Comentário
E se as encenações da Paixão de Cristo não fossem tão quadradas? E se buscassem atualizar o drama e o sofrimento de Cristo, relacionando com o drama e o sofrimento de tantas mulheres e homens mundo a fora? Esta forma de intervenção espontânea do homem bebum me lembrou o teatro do oprimido. Muito feliz por ter tido acesso a ele, pois há tempos não assisto a encenação da Paixão de Cristo, por considerá-las repetitivas, claro que devem se reportar ao passado, mas gosto muito de releituras e da atualização da história para nossas realidades e tempo presente.
Zezito de Oliveira
“Tributo a Paixão Mineira”; um espetáculo teatral estruturado para apresentar as culturas populares e a sua devoção e espiritualidade. A sintonia entre as culturas populares, o lúdico das cantigas de roda e a Paixão de Jesus proporcionam uma curva de emoções entre o delicado, sereno e os conflitos do inferno, de Herodes e dos Romanos. Essa curva de emoções propicia uma dramaturgia de grande valor reflexivo e encantador. Assim chegamos aos nossos 13 anos de grupo, em uma maturidade inacreditável. E após um longo processo de estudos referente às Culturas Populares, sua religiosidade de forma enrustida a sua teatralidade explicita, a “licença poética” do autor abriu seus os caminhos. Como de costume esculpir artisticamente num processo de “artesania” dramatúrgica, chegou-se a uma imagem digital, que desperta o canal sensorial do nosso Diretor teatral.
http://afolharegional.com/portal/?url=incio/regiao/atributo-a-paixo-mineiraa-um-espetculo-teatral-ser-apresentando-em-alpinpolis-
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Play list Temática - A paixão de Cristo na paixão dos homens.
Jesus: a morte de um preso político e não um “sacrifício religioso” ou “expiatório”. Mauro Lopes e José Maria Castillo
Jesus: a morte de um preso político e não um “sacrifício religioso” ou “expiatório”
A cena é descrita em detalhes no Evangelho de João (Jo 18,1-19,42)
e antecipada, na Primeira Leitura, pelo último Canto do Servo Sofredor (
o 4º), no qual o profeta Isaías antecipava, mais de 500 anos antes, que
um Servo seria preso e torturado: “tão desfigurado ele estava que não
parecia ser um homem ou ter aspecto humano -do mesmo modo ele espalhará
sua fama entre os povos”. O profeta anunciava que ele seria desprezado,
esmagado e que, em sua entrega amorosa, radical e desafiadora do
sistema, iria mostrar a nós, “ovelhas desgarradas” e acovardadas, o
caminho da resistência e da justiça (Is 52,13 – 53,12).
Há uma maneira de encarar a caminhada
decisiva de Jesus, resultado de suas escolhas ao longo da vida, com um
pietismo adocicado-azedado e carregado de um falso moralismo, como se
sua morte fosse culpa individual de cada pessoa simplesmente por termos
nascido. Seria um “sacrifício religioso” expiatório para nos absolver,
num ciclo que se torna punição eterna, sem absolvição, pois aprisiona os
homens e mulheres a uma culpa sempre renovada, nunca purgada, sempre a
necessitar o perdão do padre, do bispo da Igreja.
É um engodo. Não houve sacrifício
religioso algum. Jesus foi morto como um preso político, porque desafiou
o poder político-religioso em Israel e o exército de ocupação romano, e
propôs a seu povo uma vida de fraternidade, liberdade, superação e em
amor responsável e acolhedor; uma vida de partilha e não de acumulação,
de solidariedade e não de exploração; de amizade e não de competição.
Morreu como um subversivo. O artigo do
teólogo espanhol José Maria Castillo é breve e contundente, como a vida
do Mestre. Ele foi jesuíta por muito tempo, deixou a Companhia de Jesus
e tornou-se um teólogo de referência global –não é à toa que foi
perseguido anos a fio pela Congregação para a Doutrina da Fé, com
vários monitums [advertências] contra ele. Leia o artigo a seguir ou na versão original, publicada em Religion Digital há poucos dias:
“Uma das coisas que ficam mais claras,
nos relatos da paixão do Senhor, que a Igreja nos recorda nestes dias da
Semana Santa é o medo que o Evangelho desperta. Sim, a vida de Jesus
nos dá medo. Porque, ao fim, o que não deixa margem a dúvida é que sua
forma de viver –se é que os evangelhos são a verdadeira recordação do
que aconteceu- levou Jesus a terminar seus dias tendo que aceitar o
destino mais repugnante que uma sociedade pode determinar: o destino de
um delinquente executado (G. Theissen).
A morte de Jesus não foi um sacrifício religioso.
Ao contrário, pode-se assegurar que a morte de Jesus, tal como relatada
nos evangelhos, nada teve a ver com o que, naquela cultura, se podia
entender como um sacrifício sagrado ou de fundo religioso. Todo
sacrifício religioso naquele tempo devia cumprir duas condições: teria
que acontecer no templo (lugar do sagrado) e deveria seguir as
prescrições de um ritual religioso. Nenhuma delas se deu na morte de
Jesus.
Mais ainda: Jesus foi crucificado não entre dois ladrões, mas entre dois lestai, uma palavra grega que se utilizava para designar não apenas bandidos (Mc 11,17), mas igualmente a rebeldes políticos (Mc 15,27),
como indicou o historiador Flavio Josefo (H.W.Kuhn; X.Alegre). Por isso
compreende-se que, em sua hora final e decisiva, Jesus se viu
abandonado e traído por todos: o povo, os discípulos, os apóstolos… A
paixão e morte de Jesus tiveram de elemento religioso seus sentimentos,
do próprio Jesus: e sabemos que seu sentimento mais forte foi a
consciência de se ver abandonado inclusive por Deus (Mt 27,46; Mc 15,34). A vida de Jesus acabou assim: sozinho, desamparado, abandonado.
O que isto tudo nos diz? A Semana Santa
diz-nos, nos textos bíblicos que lemos estes dias, que Jesus veio para
por em questão a realidade em que vivemos. A realidade violenta, cruel,
na qual se impõe a lei do mais forte frente à lei de todos os fracos.
Sabemos que Paulo de Tarso interpretou o
relato mítico do pecado de Adão como origem e explicação da morte de
Jesus, para nos redimir de nossos pecados (Rm 5,12-14).
Os pregadores lançam mão desta interpretação para concentrar nossa
atenção na salvação do céu. Isso é bom, mas carrega o perigo de desviar
nossa atenção da trágica realidade que estamos vivendo. A realidade da
violência que sofrem os zé-ninguém, a
corrupção dos que mandam e, sobretudo, o silêncio daqueles que sabem
disso tudo mas ficam quietos para não perder seu poder, suas dignidades e
seus privilégios.
A beleza, o fervor, a devoção de nossas
liturgias sacras recorda-nos a paixão do Senhor. Porém, elas questionam a
duríssima realidade que vivem milhões e milhões de seres humanos?
Recordam-nos a vida de Jesus e seu fracasso final? Ou nos distraem com
devoções, apegos estéticos e tradições que utilizam a memoria passionis, de Jesus apenas para cuidar de sua boa consciência?
Imagens (arquivo web) Luis Henrique Alves Pinto
Bernardo Ramonfaur
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