Fonte: JCNET aqui |
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O padre Roberto Francisco Daniel, 48 anos, conhecido como padre Beto,
foi excomungado pela Igreja Católica, segundo comunicado publicado no
site da Diocese de Bauru nesta segunda-feira (29).
Segundo o texto, as opiniões expressas pelo padre em redes sociais sobre a postura conservadora da igreja e temas como a bissexualidade, amor entre pessoas do mesmo sexo e a fidelidade conjugal traíram o compromisso com a igreja, a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Ainda de acordo com o comunicado, os atos de “liberdade de expressão” proferidos pelo sacerdote provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Em Roma A Diocese de Bauru, por meio do bispo dom Caetano Ferrari, decidiu excomungar o padre Beto em um ato inédito de sua jurisdição - em toda a história. A partir desta decisão, ele não pode mais celebrar ato de culto divino (sacramentos e sacramentais), nem mesmo receber a eucaristia. O chamado "juiz" da igreja iniciará os procedimentos para desligar o padre e enviar a Roma o relatório penal para sua “demissão de estado clerical”. ‘Não muda a minha vida’ Instantes após divulgada a decisão da igreja, Padre Beto (que ainda pode ser chamado assim até a chegada de carta oficial do Vaticano ratificando a excomunhão) mostrou-se tranquilo ao JC. “Não muda nada na minha vida. Eu já havia pedido o meu desligamento. Ainda bem que não tem fogueira”, ironizou, por telefone. Ele tinha 14 anos de sacerdócio. Beto não se diz surpreso com o veredicto. “Era um tribunal montado. Eu apenas queria entregar uma carta (de resposta ao pedido de dom Cateano sobre retratação e consequente solicitação de afastamento das atividades ministeriais). Não diria surpresa. Eu esperava de tudo da igreja”, diz. Você sabia? Religiosos excomungados não podem mais cumprir atividades litúrgicas ou pastorais. E também são barrados de participar da chamada "vida sagrada" da igreja - como tomar hóstia.
É de conhecimento público os pronunciamentos e atitudes do Reverendo Pe. Roberto Francisco Daniel que, em nome da “liberdade de expressão” traiu o compromisso de fidelidade à Igreja a qual ele jurou servir no dia de sua ordenação sacerdotal. Estes atos provocaram forte escândalo e feriram a comunhão eclesial. Sua atitude é incompatível com as obrigações do estado sacerdotal que ele deveria amar, pois foi ele quem solicitou da Igreja a Graça da Ordenação. O Bispo Diocesano com a paciência e caridade de pastor, vem tentando há muito tempo diálogo para superar e resolver de modo fraterno e cristão esta situação. Esgotadas todas as iniciativas e tendo em vista o bem do Povo de Deus, o Bispo Diocesano convocou um padre canonista perito em Direito Penal Canônico, nomeando-o como juiz instrutor para tratar essa questão e aplicar a “Lei da Igreja”, visto que o Pe. Roberto Francisco Daniel recusa qualquer diálogo e colaboração. Mesmo assim, o juiz tentou uma última vez um diálogo com o referido padre que reagiu agressivamente, na Cúria Diocesana, na qual ele recusou qualquer diálogo. Esta tentativa ocorreu na presença de 05 (cinco) membros do Conselho dos Presbíteros. O referido padre feriu a Igreja com suas declarações consideradas graves contra os dogmas da Fé Católica, contra a moral e pela deliberada recusa de obediência ao seu pastor (obediência esta que prometera no dia de sua ordenação sacerdotal), incorrendo, portanto, no gravíssimo delito de heresia e cisma cuja pena prescrita no cânone 1364, parágrafo primeiro do Código de Direito Canônico é a excomunhão anexa a estes delitos. Nesta grave pena o referido sacerdote incorreu de livre vontade como consequência de seus atos. A Igreja de Bauru se demonstrou Mãe Paciente quando, por diversas vezes, o chamou fraternalmente ao diálogo para a superação dessa situação por ele criada. Nenhum católico e muito menos um sacerdote pode-se valer do “direito de liberdade de expressão” para atacar a Fé, na qual foi