domingo, 18 de agosto de 2024

MARIA, MARIAS! Por Dep. Fed. Chico Alencar, Irmão Marcelo Barros, Pe. Júlio Lancellott e Pe. José Soares. Com participação artistica do bispo poeta-profeta Dom Pedro Casaldáliga/Pe.Cirineu Kuhn, Milton Nascimento/Fernando Brant e Zé Vicente.

 Chico Alencar 

  · (breve reflexão para cristãos ou não)

Nesse domingo celebra-se a "Assunção de Nossa Senhora", sua subida ao céu. Em alguns lugares, é a festa de Nossa Senhora da Glória.

Não há relato desse fato extraordinário nos evangelhos. A leitura é de Lucas, 1, 39-56, terna e "terreníssima".

Veja que beleza: uma jovem mulher, Maria, "parte, às pressas, para uma região montanhosa", a fim de encontrar sua prima, Isabel. Caminhar, subir é preciso!

Ambas estão grávidas. Isabel, em idade improvável, carrega João Batista em seu ventre ("para Deus, nada é impossível"). Vibra de alegria ao receber Maria, que prepara Jesus. 

Benditos frutos! Bem aventuradas as mulheres geradoras, não apenas de descendência, mas também de amor ao próximo, de cuidado com a Casa Comum, de jardins no deserto!

Dá-se então a prece magnífica, arrebatada e revolucionária de Maria, um cântico de louvor a Deus e sua justiça!

A moça de Nazaré, tomada pelo Espírito Santo como Isabel , proclama que sua alma reconhece a grandeza de Deus, que em nós faz maravilhas.

Um Deus libertador, que "olha a humildade de sua serva e realiza proezas:/ dispersa os soberbos de coração,/ derruba os poderosos de seus tronos/ e eleva os humildes./ Sacia a fome dos famintos/ e despede os ricos de mãos vazias".

Essa "salvação" não é para depois. Isabel e Maria sabem que a graça, a benção e o amparo divino são aqui e agora. 

Esse louvor, essa alegria já são fragmentos da eternidade no tempo, Assunção e Glória de Maria no dia a dia.

Essa "ascensão" nos é possibilitada. Afinal, como também cantaram o saudoso Fernando Brant e Milton Nascimento (música eleva!), "é preciso ter força, raça, gana, manha, graça, sonho SEMPRE!".

Inspirados em Isabel e Maria, essas mulheres fortes - e outras como elas, que conhecemos pessoalmente - BUSQUEMOS!

P.S.: Cristianismo não combina com machismo nem com patriarcalismo. "Assunção de Nossa Senhora" é o contraponto disso. Compartilhe essa reflexão com cristãos que ainda não perceberam isso...

Pinturas de Slimam Mansour e Malak Mattar - palestin@s

(C.A.)


DIZER TEU NOME, MARIA (D. Pedro Casaldáliga / Cirineu Kuhn)


Maria Maria (Acústico) (Fernando Brant / Milton Nascimento)

https://www.youtube.com/watch?v=r1bBD4f3MTc

Páscoa de Maria, mãe de Jesus
Páscoa da Santa Virgem Maria: Lc 1, 39- 56. 

                                                         Em Maria, contemplamos nosso processo pascal

Marcelo Barros
Camaragibe, Pernambuco, Brazil
                        No Brasil, nesse domingo, a Igreja Católica celebra a assunção de Maria, crença que aparece nos documentos eclesiais, a partir do século VI, substituindo aquilo que os antigos chamaram de “dormição”, ou seja, a morte de Maria. Em 1950, o papa Pio XII transformou em dogma a crença de que Maria subiu ao céu com corpo e alma. Precisamos ir além da linguagem tradicional e descobrir a mensagem contida nessa celebração da páscoa de Maria, mãe de Jesus. 

