domingo, 5 de maio de 2024

A primeira live do ciclo "Arte contra a ditadura militar e pela democracia em Sergipe" está sendo um sucesso em visualizações. A segunda será em 25 de maio, sábado, às 19horas

 


Agradecemos a Deus em primeiro lugar, ao aceite do convite por parte de Luiz Eduardo Oliva, a equipe técnica, Raoni Smith e Maxivel Ferreira, assim como o engajamento de dezenas de pessoas que compartilharam e/ou assistiram ao vivo e depois..

A próxima será com o ator e técnico/gestor cultural, Isaac Eneas Galvão, com a temática "teatro sergipano nos tempos da  redemocratização, anos finais da década de 1970 e década de 1980".

Nessa segunda edição contamos com a mesma energia positiva e o engajamento de quem se identifica com a temática. Como sugestão,  deixamos o convite para que a próxima live seja assistida em clima de mesa de bar ou conversa na varanda, mesmo que não estejamos fisicamente próximos,   para isso preparemos em nossas casas -  cerveja gelada, vinho, sucos e outros tipos de bebidas, ao gosto de cada um,  além de petiscos.

Também estamos a disposição para quem quiser e puder continuar a conversa acerca da live presencialmente,  o que pode ser em nossa casa ou em outro local, neste caso é só entrar em contato pelo whatasap para podermos combinar. 

Isaac Galvão sobre o Festival de Artes de São Cristóvão



DÉCADAS DOURADAS DAS ARTES E DA CULTURA SERGIPANA

13/09/2023 /  Por Eugênio Nascimento

ELITO VASCONCELOS – Jornalista, advogado e fazedor de poesia.

A década dos anos 80 até meados dos anos 90, o movimento artístico e cultural em Sergipe, nas suas mais variadas formas de expressão (teatro, cinema, dança, artes plásticas, coros, poesia, etc.) foi, sem dúvidas, efervescente. 

A Universidade Federal de Sergipe (UFS) teve uma grande participação nessa efervescência cultural, com ações impulsionadoras que envolviam professores, estudantes e admiradores das artes e da cultura. Para tanto, possuía Pró-Reitoria e outros órgãos internos ligados diretamente à cultura, que proporcionavam e propagavam ações culturais.

Podemos citar o Centro de Cultura e Arte (CULTART), que atuava como uma trincheira e palco para o desenvolvimento de várias ações culturais. A sede do CULTART, localizada no prédio da antiga faculdade de Direito, na avenida Ivo do Prado, transformou-se na “casa dos artistas”. Prova disso é que os porões do prédio histórico foram destinados para abrigar os grupos teatrais, de dança e folclóricos, onde eram guardados seus adereços e materiais, além, é claro, de servir como local de ensaios.

Vale ressaltar que, à época, a grande maioria daqueles que se envolviam nos movimentos culturais, especialmente, no teatro, dança, poesia, etc. e tal, era a estudantada da UFS, principalmente dos cursos da área de ciências humanas (licenciamento em letras, história, geografia; pedagogia, etc.).

Dos grupos de teatro amador existentes e deveras atuantes à época, destacavam-se o grupo “Opinião”, “Imbuaça” (teatro de rua), “Mamulengo do Cheiroso” (teatro de bonecos), “Raízes” e “Experimental da UFS”; tendo como personagens centrais ou que lideravam, “as irmãs Sandes”  (Walmir e Walkyria Sandes); Lindolfo Amaral, Mariano (in memorian), Pierri, Valdice Teles( in memorian), Isabel Santos: Augusto Barreto, Aglaé D’Avila Fones de Alencar; Jorge Lins; Tadeu Machado, Lânia Conde Duarte, Amilton Andrade, Benedito Letrado, Isaac Galvão; professor, ator e diretor João Costa (in memorian) , jornalista, autor, escritor, diretor e ator Vieira Neto,  e tantos outros não tão menos importantes.  

A área do teatro estava tão organizada que até mesmo uma entidade representativa atuava intensamente. Trata-se da Federação de Teatro Amador do Estado de Sergipe. Por lá passaram como Presidentes, os atores Lindolfo Amaral, Isaac Enéas Galvão, Luiz Carlos Dussantus e Virgínia Lúcia.

Além de congregar e defender os interesses dos grupos e dos artistas, a federação promovia cursos, seminários e, anualmente, os encontros regionais de teatro amador de Sergipe, em Aracaju e nos municípios sergipanos. Lembro-me que participei de alguns desses encontros, realizados em Aracaju e no município de Santo Amaro das Brotas.

Após longos e intensos ensaios, os grupos de teatro produziam belas peças teatrais, que ao longo do ano eram encenadas em Aracaju, no interior e em outros Estados da federação, inclusive, participando de festivais regionais e nacionais.

Algumas peças teatrais que chamaram a atenção do público à época – “Brefaias”, “A Cara do Povo Como ela é”, “Transe”, “O Macaco e a Velha”, “Voomitos Coloridos e tantas outras. Mesmo com poucos espaços culturais para apresentação, isso não impedia que o movimento cultural efervescente dos anos 80 e 90 em Sergipe mostrasse a sua cara. Tínhamos apenas em funcionamento o Auditório/teatro “Lourival Baptista”, no bairro Siqueira Campos e o “Atheneu”, no bairro São José, além do auditório/teatro no CULTART, no prédio da antiga faculdade de Direito, na avenida Ivo do Prado.

Mesmo com toda essa precariedade de espaços culturais, quase que mensalmente tínhamos apresentações de produções teatrais locais.