batizado. Uma das obrigações do Bispo Diocesano é defender a Fé, a Doutrina e a Disciplina da Igreja e, por isso, comunicamos que o padre Roberto Francisco Daniel não pode mais celebrar nenhum ato de culto divino (sacramentos e sacramentais, nem mais receber a Santíssima Eucaristia), pois está excomungado. A partir dessa decisão, o Juiz Instrutor iniciará os procedimentos para a “demissão do estado clerical, que será enviado no final para Roma, de onde deverá vir o Decreto . Com esta declaração, a Diocese de Bauru entende colocar “um ponto final” nessa dolorosa história. Rezemos para que o nosso Padroeiro Divino Espírito Santo, “que nos conduz”, ilumine o Pe. Roberto Francisco Daniel para que tenha a coragem da humildade em reconhecer que não é o dono da verdade e se reconcilie com a Igreja, que é “Mãe e Mestra”. |
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Leia também
- Padre Beto fala em religião 'de dentro para fora' durante missa
A Missa de Despedida da Igreja de
Santo Antônio. Momentos de muita emoção e tristeza. Um encontro que
levou pessoas de diferentes credos. Uma multidão de admiradores de Padre
Beto, que por 14 anos, dedicou sua vida à Igreja Católica, e que
escolheu deixá-la, por achar que deveria ter o direito de refletir sobre
assuntos morais, e sim, discordar de posturas oficiais do Vaticano.
Contudo, depois das imposições do Bispo, preferiu sair de cabeça
erguida, pela porta da frente da Igreja. Optou por deixá-la, ao invés de
dizer-se arrependido na frente de câmeras de TV, por ter dito coisas
que acha serem verdadeiras.
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Fonte: Folha de São Paulo
CRISTINA CAMARGO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BAURU
Centenas de fiéis de Bauru (SP) lotaram a igreja na manhã deste domingo
(28) para assistir à missa de despedida do padre que se afastou de suas
funções após declarações de apoio aos homossexuais.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BAURU
Padre que defende homossexualidade pede afastamento da Igreja
Conhecido por contestar os princípios morais conservadores da Igreja
Católica, Roberto Francisco Daniel, 48, conhecido como padre Beto, havia
recebido um prazo do bispo diocesano, Dom Caetano Ferrari, 70, para se
retratar e "confessar o erro" cometido em declarações divulgadas na
internet.
Em um vídeo publicado no site Youtube, o padre admitiu a possibilidade
de existir amor entre pessoas do mesmo sexo, inclusive por parte de
bissexuais que mantêm casamentos heterossexuais. Ele também questionou
dogmas da Igreja.
Ontem, dois dias antes do prazo estabelecido pelo bispo para a
retratação, padre Beto anunciou que iria se afastar de suas funções
religiosas e convocou a missa de despedida para hoje.
Na missa, o padre falou sobre amor e coerência e afirmou que para "Jesus Cristo não existia preconceito".
"Jesus amava os seres humanos independentemente da condição social, da raça e da sexualidade", disse o religioso.
A missa de despedida lotou a Igreja Santo Antônio, no Jardim Bela Vista, bairro tradicional de Bauru.
Em torno de mil pessoas ocuparam os bancos e ficaram em pé nas laterais.
O padre foi aplaudido de pé no final da missa e aclamado quando
percorreu o corredor de saída da igreja pela última vez. Muitos fiéis
choraram e, em seguida, formaram fila para cumprimentá-lo na porta.
Um dos mais emocionados era o pai de santo umbandista Ricardo Barreira,
que assistiu à celebração vestido de branco e chorou muito.
"Não sou católico, mas o padre Beto sempre me representou. Agora mais
ainda", disse. O umbandista recebeu o apoio do padre quando disputou a
eleição para vereador.
Beto vai entregar seu pedido de "desligamento do exercício dos
ministérios sacerdotais" nesta segunda-feira para o bispo. Ele garantiu
não ter planos para o futuro, mas disse que poderá se reunir com seus
seguidores para sessões de orações.
Procurado pela reportagem, o bispo preferiu esperar o recebimento do pedido para comentar a decisão.
