04/07/2013 18:08 - Atualizado em 04/07/2013 18:08
Fonte: Hoje em Dia. AQUI
Flip/Divulgação
Gil em coletiva de imprensa antes da mesa
PARATY, RJ - A defesa das manifestações culturais populares
em cidades turísticas invadidas por eventos externos, como é o caso de
Paraty, foi o tema da mesa que uniu o cantor Gilberto Gil e a
historiadora Marina de Mello e Souza, na tarde de hoje, na Tenda dos
Autores da Flip.
A conversa entre os dois teve como fio condutor o conceito de "defeso
cultural", criado pelo poeta e compositor paratiense Luiz Perequê a
partir de uma definição usada na pesca --o defeso é o período em que a
pesca é proibida, para garantir a reprodução e a preservação das
espécies.
"As manifestações artísticas locais são um exercício da alma do povo do
lugar, que não pode ser misturado com entretenimento para turista",
disse Perequê em vídeo introdutório. "Todas as cidades que trabalham com
população flutuante têm de pensar
em alguma forma de defeso cultural. Para fazer o novo, a gente não
precisa esquecer o velho. Você não mata seu avô para enaltecer o neto, é
justamente o contrário."
Autora de "Paraty - A Cidade e as Festas" e frequentadora do local
desde os anos 1970, Marina disse que as celebrações populares sempre
serviram de amálgama para a comunidade. "As festas pontuavam o ciclo de
vida das pessoas, eram importantes para a construção da identidade, de
laços de solidariedade."
Gil abriu sua participação falando sobre a dificuldade de equilibrar a vida
contemporânea com as tradições comunitárias que vêm do passado.
"Paraty, como todas as cidades do seu porte e da sua origem, passou a se
defrontar com esse problema de equilibrar a tradição e o novo. A saída
do isolamento era necessária, para atender ao sonho futurista de uma
geração que nascia. Ao mesmo tempo, existe a necessidade de manter as
festas, de estar permanentemente cercado pela tradição."
Protestos
Mediado por Alexandre Pimentel, diretor da Biblioteca Parque de Manguinhos, no Rio, o encontro também abordou os recentes protestos populares no Brasil.
"Nós vivemos uma situação em que o Estado deixou de representar o
interesse social e passou a representar o interesse privado", disse Gil,
sendo aplaudido pela plateia, que não chegou a lotar a tenda (as
laterais estavam esvaziadas); parte do público ainda se retirou antes do
fim do debate, que durou quase duas horas.
O ex-ministro da Cultura voltou a comparar as passeatas atuais ao que
chama de "rave-arrastão". "É a política como entretenimento, como
diversão, vão a rua fazer política, mas a seu estilo, como uma rave.
Para outros, era um arrastão."
Disse ainda não ver sentido nas críticas aos manifestantes que usam
máscaras durante os protestos. "Quando alguns de nós, da classe média,
ficamos condenando o fato de alguns meninos estarem com os rostos
encobertos, eu me pergunto como poderíamos nos queixar, se estamos todos
encobertos pela máscara da internet."
A mesa de Gil e Marina teve uma manifestação de um grupo paralelo, mas
ligado ao tema em discussão: eram mulheres representantes do Fórum das
Comunidades Tradicionais de Paraty, que exibiram duas faixas --uma com o
nome do fórum e outra que pedia "Educação diferenciada" --e foram
saudadas pelo mediador.
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