Houve bispos que silenciaram durante as ditaduras na América do Sul.
Será que o papa Francisco, o bispo Bergoglio, não foi, no mínimo, omisso
diante das barbaridades cometidas na Argentina? Mas houve um bispo que,
mesmo ameaçado de morte, teve o valor de denunciar as torturas
praticadas no Brasil mundo afora. Dom Helder Câmara (1909-1999),
arcebispo de Olinda e Recife, jamais se calou. Nessa entrevista à
jornalista italiana Oriana Fallaci, o “bispo vermelho” fala do que se
passava nos porões sombrios do regime militar, este que alguns hoje
parecem querer reabilitar como “ditabranda”. E se assume socialista,
embora crítico das ditaduras que via nos regimes comunistas da época.
“Meu socialismo é especial, é um socialismo que respeita a pessoa humana
e remonta aos Evangelhos”, diz.
Oriana Fallaci (1929-2006) foi uma das mais célebres entrevistadoras
da história do jornalismo. Durante sua longa carreira, esteve
tête-à-tête com uma infinidade de personalidades, de Henry Kissinger a
Muhammad Ali, de Yasser Arafat a Golda Meir, de Indira Gandhi a Deng
Xiaoping. Estava no auge, em 1970, quando entrevistou Dom Helder Câmara,
e não esconde sua admiração por ele no decorrer do encontro. Publicada
no L’Europeo, a entrevista seria depois republicada em dezenas de
países. Curioso: o esquerdista Dom Helder teve um passado fascista na
juventude, sobre o qual conversa abertamente com Fallaci. A jornalista,
ao contrário, foi esquerdista até a idade madura, mas nos últimos anos
de vida deu uma guinada à direita e publicou textos anti-muçulmanos.
Ironias do destino.
Todo jovem brasileiro deveria ler esta entrevista para saber o que
foi a ditadura militar e para entender que existem padres e padres. E
todo jovem jornalista deveria lê-la porque vale por dez aulas de técnica
de entrevista. Esta versão do texto é do livro A Arte da Entrevista (editora Boitempo), com organização de Fábio Altman.
***
“Sempre fui a favor do pluralismo da Igreja, mas, quando
vejo aqueles que representam a parte pútrida dela, me dá vontade de
dizer o que o papa João disse a certos indivíduos: ‘Caro padre, você não
percebe que está realmente podre? O espírito de Deus nunca chegou até
você, não é?’” (Dom Helder Câmara)
Por Oriana Fallaci
Sua igreja é uma igreja bem pobre na cidade do Recife, no Norte do
Brasil, onde a única coisa bonita é o mar e, estando junto ao Equador,
sempre faz calor. Naquele ano não choveu, e a seca matou a vegetação, as
crianças, as esperanças. Não matou mais nada porque não havia mais nada
no Recife além de dúzias e dúzias de igrejas barrocas, que o tempo
cobriu com uma pátina negra de sujeira, que ninguém pensa em tirar. No
entanto, sua igreja é limpa, branca como sua boa consciência. Ali a
única sujeira é a inscrição em tinta vermelho-sangue, que ele tenta
lavar mas que continua aparecendo, em letras bem legíveis. Diz o
seguinte: “Morte ao bispo vermelho”. Fora escrita ali pouco antes pelos
seus perseguidores, que atiraram contra ele e jogaram granadas de mão.
Desde então a pequena praça diante da igreja está quase sempre deserta,
pois muitas pessoas têm medo de aproximar-se dela. Se você perguntar a
um policial: “Por favor, onde está a Igreja das Fronteiras?”, ele olhará
para você desconfiado e tomará nota da chapa do seu táxi.
Foi o que aconteceu comigo. O motorista do táxi estava paralisado de
medo. A casa era contígua à igreja e quase não parecia o lar de um
bispo. Usando roupas de tecidos finos, cobertos de jóias, servidos por
criados submissos, os arcebispos normalmente vivem em palácios com
entradas situadas em ruas elegantes. A sua residência, porém, podia ser
alcançada por uma rua perpendicular à pequena praça, a rua das
Fronteiras, e era cercada pelo muro baixo contra o qual os homens haviam
atirado. Nesse muro baixo mal se notava a pequena porta com sua pintura
esmalte verde e uma campainha sem nome. Quando você a tocava, algumas
galinhas pulavam, um galo cacarejava, e no meio desse barulho todo
ouvia-se um voz doce: “Estou indo, estou indo!” Então a porta se abria,
devagar no início e depois em toda a sua amplitude, mas ainda de modo
hesitante, e ali estava ele, um homem pequeno de batina preta. Sobre a
batina, chamava a atenção uma cruz de madeira suspensa por uma corrente
de aço. O homenzinho era pálido, careca, com um rosto enrugado, uma boca
crispada, um nariz pequeno como uma castanha cozida e os olhos cansados
de alguém que não dormiu muito. Ele tinha o olhar inócuo e a humildade
de um vigário de paróquia. Ele não era, e não é, um vigário de paróquia,
e nem mesmo um homem pequeno. Ele é o homem mais importante que você
pode encontrar no Brasil, ou melhor, em toda a América Latina. E talvez o
mais inteligente, o mais corajoso.
Ele é dom Helder Câmara, o arcebispo que desafia o governo e denuncia
as injustiças, os abusos e as infâmias sobre os quais os outros
silenciam, o homem que tem a coragem de pregar o socialismo e dizer não à
violência. Mais de uma vez ele foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz.
Muitos dizem que ele é santo, se é que essa palavra significa alguma
coisa. Eu também digo que ele é santo. O governo brasileiro não pensa
assim. O governo brasileiro está sendo talvez o mais fascista e mais
sinistro da América Latina. Sua polícia tortura de uma forma
inimaginável aqueles que se opõem a ele exigindo liberdade. Usam o
pau-de-arara, que consiste em um poleiro similar àquele que as araras
usam para se balançar. De ferro ou madeira, ele é inserido entre os
joelhos e os cotovelos da vítima nua, e então é suspenso a meia altura
entre o solo e o teto. Ali a vítima fica pendurada durante o
interrogatório, e como seus pés e pulsos estão amarrados por cordas, a
circulação de sangue pára e o corpo incha como se fosse explodir, como
se seu peso aumentasse dez vezes. E então, para aqueles opositores que
exigem liberdade, existe o “método hidráulico” que consiste em um tubo
flexível; esse tubo é introduzido no nariz da vítima e é vertida água
através dele enquanto se mantém sua boca fechada. Assim a vítima sente
que está se afogando, e de fato é um afogamento parcial – interrompido
pouco antes do momento da morte. E então, para aqueles opositores que
exigem liberdade, há choques elétricos que são aplicados nos ouvidos,
nos genitais, no ânus e na língua. Geralmente a carga é de 110 volts,
mas pode subir a 230, produzindo ataques epiléticos, convulsões
violentas, queimaduras de terceiro grau e às vezes a morte, o que
ocorreu em muitos casos, inclusive no de um jornalista que recebeu a
carga de 230 volts no ânus. Ele morreu imediatamente. Essas torturas são
aplicadas em todos aqueles que caem nas mãos do DOPS, a Divisão de
Ordem Política e Social, a polícia política brasileira. São aplicadas
nos liberais e nos comunistas, nas freiras e sacerdotes, guerrilheiros e
estudantes, e até em cidadãos estrangeiros. As prisões no Brasil estão
cheias, e têm estado assim por muitos anos. Você sabe quando entra mas
nunca sabe quando sai. Se sair vivo, em 80% dos casos você sai mutilado –
com uma espinha quebrada, pernas paralisadas, testículos arrebentados,
olhos e ouvidos que não funcionam mais. A literatura sobre essa infâmia é
infinita. Você pode encontrá-la nos folhetos mimeografados, publicados
por organizações da resistência, nos jornais americanos e europeus, nos
despachos das embaixadas. Mesmo que o mundo às vezes se esqueça, porque o
Brasil está longe, porque o Brasil é um país de lazer, com muito mar,
muita música, samba, café; porque não é conveniente perturbar as
relações comerciais entre os países democráticos e as ditaduras, mesmo
quando a tragédia é de conhecimento público. Mas cuidado ao falar sobre
isso no Brasil, cuidado ao fazer alusões sobre isso ou denunciá-lo. A
maioria das pessoas fica em silêncio.