Luly Zonta/Agência Bom Dia | ||
Mais de mil pessoas lotaram igreja em Bauru no domingo de manhã para de despedir das missas celebradas pelo Padre Beto |
ESTILO
Padre Beto sempre chamou a atenção dos católicos da cidade pelo estilo diferente dos religiosos tradicionais.
Usa roupas com estampas "roqueiras" e com a imagem do guerrilheiro
comunista Che Guevara. Usa piercing, anéis e frequenta choperias. Nas
missas, no entanto, usava as vestimentas tradicionais e seguiu todos os
rituais católicos.
Seus sermões atraiam os fiéis em razão dos questionamentos sociais, políticos e morais.
As últimas declarações polêmicas do padre provocaram protestos de católicos tradicionais da comunidade de Bauru.
Por outro lado, a reprimenda do bispo, que considerava padre Beto um
"filho amado, mas rebelde" gerou manifestações de apoio e provocou
comoção entre os admiradores.
Ao explicar sua decisão de se afastar da igreja, disse que se trata de "um momento que faz parte de sua caminhada".
"Pensei em pedir perdão. Mas tudo que falei é bem pensado. Posso estar
errado, mas o dia em que admitir será porque conclui isso mesmo. Senão
seria hipocrisia", afirmou.
Disse ainda que é importante "dormir bem porque foi coerente" e que assim as pessoas vão percebê-lo "como homem de Deus".
Integrante do grupo de liturgia da Igreja Santo Antônio, Michele Dias fez uma homenagem na despedida.
Disse que se "curou" de uma síndrome do pânico após palestra em que Beto falou sobre a importância de enfrentar os medos.
A missa reuniu católicos de todas as gerações. O casal formado por
Giovani e Luzia Dermengi, de 77 e 70 anos, respectivamente, mora em
outra região da cidade, mas tinha o hábito de frequentar as missas do
padre Beto.
"Ele foi um renovador e a igreja precisa disso", afirmou Luzia.
O arquiteto Fábio Said, 30, virou amigo do religioso e diz que ele levou
muitos jovens para a igreja, por falar diretamente com seus fiéis e dar
conselhos que às vezes até irritavam, mas depois eram compreendidos.
"E agora? A fé continua, mas é difícil", disse sobre a despedida.
Aos 6 anos, Pedro Motta Popoff não frequenta a missa todos os finais de
semana. Neste domingo foi acompanhar a mãe, Carla Motta, que declarou
estar na igreja por um ato de cidadania e apoio ao padre.
Pedro ficou na fila da despedida e deu de presente a Beto um churro
comprado na porta da igreja. Depois disso, Beto cumprimentou os demais
fiéis com o presente do menino nas mãos.
A Igreja Católica e Sua Realidade - Parte II- clique aqui
A Igreja Católica e Sua Realidade - Parte II- clique aqui
Publicado em 14/04/2013
Neste segundo vídeo da série, Pe.
Beto nos leva à uma reflexão da igreja, de seus fieis e membros em
relação aos acontecimentos e atitutes sociais e políticas.
