(breve reflexão para abrir os dias finais da Semana Santa)
Jesus e os seus - estamos todos e todas convidados! - reúnem-se para a ceia. A sala abriga, a refeição congrega. Os inimigos estão à espreita, mas ali, naquele momento mágico, reina a Paz.
A mesa sustenta, aconchega, prepara para o que virá depois (há o veneno da traição). A mesa alimenta, fortalece para a tormenta.
Jesus surpreende: lava, um a um, os pés dos amigo/as. Pedro reage, considera o gesto de humildade uma humilhação. O Mestre ensina: "se não o fizer, não terás parte comigo" (João 13, 1-15). Todos devem servir, re-partir.
Partilha, fraternura, amor entre iguais - como somos todos, apesar das estruturas sociais que reproduzem desigualdade.
Depois, a repartição do pão e do vinho, na contramão da egoísta acumulação. Eucaristia.
O que se ingere nos constitui, vira carne e sangue e alma. Eternamente. Deus é pão, é vinho: o amor compartilhado ganha corpo, vivifica para sempre.
Comunhão: comum-união dos comuns, dos iguais. Toda refeição serena é comunhão.
Na Missa dos Quilombos (de Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra), Milton Nascimento e Fernando Brant cantam:
Assim seja!
Hanna-Cheriyan Varghese (1938-2009)
(breve reflexão sobre a Paixão de Cristo)
"Jesus estará em agonia até o fim dos tempos" (Blaise Pascal, 1623 -1662)
A Via Sacra de Jesus tem enorme repercussão, em quase todo o mundo, porque o sofrimento é inerente à condição humana. Dores são inevitáveis.
Mas agonia e aflição, por si mesmas, não são redentoras e não nos amadurecem: é preciso buscar suas razões e meios de superação e/ou aceitação. Como a ciência médica faz com as enfermidades, sem remediar nossa finitude, nossa impermanência.
Hoje é um dia de reflexão profunda sobre o que leva o ser humano ao ódio, à tortura, à destruição do outro. Como aconteceu com o Nazareno - o filho do Deus vivo, para os cristãos.
"Tornei-me o opróbrio do inimigo, o desprezo e zombaria dos vizinhos e objeto de pavor para os amigos; fogem de mim os que me veem pela rua. Os corações me esqueceram como um morto e tornei-me como um vaso despedaçado" (Salmo 30).
Jesus foi torturado e morto pelo poder político do Império Romano e pelos sacerdotes do Templo de Jerusalém.
Jesus continua sendo crucificado pelos sistemas que geram injustiça, miséria e fome. Pela economia consumista e da ganância que exaure o planeta. Pela cultura autoritária que sufoca a democracia. Pelos imperialismos expansionistas que produzem guerras mortais como as de Gaza, da Ucrânia e de outras partes do mundo.
Também crucifica Cristo nossa indiferença, nosso apego medíocre ao que é perecível, nossa insensibilidade às tragédias (evitáveis) que atingem tantos semelhantes e aos genocídios, nosso alheamento frente à "gangsterização" da política, nossa "religiosidade" de ocasião, que só aparece na hora da aflição e só trata da salvação individual.
Diz papa Francisco: "Jesus abandonado pede-nos que tenhamos olhos e coração para os abandonados. Para nós, discípulos do Abandonado, ninguém pode ser marginalizado, largado a si mesmo; porque as pessoas rejeitadas e excluídas são ícones vivos de Cristo, recordam-nos o seu amor louco e o seu abandono, que nos salvam de toda solidão e desolação".
Recomendo que acompanhem a Via Sacra de Roma, com meditações e orações escritas pelo próprio Francisco (Vatican News). E aqui de forma escrita.
Só assumindo, no nosso cotidiano, a cruz, encontraremos o caminho da Luz.
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