Marcelo Brandão - Agência Brasil
                06.07.2013 - 17h33 | Atualizado em 06.07.2013 - 20h01
            
 (Foto: Valter Campanato / ABr)
Brasília
 – Está aberta uma nova temporada de arte e cultura com o escritor 
paraibano Ariano Suassuna, que está rodando o Brasil com seu novo 
projeto, Arte como Missão. Nele, presenteia o público com uma 
aula-espetáculo, em que conta uma série de histórias e transporta os 
espectadores para um Brasil genuíno, simples e intacto.
Com a voz trêmula, justificada por seus 86 anos de idade, e certo tom 
de pureza em cada frase, como se nunca tivesse saído do sertão da 
Paraíba, onde passou parte da infância, Suassuna se apresentará para 
milhares de pessoas em seis cidades. A primeira parada foi em Brasília e
 lotou o Teatro Nacional. No dia 18 de julho, o Arte como Missão desembarca em Fortaleza. As paradas seguintes serão: Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e São Paulo.
“Eu acho que tenho a obrigação de mostrar ao povo uma alternativa para 
essa arte de quarta categoria que anda se espalhando por aí, corrompendo
 o gosto do nosso povo, procurando nivelar tudo pelo gosto médio”, disse
 o ocupante da cadeira nº 32 da Academia Brasileira de Letras. Suassuna 
diverte o público e exalta um talento esquecido, ou sequer sabido, por 
muitos. “O povo brasileiro tem uma habilidade extraordinária para 
inventar as histórias mais valiosas do mundo. Para fazer O Auto da Compadecida, minha peça mais conhecida, me baseei em histórias do povo brasileiro”, contou.
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O escritor paraibano Ariano Suassuna rodará o Brasil com o projeto Arte como Missão  O projeto vai além da aula-espetáculo. O Arte como Missão traz
 um pacote cultural multimídia. Além dos palcos, Suassuna pode ser 
apreciado em um ciclo de filmes dedicados à sua obra e visto na 
exposição fotográfica O Decifrador, de Alexandre Nóbrega.“[…] Vejo que talvez só eu mesmo pudesse fazer uma coletânea como esta, em que o autor de O Auto da Compadecida é
 flagrado na vida inusitada de homem comum, um esboço do seu universo 
particular”, diz Nóbrega, no texto de introdução da exposição.Genro de Suassuna, Nóbrega acompanha o escritor há dez anos e viaja com
 ele pelo Brasil para cumprir compromissos. Artista plástico, se valeu 
de uma máquina fotográfica para registrar diversos momentos da rotina de
 Suassuna, ou algo próximo disso. Afinal, é difícil conhecer alguém que 
frequentemente utilize como escritório a Caatinga nordestina, em frente à
 uma gigantesca formação rochosa, adornada por pinturas rupestres.De acordo com Nóbrega, seu sogro não sabia que o livro O Decifrador,
 que deu origem à exposição, estava sendo feito até vê-lo pronto. “Ele 
ficou muito surpreso, pois não estava a par da confecção do livro, mas 
não ficou desconfortável com a ideia, ele não é tímido. Sua relação com 
as pessoas é muito boa, desde quando se tornou professor”, explica 
Nóbrega. “Por conta do grande assédio, Ariano só não faz duas coisas que
 gostaria. Ir à missa e ao estádio de futebol”, completa.
O
 Brasil a ser percorrido pelo escritor nos próximos meses vive um 
caldeirão político e social. Milhares de pessoas estão indo às ruas para
 exigir melhoras dos serviços públicos, mostrar a força do poder 
popular. Na estreia do projeto, em Brasília, Suassuna não teceu 
comentários a respeito. Mas relembrou episódio da história nacional, 
quando a sociedade também estava ávida por mudanças.
O
 Brasil a ser percorrido pelo escritor nos próximos meses vive um 
caldeirão político e social. Milhares de pessoas estão indo às ruas para
 exigir melhoras dos serviços públicos, mostrar a força do poder 
popular. Na estreia do projeto, em Brasília, Suassuna não teceu 
comentários a respeito. Mas relembrou episódio da história nacional, 
quando a sociedade também estava ávida por mudanças.
“Eu acho que Canudos é o episódio mais significativo da história 
brasileira”, disse, referindo-se à Guerra de Canudos, quando uma pequena
 comunidade, no interior da Bahia, lutou incansavelmente contra o 
Exército no final do século 19. Composta por sertanejos pobres e 
ex-escravos, o povo de Canudos derrotou os militare em três batalhas, se
 fazendo notar e entrando para a história do país, como reforça o 
escritor. “Quem não entende Canudos, não entende o Brasil”.