Podemos compreender a linguagem da assunção como simbólica. Por trás, está a promessa bíblica da ressurreição, ou seja, da participação de Maria e de todos e todas nós na ressurreição de Jesus. A fé cristã não se interessa apenas pela alma e sim pela integridade da pessoa e da vida. Para algumas espiritualidades orientais, a alma individual mergulha na alma cósmica, como o peixe mergulha no mar. Podemos contemplar como ocorrido em Maria na sua assunção aquilo que é destino e vocação de todos/as nós. Essa participação na ressurreição de Jesus ou, como dizem os orientais, “divinização” do nosso ser não acontece apenas no momento da morte. É processo de toda a vida. Sempre que, a cada momento, vamos em direção a outra pessoa e optamos pela solidariedade amorosa, vivemos a assunção pessoal e comunitária. Na experiência que Jesus nos ensinou de inserção, é descendo ao encontro dos que estão embaixo que nos elevamos. Esse é o projeto divino que, no evangelho de hoje, Maria canta quando afirma que Deus derruba os poderosos e eleva os pequenos. 

Os evangelhos não contam nada a respeito de como Maria morreu. Baseada em contos da tradição, as Igrejas orientais celebram em agosto a “dormição” da Virgem Maria. A partir da reforma litúrgica, a Igreja ocidental proclama nessa festa  Lucas 1, 39 – 56, relato da visita de Maria a Isabel e o seu cântico. De acordo com esse relato, assim que soube pelo anjo que iria ser mãe do Messias, Maria saiu apressadamente e subiu de Nazaré na Galileia a uma aldeia na montanha da Judeia para servir a Isabel, sua prima anciã que tinha engravidado. Essa subida à montanha para servir é símbolo e amostra de que quando nos dispomos a servir, sempre nos elevamos. Sempre subimos. E isso é um processo pessoal e coletivo. 

Nos meados do século XX, Theillard de Chardin, paleontólogo e espiritual, falava em passar da biosfera para noosfera (a esfera da interiorização) e afirmava que todo o universo evolui e converge. E essa convergência é na linha da  cristificação para Deus. Como escreve Paulo aos coríntios: “até que Cristo seja tudo em todos”. 

Na carta aos romanos, Paulo escreve: “A criação inteira sofre como em dores de parto e mesmo nós que temos as primícias do Espírito gememos dentro de nós mesmos esperando a libertação do nosso corpo” (Rm 8, 22- 23). É bela essa imagem do parto da criação e parto permanente de cada um/uma de nós. Jesus também usou essa imagem, quando, na ceia, afirmou aos discípulos: “A mulher quando está para dar a luz sofre porque vê chegada a sua hora, mas na hora em que a criança nasce se alegra porque pôs no mundo uma vida nova” (Jo 16, 22). 

Vivemos continuamente esse processo de ressurreição pessoal e comunitária, coletiva e até cósmica. É disso que se trata. E esse processo de evolução ou de amadurecimento interior não é somente algo no íntimo de cada pessoa. Toma formas também no corpo e em todo o estilo de vida. Esse processo é o desafio de todos os processos revolucionários.

Quem, nos ambientes políticos, lida com ambições pessoais e rivalidades de cada dia, mesmo nos grupos nossos de caráter revolucionário, sabe que isso é um empecilho sério para qualquer caminho mais profundo de mudanças no mundo. Por isso, é tão importante aprofundar a questão de uma espiritualidade laical, humana. É fundamental que, na construção política, se garanta Ética e coerência de posturas, tanto no plano social, como no nível interior e pessoal. 
 
Nas celebrações da assunção de Maria, a primeira leitura é tirada do Apocalipse 12. Mostra no céu a figura de uma mulher grávida, com a lua debaixo dos pés e coroada com doze estrelas. O povo cristão sempre viu nessa figura simbólica a imagem da nova humanidade representada pela comunidade messiânica. Assim como essa Mulher, a humanidade está grávida do ser humano novo. E o Messias (Cristo) é imagem e modelo desse ser humano novo que emerge em cada um de nós, mas também nas estruturas desse mundo novo pelo qual lutamos. No Apocalipse, a mulher que aparece grávida no céu tem um inimigo. O dragão quer devorar a criança, assim que ela nascer. A mulher dá a luz e foge ao deserto, amparada pela Terra. 