Helder Câmara é o único que ousa levantar a voz, em conjunto a um
pequeno grupo de prelados que não se esqueceram dos Evangelhos. Mas ele
paga por isso – Deus, e como ele paga! Quando ele descreveu, em Paris,
as torturas aplicadas aos prisioneiros políticos nas prisões de São
Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Recife, eles o
chamaram de “traidor”, “difamador”, “demagogo”. Quando ele fez essas
acusações a partir da pequena casa na rua das Fronteiras, eles atiraram
de volta com suas metralhadoras e escreveram no muro “Morte ao Bispo
Vermelho”. E assim, essas infames autoridades brasileiras o consideram
uma ameaça pública, e vigiam cada gesto seu, cada encontro seu com
alguém. Mas o povo o adora. Consideram-no um pai que nunca os rejeita, e
está sempre disponivel para recebê-los a qualquer hora do dia ou da
noite. Quando não está em casa, é porque foi visitar algum oprimido na
prisão, algum casebre, algum vilarejo onde as pessoas morrem de fome e
de sede antes de alcançar a idade de 40 anos, quando a morte é uma
libertação misericordiosa. Quando não está no Recife, ele está viajando
pelo mundo para divulgar sua mensagem e sua indignação, ora em Berlim,
ora em Kioto, ora em Detroit, ou no Vaticano – com seus braços finos
erguidos para o céu e seus dedos em forma de garras tentando alcançar a
Deus. Apesar de não-violento, ele é um homem que escolheu a luta a
qualquer custo. E as fortalezas que ele ataca são as da vergonha, do
privilégio, da ditadura. Ele não poupa ninguém: nem católicos, nem
marxistas, nem os impérios capitalistas ou comunistas, e muito menos os
fascistas que ele abomina com a ira de um Cristo determinado a expulsar
os fariseus do templo.
Dom Helder Câmara nasceu em Fortaleza, no nordeste brasileiro, em
1909. Seu pai era um comerciante diletante do jornalismo e da crítica
teatral, e sua mãe era professora primária; uma origem pequeno-burguesa.
Ele nunca conheceu a riqueza – cinco crianças de sua família morreram
em intervalos de poucos meses, de disenteria e falta de tratamento. Ele
ingressou no seminário bem cedo, menino ainda. Sua vocação aflorou com a
idade de 8 anos, diz ele – misteriosa e insistentemente. Desde então
ele nunca concebeu qualquer outro compromisso para si mesmo que não
fosse o de ser padre. Recebeu os votos aos 22 anos de idade, quando se
tornou um fascista. “Em cada um de nós dorme um fascista e às vezes ele
nunca desperta; mas às vezes ele desperta, sim.” Ele diz isso sem
vergonha de dizê-lo, mas culpando-se pelo fato, e sua única
justificativa é explicar que fora seu bispo que lhe pedira que se
tornasse um fascista. Um daqueles bispos vestidos com tecidos finos,
coberto de jóias, servido por criados submissos e vivendo em palácios
com entradas em ruas elegantes. Um daqueles cujo lema é
Deus-Pátria-Família. Oh, sim, dom Helder conhece bem os fascistas, se
conhece. Ele os conheceu bem antes de chegar à sua pequena igreja no
Recife, em sua pequena casa onde as galinhas ciscam no quintal e onde
ele dorme só quatro horas das 24 do dia, porque à noite eles o acordam
telefonando o tempo todo para insultá-lo e assustá-lo: “Estamos indo aí
para pegá-lo e matá-lo, seu comunista sujo”. “Encomende sua alma a Deus
porque você não viverá para ver o sol nascer, seu filho da puta.” Mas
ele diz que não se importa, quatro horas de sono por noite são
suficientes para ele.
Eu o entrevistei lá, durante três dias seguidos. Falamos em francês,
uma língua que ele conhece bem, e muitas vezes ele me pareceu mais um
líder político do que um sacerdote. Ele tem a voz apaixonada de um
líder, os olhos brilhantes, a segurança de alguém que sabe que as
pessoas acreditam nele. A cada meia hora ele se levantava para pegar um
café para mim, aproveitando a ocasião para espiar a rua e verificar se
havia alguém querendo pintar o muro novamente ou jogar uma bomba. Eu o
seguia com o olhar e pensava em Camilo Torres, o jovem padre que largara
a batina para empunhar uma arma e morrera em seu primeiro combate, com
uma bala no meio da testa. Pensei no padre Tito de Alencar, o jovem
dominicano que o DOPS torturara em São Paulo, com toda a crueldade da
Inquisição. Abra a boca e nós lhe daremos a hóstia consagrada antes de
matá-lo. Então, em vez da hóstia, eles lhe deram uma carga elétrica de
220 volts na língua. Pensei em todos os padres e freiras que enchem as
prisões da América Latina e morrem sofrendo, enquanto os bispos vestidos
com tecidos finos, cobertos de joias e servidos por criados submissos
colaboram com os generais no poder e protegem os carrascos. No Brasil,
no Chile, no Uruguai, no Paraguai, na Venezuela, na Guatemala. E cheguei
à conclusão: “Eles não lhe darão o Prêmio Nobel da Paz, dom Helder.
Nunca o darão ao senhor, porque o senhor os incomoda muito”. E de fato
eles não o deram a ele. Em 1971 o deram a Willy Brandt e, em 1973,
quando seu nome foi novamente cogitado, eles o entregaram a Henry
Kissinger e Le Duc Tho. E, graças a Deus, Le Duc Tho o recusou.
Kissinger não. Como nós todos sabemos.
Fallaci – Há um boato, dom Helder, de que Paulo
VI o chama de “meu arcebispo vermelho”. E, de fato, dificilmente o
senhor seria um homem conveniente para o Vaticano. O senhor deve
assustar muita gente lá dentro. Vamos falar um pouco sobre isso?
D. Helder – Olhe, o papa sabe muito bem o que eu
digo e o que eu faço. Quando denuncio as torturas no Brasil, o papa fica
sabendo. Quando eu luto pelos prisioneiros políticos e pelos pobres, o
papa fica sabendo. Quando eu viajo ao exterior para exigir justiça, o
papa fica sabendo. Ele já conheceu minhas opiniões porque nós nos
conhecemos há algum tempo, desde 1950 para ser exato, quando ele era
secretário de Estado do Vaticano para Assuntos Ordinários. Não escondo
nada dele, nunca escondi. E se o papa achasse errado fazer o que faço,
se ele me pedisse para parar, eu pararia. Eu sou servo da Igreja e
conheço o valor do sacrifício. Mas o papa não me diz nada disso, e se
ele me chama de “arcebispo vermelho” ele o faz brincando, afetuosamente,
com certeza não do modo como o fazem aqui no Brasil onde qualquer um
que não seja um reacionário é chamado de comunista ou a serviço dos
comunistas. A acusação não me atinge. Se eu fosse um agitador, um
comunista, eu não poderia ir aos Estados Unidos e receber o título de
doutor honoris causa das universidades americanas. Entretanto,
ao dizer isso, quero deixar claro que através de minhas idéias e
discursos eu não empenho a autoridade do papa –o que eu digo e faço é de
minha exclusiva responsabilidade pessoal. O que não me torna um herói
–não sou o único a falar. As torturas no Brasil, por exemplo, foram
denunciadas, primeiro e principalmente, pela comissão papal que, esta
sim, empenhou a autoridade do papa. O próprio papa então foi condenado, e
sua condenação é muito mais eloqüente que a de um sacerdote que não
teme ninguém no Vaticano.