Na música vivemos e apreciamos bons momentos, com a explosão da música essencialmente sergipana, realização de festivais e apresentações nos poucos espaços culturais que tínhamos à época, superados pelos bares e restaurantes bem freqüentados pelos estudantes, artistas, intelectuais, jornalistas, ativistas políticos e culturais e outros bichos mais, a exemplo do bar “Gosto Gostoso”, no bairro Grageru. O fuzuê mesmo era às quartas-feiras, quando o bar se estendia até a rua, com mesinhas espalhadas e interrompendo o trânsito. Não dava para quem queria.

Por lá, tive a oportunidade de presenciar, além de figuras tresloucadas, debochadas, revolucionários, falsos burgueses, até o ex-vice-Reitor da UFS, professor José Paulino, Renato Brandão- ex-deputado estadual e ex-prefeito de Propriá, Marcelo Déda – ex-governador ( freqüentadores assíduos),   o ex-deputado federal José Dirceu e o atual Presidente Lula.

O Gosto Gostoso “era o bar da guerrilha citadina nos anos 80”, como dizia o jornalista e poeta Amaral Cavalcante.

O “Lavocar” era outro bar dos encontros e desencontros, localizado na avenida Hermes Fontes com a  av. Nova Saneamento. Este, na verdade era um posto de lavagem de veículos. Durante o dia funcionava como posto de lavagem; e a partir dos finais de tarde um movimentado bar, com música ao vivo.

Nesses dois bares a música ao vivo era a tônica. Por lá encontrávamos com Chico Queiroga, Cataluzes, Ismar Barreto (in memorian), Cláudio Miguel, Joseane de Josa, Sena & Sergival, Tonho Baixinho ou Tom Robson, como queira chamá-lo; forrozeiros, declamadores de poesia.

Não podemos esquecer de outro espaço cultural surgido naquelas décadas áureas. O “Circo Amora & Amores” idealizado e posto em funcionamento pelo jornalista, ator, produtor, diretor e ativista cultural Jorge Lins, tinha como local a brisa mar das areias da praia da Coroa do Meio.

O circo, sempre lotado, principalmente nos finais de semana,  servia como palco para apresentações artísticas ( teatro, música, saraus de poesia, dança, etc….). Por lá passaram vários artistas locais e nacionais – Chico Queiroga, Clemilda, Alceu Valença, Dominguinhos, Cataluzes e outros.

O movimento cultural vivenciado nos anos 80/90 em Aracaju, também fervilhava com as artes plásticas. A falta de espaços, tal qual sofria os grupos teatrais, não intimidava os artistas plásticos e produtores.                       À época, como até hoje, praticamente tínhamos apenas três galerias de arte: Galeria Municipal “Álvaro Santos”, localizada na praça “Olímpio Campos”; “J. Inácio” – na biblioteca pública estadual “Epifânio Dórea” e “Florival Santos” – no Centro de Cultura e Arte (CULTART), da UFS, localizada no prédio da antiga faculdade de Direito, na avenida Ivo do Prado.

Mesmo assim, mensalmente eram realizadas exposições de artes plásticos com novos e famosos artistas plásticos sergipanos, além de saraus poéticos, lançamentos literários, sempre regados a fartos coquetéis, no dia da abertura.  Mesmo com a falta de recursos financeiros, os diretores das galerias, principalmente da Álvaro Santos, buscavam apoios culturais, junto aos empresários locais, que patrocinavam os fartos coquetéis.

Vale ressaltar as exposições coletivas de artes plásticas realizadas sempre nos finais de ano, que reuniam obras de artistas plásticos sergipanos vivos e já falecidos. Hoje deparamo-nos com espaços vazios, mórbidos e sem criatividade.

 Mas, não pára por aí. As artes literárias também eram intensamente movimentadas. Na efervescência da cultura, os autores sergipanos produziam e lançavam livros de poesias e poemas, contos,  etc.

E foi justamente na década dos anos 80 que surgiu a COOPOESIA. Idealizada pelo poeta potiguar, à época residente em Aracaju, Jaécio de Oliveira Carlos. A COOPOESIA  reunia poetas famosos e iniciantes, a exemplo de Carlos Ayres de Britto, Jeová Santana, Iara Vieira, Maruze Reis, Ancelmo Oliveira, Vera Vilar, Antônio Santos Souza Neto, Lizaldo Vieira, Joval Santos, Carlos Magno, este escriba e tantos outros.

Os integrantes da COOPOESIA reuniam-se informalmente aos sábados em locais variados, geralmente bares e restaurantes e, entre uns goles e outros de cervejas, debates sobre poesias e poetas, além, é claro, de produção literária ao punho em guardanapos.

A COOPOESIA chegou a produzir e lançar duas ou três edições do APERITIVO POÉTICO. Coletânea de poemas e poesias dos seus integrantes, colaboradores e convidados.

Na dança, anualmente, sempre no mês de dezembro, a estonteante professora e bailarina Lú Spinelli (Studium Danças) produzia um grande espetáculo, com a apresentação no teatro Atheneu, de um resumo de suas aulas e peças realizadas durante o ano, com a participação de seus alunos e alunas e bailarinos profissionais.

A tradicional música de coros também era uma tônica nas décadas dos anos 80 e 90. Anualmente a Universidade Federal de Sergipe realizava o Festival de Coros, com a participação de corais de Sergipe e de vários Estados brasileiros. De Sergipe, destacavam-se os corais da UFS, UNIT, do Tribunal de Justiça do Estado de Sergipe, dentre outros.

Pois bem! Com todas as dificuldades da época, falta de espaços e recursos financeiros, os anos dourados das décadas 80 e 90 em Sergipe permitia-se afirmar, como dizia o saudoso jornalista e colunista social João de Barros, que, “Brilhar era o axial”.

Fonte: Blog Primeira Mão de Eugênio Nascimento

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