Edição: Carolina Pimentel
Leia também:
Antonio Cândido indica 10 livros para conhecer o Brasil Fonte - blog da boitempo AQUI
Quando nos 
pedem para indicar um número muito limitado de livros importantes para 
conhecer o Brasil, oscilamos entre dois extremos possíveis: de um lado, 
tentar uma lista dos melhores, os que no consenso geral se situam acima 
dos demais; de outro lado, indicar os que nos agradam e, por isso, 
dependem sobretudo do nosso arbítrio e das nossas limitações. Ficarei 
mais perto da segunda hipótese.
Como 
sabemos, o efeito de um livro sobre nós, mesmo no que se refere à 
simples informação, depende de muita coisa além do valor que ele possa 
ter. Depende do momento da vida em que o lemos, do grau do nosso 
conhecimento, da finalidade que temos pela frente. Para quem pouco leu e
 pouco sabe, um compêndio de ginásio pode ser a fonte reveladora. Para 
quem sabe muito, um livro importante não passa de chuva no molhado. Além
 disso, há as afinidades profundas, que nos fazem afinar com certo autor
 (e portanto aproveitá-lo ao máximo) e não com outro, independente da 
valia de ambos.
Por isso, é 
sempre complicado propor listas reduzidas de leituras fundamentais. Na 
elaboração da que vou sugerir (a pedido) adotei um critério simples: já 
que é impossível enumerar todos os livros importantes no caso, e já que 
as avaliações variam muito, indicarei alguns que abordam pontos a meu 
ver fundamentais, segundo o meu limitado ângulo de visão. Imagino que 
esses pontos fundamentais correspondem à curiosidade de um jovem que 
pretende adquirir boa informação a fim de poder fazer reflexões 
pertinentes, mas sabendo que se trata de amostra e que, portanto, muita 
coisa boa fica de fora. 
São 
fundamentais tópicos como os seguintes: os europeus que fundaram o 
Brasil; os povos que encontraram aqui; os escravos importados sobre os 
quais recaiu o peso maior do trabalho; o tipo de sociedade que se 
organizou nos séculos de formação; a natureza da independência que nos 
separou da metrópole; o funcionamento do regime estabelecido pela 
independência; o isolamento de muitas populações, geralmente mestiças; o
 funcionamento da oligarquia republicana; a natureza da burguesia que 
domina o país. É claro que estes tópicos não esgotam a matéria, e basta 
enunciar um deles para ver surgirem ao seu lado muitos outros. Mas penso
 que, tomados no conjunto, servem para dar uma ideia básica.
Entre 
parênteses: desobedeço o limite de dez obras que me foi proposto para 
incluir de contrabando mais uma, porque acho indispensável uma 
introdução geral, que não se concentre em nenhum dos tópicos enumerados 
acima, mas abranja em síntese todos eles, ou quase. E como introdução 
geral não vejo nenhum melhor do que O povo brasileiro (1995), 
de Darcy Ribeiro, livro trepidante, cheio de ideias originais, que 
esclarece num estilo movimentado e atraente o objetivo expresso no 
subtítulo: “A formação e o sentido do Brasil”.
Quanto à caracterização do português, parece-me adequado o clássico Raízes do Brasil
 (1936), de Sérgio Buarque de Holanda, análise inspirada e profunda do 
que se poderia chamar a natureza do brasileiro e da sociedade brasileira
 a partir da herança portuguesa, indo desde o traçado das cidades e a 
atitude em face do trabalho até a organização política e o modo de ser. 
Nele, temos um estudo de transfusão social e cultural, mostrando como o 
colonizador esteve presente em nosso destino e não esquecendo a 
transformação que fez do Brasil contemporâneo uma realidade não mais 
luso-brasileira, mas, como diz ele, “americana”. 
Em relação 
às populações autóctones, ponho de lado qualquer clássico para indicar 
uma obra recente que me parece exemplar como concepção e execução: História dos índios do Brasil
 (1992), organizada por Manuela Carneiro da Cunha e redigida por 
numerosos especialistas, que nos iniciam no passado remoto por meio da 
arqueologia, discriminam os grupos linguísticos, mostram o índio ao 
longo da sua história e em nossos dias, resultando uma introdução sólida
 e abrangente.
