelos sistemas que geram injustiça, miséria e fome. Pela economia consumista e da ganância que exaure o planeta. Pela cultura autoritária que sufoca a democracia. Pelos imperialismos expansionistas que produzem guerras mortais como as de Gaza, da Ucrânia e de outras partes do mundo.

Também crucifica Cristo nossa indiferença, nosso apego medíocre ao que é perecível, nossa insensibilidade às tragédias (evitáveis) que atingem tantos semelhantes e aos genocídios, nosso alheamento frente à "gangsterização" da política, nossa "religiosidade" de ocasião, que só aparece na hora da aflição e só trata da salvação individual.

Diz papa Francisco: "Jesus abandonado pede-nos que tenhamos olhos e coração para os abandonados. Para nós, discípulos do Abandonado, ninguém pode ser marginalizado, largado a si mesmo; porque as pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo, recordam-nos o seu amor louco e o seu abandono, que nos salvam de toda solidão  e desolação".

Recomendo que acompanhem a Via Sacra de Roma, com meditações e orações escritas pelo próprio Francisco (Vatican News). E aqui de forma escrita.

Só assumindo, no nosso cotidiano, a cruz,  encontraremos o caminho da Luz.

Siegfried Köder, Alemanha (1925-2015)

Escritor e professor de História 🎓 Mestre em Educação 😍 Deputado federal pelo PSOL


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