Mais padre Beto, menos padre Marcelo
30.04.2013 12:18
Fonte: Carta Capital
Entre
os dias 23 e 28 de julho, o Rio de Janeiro sediará a Jornada Mundial da
Juventude. Será a primeira viagem internacional do argentino Jorge
Mario Bergoglio como papa Francisco. A recepção ficará por conta dos
padre-cantores Fábio de Melo, Reginaldo Mazotti e Marcelo Rossi. Serão
os cartões de visita de uma igreja que tenta fazer frente à guinada
evangélica com música, pirotecnia, esvaziamento político e alienação.
Não é outra a impressão que se tem ao abrir e fechar os jornais da
segunda-feira 20. Pela manhã, fui fisgado pela reveladora entrevista à Folha de S.Paulo
concedida pelo padre Marcelo Rossi. Nela, o clérigo declarou, entre
outras pérolas, que tem como função “animar as pessoas” durante as
celebrações; que os evangélicos “invadem” (foi esta a expressão) os
horários da tevê; que, para fazer frente aos “rivais”, as comunidades
eclesiais de base – pontos de encontro entre o Clero, a periferia e as
lideranças locais – são velas que iluminam pouco em comparação aos
grandes santuários (ele comparou a igreja católica a um time de futebol
que, apesar dos limites, consegue vencer uma partida graças à sua
torcida); que o perigo destas comunidades é “cair na política”; e cita a
justiça do mundo, que tarda mas chega, ao analisar o ranking de
personalidades confiáveis da Folha de S.Paulo, em que apareceria atrás apenas de Lula e William Bonner, enquanto o bispo Edir Macedo figurava “lá em 20º”.
Como não era de se estranhar, ele vestiu as vestes do
funcionário-padrão ao se manifestar sobre o casamento gay: “A palavra de
Deus é clara: Deus criou o homem e a mulher. A igreja acolhe o pecador,
mas não o pecado”. Para ele, a adoção de crianças por casais
homossexuais, em discussão em qualquer lugar do mundo, “quebra o sentido
do que é família”.
Leia também:
Padre que defendeu homossexuais é excomungado
Padre que defendeu homossexuais é excomungado
É o retrato perfeito de uma igreja alienada e alienante. Uma igreja
que confunde fieis com torcida organizada – e a coexistência de credos
com torneio mata-mata – e tem um sonho de consumo: transformar os fieis
em cordeiros passivos, temerosos à destruição da família pelo pecado e
aptos a engolir tudo o que é dito sem grandes questionamentos.
Que bom que esta igreja forme cada vez menos padres, atraia cada vez menos gente, e afaste diariamente tantos fieis.
O padre Marcelo Rossi, enquanto canta, bate palma e sorri – e se
comporta, portanto, como animador de torcida que não sabe por que canta,
bate palma e sorri – parece jogar para o tapete toda a complexidade de
um tecido social cruel. Nesse tecido, uma nova ordem se manifesta aos
poucos, mas é ignorada por uma igreja que se finge de surda, cega e
muda.
Surda porque, em meio a tanta gritaria, não ouve o clamores por paz e
a unidade, pilares do Evangelho, expressos na vida real. Clamores que
rejeitam a velha dicotomia “nós x eles” – católicos x evangélicos, gays x
família, política x retidão – e pregam a comunhão não de velhos dogmas,
mas de valores, estes cada vez mais associados às liberdades de escolha
e expressão.
Cega porque, ao se distanciar da política, se esquece dos reais
métodos de transformação. O apelo à despolitização, em um mundo de
soluções negociadas, é um acinte à racionalidade. Mas, para o padre
Marcelo, a noção de política é em si nociva; e quanto mais a igreja
pensar grande e se afastar das comunidades já afastadas – as pequenas
comunidades que não lotam um templo nem saem bem na foto – melhor. O
apelo do padre Marcelo à alienação é um grande desserviço: leva o fiel a
acreditar que o afastamento da vida política – portanto comunitária – é
um atalho para moralidade pública. Não é. Se as comunidades eclesiais
de base se afastaram da vocação social transformadora não foi por
excesso, mas pela ausência de engajamento. Cantar, dançar e bater palma
não moverá montanha nem despertará a atenção das autoridades políticas,
religiosas, sociais e econômicas para os desafios do novo e do velho
século. O padre Marcelo parece não saber, mas é cobrando, dialogando,
propondo caminhos, e não cantando, dançando e batendo palmas, que se
universaliza a dignidade e a justiça – que não se expressa apenas em um
ranking raso de personalidades do momento.
