terça-feira, 21 de maio de 2024

Macabéia do livro e do filme "A Hora da Estrela", sucesso de crítica e de público, continua em cartaz no Cine Vitória (Aracaju). Quem vai perder?


 A Hora da Estrela. Dir. Suzana Amaral. Drama/Comédia. BR. 1985 . 96 min. 12 anos Macabéa é uma mulher nordestina que mal tem consciência de existir. Depois de perder uma velha tia, seu único elo com o mundo, ela viaja para o Rio de Janeiro, onde aluga um quarto, se emprega como datilógrafa e gasta suas horas ouvindo a Rádio Relógio. Apaixona-se, então, por Olímpico de Jesus, um metalúrgico nordestino, que logo a trai com uma colega de trabalho. Desesperada, Macabéa consulta uma cartomante que lhe prevê um futuro luminoso, diferente do que a espera.

A entrada custa R$10.00 e os horários podem ser conferidos no vídeo com o trailler, abaixo.
O Cine Vitória está localizado na Rua do Turista, centro.


De volta aos cinemas, A Hora da Estrela ainda é uma revelação de teatralidade
Suzana Amaral traduziu o grotesco e o granulado de Clarice neste clássico do cinema brasileiro
Omelete

CAIO COLETTI
16.05.2024, ÀS 06H00.

No mês passado, A Paixão Segundo G.H. chegou aos cinemas transformando o fluxo de consciência da obra de Clarice Lispector em uma espécie de álbum audiovisual em que Maria Fernanda Cândido encarnava uma feminilidade específica que passeava por várias “feminilidades” cinematográficas. A abordagem ousada do diretor Luiz Fernando Carvalho para “adaptar o inadaptável” foi o foco de muito do discurso em torno do longa, e a obra que ele e seus parceiros criativos construíram é certamente admirável - mas, ao rever A Hora da Estrela (1985), que retorna hoje (16) aos cinemas em restauração digitalizada pelas mãos da Sessão Vitrine Petrobras, é flagrante como Suzana Amaral chegou lá de forma muito mais orgânica e (de certa forma) corajosa… quase 40 anos antes.

Saiba mais sobre o relançamento de A Hora da Estrela nos cinemas
Verdade que A Hora da Estrela é uma obra um tanto mais acessível que G.H., apoiada em um estilo menos descritivo, uma terceira pessoa que - apesar de frequentemente melodramática - não mergulha tão fundo nos redemoinhos e tangentes reflexivos do outro livro. Não à toa, se tornou a história mais emblemática de Lispector, e o primeiro contato de muitos jovens com a autora. Mas ainda é um livro difícil, e Amaral (com seu corroteirista Alfredo Oroz) toma algumas decisões logo de cara que mostram a audácia de sua abordagem. Primeiro, ela se livra do narrador masculino, que Lispector coloriu de desdém justamente porque buscava marcar a alterização forçada do feminino.

De certa maneira, é a própria câmera de Amaral quem assume o papel do narrador nesta versão cinematográfica da história. Quando abre o filme no plano de um gato miando, isolado no cenário; quando filma Glória (Tamara Taxman) - a colega de trabalho desbocada da protagonista Macabéa (Marcelia Cartaxo) - de costas falando com o chefe, o decote interminável revelando o corpo anguloso; quando encena e observa o ócio organizado de Macabéa e suas três colegas de quarto em uma pensão paulistana… este é um A Hora da Estrela visto de dentro, que dispensa a marcação cruel do masculino porque entende que a fisicalidade do cinema, e especialmente do cinema de Amaral, é o bastante para observar a separação social entre os gêneros.




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