Seria bom se
 houvesse obra semelhante sobre o negro, e espero que ela apareça quanto
 antes. Os estudos específicos sobre ele começaram pela etnografia e o 
folclore, o que é importante, mas limitado. Surgiram depois estudos de 
valor sobre a escravidão e seus vários aspectos, e só mais recentemente 
se vem destacando algo essencial: o estudo do negro como agente ativo do
 processo histórico, inclusive do ângulo da resistência e da rebeldia, 
ignorado quase sempre pela historiografia tradicional. Nesse tópico 
resisto à tentação de indicar o clássico O abolicionismo 
(1883), de Joaquim Nabuco, e deixo de lado alguns estudos 
contemporâneos, para ficar com a síntese penetrante e clara de Kátia de 
Queirós Mattoso, Ser escravo no Brasil (1982), publicado 
originariamente em francês. Feito para público estrangeiro, é uma 
excelente visão geral desprovida de aparato erudito, que começa pela 
raiz africana, passa à escravização e ao tráfico para terminar pelas 
reações do escravo, desde as tentativas de alforria até a fuga e a 
rebelião. Naturalmente valeria a pena acrescentar estudos mais 
especializados, como A escravidão africana no Brasil (1949), de Maurício Goulart ou A integração do negro na sociedade de classes
 (1964), de Florestan Fernandes, que estuda em profundidade a exclusão 
social e econômica do antigo escravo depois da Abolição, o que constitui
 um dos maiores dramas da história brasileira e um fator permanente de 
desequilíbrio em nossa sociedade.
Esses três 
elementos formadores (português, índio, negro) aparecem 
inter-relacionados em obras que abordam o tópico seguinte, isto é, quais
 foram as características da sociedade que eles constituíram no Brasil, 
sob a liderança absoluta do português. A primeira que indicarei é Casa grande e senzala
 (1933), de Gilberto Freyre. O tempo passou (quase setenta anos), as 
críticas se acumularam, as pesquisas se renovaram e este livro continua 
vivíssimo, com os seus golpes de gênio e a sua escrita admirável – 
livre, sem vínculos acadêmicos, inspirada como a de um romance de 
alto voo. Verdadeiro acontecimento na história da cultura brasileira, 
ele veio revolucionar a visão predominante, completando a noção de raça 
(que vinha norteando até então os estudos sobre a nossa sociedade) pela 
de cultura; mostrando o papel do negro no tecido mais íntimo da vida 
familiar e do caráter do brasileiro; dissecando o relacionamento das 
três raças e dando ao fato da mestiçagem uma significação inédita. Cheio
 de pontos de vista originais, sugeriu entre outras coisas que o Brasil é
 uma espécie de prefiguração do mundo futuro, que será marcado pela 
fusão inevitável de raças e culturas.
Sobre o mesmo tópico (a sociedade colonial fundadora) é preciso ler também Formação do Brasil contemporâneo, Colônia
 (1942), de Caio Prado Júnior, que focaliza a realidade de um ângulo 
mais econômico do que cultural. É admirável, neste outro clássico, o 
estudo da expansão demográfica que foi configurando o perfil do 
território – estudo feito com percepção de geógrafo, que serve de base 
física para a análise das atividades econômicas (regidas pelo 
fornecimento de gêneros requeridos pela Europa), sobre as quais Caio 
Prado Júnior engasta a organização política e social, com articulação 
muito coerente, que privilegia a dimensão material. 
Caracterizada
 a sociedade colonial, o tema imediato é a independência política, que 
leva a pensar em dois livros de Oliveira Lima: D. João VI no Brasil (1909) e O movimento da Independência
 (1922), sendo que o primeiro é das maiores obras da nossa 
historiografia. No entanto, prefiro indicar um outro, aparentemente fora
 do assunto: A América Latina, Males de origem (1905), de 
Manuel Bonfim. Nele a independência é de fato o eixo, porque, depois de 
analisar a brutalidade das classes dominantes, parasitas do trabalho 
escravo, mostra como elas promoveram a separação política para conservar
 as coisas como eram e prolongar o seu domínio. Daí (é a maior 
contribuição do livro) decorre o conservadorismo, marca da política e do
 pensamento brasileiro, que se multiplica insidiosamente de várias 
formas e impede a marcha da justiça social. Manuel Bonfim não tinha a 
envergadura de Oliveira Lima, monarquista e conservador, mas tinha 
pendores socialistas que lhe permitiram desmascarar o panorama da 
desigualdade e da opressão no Brasil (e em toda a América Latina).
Instalada a monarquia pelos conservadores, desdobra-se o período imperial, que faz pensar no grande clássico de Joaquim Nabuco: Um estadista do Império
 (1897). No entanto, este livro gira demais em torno de um só 
personagem, o pai do autor, de maneira que prefiro indicar outro que tem
 inclusive a vantagem de traçar o caminho que levou à mudança de regime:
 Do Império à República (1972), de Sérgio Buarque de Holanda, volume que faz parte da História geral da civilização brasileira,
 dirigida por ele. Abrangendo a fase 1868-1889, expõe o funcionamento da
 administração e da vida política, com os dilemas do poder e a natureza 
peculiar do parlamentarismo brasileiro, regido pela figura-chave de 
Pedro II. 