E muda porque se cala diante das agressões diárias praticadas não
pelo Demônio da Bíblia, mas pelas ruas de todo santo (ou maldito) dia:
as agressões contra quem se expressa e contra quem perde um pouco a cada
dia o direito de existir, de ir e vir, sem jamais exercer a plenitude
de seus direitos civis, políticos, sociais e humanos, enfim. Cantar,
dançar e bater palma podem entreter, mas não religam o humano ao que lhe
é mais caro. Não matam a fome – nem física nem espiritual. E não será
com ovelhas domesticadas, passivas, dóceis, massificadas, despolitizadas
e incapazes de refletir sobre o mundo que a Igreja criará a ponta para
uma fé genuína. Porque fé e transformação não precisam ser valores
incompatíveis para se manifestar.
Não parece ser só coincidência o fato de que, no mesmo dia em que foi
publicada a entrevista com o padre-símbolo de uma igreja encantada
tenha sido anunciada a excomunhão de outro símbolo: o de quem escancara o
descolamento desta igreja de sua própria realidade.
Em Bauru, a cerca de 300 km da capital paulista – e a anos-luz de uma
discussão que o Vaticano se nega a encaminhar – o padre Roberto
Francisco Daniel, conhecido como padre Beto, pagou o preço por ter
afirmado, durante suas pregações, que “hoje em dia não dá mais para
enquadrar o ser humano em homossexual, bissexual ou heterossexual” e
“que o amor pode surgir em qualquer desses níveis”. A igreja, que leva
séculos para digerir um mundo novo, levou dias, horas, minutos para
acusar a heresia e o cisma.
Era um fim inevitável: dias antes da excomunhão, o padre Beto já
havia anunciado que deixava a igreja porque era impossível viver o
Evangelho em uma instituição que não respeita a liberdade de reflexão e
expressão e se descolou do modelo de Jesus Cristo, que viveu esses
direitos plenamente e levou as pessoas a pensarem por si mesmas. “Não é
possível ser cristão em uma instituição que cria hipocrisias e mantém
regras morais totalmente ultrapassadas da nossa época e do conhecimento
da ciência”, disse.
Uma instituição, segundo ele, omissa diante de problemas sociais
graves, como o descaso com a educação, com a segurança pública, com o
sistema prisional e um sistema de saúde público que só serve ao sistema
privado. “Se refletir é um pecado, sou um pecador e sempre serei um
pecador”, finalizou.
São duas posturas diametralmente opostas dentro de uma mesma igreja
que tem, na base, uma só ordem: amar a Deus sobre todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo. Uma quer que tudo siga como está; que, em nome
da ordem natural das coisas, quem sofre siga sofrendo em silêncio e
descolado da realidade que pede postura, indignação e transformação. É
mais fácil, e menos perigoso, pular e sorrir cantando que os
animaizinhos subiram de dois em dois na arca de Noé.
A outra pede mudanças, aceita as liberdades e acredita, como dizia
uma música estranhamente desaparecida das celebrações, que comungar é
tornar-se um “perigo”; é unir-se numa “luta sofrida de um povo que quer
ter voz, ter vez e lugar”. Uma música que avisava: se calarem a voz dos
profetas, as pedras falarão.
Uns falam. Outros erguem as mãos, dão glórias a Deus e, quando a
multidão desaparece, apagam as luzes do templo e escondem os cadáveres
debaixo do tapete. Se este for o exercício pleno da fé, fiquemos com os
pecadores. E com a proposta anti-dogma do cancioneiro popular: amar e mudar as coisas nos interessam mais.
Via Gabriel Santos Elias (facebook)
A contradição do Pe. Marcelo Rossi em entrevista na Folha:
Diz que é contra o incentivo dado pela CNBB à criação de CEBs porque é contra a atuação política da igreja, mas defende Russomano e Chalita, que são seus amigos, na mesma entrevista.