Celebrar a vitória de Maria, mãe de Jesus é um jeito de dizer que nossa luta social, política, ecológica e espiritual começa a ser vitoriosa. Cantar hoje o cântico de Maria pode parecer utópico e irreal, mas cantamos como já estando acontecendo algo que estamos ainda preparando. No entanto, cremos e já vemos acontecendo em nós e nas nossas comunidades as sementes deste processo. Por isso, nos comprometemos e vamos ensaiando esse projeto no nosso dia a dia. 

Sou monge beneditino, chamado a trabalhar pela unidade das Igrejas e das tradições religiosas. Adoro os movimentos populares e especialmente o MST. Gosto de escrever e de me comunicar.

 Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, presidida pelo Pe. Julio Lancellotti, a partir das 10h do dia 18/08/2024. A celebração contará com a participação do cantor e compositor Zé Vicente, que na sequência fará uma apresentação com os músicos da comunidade.


ROTEIRO DOMINICAL – 20º DOMINGO DO TEMPO COMUM (ANO B – SÃO MARCOS).  
MARIA, A MULHER VESTIDA DE SOL (Ap 12,1).
O TERCEIRO domingo de agosto nos premia com a Solenidade da Assunção de Maria e a recordação das vocações consagradas e religiosas. Muitas e belas vocações como da Ir. Dorothy (in memorian), Ir, Francisca, Adriana, Luzia, Ir. Sandra, as Franciscanas do Bairro Industrial, as Terezinhas e os frades: Fr. Gilvan, OFMCap, Rutivalter e Fr. Francisco com Fr. Marconi, OFM (amigos do peito) e tantas outras vidas pelo reino. Queremos dialogar com elas e com Maria destacando dois pontos:
a) A luta no deserto. A bela descrição de S. João nos conduz ao deserto como o lugar da luta e da resistência. Israel no primeiro testamento passou pelo deserto e chegou a terra prometida, por isso, podemos enxergar Maria de modo coletivo como a mulher, o povo e a vida que supera a morte no deserto. O dragão apareceu várias vezes e foi vencido (Ap 12,3). Na nova aliança não será diferente e as lutas serão mais violentas e tudo por conta do filho que a mulher carrega no ventre – Ap 12,4-5; o filho dela é a nossa salvação contra o demônio e todos os males da terra. Está mulher extraordinária foi capaz de experimentar o deserto como lugar de amargura e dor, superação, disputa e vitória pela sua tenacidade e por ter carregado com fidelidade o projeto de Deus. Podemos chamá-la de Boa Hora, Vitória, Assunção, Gáudio, filha de Sião, Candeias ou Luz, Maria, simplesmente Maria, a mãe de Jesus.    
b) Maria, a bendita entre as mulheres. Isabel e Maria se completam em beleza e graça. A leveza de Maria entrando na casa de Zacarias é sinal de que Deus caminhava com ela (Lucas 1,40). Normalmente a nossa visão carrega de valores a figura do homem, os patriarcas da bíblia, os profetas e figuras de destaque como Samuel e Salomão. Por sua vez, Deus escolheu duas mulheres e uma delas foi chamada de bendita. Maria é mais uma bem-aventurança do segundo testamento e da pregação de Jesus, antes que Ele próprio nascesse. Duas vezes bendita (Lucas 1,42.45) és tu Maria de Deus, Maria da gente, Maria do povo simples, Maria grávida e feliz. Bendita és tu prima de Isabel que no Magnificat ensina que Deus ama os pobres e aqueles/as que nada tem. Maria, a espiritualidade do silêncio é a grande marca de tua vida na vida de quem acredita no Deus libertador.
P. José Soares de Jesus.
Vigário na S. Pedro Pescador.

 E em Aracaju neste dia de hoje,  um encontro de formação na comunidade bom pastor sobre teologia feminista.




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