Fallaci – Um pobre sacerdote que é um príncipe
da Igreja, um dos homens mais admirados e respeitados do mundo. Um pobre
sacerdote a quem cogitam em dar o Prêmio Nobel da Paz. Um pobre
sacerdote que quando fala das torturas enche todo o Palais des Sports de
Paris e desperta a consciência de milhões de pessoas em todos os
países. Vamos falar disso, dom Helder?
D. Helder – Bem, as coisas eram assim mesmo. Estive
em Paris e eles me pediram para dizer-lhes o que estava acontecendo. Eu
disse, tudo bem, é dever do sacerdote também informar as pessoas,
especialmente em relação a um país como o Brasil onde a imprensa é
controlada ou subserviente ao governo. Comecei lembrando aos franceses
que eu falava de um crime bem familiar a eles mesmos, e do qual foram
culpados durante a guerra da Argélia, ou seja, a tortura. Acrescentei
que essas infâmias também aconteciam devido à nossa fraqueza, como
cristãos, acostumados demais a nos inclinarmos diante do poder e de suas
instituições, ou então nos calarmos. Expliquei que não estava lhes
contando nenhuma novidade, porque não era mais segredo que sofrimentos
desumanos como os da Idade Média são aplicados aos prisioneiros
políticos no Brasil –em todos os lugares já havia sido publicada uma
documentação irrefutável. Então eu descrevi os métodos de tortura –dos
choques elétricos aos paus-de-arara. E relatei incidentes que eu mesmo
confirmara. Por exemplo, o caso de um estudante a quem fizeram coisas
tão horríveis que ele se jogou da janela de uma delegacia. Seu nome era
Luís de Medeiros. E a história continua desse modo. Assim que eu soube
que Luís estava no hospital, corri até lá com um de meus informantes. E
pude vê-lo. Fora a sua tentativa de suicídio, ele estava numa condição
assustadora. Entre outras coisas eles haviam lhe arrancado quatro unhas e
esmagado seus testículos. O médico que cuidava dele confirmou isso e
disse: “Vá e diga ao governador, ele é médico, diga-lhe para vir aqui e
examinar os corpos dos torturados”. Era o que eu procurava; ter
finalmente em minhas mãos uma testemunha direta. Fiz a denúncia. E
depois passei a denúncia a todos os vigários, aos bispos e à conferência
dos bispos.
Fallaci – Alguns bispos não acreditaram, dom Helder, e se colocaram ao lado dos que negam a tortura. Como o senhor julga esses homens?
D. Helder – Como a senhora quer que eu os julgue?
Esperando que Deus os ilumine, faça-os lembrar de suas
responsabilidades. Sempre fui a favor do pluralismo da Igreja, mas,
quando vejo aqueles que representam a parte pútrida dela, me dá vontade
de dizer o que o papa João disse a certos indivíduos: “Caro padre, você
não percebe que está realmente podre? O espírito de Deus nunca chegou
até você, não é?” Bom Deus, era até legítimo, no começo, ou quase, ter
dúvidas sobre as torturas. Não havia provas. Mas duvidá-lo hoje é
grotesco. Foram publicados exemplos no relatório da Associação Mundial
de Juristas – com nomes, sobrenomes, datas. E mais, quantos padres estão
na prisão? Não são a maioria, porque é mais conveniente prender um
leigo que um padre, torturar um leigo e não um padre, mas ainda há
muitos e eles são testemunhas valiosas, se você conseguir chegar até
eles. Eu digo “se”, porque hoje no Brasil, quando você é preso, fica
impossível comunicar isso a alguém, entrar em contato com um parente ou
um advogado. Mas isso até que não é o pior – o pior mesmo é o silêncio
da imprensa e dos cidadãos. Nem um, nem outro ousa tocar no assunto, e
assim parece que as pessoas estão de acordo com o regime, que as vítimas
estão contando mentiras ou exagerando. Posso somente esperar que o
escândalo surgido na imprensa mundial e a intervenção da Igreja possam
ajudar a melhorar as coisas.
Fallaci – O que aconteceu ao senhor, dom Helder, depois das suas declarações em Paris?
D. Helder – Denunciar a torturas no Brasil é
considerado pelo governo um crime contra a pátria. E nesse aspecto
também há uma certa divergência de pontos de vista entre eu e o governo.
De fato, eu considero um crime contra a pátria não denunciá-las. Então
eu deixei Paris pensando, bem, vamos ver o que acontecerá com você, dom
Helder, quando voltar ao Brasil. Não aconteceu nada. Passei
tranqüilamente pela polícia, pela alfândega, e fui para casa. É verdade,
houve ataques na imprensa, ataques curiosos, estranhos. Mas eu não me
importei com eles pois raramente leio os jornais, para não ficar
amargurado. Além disso, é inútil tentar intimidar-me, no meu coração não
há dúvidas, e o que existir no meu coração irá diretamente aos meus
lábios. Eu digo ao meu rebanho, em minhas visitas pastorais, em meu
sermões, as mesmas coisas que estou dizendo a você. Eles também não
podem me afastar, pois no meu trabalho não reconheço nenhuma outra
autoridade além do papa. É claro, estou proibido de falar no rádio, na
televisão, e como não sou ingênuo eu sei, mais cedo ou mais tarde eles
vão me privar de meus direitos civis. Porém estes não valem nada aqui no
Brasil atualmente. Ninguém pode votar, não há eleições. Mas no geral eu
gozo de uma certa liberdade, eles só me incomodam com ameaças.
Fallaci – Que tipo de ameaças?
D. Helder – Ameaças de morte, não? Rajadas de
metralhadoras, bombas, telefonemas e calúnias endereçadas ao Vaticano. A
senhora deve saber que aqui no Brasil há um movimento de extrema
direita chamado “Tradição, Fámilia e Propriedade”. Começaram a usá-lo
para perturbar-me algum tempo atrás. Abordavam as pessoas que iam à
igreja e perguntavam-lhes: “Você é a favor ou contra o comunismo?” As
pessoas diziam que eram contra, naturalmente, e então eles recolhiam
assinaturas e enviavam-nas ao papa, pedindo-lhe que expulsasse esse
comunista dom Helder. O papa nunca lhes deu qualquer importância, e eu
também não. Mais tarde surgiu um movimento clandestino, uma espécie de
Ku Klux Klan brasileira, o assim chamado Comando de Caça aos Comunistas,
ou CCC. Esse CCC passou a ter um interesse especial nas casas em que
moravam comunistas suspeitos, e começaram a atirar com metralhadoras
contra elas, ou a jogar granadas de mão e escrever insultos nos muros. E
eles demonstraram seu respeito a mim várias vezes desse modo: por duas
vezes arrebentaram o muro da casa com tiros de metralhadora e fizeram
uma bagunça nos muros da igreja, uma vez até no palácio do arcebispo e
no Instituto Católico, e outra vez numa igreja próxima onde eu costumo
ir. Sempre deixando a assinatura CCC. Mas nunca me feriram. Por outro
lado, atiraram num estudante, conhecido meu, na espinha, e agora ele
está paralisado para sempre. Um colaborador meu de 27 anos de idade,
Henrique Pereira Neto, professor da sociologia na Universidade do
Recife, que pregava os Evangelhos nas favelas, foi encontrado enforcado
numa árvore com o corpo crivado de balas, coisas assim não nos
surpreendem mais aqui no Recife.
