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- Fonte iG São Paulo
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Ato foi organizado por entidades com inclinação nacionalista e teve apoio de integrantes da extrema direita
Uma manifestação "contra a ditadura comunista" e pela
volta dos militares ao poder reuniu menos de 100 pessoas no final da
tarde desta quarta-feira (10) na Avenida Paulista. O ato foi organizado
por entidades com inclinação nacionalista como Pátria Minha, União de
Combate à Corrupção (UCC), Organização de Combate à Corrupção (OCC) e
Mexeu com o Brasil Mexeu Comigo contou também com integrantes de grupos
de extrema direita como Resistência Nacionalista, Frente Integralista
Brasileira e Carecas do ABC.
A presença de skinheads provocou tensão entre os próprios manifestantes que baixavam o tom de voz para dizer que eram contra o fascismo e a perseguição aos judeus. "Tem que falar baixo porque tem um pessoal aí que pensa o contrário", disse um estudante.
Alguns representantes dos defensores da volta dos militares ainda tentaram argumentar e arregimentar o grupo mas foram repelidos. "Imagine! Estamos aqui para defender a democracia e somos apartidários. Não temos nada a ver com aquilo ali", disse o publicitário Alexandre Morgado, que integra o Grupo de Apoio ao Protesto Popular (GAPP), uma turma de voluntários com treinamento em primeiros socorros que tem ajudado voluntariamente na atenção aos feridos nas manifestações.
O integralismo é descrito por historiadores
como uma versão brasileira do nazismo. Os Carecas do ABC ganharam
notoriedade quando um grupo de 18 integrantes da gangue espancou até a
morte o adestrador de cães Edson Neris da Silva, gay, em 2000. Algumas
faixas também registravam a presença de ruralistas.
A maioria dos manifestantes era formada por esposas de
militares e pessoas com mais de 60 anos. Eles misturaram temas típicos
do regime militar como a "Canção do Exército" (Nós somos da pátria
guia...) com elementos estéticos das manifestações que levaram milhões
de pessoas, na maioria jovens, às ruas do país nas últimas semanas.
Embora muitos deles defendessem a chamada
cura gay e se posicionassem contra os direitos civis dos homossexuais,
músicas de Cazuza e Renato Russo, ambos gays assumidos, foram usadas
para embalar o protesto. Uma dona-de-casa que identificou apenas como
Marta, disse que votou em Fernando Collor de Mello em 1989 mas estava
com a cara pintada, símbolo do movimento que levou ao impeachment do
ex-presidente e atual senador por Alagoas.
Uma faixa que chamava a atenção dizia
"Marcha das Famílias contra o comunismo". Em 1964, as Marchas da Família
com Deus pela Liberdade, organizadas pela Sociedade Brasileira de
Defesa da Família, Tradição e Propriedade (TFP), deram suporte popular
para ogolpe que derrubou o presidente João Goulart e mergulho o Brasil
em 20 anos de ditadura.
Alguns eram mais explícitos e pediam a volta
dos militares ao poder. "Não é golpe. Queremos uma intervenção militar
provisória até a realização de eleições limpas sem urnas eletrônicas
fraudadas", disse uma aposentada que se identificou apenas como Regina.
A última intervenção militar provisória no Brasil durou
mais de 20 anos e entrou para os livros de história com o nome de
Ditadura Militar. Uma das características dos manifestantes era não
revelar o nome completo. Um rapaz que se identificou como André disse
fazer parte dos Carecas do ABC. Ele vestia uma jaqueta com o símbolo
integralista.
Um dos poucos que teve coragem de dar o nome
completo foi o professor de artes Hermiton Costa, que defendeu a volta
dos militares ao poder dizendo que a possibilidade está prevista no
artigo 142 da Constituição. O texto constitucional, na verdade, diz o
contrário, determinando às Forças Armadas o papel de preservar as
instituições democráticas do país.
Questionado sobre a contradição, ele chamou um
colega, que também não soube explicar o argumento e, por fim, pediu
ajuda ao engenheiro aposentado Jorge Barreto, que deu sua versão:
"Os militares podem intervir em caso de divisão
do território nacional. É o caso da (reserva indígena) Raposa Serra do
Sol e outras demarcações de áreas indígenas que tiram do Brasil o
direito sobre as riquezas do subsolo daquelas áreas", disse ele.
Outro manifestante que teve coragem de dizer o nome foi o
estudante Rodrigo Dias, de 21 anos, que carregava uma bandeira do
império e se dizia monarquista. "Rui Barbosa já diza que o príncipe é
criado para amar seu país enquanto os políticos só querem encher os
bolsos de dinheiro", justificou.A presença de skinheads provocou tensão entre os próprios manifestantes que baixavam o tom de voz para dizer que eram contra o fascismo e a perseguição aos judeus. "Tem que falar baixo porque tem um pessoal aí que pensa o contrário", disse um estudante.
Ao contrário dos protestos de duas semanas
atrás, a manifestação de ontem foi embalada por um trio elétrico cujo
aluguel, segundo a empresa responsável, custa R$ 6 mil. O trio tinha uma
faixa de apoio dos ruralistas. Líderes do ato disseram que o aluguel
foi pago com doações.
O músico Rui Cosmedson, 53 anos, e duas
garotas usavam camisetas pretas com uma caveira semelhante à do BOPE e a
sigla CCC. Ao contrário do famigerado Comando de Caça aos Comunistas
dos anos 60, o novo CCC se intitula Comando de Caça aos Corruptos.
Rui aproveitou para ender por R$ 50 uma
camiseta a um integrante dos Carecas do ABC. "Aproveite que na internet
custa R$ 59", disse o músico.
A maior parte das pessoas que passavam pelo
vão livre do Masp saindo do trabalho reagiram com indiferença. Outros,
incrédulos, tiravam fotos e faziam piadas. "De onde estes caras saíram?
Do passado?", perguntava, às gargalhadas, o arquiteto Julio Bonjardim.
Outros ainda reagiam com indignação aos gritos de "fascistas".
Quando a passeata tentava, com dificuldade, tomar a
Avenida Paulista em direção à rua da Consolação, um grupo maior com
cerca de 200 pessoas protestava contra o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL) e vinha na direção contrária. A intenção era se
juntar à manifestação do Masp mas quando viram os cartazes e defesa da
volta dos militares, desistiram. "Vou conversar com o pessoal. Não
podemos nos misturar com isso", disse o estudante Vitor Araújo, um dos
líderes do Fora Renan.Alguns representantes dos defensores da volta dos militares ainda tentaram argumentar e arregimentar o grupo mas foram repelidos. "Imagine! Estamos aqui para defender a democracia e somos apartidários. Não temos nada a ver com aquilo ali", disse o publicitário Alexandre Morgado, que integra o Grupo de Apoio ao Protesto Popular (GAPP), uma turma de voluntários com treinamento em primeiros socorros que tem ajudado voluntariamente na atenção aos feridos nas manifestações.
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