Diz que não é showman, mas critica as CEBs, dizendo que, como os evangélicos, a igreja católica devia incentivar a criação de grandes templos, como o dele, ao invés de fortalecer a atuação em comunidade.
Lamentável...
acrescentado em 01 de Maio de 2013
29/04/2013 - 03h00
Para padre Marcelo, as CEBs --que tiveram seu auge nos anos 1980 combinando princípios cristãos a uma visão social de esquerda-- apresentam o risco de estimular a "tentação à política".
"O PT surgiu da CEB. Então, que não se politize", diz o padre, que defende que a igreja construa grandes espaços como seu Santuário Mãe de Deus, aberto, ainda incompleto, em novembro passado.
Ele pretende concluir a obra, com capacidade para 100 mil fiéis, com as vendas de "Kairós" (ed. Globo), seu segundo livro, que será lançado amanhã em São Paulo.
Folha - Qual sua expectativa em relação ao papa Francisco?
Padre Marcelo Rossi - É uma expectativa muito grande, a começar pelo rompimento dos protocolos. Espero muito da renovação da igreja, da opção pelos pobres. Espero em julho estar com ele na Jornada Mundial da Juventude e entregar o "Kairós". Meu amigo padre Fábio de Melo, padre Reginaldo Manzotti e eu estaremos lá, cantando para o papa.
Em 2007, o senhor foi impedido de cantar para o papa Bento 16 no Brasil e acusou a Arquidiocese de São Paulo de boicotá-lo. Temeu que o arcebispo dom Odilo Scherer virasse papa?
Não, pelo contrário. Dom Odilo pôde me conhecer de perto. Percebeu que eu não era um artista. Hoje tenho uma admiração e um carinho enorme por ele. Não vou dizer que [o responsável pelo boicote] foi o dom Odilo. Foi o comitê organizador. É muito fácil culpar. Às vezes, a pessoa nem está sabendo.
Ainda em 2007 ele disse que seu trabalho era "insuficiente" e que "o padre não é um showman". O que mudou?
Ele entendeu que eu não faço show. Celebro missa. Toda missa que faço, mesmo na TV, quem está à frente é o meu bispo [dom Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro]. Estou lá animando. Minha função é animar as pessoas.
O último Censo apontou um aumento do número de evangélicos e a diminuição do número de católicos. Como recuperar o terreno?
O número de católicos é enorme e o de padres, em relação aos fiéis, mínimo. Para formar um sacerdote são no mínimo sete anos. Um pastor se faz em três meses. A formação é mínima. E precisa ter acolhida. A pessoa vai à igreja, ela está fechada. Os [templos] evangélicos estão sempre abertos. E o uso da mídia. Você liga a TV, sempre tem coisa evangélica, pessoas que invadem horários e horários. É até exagerado.
Na assembleia da CNBB, neste mês, a igreja indicou que quer incentivar as Comunidades Eclesiais de Base para recuperar espaço em áreas pobres. Deve ser esse o caminho?
Aí eu questiono. Acho as CEBs importantes, mas hoje o nosso povo precisa de grandes espaços. Vejo nas missas do Santuário. Uma vela ilumina? E dez? E 20 mil? O Palmeiras estava sem 13 titulares, mas a torcida foi e eles se classificaram na Libertadores. Faz diferença. Os evangélicos estão erguendo grandes locais, porque reúne as pessoas. Se ficar fechado na CEB, esquecer a oração, ficar só na política... Se olhar todos os que estão no governo, a maioria surgiu da CEB.
A CEB está na origem do PT.
O PT surgiu da CEB. Então, que não politize. O perigo é esse: cair na política.
O senhor é criticado por atrair o público, mas adotar um discurso conservador e distante dos problemas sociais.
Temos trabalhos com recuperação de drogados, arrecadação de alimentos. Nas CEBs, acaba se tornando mais política do que social. É mais perigoso a pessoa ter a tentação à política na CEB.
Acha que a igreja serviu de trampolim para integrantes do governo ou do PT?