Fallaci – Não surpreendem mais?
D. Helder – Não, como as ameaças ao telefone. Já me
acostumei com elas agora. Eles me ligam à noite, em intervalos de meia
em meia hora, e dizem: “Você é um agitador, um comunista, prepare-se
para morrer, estamos indo aí, e vamos lhe mostrar como é o inferno”. Que
idiotas. Eu nem mesmo respondo. Eu sorrio e desligo. Mas por que
atender ao telefone? É o que a senhora perguntaria, não é? Por que eu
tenho o dever de atender ao telefone. Poderia ser alguém doente que
precisasse de mim, que estivesse pedindo ajuda. Afinal, sou padre ou
não? Durante os jogos da Copa do Mundo de futebol eles se acalmaram um
pouco, pois só pensavam nisso. Mas depois começaram de novo, e na noite
passada eles também não me deixaram rezar e nem mesmo dormir. A cada
meia hora, trim-triim! “Alô, estamos indo até aí para te matar.”
Idiotas! Eles ainda não entenderam que não adianta me matar: há muitos
outros padres como eu por aí.
Fallaci – Infelizmente não, dom Helder. Pelo
contrário, há muito poucos. Mas vamos voltar àquele seu apelido de
“arcebispo vermelho”. Quais são suas idéias políticas hoje? O senhor é
um socialista, como as pessoas dizem, ou não?
D. Helder – É claro que sou! Deus criou o homem à
sua própria imagem e semelhança, porque ele foi seu co-criador e não
porque ele era um escravo. Como podemos permitir que a maioria dos
homens seja explorada e viva como escravo? Eu não vejo quaisquer
soluções no capitalismo. Mas também não as vejo nos exemplos socialistas
que nos são oferecidos hoje, porque eles estão baseados em ditaduras, e
você não chega ao socialismo com ditaduras. Nós já temos uma ditadura
–é essa minha idéia fixa. Sim, a experiência marxista é surpreendente
–admito que a União Soviética teve um grande sucesso na mudança de suas
próprias estruturas, admito que a China Vermelha fez isso de uma maneira
ainda mais extraordinária. Mas quando eu leio sobre o que ocorreu na
União Soviética, na China vermelha, os expurgos, os informantes, as
prisões, o medo, eu vejo um paralelo muito grande com as ditaduras de
direita e o fascismo! Quando eu observo a frieza com que a União
Soviética se comporta em relação aos países subdesenvolvidos, a América
Latina, por exemplo, eu a acho tão parecida com a frieza dos Estados
Unidos! Eu tentaria ver algum exemplo de meu socialismo em certos países
fora de órbita russa ou chinesa –talvez na Tanzânia, ou na
Tchecoslováquia antes da invasão. Mas nem mesmo lá. Meu socialismo é
especial, é um socialismo que respeita a pessoa humana e remonta aos
Evangelhos. Meu socialismo é a justiça.
Fallaci – Dom Helder, não há palavra tão
explorada como a palavra “justiça”. Não há palavra mais utópica que
“justiça”. O que o senhor quer dizer com justiça?
D. Helder – Justiça não quer dizer atribuir a todos
uma mesma quantidade de bens de um modo idêntico. Isso seria horrível.
Seria como se todo o mundo tivesse o mesmo rosto e o mesmo corpo, a
mesma voz e o mesmo cérebro. Eu acredito no direito que todos têm de ter
rostos diferentes, corpos diferentes, vozes e cérebros diferentes. Deus
pode correr o risco de ser considerado injusto. Mas ele não é injusto e
quer que não haja privilegiados nem oprimidos, ele quer que cada um
tenha o essencial para viver – enquanto permanece sendo diferente. Então
o que quero dizer com justiça? Quero dizer uma melhor distribuição de
bens, em escala nacional e internacional. Há um colonialismo interno e
externo. Para demonstrar o último, tudo o que você tem a fazer é lembrar
que 80% dos recursos desse planeta estão nas mãos de 20% dos países,
nas mãos dos superpoderes ou das nações que servem aos superpoderes. Só
para dar dois pequenos exemplos: nos últimos 15 anos os Estados Unidos
ganharam bem uns 11 bilhões de dólares na América Latina –essa cifra é
fornecida pelo escritório de estatística da Universidade de Detroit. Ou
dizer simplesmente que para um trator canadense a Jamaica tem que pagar o
equivalente a 32 toneladas de açúcar… Por outro lado, para demostrar o
colonialismo interno, tudo o que você tem que fazer é pensar no Brasil.
No Norte do Brasil existem áreas que, sendo generosos, poderemos chamar
de subsenvolvidas. Outras ainda lembram a pré-história: as pessoas lá
vivem como no tempo das cavernas e ficam felizes em comer o que
encontram no lixo. E que eu posso dizer a essas pessoas? Que elas têm
que sofrer para chegar ao paraíso? A eternidade começa aqui, na terra,
não no paraíso.
Fallaci – Dom Helder, o senhor leu Marx?
D. Helder – É claro. Não concordo com suas
conclusões mas eu concordo com a sua análise da sociedade capitalista. O
que não dá a ninguém o direito de rotular-me de marxista honorário. O
fato é que Marx deveria ser interpretado à luz de uma realidade que
mudou, que está mudando. Eu sempre digo aos jovens que é um erro
assimilar Marx ao pé da letra; ele deveria ser utilizado sem que as
pessoas esqueçam que a análise é de um século atrás. Hoje, por exemplo,
Marx nunca diria que a religião é uma alienação, ou uma força alienante.
A religião obteve essa qualificação, mas ela não é mais válida. Veja o
que ocorre com os padres na América Latina, e em todos os outros
lugares. Além disso, muitos comunistas o sabem. Pessoas como o francês
Garaudy o sabem, e não importa se pessoas como ele são expulsas do
Partido Comunistas –elas existem e elas pensam, elas encarnam o que Marx
diria em nossa época. O que eu posso dizer? Os homens de esquerda são
frequentemente os mais inteligentes e generosos, mas eles vivem num
mal-entendido composto de ingenuidade e cegueira. Eles não conseguem
entender que hoje existem cinco gigantes no mundo: os dois gigantes
capitalistas, os dois gigantes comunistas e um quinto gigante que tem
pés de barro, o assim chamado mundo subdesenvolvido. O primeiro gigante
capitalista, nem se precisa enfatizar, é chamado de Estados Unidos. O
segundo é chamado de Mercado Comum Europeu, e também se comporta de
acordo com todas as regras do imperialismo. O primeiro gigante comunista
é chamado de União Soviética, o segundo é chamado de China vermelha, e
só os imbecis se iludem ao achar que os dois impérios capitalistas são
separados dos dois comunistas pelas suas ideologias. Eles dividiram o
mundo em Yalta e continuam dividindo-o enquanto sonham com uma segunda
Conferência de Yalta. Então, para o quinto gigante de pés de barro, para
nós, onde está a esperança? Eu não a vejo nos capitalistas americanos
ou europeus ou nos comunistas russos ou chineses.
Fallaci – Dom Helder, eu tenho que lhe fazer uma
pergunta embaraçosa. Houve um período em sua vida em que o senhor
adotou o fascismo. Como isso foi possível? E como mais tarde o senhor
fez uma escolha tão diferente? Desculpe-me pela lembrança tão ruim.
