Conflito na Praça Roosevelt, em janeiro, motivou diálogo com
a administração. Conversas já mapearam três áreas na região da Sé que
devem ser adaptadas à prática do skate ainda em 2013. Gestão Haddad
promete ainda complexo de esportes radicais no Parque Dom Pedro II
Publicado em 03/04/2013, 16:51
Última atualização às 17:37
Prefeitura e skatistas reconhecem que conflitos continuarão
enquanto não houver lugares propícios para o esporte (Foto: Luiz
Yassuda/Flickr)
São Paulo – A prefeitura de São Paulo quer aproveitar o "ímpeto e o
destemor" dos skatistas paulistanos para recuperar áreas degradas no
centro da cidade. A proposta é simples: identificar locais abandonados
na região e adaptá-los à prática do skate, instalando pistas e
obstáculos que atraiam jovens dispostos a fazer manobras e se divertir
em espaços públicos.
"Pensamos no skate como elemento de reabilitação de praças e lugares
de uso comum", revela o subprefeito da Sé, Marcos Barreto. "Os skatistas
ganham espaços propícios à prática do esporte e nos ajudam a reabilitar
áreas que hoje viraram depósito de entulho. Todos saem ganhando,
inclusive os demais moradores da capital: com novos espaços, os jovens
deixarão de utilizar áreas inapropriadas para o skate, como a Avenida
Paulista."
Barreto confessa que nunca teve "competência" para deslizar sobre uma
tábua com rodinhas. Porém, afirma reconhecer a importância do skate
como instrumento de coesão social de uma ampla parcela da juventude
paulistana. "Cerca de 500 mil pessoas praticam esse esporte na cidade",
anota. "Na grande maioria das vezes, andam em grupos: se reúnem para
fazer manobras, vencer desafios e mostrar suas habilidades uns aos
outros. Isso traz movimento às praças."
O vice-presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSk), Edson
Scander, reforça os argumentos da subprefeitura. "É uma excelente
ideia", avalia. "Os lugares que já foram adaptados para a prática de
skate, e que antes estavam abandonados, acabaram ficando cheios de vida.
E outras pessoas – não só skatistas – passaram a frequentá-los."
Quatro áreas
É essa vida que o subprefeito da Sé pretende levar a alguns espaços
públicos degradados no centro. Uma comissão formada por membros da
administração municipal e representantes da CBSk vistoriou dez áreas na
região, das quais quatro foram selecionadas – e três devem passar por
reformas até o final do ano, assegura Barreto.
A principal delas é o Parque Dom Pedro II, que a prefeitura pretende
transformar num parque para a prática não só de skate, mas também de
outros esportes radicais. Scander lembra que a modificação do espaço,
hoje ocioso, foi absorvida como proposta de governo pela campanha do
prefeito Fernando Haddad por sugestão dos skatistas.
"É uma área plana, fácil de construir, e que atualmente conta com um
padrão muito baixo de zeladoria urbana", comenta Barreto. "Você ainda
pode ter outras funções coexistindo no mesmo espaço. Queremos construir
um muro de escalada, por exemplo, além de equipamentos para os moradores
da região: um avô que deseja levar seu neto para brincar, uma pessoa
que vai passear com o cachorro, ler um livro ou fazer ginástica. O mais
importante é permitir a diversidade de grupos e usos na praça."
A praça de esportes radicais, porém, deve demorar um pouco para sair
do papel devido à falta de verbas da Subprefeitura da Sé. "O orçamento
desse ano está bastante apertado, então não dá para garantir rapidez",
alerta Barreto. "Mas faz parte do nosso planejamento." Uma alternativa à
contenção de verbas são as parcerias com instituições públicas e
privadas – que já existem para a manutenção de áreas verdes.
Outras três áreas pré-selecionadas, porém, podem ser adaptadas à
prática do skate com maior agilidade. Estão localizadas na Baixada do
Glicério; na Praça Julio Mesquita, na esquina das avenidas São João e
Duque de Caxias; e embaixo do Viaduto do Café, na Bela Vista, onde antes
havia um ringue de boxe. "É um lugar bem interessante, porque fica
muito próximo à Praça Roosevelt", avalia Barreto, lembrando o local que
deu início ao diálogo do poder público com os skatistas.
Déficit
No dia 4 de janeiro, logo na primeira semana do novo governo, alguns
jovens que praticavam skate na recém-reformada Praça Roosevelt foram
agredidos por homens e mulheres da Guarda Civil Metropolitana (GCM)
contrários à sua permanência no local. O operativo foi registrado em vídeo
por um adolescente e rodou a internet. A prefeitura reagiu afastando os
guardas responsáveis pela pancadaria e instalou um processo de diálogo
com os usuários do lugar: skatistas, mas não só.
O subprefeito da Sé participou das conversas. Barreto vê com bons
olhos o surgimento de grupos que pregam uma ocupação cada vez maior dos
espaços públicos da cidade, seja para cultura, seja para esporte, e
acredita que o papel da administração é mediar os interesses às vezes
conflitantes que inevitavelmente surgirão quando as pessoas saem de suas
casas e resolvem usar as praças da cidade.
"Nosso grande desafio é combinar, entre todas as pessoas, uma regra
de convivência. Para isso, é preciso abrir as portas e estabelecer o
diálogo", diz. "Numa cidade como São Paulo, com muitas áreas carentes de
espaços públicos qualificados, é natural que apareçam conflitos em
relação ao uso que os cidadãos querem dar a esses lugares."
Edson Scander, da CBSk, acredita que boa parte dos conflitos
provocados pela prática do skate nas ruas e praças da cidade se deve ao
imenso déficit de equipamentos públicos propícios para o esporte em São
Paulo. Apenas na região central, diz, existem aproximadamente 20 mil
skatistas. "E só uma pista pública, muito pequena, que fica ao lado da
Câmara dos Vereadores, e que foi feita de maneira equivocada, sem
acompanhamento de especialistas", lembra. "Enquanto não houver locais
adequados pra prática de skate na região da Sé, esses conflitos não
serão resolvidos."
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