É o fim dos tempos, mesmo.
Eu vivi pra ver as maiores produtoras de Funk do Brasil, que nunca se envolveram com política, apoiando as candidaturas de Ricardo Nunes e Pablo Marçal, dois caras que representam o militarismo, o ódio das elites contra as favelas, a repressão aos bailes funk. Ambos têm policiais militares como vices nas suas chapas, sendo que um deles foi coronel da ROTA. Mas isso é bastante sintomático de várias coisas:
1. De como esses grandes empresários do funk não têm mais nenhum compromisso com a favela, só com seus lucros. Se tornaram burgueses, e quando apoiam candidatos da extrema-direita estão apenas defendendo seus interesses de classe. Besta é o pobre que acha que multimilionários que representam outros multimilionários vão representar eles, também;
2. De como a esquerda institucional não aprendeu nada com o discurso de Brown em 2018 e não voltou pra base. Não que esses grandes empresários do funk sejam a base; não são mais. Mas ainda têm grande conexão com ela, entendem ela, influenciam ela, e sem dúvidas vão puxar milhares ou até milhões de votos pra esses dois candidatos (e tem gente dizendo que sou eu que to ‘dando palco’ pra eles com minhas críticas nesse pequeno perfil);
3. De como a falta de visibilidade a alternativas revolucionárias e realmente antissistêmicas induz a população descrente e revoltada com a política tradicional a apoiar candidatos extremistas de direita que fingem ser “contra a o sistema”.
Independente do resultado da eleição, o estrago ideológico que está sendo feito já é gigante. Caminhamos cada vez mais rumo a um abismo, e se as esquerdas não se conectarem de verdade com as bases, não fizerem forte disputa ideológica e politização, não abandonarem os discursos democratas bunda-moles que só agradam à classe média e adotarem posturas mais radicais, confrontando diretamente seus adversários, o sistema, e apresentando propostas de grande transformação social pr’além de meras políticas públicas que remendem esse sistema falido, vamos afundar de vez nesse buraco de reacionarismo, militarismo, negacionismo, fundamentalismo, ultraliberalismo e tudo de ruim que esses políticos de direita representam.
Thiago Torres (Chavoso da USP) no Instagram
Youtuber, palestrante, professor e sociólogo
formado pela USP. Filho de nordestinos sobrevivendo na Zona Norte de São Paulo há 24 anos.
Em 2022 foi assim:
Por que o funk paulista deu apoio inédito ao PT e como o estilo pode se aliar a políticas culturais
Os maiores empresários e MCs famosos de SP se posicionaram pela 1ª vez em 2022. Estilo que cresceu à margem do poder público pode se integrar a políticas para o país, dizem especialistas.
O que aconteceu de lá para cá?
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