D. Helder – Você tem todo o direito de lembrar-me
desse episódio ruim e eu não me envergonho de responder. Em cada um de
nós dorme um fascista e às vezes ele nunca desperta. Às vezes, porém,
ele desperta sim. Em mim ele despertou quando eu era jovem. Eu tinha 22
anos de idade, sonhava em mudar o mundo, eu via o mundo divertido em
direita e esquerda, fascismo e comunismo. No Brasil o fascismo era
chamado de Ação Integralista. Os integralistas usavam camisas verdes em
vez das pretas dos italianos de Mussolini. Seu lema era
Deus-Pátria-Família –um lema que soava bem para mim. Como eu julgo
agora? Foi minha simplicidade juvenil, minha boa fé, minha falta de
informação –não havia muitos livros para ler, nem homens sãos a quem eu
pudesse ouvir. Mas também pelo fato de meu superior, o bispo do Ceará,
ter sido favorável a eles e ter me pedido para trabalhar com os
integralistas. A senhora sabe que eu trabalhei com eles até os 27 anos
de idade? Comecei a suspeitar que esse não era o caminho certo só quando
cheguei ao Rio de Janeiro, onde o cardeal Leme, que não gostava do
bispo do Ceará, ordenou-me que abandonasse o movimento. Não me incomodo
de lhe contar isso, porque acho que qualquer experiência, qualquer erro
enriquece e ensina as pessoas – se não por isso, pelo menos ajuda a
entender os outros. Mas a senhora quer saber como cheguei às minhas
escolhas de hoje? A resposta é simples: quando um homem trabalha em
contato com o sofrimento, ele sempre acaba se emprenhando com esse
movimento. Muitos reacionários são o que são porque não conhecem a
pobreza e a humilhação. Quando eu me engajei? Quem sabe? Posso só dizer
que as germinações já existiam em 1952 quando fui nomeado bispo. Em
1955, o ano do Congresso Eucarístico Internacional, já era uma
germinação avançada. Dei a luz às minhas novas idéias num dia de 1960,
na Igreja da Candelária, na Festa de São Vicente de Paula. Subi ao
púlpido e comecei a falar da caridade compreendida como justiça e não
como beneficência.
Fallaci – Dom Helder, alguns entendem que devem
alcançar essa justiça pela violência. O que o senhor pensa da violência
como instrumento de luta?
D. Helder – Eu a respeito, mas aqui há algo que
precisa ser declarado. Quando falamos de violência não devemos esquecer
que a violência número um, a violência que é a mãe de todas as
violências nasce dos ressentimentos. É chamada de injustiça. Assim os
jovens que tentam reagir à opressão da violência número um, com uma
violência número dois, chamada de violência existente, provocam a
violência número três, chamada de violência fascista. É um espiral. Eu
como padre não posso e não devo aceitar qualquer uma dessas três
violências, mas eu entendo a violência número dois – precisamente porque
eu sei que se chega a ela através da provocação. Detesto aqueles que
permanecem passivos, que ficam quietos, e amo aqueles que lutam, que se
envolvem. No Brasil, os jovens que reagem à violência com violência são
idealistas, a quem eu admiro. Infelizmente sua violência leva a coisa
alguma, e, devo acrescentar, quando você começa a brincar com armas os
opressores vão simplesmente esmagá-lo. Pensar em enfrentá-los no seu
nível é pura loucura.
Fallaci – Em outras palavras, dom Helder, o senhor está me dizendo que a revolta armada é impossível na América Latina?
D. Helder – Legítima e impossível. Legítima porque
foi provocada, impossível porque será esmagada. A idéia de que a guerra
de guerrilhas seria a única solução para a América Latina desenvolveu-se
depois da vitória de Fidel Castro. Mas no começo Fidel Castro não tinha
os Estados Unidos contra ele! Os Estados Unidos foram pegos de surpresa
por Cuba, e depois de Cuba eles organizaram uma milícia antiguerrilha
em todos os países da América Latina, para evitar o surgimento de outras
Cubas. Assim, hoje na América Latina todos os militares no poder são
auxiliados pelo Pentágono, na repressão a qualquer um que tente fazer
uma revolução. Além de escolas especiais de guerra onde os soldados são
treinados sob as piores condições, na selva, no meio das cobras, lá
também eles aprendem propaganda política. Isto é, enquanto seus corpos
aprendem a matar, suas mentes são convencidas de que o mundo está
dividido em duas partes: por um lado o capitalismo com seus valores, e
por outro o comunismo com seus antivalores. Essas forças especiais, em
suma, são tão bem preparadas que qualquer um que tente enfrentá-las
inevitalvemente acaba perdendo.
Fallaci – E Camilo Torres?
D. Helder – É a mesma coisa. Camilo foi um padre
sincero, mas num certo ponto, sendo um sacerdote e um cristão, ele
perdeu qualquer ilusão de que a Igreja tomasse conhecimento de seus
belos textos. E ele achava que o Partido Comunista era o único capaz de
fazer alguma coisa. Então os comunistas o pegaram e o enviaram
imediatamente à luta, onde o perigo era maior. Eles tinham um plano em
mente: Camilo seria morto e a Colômbia pegaria fogo. Camilo foi morto,
mas a Colômbia não pegou fogo. Nem os jovens e nem os trabalhadores se
mexeram. E então voltamos àquela minha constatação de antes.
Fallaci – Dom Helder, o senhor também
aplicaria essa constatação aos jovens que estão fazendo guerra de
guerrilhas nas cidades brasileiras?
D. Helder – É claro. Oh, eu respeito muito os jovens
brasileiros de quem a senhora está falando! Eu os amo porque eles são
conscientes, maduros, porque eles não agem com ódio e pensam somente em
libertar seus país, às vezes às custas de suas próprias vidas. Eles nem
têm tempo de preparar as massas, eles são impacientes e pagam com suas
próprias vidas. Eu não gostaria de desencorajar esses jovens, mas tenho
de fazê-lo. Será que vale a pensa sacrificar suas vidas por nada? Ou
quase nada? Considere, antes de mais nada, os assaltos a bancos que eles
realizam só para conseguir o dinheiro necessário para comprar armas. As
armas têm um preço muito elevado, trazê-las às cidades é um
empreendimento maluco –o risco, o sacrifício, será que não é
desproporcional? Agora considere o seqüestro de diplomatas, que eles
realizam para libertar seus camaradas da prisão. Todas as vezes que um
embaixador é libertado pelos guerrilheiros em troca de seus colegas
presos, a polícia envia uma diligência e as celas vazias ficam cheias
novamente, e assim como as câmaras de tortura. Eles saem de um lado e
entram pelo outro –qual é o sentido disso? O sentido de fazer um
intercâmbio, de acrescentar mais aleijados aos aleijados, mais mortes
aos mortos? O sentido de aumentar a espiral de violência, de facilitar a
ditadura fascista? Como a senhora vê, minha oposição não é baseada em
motivos religiosos mas sim táticos. Não provêm de nenhum idealismo, eles
provêm de um extremo realismo político, um realismo que se aplica a
qualquer outro país: Estados Unidos, Itália, França, Espanha, Rússia. Se
em qualquer um desses países os jovens saíssem às ruas e fizessem uma
revolução, eles seriam aniquilados num instante. Nos Estados Unidos, por
exemplo, o Pentágono acabaria tomando todo o poder. Não precisamos ser
impacientes!
