
11/07/2013
Frei  BettoFonte: Brasil de Fato
Que
 conceito de desenvolvimento é esse que implica na destruição do meio 
ambiente e na exclusão de bilhões de pessoas do direito a uma vida digna
 e feliz?
No altar da concepção capitalista de desenvolvimento, 
25 milhões de pessoas, a maioria jovens, são condenadas ao desemprego 
nos países da União Europeia.
Em todo o mundo, uma insatisfação 
paira no coração dos jovens. Ela não se reflete apenas na irreverência 
do corte de cabelo, no jeans esfarrapado, nas tatuagens e nos piercings.
 Emerge principalmente nas manifestações de rua que se propagam mundo 
afora: Seattle 1999 (contra a Organização Mundial do Comércio); Davos 
2000 (contra os donos do dinheiro); Inglaterra 2010 (contra os cortes no
 orçamento da Educação); Tunísia 2010-2011 (derrubada do presidente); 
Egito  2011 (derrubada do presidente); Nova York 2011 (Occupy Wall 
Street); Istambul 2013 (por mais democracia); Brasil 2013.
Há um 
denominador comum em todos esses movimentos: os jovens sabem o que não 
querem (ditadura, neoliberalismo, desemprego, corte de direitos sociais,
 alta do custo de vida etc.), mas não têm clareza do que propor.
Devido
 ao alto índice de corrupção nos partidos políticos, e a cooptação 
operada pelo poder  do capital, a ponto de a esquerda desaparecer na 
Europa, a juventude não  identifica nos partidos condutos capazes de 
representar os anseios populares e criarem alternativas de poder.
Como
 previu Robert Michels em 1911, os partidos progressistas facilmente se 
deixam domesticar pelas benesses burguesas quando se tornam governo. 
Trocam o projeto de país pelo projeto de poder; afastam-se dos 
movimentos sociais e se aproximam de  seus antigos adversários; deixam 
de questionar o capitalismo para propor  medidas cosméticas de melhorias
 de vida dos mais  pobres.
A queda do Muro de  Berlim, o fracasso
 do socialismo no Leste europeu e o capitalismo de Estado na  China 
fazem o socialismo se apagar no horizonte utópico dos jovens.
Na 
esperança de abrir  alternativas, o Fórum Social Mundial propõe Um Outro
 Mundo Possível, e  a Teologia da Libertação resgata o sumak kawsay (bem
 viver) dos  indígenas andinos e sugere Outros Mundos Possíveis, no 
plural, no qual  a igualdade de direitos não ameace a diversidade de  
culturas.
O capitalismo em crise tenta, de todas as maneiras, 
multiplicar os sete fôlegos do gato neoliberal. Ignora as recomendações 
da ONU para a crise financeira (como fechar os paraísos fiscais) e se 
recusa a regulamentar o capital especulativo.
No esforço de se 
perpetuar, o sistema da idolatria do capital propõe remendos novos em 
pano velho: capitalismo verde; combate à pobreza através de programas 
sociais  compensatórios (e não emancipatórios); troca da liberdade 
individual por  segurança; desprestígio dos movimentos sociais; 
criminalização do  descontentamento popular.
O óbvio é que o 
capitalismo representa um êxito para apenas 1/3 da  humanidade. Segundo a
 ONU, 4 bilhões de pessoas vivem abaixo da linha da  pobreza. O sistema 
se mostra mais destrutivo que criativo. Até os partidos  progressistas, 
outrora considerados de esquerda, já não têm proposta  alternativa e, 
quando no poder, se restringem a ser meros gestores da crise  econômica.
Foi
 preciso o Brasil ir às ruas para a presidente Dilma propor a reforma 
política, a primeira medida estrutural em 10 anos de governo petista. 
Agora faltam as demais: agrária, tributária, etc.
Não basta 
denunciar as mazelas e os abusos do sistema, como costuma fazer a Igreja
 Católica. É preciso apontar causas e alternativas. Caso contrário, a 
insatisfação dos jovens se transformará em revolta, e esta em ninho 
aconchegante para o ovo da serpente: o nazifascismo.
Frei Betto é escritor, autor  de “O que a vida me ensinou” (Saraiva), entre outros livros.
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