Mariene de Castro homenageia Clara Nunes em CD e DVD ao vivo
Ser de Luz, novo disco da sambista Mariene de Castro, homenageia vida e obra de Clara Nunes (©reprodução)
Quando ouviu a canção Um Ser de Luz – de João Nogueira, Mauro Duarte e
Paulo César Pinheiro –, pela primeira vez, a cantora Mariene de Castro
foi tomada de forte emoção e não conseguiu conter as lágrimas. Esse
depoimento dado por Beth Carvalho no DVD justamente chamado Ser de Luz é
apenas uma mostra do que essa jovem sambista provoca em quem assiste a
homenagem feita por ela a Clara Nunes, exatamente próximo da data em que completa 30 anos da morte da mesma, em 2 de abril.
“A emoção, o coração, a essência, a alma fala com força e com verdade
nesta noite, em homenagem a este ser de luz, e esta claridade, a esta
guerreira que tão docemente, e tão fortemente cantou o Brasil... E é com
muita honra que prestamos esta homenagem com amor, com o coração e com a
alma. Clara, muito obrigada!”, declara Mariene de Castro, logo no início do show.
Acompanhada das Pastoras da Portela e ocupando os cenários marcados
principalmente pelas luzes azuis e brancas, em referência à escola de
samba do coração da homenageada, Mariene de Castro aparece linda e
majestosa com os figurinos criados por Wilson Ranieri e, em muitos
momentos, não consegue conter a emoção.
No repertório, estão clássicos como O Mar Serenou, de Candeia; Conto
de Areia, de Romildo e Toninho (autores também de A Deusa dos Orixás);
Morena de Angola, de Chico Buarque; Coração Leviano, de Paulinho da
Viola; e Ê, Baiana, de Fabricio da Silva, Enio dos Santos Ribeiro,
Baianinho e Miguel Pancrácio. Claro, e nem poderia ser diferente, que o
compositor mais presente é Paulo Cesar Pinheiro, o mais gravado por Clara Nunes,
com quem foi casado. Estão ali as parcerias com João Nogueira: Minha
Missão, Guerreira e Um Ser de Luz; além de Menino Deus, Portela na
Avenida e Canto das Três Raças, todas com Mauro Duarte; e Sem Companhia,
com Ivor Lancellotti.
O show tem ainda as participações especiais de Zeca Pagodinho, que é
denominado “padrinho artístico” de Mariene, em Coisa da Antiga, de
Wilson das Neves e Nei Lopes; e Diogo Nogueira, em Juízo Final, de
Nelson Cavaquinho e Élcio Soares. O DVD traz alguns números do show do
primeiro álbum da artista, lançado em 2012 e comentado neste blogue da Rede Brasil Atual.
Estão ali A Pureza da Flor, Filha do Mar, Amuleto da Sorte e Não Vou
Pra Casa. Todas confirmando o imenso talento de Mariene de Castro como
uma nova e importante representante do samba brasileiro, valorizando o
passado, mas de olho no futuro.
Leia entrevista exclusiva com Mariene de Castro.
Como surgiu a ideia de realizar um DVD em homenagem a Clara Nunes?
Recebi um convite através do Vagner Fernandes, autor do livro “Clara, uma Guerreira da Utopia”, e do Canal Brasil, que queriam fazer uma série de documentários em homenagem a Clara, que incluía esse DVD, no qual eu interpretava as músicas dela.
O que Clara Nunes representa na sua vida e na sua carreira musical?
Sem sombra de dúvida, Clara
foi uma grande intérprete, que cantou a Bahia e o Nordeste de forma
muito genuína, mesmo sendo mineira. Vejo no repertório dela a história
do povo brasileiro.
Você teme de algum modo a comparação com Clara Nunes?
Não
tenho esse temor. Tenho a consciência de que a minha trajetória musical
já mostra a minha essência. Esse trabalho é o meu olhar respeitoso e
carinhoso sobre o repertório de Clara.
Como ocorreu a seleção do repertório do show e do DVD?
Foi pelo coração. Eu queria mostrar o meu olhar sobre a Clara, que cantou a Bahia e levantou a autoestima do povo brasileiro com o seu repertório ensolarado.
Como foi a participação de Alceu Maia, que tocou com Clara Nunes, nesse trabalho? E como você o conheceu?
Foi
uma grata surpresa. Conheci Alceu quando o Diogo Nogueira me convidou
para gravar a música Um ser de luz, para o Sambabook em homenagem a João
Nogueira. Em seguida, quando ele foi convidado para produzir o DVD,
tivemos um feliz reencontro. Durante os ensaios e reuniões, sempre me
emocionava com as histórias incríveis que ele contava de Clara Nunes.
De que modo Surica, Eurea Maria e Nelson Sant’Anna te ajudaram nesse trabalho?
Fiz questão de tê-las no projeto. Tia Surica teve uma ligação muito forte com a Clara Nunes. Além de grandes intérpretes, são personagens muito ligadas à Portela e, consequentemente, a Clara.
Como
surgiu a ideia de convidar Diogo Nogueira e Zeca Pagodinho para
participar do DVD e o que cada um desses artistas representa na sua
trajetória?
O Diogo e o Zeca são dois ilustres portelenses. Diogo tem uma profunda ligação com Clara, que o viu nascer. Além disso, o João Nogueira, pai dele, foi um dos compositores que Clara
mais deve ter gravado depois do Paulo Cesar Pinheiro. Zeca também tem
uma forte ligação com a cantora e chegou a fazer uma canção para ela,
mas não chegou a entregar.
Por que você deixou justamente Um Ser de Luz, que dá nome ao trabalho, de fora do CD?
Porque além da música já ter sido gravada por mim no projeto Tabaroinha, ela não fazia parte do repertório de Clara Nunes
(essa música é uma homenagem póstuma). Neste projeto, eu escolhi
somente músicas já interpretadas por ela. Por isso Um Ser de Luz está
nos extras do DVD junto com outras quatro músicas do Tabaroinha.
Por que você resolveu morar com a sua banda numa casa no Recreio dos Bandeirantes?
Na
verdade foi a minha banda que veio ao Rio para participar da concepção e
pré-produção do projeto. Eles ficaram um mês na cidade e foi uma
experiência fundamental para termos chegado ao resultado que
conseguimos. Demos um mergulho fundo no repertório de Clara e esse espírito de coletividade só fortaleceu esse momento de comunhão.
Como foi participar do filme Quase Samba (de Ricardo Targino), e como está a sua expectativa com relação à estreia?
Foi
uma das experiências mais ricas que eu vivi como atriz. Esse é meu
terceiro filme e meu primeiro trabalho como protagonista. É um belo
filme que conta a estória de uma guerreira.
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