Fallaci – Até mesmo Jesus Cristo foi impaciente,
dom Helder. E ele não defendeu um monte de argumentos táticos quando
desafiou as autoridades constituídas. Na história do mundo aqueles que
venceram foram sempre aqueles que desafiaram o impossível. E os jovens…
D. Helder – Se você soubesse como eu entendo os
jovens! Eu também era impaciente quando jovem –no seminário eu era tão
rebelde que não permitiram que eu me tornasse um Filho de Maria
(organização pia). Eu falava nas horas devotadas ao silêncio, eu
escrevia poesia mesmo sendo proibido, eu discutia com meus superiores. E
as novas gerações de hoje enchem-me de admiração porque eles são cem
vezes mais desobedientes do que eu era, cem vezes mais corajosos. Nos
Estados Unidos, na Europa, em todos os lugares. Não sei nada sobre os
jovens russos, mas tenho certeza de que eles também estão tentando algo.
Sim, eu sei que para os jovens de hoje é tudo mais fácil porque eles
têm mais informações, mais comunicações, eles têm a estrada que a minha
geração pavimentou para eles. Mas eles a usam tão bem, essa estrada!
Eles têm uma sede tão grande de justiça, de revolta, têm tanto senso de
responsabilidade! Estão cobrando seus pais, seus professores, seus
pastores, eles mesmos. Viram as costas à religião porque perceberam que a
religião os traiu. E eles são sinceros quando encontram sinceridade,
sensibilidade. Há algum tempo atrás alguns jovens marxistas vieram me
ver, e com uma certa arrogância disseram que haviam decidido aceitar-me.
“Ouçam, ouçam”, eu disse a eles, “suponham que eu não os aceite.” Isso
nos levou a uma discussão dura e acalorada, mas que terminou num abraço.
Eu não só amo os jovens de hoje, eu também os invejo, pois eles têm a
sorte de viver a sua juventude em conjunto com a juventude do mundo. Mas
ninguém pode me impedir de ser velho e, portanto, sábio –e não
impaciente.
Fallaci – É claro que não. Então me deixe
perguntar-lhe, dom Helder. Quais as soluções encontradas pela sua
sabedoria para eliminar a injustiça?
D. Helder – Qualquer um que tenha a solução em seu
bolso é um tolo presunçoso. Eu não tenho soluções. Eu só tenho opiniões,
sugestões que podem ser resumidas em duas palavras: violência pacífica.
Isso significa não à violência escolhida pelos jovens com armas nas
mãos, mas a violência, se você quiser, que já foi pregada por Ghandi ou
Martin Luther King. A violência de Cristo. Eu a chamo de violência
porque não se contenta com pequenas reformas, revisões, mas insiste numa
revolução completa das estruturas atuais –uma sociedade toda refeita,
de cima a baixo, numa base socialista e sem derramamento de sangue. Não é
suficiente lutar pelos pobres, morrer pelos pobres –temos que dar aos
pobres uma consciência de seus direitos e de sua pobreza. As massas têm
que perceber a urgência de libertarem-se sozinhas, e não serem
libertadas por alguns poucos idealistas que enfrentam a tortura como os
cristãos enfrentavam os leões no Coliseu. Ser comido pelos leões não é
muito bom quando as massas ficam ali, sentadas, para assistir ao
espetáculo. Mas como poderemos fazê-las se levantar e ficar de pé sobre
as próprias pernas? Você responde –esse é um jogo de espelhos! Bem, eu
posso ser uma utopista e um ingênuo, mas eu digo que é possível conscientizar as
massas, e talvez seja até possível abrir um diálogo com os opressores.
Não há nenhum homem completamente mau, até mesmo no mais infame dos
seres humanos você encontra elementos válidos –e se conseguíssemos de
alguma forma conversar com os militares mais inteligentes? E se
conseguíssemos de fato induzi-los a rever sua filosofia política? Tendo
sido um intregralista, um fascista, eu conheço o mecanismo de suas
mentes –pode até ser que consigamos convencê-los de que esse mecanismo
está errado, que torturar e matar não mata as idéias, que a ordem não é
mantida com o terror, que o progresso só é alcançado pela dignidade, que
os países subdesenvolvidos não estão se defendendo ao se colocarem a
serviço dos impérios capitalistas, que esses impérios estão lado a lado
com os impérios comunistas. Precisamos tentar.
Fallaci – O senhor tentou, dom Helder?
D. Helder – Eu tentarei. Estou tentando agora,
conversando com a senhora nessa entrevista. Eles terão que entender
também que o mundo está caminhando, que os ventos de revoltas não estão
soprando somente no Brasil ou na América Latina, mas também em todo o
planeta. Bom Deus, eles sopraram até na Igreja Católica! Sobre o
problema da justiça, a Igreja já chegou a certas conclusões, que foram
colocadas no papel e assinadas. É verdade que muitos padres estão
falando sobre o celibato, mas há mais ainda falando sobre a fome e a
liberdade. E então, a senhora sabe, devemos considerar a conseqüências
da discussão sobre o celibato; há uma relação entre as várias revoltas,
você não pode exigir mudanças das estruturas externas se não tem a
coragem de mudar as internas. Os grandes problemas humanos não são
monopólio de padres que vivem na América Latina de dom Helder. Eles são
enfrentados por padres da Europa, dos Estados Unidos, do Canadá, de
todos os lugares.
Fallaci – Eles são grupos isolados, dom Helder.
No topo da pirâmide ainda existem aqueles que defendem as velhas
estruturas e as autoridades estabelecidas.
D. Helder – Não posso dizer que você está errada. Há
uma enorme diferença entre as conclusões assinadas no papel e as
realidades vivas. A Igreja tem estado sempre preocupada demais com o
problema de manter a ordem, de evitar o caos, e isso a manteve distante
de perceber que sua ordem era muitas vezes uma desordem. Freqüentemente
eu imagino, sem desculpar a Igreja, como é possível que gente séria e
virtuosa tenha aceitado e continue aceitando tantas injustiças. Durante
três séculos no Brasil a Igreja achou normal que os negros fossem
mantidos como escravos! A verdade é que a Igreja Católica pertence ao
mecanismo do poder. A Igreja tem dinheiro, por isso investe seu
dinheiro, afunda até o pescoço nos empreendimentos comerciais, e se liga
àqueles que detêm as riquezas. Ela acha que assim protege seu
prestígio, mas se quisermos sustentar o papel que outorgamos a nós
mesmos teremos que parar de pensar em termos de prestígio. E também não
devemos lavar as mãos como Pôncio Pilatos; precisamos nos redimir do
pecado da omissão e pagar nossas dívidas, readquirindo o respeito dos
jovens, sua simpatia e talvez seu amor. Fora com esse dinheiro e com a
pregação da religião em termos da paciência, obediência, sofrimento,
beneficência. Chega de beneficência, sanduíches e biscoitos. Você não
defende a dignidade do homem dando-lhe sanduíches e biscoitos, mas
ensinando-lhe a dizer: “Eu tenho direito a um hambúrguer!” Nós padres
somos responsáveis pelo fatalismo com o qual os pobres têm sempre se
resignado à pobreza, as nações subdesenvolvidas ao subdesenvolvimento. E
prosseguindo desse modo nós provamos que os marxistas estão certos
quando dizem que as religiões são uma força alienada e alienante, são o
ópio do povo!
Fallaci – Meu Deus, dom Helder! Será que Paulo VI sabe que o senhor diz essas coisas também?
D. Helder – Ele sabe, ele sabe. E ele não desaprova.
É que ele não pode falar como eu falo. Ele tem um certo tipo de gente à
sua volta, pobre homem!
Fallaci – Ouça, dom Helder, o senhor acha mesmo
que hoje em dia a Igreja pode representar um papel importante na busca e
na aplicação da justiça?