28/04/13 02:15 - Geral | |||||
Padre Beto fala em religião "de dentro para fora" em penúltima missa e cita afastamento |
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Fonte: JCNET aqui
Em sua penúltima missa na manhã deste domingo, na Paróquia de Santo Antônio lotada, padre Beto, 48 anos, defendeu a religião como algo "que se faz de dentro para fora". "É a vontade de se unir a Deus conforme lembrou Cristo em sua última ceia". Ele afirmou, ainda, que "viver a religião é algo muito prático" porque "o que conta são os atos, não as palavras". Beto anunciou neste sábado, pela imprensa, que formalizará amanhã seu pedido de afastamento da igreja após receber do bispo de Bauru, dom Caetano Ferrari, a ordem para que se retratasse de recentes declarações que, no entendimento da diocese, chocam-se com dogmas da instituição - como reconhecimento da possibilidade de amor verdadeiro entre pessoas do mesmo sexo. Beto, que foi aplaudido durante a celebração, também deveria retirar seus conteúdos de mídias sociais, o que não aceita. Na prática, padre Beto deixa seus ministérios sacerdotais e, em alusão às suas próprias posições, insistiu: "Quem ama, não deve satisfações a ninguém." Ele, que afirma continuar padre ("sempre padre"), ainda tem missa marcada para este domingo, às 19h, na Paróquia de São Benedito. Casamentos agendados com o sacerdote serão remanejados para outros padres. "Decidi sair para manter a cabeça erguida e dormir em paz". Posição da Diocese Extraoficialmente, segundo o JC apurou, o bispo dom Caetano foi pego de surpresa com a decisão de afastamento do padre Beto - que classifica de "filho rebelde". O bispo soube de sua decisão por meio da imprensa - e deve se pronunciar oficialmente nesta segunda-feira. A palavra do Pe. Beto. fonte: facebook aqui
A
partir do momento em que a Diocese de Bauru tornou pública a
determinação de me retratar, declaro a todos através desta mensagem a
minha decisão:
Não irei retirar nenhum material postado por minha autoria nas redes sociais, no meu site ou em qualquer espaço da internet. Tudo que procuro realizar e todas as minhas declarações são bem refletidas e possuem simplesmente a intenção de evangelizar e fazer com que as pessoas se aproximem mais da vivência do AMOR pregado pelo Cristo nos Evangelhos. A Igreja precisa ser um espaço dialogal para que as pessoas possam transcender de fato e se tornarem verdadeiros filhos de Deus em nosso universo contemporâneo. Se refletir e’ um pecado, eu sempre fui e sempre serei um Pecador! Diante da determinação feita por vossa Excelência Reverendíssima Dom Caetano Ferrari de me retratar confessando humildemente que errei, pensei muito bem, refleti sobre minha existência, sobre o significado de ser um sacerdote no mundo atual e cheguei à seguinte atitude: A partir da data de 29 de abril de 2013 me desligo do exercício dos ministérios sacerdotais na Igreja Católica Apostólica Romana e portanto na Diocese de Bauru. Para minha pessoa se torna impossível viver o Evangelho em uma Instituição, na qual, no momento, a liberdade de reflexão e liberdade de expressão não são respeitas. Mesmo com esta minha decisão, não deixo de ser padre (já que uma vez sacerdote sempre serei sacerdote). Vou continuar minha vida procurando através de minhas reflexões contribuir para a construção de uma sociedade mais humana e dialogal. Espero de coração sincero que a Igreja volte a ser, como foi nas décadas de 60 à 80, uma Igreja, na qual todos os seus membros tenham o direito de se expressar e refletir livremente criando verdadeira comunhão na fé em Cristo. Espero também que a Igreja se abra ao desenvolvimento da ciência e às novas realidades que vivemos em nossa sociedade contemporânea para que ela (a Igreja) não cometa injustiças e não seja um obstáculo para a felicidade do ser humano. Quero agradecer a todos os amigos e amigas que rezaram por mim, por todos que demonstraram sua solidariedade, enfim, todos que acompanharam os meus passos até agora. Desejo também dizer que continuaremos juntos na amizade e na vontade de transformação. Um grande abraço a todos e que Deus os abençoe, Padre Beto
Publicado em 25/04/2013
Entrevista com Dom Caetano Ferrari a
Nilessa Tait, da TV Tem, sobre o padre Beto, concedida na Cúria
Diocesana no dia 25 de abril de 2013. Filmado pela Assessoria de
Imprensa da Diocese de Bauru.
AQUI
Leia também: segunda-feira, 7 de maio de 2012Como prosseguir o cristianismo libertador no século XXI?
Não
é fácil uma pessoa criativa, inquieta e sedenta de justiça viver em
comunidade ou participar de coletivos. Quando me refiro a comunidade,
tenho em mente desde a mais primária, a família, até aquelas ou aqueles
coletivos dos quais participamos por nossa livre escolha.
O
desafio para este tipo de pessoa é desenvolver, de forma individual, as
potencialidades de um modo de pensar e viver de forma inquieta,
criativa e indignada, sem se isolar da maioria que pensa e age de outra
maneira.