A seguir, 
abre-se ante o leitor o período republicano, que tem sido estudado sob 
diversos aspectos, tornando mais difícil a escolha restrita. Mas penso 
que três livros são importantes no caso, inclusive como ponto de partida
 para alargar as leituras. 
Um tópico de
 grande relevo é o isolamento geográfico e cultural que segregava boa 
parte das populações sertanejas, separando-as da civilização urbana ao 
ponto de se poder falar em “dois Brasis”, quase alheios um ao outro. As 
consequências podiam ser dramáticas, traduzindo-se em exclusão 
econômico-social, com agravamento da miséria, podendo gerar a violência e
 o conflito. O estudo dessa situação lamentável foi feito a propósito do
 extermínio do arraial de Canudos por Euclides da Cunha n’Os sertões
 (1902), livro que se impôs desde a publicação e revelou ao homem das 
cidades um Brasil desconhecido, que Euclides tornou presente à 
consciência do leitor graças à ênfase do seu estilo e à imaginação 
ardente com que acentuou os traços da realidade, lendo-a, por assim 
dizer, na craveira da tragédia. Misturando observação e indignação 
social, ele deu um exemplo duradouro de estudo que não evita as 
avaliações morais e abre caminho para as reivindicações políticas. 
Da 
Proclamação da República até 1930 nas zonas adiantadas, e praticamente 
até hoje em algumas mais distantes, reinou a oligarquia dos 
proprietários rurais, assentada sobre a manipulação da política 
municipal de acordo com as diretrizes de um governo feito para atender 
aos seus interesses. A velha hipertrofia da ordem privada, de origem 
colonial, pesava sobre a esfera do interesse coletivo, definindo uma 
sociedade de privilégio e favor que tinha expressão nítida na atuação 
dos chefes políticos locais, os “coronéis”. Um livro que se recomenda 
por estudar esse estado de coisas (inclusive analisando o lado positivo 
da atuação dos líderes municipais, à luz do que era possível no estado 
do país) é Coronelismo, enxada e voto (1949), de Vitor Nunes 
Leal, análise e interpretação muito segura dos mecanismos políticos da 
chamada República Velha (1889-1930). 
O último 
tópico é decisivo para nós, hoje em dia, porque se refere à modernização
 do Brasil, mediante a transferência de liderança da oligarquia de base 
rural para a burguesia de base industrial, o que corresponde à 
industrialização e tem como eixo a Revolução de 1930. A partir desta 
viu-se o operariado assumir a iniciativa política em ritmo cada vez mais
 intenso (embora tutelado em grande parte pelo governo) e o empresário 
vir a primeiro plano, mas de modo especial, porque a sua ação se 
misturou à mentalidade e às práticas da oligarquia. A bibliografia a 
respeito é vasta e engloba o problema do populismo como mecanismo de 
ajustamento entre arcaísmo e modernidade. Mas já que é preciso fazer uma
 escolha, opto pelo livro fundamental de Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil
 (1974). É uma obra de escrita densa e raciocínio cerrado, construída 
sobre o cruzamento da dimensão histórica com os tipos sociais, para 
caracterizar uma nova modalidade de liderança econômica e política. 
Chegando 
aqui, verifico que essas sugestões sofrem a limitação das minhas 
limitações. E verifico, sobretudo, a ausência grave de um tópico: o 
imigrante. De fato, dei atenção aos três elementos formadores 
(português, índio, negro), mas não mencionei esse grande elemento 
transformador, responsável em grande parte pela inflexão que Sérgio 
Buarque de Holanda denominou “americana” da nossa história 
contemporânea. Mas não conheço obra geral sobre o assunto, se é que 
existe, e não as há sobre todos os contingentes. Seria possível 
mencionar, quanto a dois deles, A aculturação dos alemães no Brasil (1946), de Emílio Willems; Italianos no Brasil (1959), de Franco Cenni, ou Do outro lado do Atlântico (1989), de Ângelo Trento – mas isso ultrapassaria o limite que me foi dado.
No fim de 
tudo, fica o remorso, não apenas por ter excluído entre os autores do 
passado Oliveira Viana, Alcântara Machado, Fernando de Azevedo, Nestor 
Duarte e outros, mas também por não ter podido mencionar gente mais 
nova, como Raimundo Faoro, Celso Furtado, Fernando Novais, José Murilo 
de Carvalho, Evaldo Cabral de Melo etc. etc. etc. etc. 
* Artigo publicado na edição 41 da revista Teoria e Debate – em 30/09/2000
Antonio Candido é sociólogo, crítico literário e ensaísta.
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