D. Helder – Oh, não. Vamos tirar essa idéia da
cabeça, de que depois de causar tanto tumulto a Igreja possa se permitir
a representar tal papel. Temos o dever de prestar esse serviço sim, mas
sem ostentação. Sem esquecer que a culpa mais séria pertence a nós,
cristãos. No ano passado eu participei, durante uma semana em Berlim, de
uma mesa redonda de cristãos, budistas, hindus, marxistas. Ali foram
discutidos os grandes problemas do mundo, foi examinado o que fizemos, e
chegou-se à conclusão de que as religiões têm um grande débito para com
a humanidade, mas que os cristões, ou melhor, os católicos, têm o
débito maior. Como a senhora explica que esse punhado de países que têm
em suas mãos 80% dos recursos do mundo são países cristãos e muitas
vezes católicos? Então eu concluo: se existe uma esperança ela reside no
esforço conjunto de todas as religiões, não só na Igreja Católica ou
nas religiões cristãs. Atualmente não há uma religião isolada que tenha
muitas possibilidades. A paz só poderá ser alcançada graças àqueles a
quem o papa João chamou de homens de boa vontade.
Fallaci – Há uma miséria sem nenhum poder, dom Helder.
D. Helder – São as minorias que contam. Foram sempre
as minorias que mudaram o mundo, rebelando-se, lutando, e despertando
as massas. Alguns padres aqui, alguma guerrilha ali, algum bispo aqui,
algum jornalista ali. Não estou tentando adular a senhora, mas devo
dizer-lhe que sou uma das poucas pessoas que gostam de jornalistas.
Quem, senão os jornalistas, relatam as injustiças e informam milhões e
milhões de pessoas? Não corte esse comentário da entrevista; no mundo
moderno os jornalistas são um fenômeno importante. Houve um tempo em que
vocês vinham ao Brasil só para falar sobre nossas borboletas, nossos
papagaios, nosso carnaval, em resumo, nosso folclore. Agora, em vez
disso vocês vêm para cá e levantam as questões ligadas à nossa pobreza,
às nossas torturas. Nem todos vocês, é claro –há também os
inconseqüentes que nem se importam se morremos de fome ou de choques
elétricos. Nem sempre com sucesso, é claro –sua sede de verdade pára
onde começam os interesses da empresa a que vocês servem. Mas Deus é
bom, e às vezes ele providencia para que seus chefes não sejam muito
inteligentes. Assim, com a bênção de Deus, as notícias sempre passam, e
uma vez impressas eles repercutem com a velocidade de um foguete
dirigido à lua, e se espalham como um rio que transborda invadindo as
margens. O público não é estúpido, mesmo sendo silencioso. Tem olhos e
ouvidos, mesmo se não tiver boca. E sempre chega o dia em que ele lembra
o que leu. Estou só esperando que ele leia essa verdade definitiva: não
devemos dizer que o rico é rico porque trabalhou mais ou é mais
inteligente, não devemos dizer que o pobre é pobre porque é estúpido ou
preguiçoso. Quando falta a esperança e só se herda pobreza, não adianta
nada trabalhar ou ser inteligente.
Fallaci – Dom Helder, se o senhor não fosse um padre…
D. Helder – Você nem precisa perguntar –não posso
nem imaginar ser alguma outra coisa além de padre. Veja, eu considero a
falta de imaginação um crime, e mesmo assim, eu não consigo imaginar-me
sendo outra coisa senão um padre. Para mim ser um padre não é só uma
escolha, é um modo de vida. É o que a água é para o peixe, o céu para o
pássaro. Eu realmente acredito em Cristo. Para mim Cristo não é uma
idéia abstrata –ele é um amigo pessoal. Ser um padre nunca me
desapontou, nem me provocou arrependimentos. Celibato, castidade, a
ausência de uma família do modo como vocês leigos a entendem, tudo isso
nunca foi um peso para mim. Se eu perdi certas alegrias, tive e tenho
outras muito mais sublimes. Se você soubesse o que eu sinto quanto
celebro a missa, como me torno uno com ela! Para mim a missa é
verdadeiramente o Calvário e a Ressurreição, é uma grande alegria! Veja,
há aqueles que nasceram para cantar, aqueles que nasceram para ser
padres –eu comecei a dizer isso com a idade de 8 anos e com certeza não
porque meus pais puseram essa idéia em minha cabeça. Meu pai era maçom e
minha mãe ia à igreja uma vez por ano. Eu me lembro até que um dia meu
pai ficou assustado e disse: “Meu filho, você está sempre dizendo que
quer ser padre. Mas você sabe o que isso significa? Um padre é alguém
que não pertence a si mesmo, ele pertence a Deus e aos homens, ele é
alguém que deve somente dar amor, fé e caridade…”. E eu disse: “Eu sei. É
por isso que eu quero ser um padre”.
Fallaci – Mas não um monge. Seu telefone toca muito, e esse muro arrebentado pelas metralhadoras não seria próprio de um monastério.
D. Helder – A senhora está errada! Eu carrego um
monastério dentro de mim. Talvez não exista muito misticismo em mim, e
mesmo em meus encontros diretos com Cristo, sou tão impertinente quanto
Cristo desejaria que eu fosse. Mas sempre chega o momento em que eu me
isolo, à maneira de um monge. Às 2 horas da manhã eu sempre acordo, me
levanto, me visto, e recolho os pedacinhos espalhados durante o dia; um
braço aqui, uma perna ali, a cabeça, sabe-se lá onde. Costuro-me todo
novamente; sozinho começo a pensar ou escrever, ou rezar, ou então me
preparo para a missa. Durante o dia sou um homem frugal. Como pouco,
detesto anéis e crucifixos valiosos, como você pode ver. Rejubilo-me com
dádivas que estão bem à mão: o sol, a água, as pessoas, a vida. A vida é
bela, e muitas vezes fico imaginando porque, para sustentar a vida, é
preciso matar outra vida –no caso um homem ou um tomate. Sim, eu sei que
enquanto mastigo o tomate eu o faço tornar-se dom Helder e assim o
idealizo, torno-o imortal. Mas o fato permanece: estou destruindo o
tomate –por quê? É um mistério que eu não consigo assimilar, e assim eu o
coloco de lado dizendo, não importa, um homem é mais importante do que
um tomate.
Fallaci – E quando o senhor não está pensando no
tomate, dom Helder, não lhe acontece de ser um pouco menos monge e um
pouco menos padre? Em resumo, zangar-se com homens que valem menos do
que um tomate e sonhar com a possibilidade de ao menos golpeá-los com
seus punhos?
D. Helder – Se isso chegasse a acontecer eu seria um
padre com uma espingarda no ombro. E eu respeito muito os padres com
espingardas nos ombros; eu nunca disse que usar armas contra um opressor
é imoral ou anticristão. Mas não é minha escolha, não é minha estrada,
não é meu jeito de aplicar os Evangelhos. Então quando eu me zango, e eu
sinto isso quando as palavras não saem mais da minha boca, eu paro e
digo: “Acalme-se dom Helder!” Sim, eu compreendo, você não é capaz de
ligar o que eu acabo de dizer com o que eu disse antes: por um lado o
monastério, pelo outro a política. Mas o que você chama de política,
para mim é religião. Cristo não jogou o jogo dos opressores, ele não
cedeu àqueles que lhe disseram que, se você defender os jovens que
seqüestram embaixadores, se você defender os jovens que assaltam bancos
para comprar armas, você está cometendo um crime contra a pátria e o
Estado. E Igreja quer que eu me ocupe com a libertação da alma, mas como
eu posso libertar uma alma se eu não consigo libertar o corpo que
contém essa alma? Eu quero enviar homens para o céu, não cachorrinhos.
