O Brasil caminha para se tornar um país de população hegemonicamente evangélica, o que tem implicações diretas para além das estatísticas: tem reflexos na ética, na política, na economia e na cultura. É um desafio que se impõe para Estado, partidos políticos, movimentos populares e veículos de comunicação. A pergunta que fica é: o que podemos esperar dessa nova configuração social do país? O Brasil de Fato tem acompanhado de perto este movimento e tentado decifrar as origens e consequências dessa ascensão evangélica. Isso envolve denunciar os casos de intolerância religiosa, os ataques do fundamentalismo aos diversos segmentos da sociedade e a atuação da bancada da bíblia contra a democracia no Congresso Nacional. Mas também evidenciar iniciativas progressistas. Mostramos aqui, entre outras, a construção da Frente Evangélica pelo Estado Democrático de Direito, as evangélicas feministas contra o PL do estupro e a iniciativa do Movimento Negro Evangélico pedindo a abertura dos arquivos das igrejas históricas durante a escravidão. O exemplo mais recente desse esforço do BdF foi o lançamento do documentário Fé em Disputa, que narra a ascensão política dos evangélicos no Brasil contemporâneo e mostra os fatores espirituais e sociais que explicam essa expansão, além das estratégias usadas pelo fundamentalismo para se apropriar desse crescimento, interferindo na estrutura ideológica e política da nação. A conclusão que temos, ao exibir este material, é que a classe trabalhadora brasileira hoje é evangélica. O crescimento é real. Os cálculos mais recentes, feitos pelo pesquisador Victor Araújo, apontam que há mais de 100 mil igrejas evangélicas no Brasil, em um ritmo de, aproximadamente, 17 novas unidades por dia. A contagem havia sido feita em 2019. Em 2015, apenas quatro anos antes, esse número era de 20 mil. Essa conversão ao protestantismo encontra raízes em fenômenos estruturais da sociedade, como a acelerada urbanização do país e o aprofundamento do neoliberalismo. A desarticulação dos trabalhadores, impulsionada pelo desemprego, o alto índice de informalidade, a desidratação das leis trabalhistas, a redução do poder do Estado e a fragilidade dos sindicatos, fez com que eles procurassem refúgio nestas igrejas. “A identidade de trabalhador vai lentamente mudando para a identidade de irmãos”, resume Delana Corazza, pesquisadora do Instituto Tricontinental. Essas inúmeras igrejas, espalhadas nos recônditos mais distantes das periferias, prestam um serviço para além da prática religiosa e ocupam funções que, em tese, deveriam ser cumpridas pelo Estado. Acolhem mães com filhos no sistema penitenciário ou comunidades terapêuticas, formam novos artistas, empoderam os indivíduos com tarefas elementares nas igrejas e mobilizam correntes de solidariedade nos territórios. São um ponto de apoio. Uma referência |
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