Não poderia julgar. A Igreja Católica é apartidária, pelo menos deve ser. Os evangélicos, às vezes, determinam em quem votar. Estamos voltando à Idade Média, o período mais terrível e negro da igreja.
Mas na campanha do ano passado houve episódios polêmicos envolvendo a Igreja Católica, como a declaração de dom Odilo contra a campanha de Celso Russomanno.
E dom Fernando depois se manifestou [disse que Russomanno era católico]. Russomanno saiu de encontro de casais. Fiz o casamento dele, batizei os filhos. Ele é católico. É fácil hoje você destruir uma pessoa. Veja o [deputado Gabriel] Chalita [acusado de receber favores de empresas quando era secretário estadual da Educação].
Como avalia as denúncias contra ele, que é seu amigo?
Fico perplexo. Estou esperando ele se manifestar. Nossa função é ficar quietinho, porque é um amigo que me ajudou muito. Quero ver o que vai ser provado. Se algo está errado, você vai falar [denunciar] depois de dez anos? É para destruir a pessoa.
Conversou com Chalita?
Até agora não, acredita? Estou esperando um posicionamento mais claro. Ainda dizia, quando ele falou que iria entrar na política: "Não faça isso". Eu o aconselhei várias vezes. Conselho é bom, né, mas você só pode dar.
Espera um posicionamento público ou que ele fale pessoalmente com o senhor?
Pessoalmente eu não prefiro. Tenho certeza de que ele vai falar que está tudo OK. Mas quero ver um posicionamento provando isso.
Acredita na inocência dele?
Parto do princípio da confiança. Mas não sou cego. Se eu vejo alguma coisa que está errada... Por isso estou esperando que ele se coloque.
Qual sua opinião a respeito do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
Ele tentou até me provocar [disse, em uma entrevista, que "padre Marcelo pede dinheiro e nunca se falou nada"]. Eu nunca pedi dinheiro. Pelo contrário. O jogo deles é criar guerrilha. A melhor coisa é ficar quieto. A Justiça do mundo pode tardar, mas chega. E credibilidade não se compra. Em 2010, a Folha fez uma pesquisa sobre em quem o brasileiro mais confiava, com 27 personalidades. Estava o Edir Macedo, que ficou lá em 20º [foi o 26º]. Fiquei em terceiro lugar. Eram Lula, William Bonner e eu.
Ele deveria renunciar?
Ele nem deveria estar lá, na minha opinião. A partir do momento em que se diz um pastor, não dá para ser ao mesmo tempo um líder político. Acho importante ter uma bancada católica, como existe a evangélica. Mas não acho correto padre, bispo, pastor se candidatarem, porque aí estou transformando um púlpito num palanque.
Qual sua opinião sobre o casamento gay?
A palavra de Deus é clara: Deus criou o homem e a mulher. A igreja acolhe o pecador, mas não o pecado. Não vai poder legitimar o casamento entre homossexuais. Mas acolhe com carinho.
E sobre a adoção por casais homossexuais?
[Ele é contra] Por causa da formação. O que vai ficar na cabeça [da criança]? Você quebra o sentido do que é família, que é o homem e a mulher, o pai e a mãe. São princípios bíblicos. Não sou eu que vou contrariar a palavra de Deus. Seja evangélico ou católico, a partir do momento em que você é cristão, não dá.
Via Gabriel Santos Elias (facebook)
A contradição do Pe. Marcelo Rossi em entrevista na Folha:
Diz que é contra o incentivo dado pela CNBB à criação de CEBs porque é contra a atuação política da igreja, mas defende Russomano e Chalita, que são seus amigos, na mesma entrevista.
Diz que não é showman, mas critica as CEBs, dizendo que, como os evangélicos, a igreja católica devia incentivar a criação de grandes templos, como o dele, ao invés de fortalecer a atuação em comunidade.