Muito menos cachorrinhos com estômagos vazios e testículos destruídos.
Fallaci – Obrigada, dom Helder. Parece-me que isso diz tudo, dom Helder. Mas e agora, o que acontecerá com o senhor?
D. Helder – Bah! Eu não me escondo, eu não me
defendo, e não seria preciso ter muita coragem para me eliminar. Mas
estou convencido de que eles não me matarão se Deus não o quiser. Se,
pelo contrário, Deus quiser, porque ele acha que está certo, eu o aceito
como sua graça –quem sabe, minha morte pode até ajudar. Eu já perdi
quase todo o meu cabelo, o pouco que restou ficou branco, e não tenho
mais muitos anos de vida. Por isso suas ameaças não me assustam. Em
resumo, será um pouco difícil para eles, desse modo, fazer com que eu me
cale. O único juiz que eu aceito é Deus.
Leia no site original da matéria. AQUI
Ouça:
Leia também:
O 1º de abril
Dossiê
Vídeos e filmes sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar
Leia no site original da matéria. AQUI
Ouça:
"Setores políticos e da classe média fomentaram o golpe de 1964", diz cientista político.
Fonte: Rede Brasil atual
AQUI
O cientista político, diretor-acadêmico da Fundação Escola
de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo Fornazzieri, fala sobre o
golpe de 31 de março de 1964 e o que os 21 anos de ditadura militar
tiraram do país e do povo brasileiro. "Essa é uma herança pesada que
agora começa a ser esclarecida com a Comissão Nacional da Verdade", diz
O 1º de abril
Um presidente deposto e outro conduzido ao poder por homens armados marcam o início da Revolução ‘Democrática’ de 1964. Entenda os eventos que levaram à instauração da ditadura civil-militar no Brasil
AQUIDossiê
O golpe de 1964
marxismo21 nesta página divulga
um conjunto de materiais (artigos, documentos, trabalhos acadêmicos,
vídeos, filmes etc.) que discute a natureza, o significado e as razões
do golpe civil-militar de 1964. Passados quase 50 anos desse evento, nada há a comemorar. O blog
– que numa futura edição deverá examinar o período da ditadura militar –
busca contribuir para um conhecimento crítico da conjuntura
político-social de 1964 e também para lembrar que as lutas pelo “direito
à justiça” e pelo “direito à verdade” não podem ser relegadas ou
subestimadas pelos democratas progressistas e socialistas no Brasil.
Enquanto não for feita justiça às vítimas da violência do Estado e a
verdade sobre o golpe e a ditadura militar não for conhecida pelo
conjunto da sociedade, a democracia política no Brasil não será sólida e
consistente.
Por último, somos gratos a Diorge Konrad, do conselho consultivo, que colaborou com a organização deste dossiê. Os editores.
Significado, natureza e polêmicas em torno do golpe
Versões e controvérsias sobre o golpe de 1964, Carlos Fico | acesso |
Governo Goulart e o golpe de 1964: memória e historiografia, Lucilia Neves Delgado | acesso |
O golpe militar de 1964, L.A. Moniz Bandeira | acesso |
O golpe contra as reformas e a democracia, Caio N. de Toledo | acesso |
O governo Goulart e o debate historiográfico, Marcelo Badaró | acesso |
O golpe de 1964: discursos políticos e historiográficos, Rafael Lameira e Diorge Konrad | acesso |
1964: as falácias do revisionismo, Caio N. de Toledo | acesso |
1964: polêmica com tendências da historiografia, Demian Melo | acesso |
Balanço da historiografia sobre o golpe de 1964, Marcos Napolitano | acesso |
A conjuntura do golpe e a democracia, Marcos Del Roio | acesso |
As causas políticas da vitória dos golpistas, J. Quartim de Moraes | acesso |
N. Werneck Sodré: debatendo o golpe e o ISEB, Dênis de Moraes | acesso |
N. Werneck Sodré e o golpe de 1964, Olga Sodré | acesso |
A conjuntura do golpe: atores, lutas sociais e político-ideológicas
Quem dará o golpe no Brasil?, livro de Wanderley Guilherme | acesso |
Acumulação capitalista e o golpe de 1964, Nildo Viana | acesso |
Golpe de 1964: militares brasileiros e o empresariado nacional e norte-americano, Martina Spohr | acesso |
A participação dos EUA no golpe de 1964, J. Green e A. Jones | acesso |
O papel dos EUA no golpe de 1964, R. Rodrigo | acesso |
IPES e IBAD na conjuntura do golpe de 1964, Bruna Pastore | acesso |
Legalistas das Forças Armadas x Movimento sindical, Felipe Demier | acesso |
O dispositivo militar do governo Goulart, Fabiano Faria | acesso |
A luta ideológica no pré-1964: IPES e IBAD, Caio N. de Toledo | acesso |
Catolicismo conservador no pré-1964, A. Codato e M. Oliveira | acesso |
A ação da OAB no golpe de 1964, Marcos Leme de Mattos | acesso |
Representações do golpe na mídia, Flávia Birolli | acesso |
Imprensa, jornalistas e o golpe de 1964, João Amado | acesso |
Jornais paulistas apoiaram o golpe, Luiz Antônio Dias | acesso |
As manchetes da imprensa no golpe de 1964, CartaMaior | acesso |
Dossiê: “1964: Cultura e Poder”, Revista DH, PUC-SP | acesso |
Artistas e intelectuais nos anos 1960, Marcelo Ridenti | acesso |
Os integralistas e o golpe de 1954, Gilberto Calil | acesso |
Apoio e resistência em Santa Maria (RS), Diorge Konrad | acesso |
O golpe de 1964 visto pelo humor crítico, Dislane Moraes | acesso |
O golpe nos livros didáticos, Mateus Pereza e Andreza Pereza | acesso |
“Era possível abortar o golpe!”, ex-Brig. Rui Moreira Lima | acesso |
Carta de Florestan Fernandes a um militar e outros textos | acesso |
Réquiem para um aniversário, Ruy Guerra | acesso |
Trabalhos acadêmicos
A Rede da Democracia e o golpe de 1964, Eduardo Gomes Silva | acesso |
A política econômica de Goulart, Mário Pinto de Almeida | acesso |
Movimento estudantil e política, João Roberto Martins Filho | acesso |
A esquerda católica e as reformas de base, Fábio Gavião | acesso |
O discurso golpista nos documentários do Ipes, Marcos Correa | acesso |
O anticomunismo do IPES como projeto de classe, Pâmela Deusdará | acesso |
Brizola e as lutas dos militares subalternos, César Rolim | acesso |
Teatro político e reforma agrária, Rafael Villas Bôas | acesso |
Vídeos e filmes sobre o golpe de 1964 e a ditadura militar
Depoimento de Gregório Bezerra: política e repressão | acesso |
Apoio dos EUA ao golpe de 1964 | acesso |
“Operação Brother Sam” e o golpe de 1964 | acesso |
Por que o governo Goulart não resistiu? | acesso |
TV Globo e exaltação da ditadura militar (1975) | acesso |
Dezenas de vídeos sobre a ditadura militar (Núcleo de Memória) | acesso |
Filmes do IPES: a preparação do golpe | acesso |
Cabra marcado pra morrer, Eduardo Coutinho | acesso |
O dia que durou 21 anos, Flávio Tavares | acesso |
Jango, Sílvio Tendler | acesso |
Cidadão Boilesen, Chaim Litewski | acesso |
Nenhum comentário:
Postar um comentário