De
um ponto de vista mais amplo, há um outro desafio para grupos e
instituições que têm por objetivo a construção de uma sociedade
fundamentada nos ideais e práticas cristãs: Como conciliar a necessidade
de uma ação coletiva e, ao mesmo tempo, resguardar o direito do
indivíduo pensar e viver diferentemente?
Mas,
qual a razão desta pergunta? Porque mesmo com tensões, e até
desconfortos, um grupo coletivo ou instituição, caso saiba lidar com a
“diferença”, cresce e se fortalece. Ao contrário, quando busca tolher ou
até perseguir aqueles que pensam e agem “contra a corrente”, estes
grupos ou instituições diminuem ou se enfraquecem.
Quando
me refiro à diminuição ou enfraquecimento não penso em quantidade, mas
nos aspectos qualitativos, ou seja, a criatividade, o respeito ao
diferente, a inteligência critica, a solidariedade desinteressada, as
relações sinceras e etc..
Em
outras palavras, quando o indivíduo ou o grupo se fecha para a
convivência com pessoas inquietas, criativas e indignadas se distancia
da humanização que, mesmo parecendo um paradoxo, nos aproxima da
divindade ou da vida em plenitude, como disse e quer Jesus Cristo, nosso
irmão maior.
Faço
esta reflexão por perceber um declínio do extraordinário crescimento
humano e espiritual que muitos cristãos experimentaram durante a segunda
metade do século XX, em que pese o grande número de fiéis que
frequentam igrejas atualmente.
Já
agora, no limiar do século XXI, entristece-me o fato de que cristãos
tão pouco inquietos, criativo e indignados, ou “pobres de espírito”,
tenham preconceito e persigam velada, ou diretamente, muitos cristãos
inquietos, criativos e indignados .
Isto
trará consequências funestas e lamentáveis a médio e longo prazo,
repetindo um fenômeno característico do período pós revolução francesa
durante o qual ser cristão, salvo honrosas exceções, era sinônimo de
pessoa ou grupo ignorante, intolerante , incoerente, insensato, mórbido,
pouco inteligente e criativo .
P.S.:
1
- O paradoxo maior é perceber nos evangelhos, após uma leitura mais
atenta e contextualizada, que Jesus Cristo foi uma pessoa inquieta,
criativa e sedenta de justiça e que a sua perseguição e morte deu-se
exatamente por este motivo. Claro que esta opinião tem como base uma
leitura mais atenta e contextualizada dos evangelhos. Quem fizer a
leitura com menos atenção ao contexto cultural, social e político da
época haverá de discordar.
2 - Quem quiser aprofundar os argumentos apresentados acima, sugiro a leitura dos livros do padre, teólogo e educador José Coblin e os de autoria de Marcelo Barros, monge, biblista, teólogo, ensaista, romancista, escritor e educador popular, como também os livros de Leonardo Boff e Frei Betto. Lamentavelmente Pe. Coblin faleceu em 2011.
3
- Pessoas inquietas, criativas e indignadas necessariamente não
significa serem mal resolvidas, secas ou ásperas, chatas, impertinentes e
etc.. Podem e devem ser inquietas, criativas e indignadas, mas, sem
perder a ternura.