Lamentável...
acrescentado em 01 de Maio de 2013
Padre excomungado fala sobre saída da Igreja
TV Brasil
Padre Beto agora se dedica exclusivamente à carreira de professor e diz que saiu da igreja em nome da liberdade de expressão.
assista AQUI
- Por Band News
Padre é excomungado ao defender homossexuais
O padre excomungado depois de defender relações homossexuais disse que a Igreja Católica precisa se abrir para a discussão de temas polêmicos. Ele era conhecido em Bauru, no interior de São Paulo, como um padre moderno.
assista AQUI
AZBauru
Veja mais sobre a maneira de pensar deste personagem que em 6 dias desafiou a Igreja, largou o sacerdócio, foi excomungado e mexeu com as emoções de muita gente AQUI
AZBauru
Publicado em 01/05/2013
O Personaz da edição #15 da revista
Az! é o Padre Beto Daniel, que recentemente se envolveu em polêmica com a
Igreja Católica e acabou repercutindo no Brasil e em todo o mundo.Veja mais sobre a maneira de pensar deste personagem que em 6 dias desafiou a Igreja, largou o sacerdócio, foi excomungado e mexeu com as emoções de muita gente AQUI
29/04/2013 - 03h00
Para padre Marcelo Rossi, o perigo é esquecer a oração e cair na política
DIÓGENES CAMPANHA
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO
Sacerdote católico mais famoso do país, o padre Marcelo Rossi, 45, vai
de encontro à indicação da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil) de que o incentivo às Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) pode
ajudar a igreja a recuperar o espaço perdido para os evangélicos.
Fonte: FOLHA DE SÃO PAULO
Para padre Marcelo, as CEBs --que tiveram seu auge nos anos 1980 combinando princípios cristãos a uma visão social de esquerda-- apresentam o risco de estimular a "tentação à política".
"O PT surgiu da CEB. Então, que não se politize", diz o padre, que defende que a igreja construa grandes espaços como seu Santuário Mãe de Deus, aberto, ainda incompleto, em novembro passado.
Victor Moriyama/Folhapress | ||
Padre Marcelo Rossi lança novo livro; sacerdote critica incentivo da Igreja Católica às comunidades eclesiais de base |
Folha - Qual sua expectativa em relação ao papa Francisco?
Padre Marcelo Rossi - É uma expectativa muito grande, a começar pelo rompimento dos protocolos. Espero muito da renovação da igreja, da opção pelos pobres. Espero em julho estar com ele na Jornada Mundial da Juventude e entregar o "Kairós". Meu amigo padre Fábio de Melo, padre Reginaldo Manzotti e eu estaremos lá, cantando para o papa.
Em 2007, o senhor foi impedido de cantar para o papa Bento 16 no Brasil e acusou a Arquidiocese de São Paulo de boicotá-lo. Temeu que o arcebispo dom Odilo Scherer virasse papa?
Não, pelo contrário. Dom Odilo pôde me conhecer de perto. Percebeu que eu não era um artista. Hoje tenho uma admiração e um carinho enorme por ele. Não vou dizer que [o responsável pelo boicote] foi o dom Odilo. Foi o comitê organizador. É muito fácil culpar. Às vezes, a pessoa nem está sabendo.
Ainda em 2007 ele disse que seu trabalho era "insuficiente" e que "o padre não é um showman". O que mudou?
Ele entendeu que eu não faço show. Celebro missa. Toda missa que faço, mesmo na TV, quem está à frente é o meu bispo [dom Fernando Figueiredo, bispo de Santo Amaro]. Estou lá animando. Minha função é animar as pessoas.
O último Censo apontou um aumento do número de evangélicos e a diminuição do número de católicos. Como recuperar o terreno?
O número de católicos é enorme e o de padres, em relação aos fiéis, mínimo. Para formar um sacerdote são no mínimo sete anos. Um pastor se faz em três meses. A formação é mínima. E precisa ter acolhida. A pessoa vai à igreja, ela está fechada. Os [templos] evangélicos estão sempre abertos. E o uso da mídia. Você liga a TV, sempre tem coisa evangélica, pessoas que invadem horários e horários. É até exagerado.
Na assembleia da CNBB, neste mês, a igreja indicou que quer incentivar as Comunidades Eclesiais de Base para recuperar espaço em áreas pobres. Deve ser esse o caminho?