4 - As pessoas inquietas, criativas e indignadas em geral são visionárias e sofrem bastante, sendo perseguidas, violentadas e pagam muitas vezes com a própria vida por causa disso. Muito tempo depois, são transformadas em muitos casos, em santos e/ou heróis e absorvidas muitas vezes pelos próprios sistemas responsáveis pela violência e morte perpetradas contra elas. Zezito de Oliveira - Educador e Produtor Cultural Leia também: O que Martini queria dizer ao Papa. AQUI Acrescentado em 29/04/2013Libert-ação: ação que liberta a liberdade cativa
29/04/2013
Leonardo Boff
Entre muitas definições, penso que esta é, para mim, a mais correta: liberdade é capacidade de auto-determinação. Todos nascem dentro de um conjunto de determinações: de etnia, de classe social, num mundo já construído e sempre por construir. É a nossa determinação. Ninguém é livre de alguma dependência. Ela pode ser uma opressão como o trabalho escravo ou o baixo salário. Ao lutar contra, exerce um tipo de liberdade: liberdade de, desta situação. É a luta por sua in-dependência e autonomia. Ele se auto-determina: assume a determinação mas para superá-la e ser livre de, livre dela. Mas existe ainda um outro sentido de liberdade como auto-determinação: é aquela força interior e própria (auto) que lhe permite ser livre para, para construir sua própria vida, para ajudar a transformar as condições de trabalho e para criar outro tipo de sociedade onde seja menos difícil ser livre de e para. Aqui se mostra a singularidade do ser humano, construtor de si mesmo, para além das determinações que o cercam. A liberdade é uma libert-ação, vale dizer, uma ação autônoma que cria a liberdade que estava cativa ou ausente. Estes dois tipos de liberdade ganham uma expressão pessoal, social e global. Em nível pessoal a liberdade é o dom mais precioso que temos depois da vida: poder se expressar, ir e vir, construir sua visão das coisas, organizar a vida como gosta, o trabalho e a família e eleger seus representantes políticos. A opressão maior é ser privado desta liberdade. Em nível social ela mostra bem as duas faces: liberdade como independência e como autonomia. Os países da América Latina e do Caribe ficaram independentes dos colonizadores. Mas isso não significou ainda autonomia e libertação. Ficaram dependentes das elites nacionais que mantiveram as relações de dominação. Com a resistência, protestação e organização dos oprimidos, gestou-se um processo de libertação que, vitorioso, deu autonomia às classes populares, uma liberdade para organizarem outro tipo de política que beneficiasse os que sempre foram excluídos. Isso ocorreu na América Latina a partir do fim das ditaduras militares que representavam os interesses das elites nacionais articuladas com as internacionais. Está em curso um processo de libert-ação para, que não se concluiu ainda mas que fez avançar a democracia nascida de baixo, republicana e de cunho popular. Hoje precisamos também de uma dupla libertação: da globalização econômico-financeira que explora mundialmente a natureza e os países periféricos, dominada por um grupo de grandes corporações, mais fortes que a maioria dos Estados. E uma libertação para uma governança global desta globalização que enfrente os problemas globais como o aquecimento, a escassez de água e a fome de milhões e milhões. Ou haverá uma governança colegiada global ou há o risco de uma bifurcação na humanidade, entre os que comem e os que não comem ou padecem grandes necessidades. Por fim, hoje se impõe urgentemente um tipo especial de liberadade de e de liberdade para. Vivemos a era geológica do antropoceno. Isto significa: o grande risco para todos não é um meteoro rasante, mas a atividade irresponsável e ecoassassina por parte dos seres humanos (ántropos). O sistema de produção imperante capitalista, está devastando a Terra e criou as condições de destruir toda a nossa civilização. Ou mudamos ou vamos ao encontro de um abismo. Precisamos de uma liberdade deste sistema ecocida e biocida que tudo põe em risco para acumular e consumir mais e mais. Precisamos também de uma liberdade para: para ensairmos alternativas que garantam a produção do necessário e do decente pra nós e para toda a comunidade de vida. Isso está sendo buscado e ensaiado pelo bien vivir das culturas andinas, pela ecoagricultura, pela agricultura familiar orgânica, pelo índice de felicidade da sociedade e outras formas que respeitam os ciclos da vida. Queremos uma biocivilização. Como cristãos precisamos também libertar a fé cristã de visões fundamentalistas, de estruturas eclesiásticas autoritárias e machistas para chegarmos a uma liberdade para as mulheres serem sacerdotes, para os leigos poderem decidir junto com o clero os destinos de sua comunidade, para os que tem outra opção sexual. Precisamos de uma Igreja que, junto com outros caminhos espirituais, ajude a educar a humanidade para o respeito dos limites da Terra e para a veneração da Mãe Terra que tudo nos dá. Esperamos que o Papa Francisco honre a herança de São Francisco de Asssis que viveu uma grande liberdade das tradições e para novas formas de relação para com a natureza e com os pobres. A luta pela liberdade nunca termina, porque ela nunca é dada mas conquistada por um processo de libert-ação sem fim. |
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