Aí eu questiono. Acho as CEBs importantes, mas hoje o nosso povo precisa de grandes espaços. Vejo nas missas do Santuário. Uma vela ilumina? E dez? E 20 mil? O Palmeiras estava sem 13 titulares, mas a torcida foi e eles se classificaram na Libertadores. Faz diferença. Os evangélicos estão erguendo grandes locais, porque reúne as pessoas. Se ficar fechado na CEB, esquecer a oração, ficar só na política... Se olhar todos os que estão no governo, a maioria surgiu da CEB.
A CEB está na origem do PT.
O PT surgiu da CEB. Então, que não politize. O perigo é esse: cair na política.
O senhor é criticado por atrair o público, mas adotar um discurso conservador e distante dos problemas sociais.
Temos trabalhos com recuperação de drogados, arrecadação de alimentos. Nas CEBs, acaba se tornando mais política do que social. É mais perigoso a pessoa ter a tentação à política na CEB.
Acha que a igreja serviu de trampolim para integrantes do governo ou do PT?
Não poderia julgar. A Igreja Católica é apartidária, pelo menos deve ser. Os evangélicos, às vezes, determinam em quem votar. Estamos voltando à Idade Média, o período mais terrível e negro da igreja.
Mas na campanha do ano passado houve episódios polêmicos envolvendo a Igreja Católica, como a declaração de dom Odilo contra a campanha de Celso Russomanno.
E dom Fernando depois se manifestou [disse que Russomanno era católico]. Russomanno saiu de encontro de casais. Fiz o casamento dele, batizei os filhos. Ele é católico. É fácil hoje você destruir uma pessoa. Veja o [deputado Gabriel] Chalita [acusado de receber favores de empresas quando era secretário estadual da Educação].
Como avalia as denúncias contra ele, que é seu amigo?
Fico perplexo. Estou esperando ele se manifestar. Nossa função é ficar quietinho, porque é um amigo que me ajudou muito. Quero ver o que vai ser provado. Se algo está errado, você vai falar [denunciar] depois de dez anos? É para destruir a pessoa.
Conversou com Chalita?
Até agora não, acredita? Estou esperando um posicionamento mais claro. Ainda dizia, quando ele falou que iria entrar na política: "Não faça isso". Eu o aconselhei várias vezes. Conselho é bom, né, mas você só pode dar.
Espera um posicionamento público ou que ele fale pessoalmente com o senhor?
Pessoalmente eu não prefiro. Tenho certeza de que ele vai falar que está tudo OK. Mas quero ver um posicionamento provando isso.
Acredita na inocência dele?
Parto do princípio da confiança. Mas não sou cego. Se eu vejo alguma coisa que está errada... Por isso estou esperando que ele se coloque.
Qual sua opinião a respeito do pastor Marco Feliciano (PSC-SP) à frente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara?
Ele tentou até me provocar [disse, em uma entrevista, que "padre Marcelo pede dinheiro e nunca se falou nada"]. Eu nunca pedi dinheiro. Pelo contrário. O jogo deles é criar guerrilha. A melhor coisa é ficar quieto. A Justiça do mundo pode tardar, mas chega. E credibilidade não se compra. Em 2010, a Folha fez uma pesquisa sobre em quem o brasileiro mais confiava, com 27 personalidades. Estava o Edir Macedo, que ficou lá em 20º [foi o 26º]. Fiquei em terceiro lugar. Eram Lula, William Bonner e eu.
Ele deveria renunciar?
Ele nem deveria estar lá, na minha opinião. A partir do momento em que se diz um pastor, não dá para ser ao mesmo tempo um líder político. Acho importante ter uma bancada católica, como existe a evangélica. Mas não acho correto padre, bispo, pastor se candidatarem, porque aí estou transformando um púlpito num palanque.
Qual sua opinião sobre o casamento gay?
A palavra de Deus é clara: Deus criou o homem e a mulher. A igreja acolhe o pecador, mas não o pecado. Não vai poder legitimar o casamento entre homossexuais. Mas acolhe com carinho.
E sobre a adoção por casais homossexuais?
[Ele é contra] Por causa da formação. O que vai ficar na cabeça [da criança]? Você quebra o sentido do que é família, que é o homem e a mulher, o pai e a mãe. São princípios bíblicos. Não sou eu que vou contrariar a palavra de Deus. Seja evangélico ou católico, a partir do momento em que você é cristão, não dá.
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