12 maio 2011
O Nordeste é uma região fértil e próspera. O retorno do investimento é
líquido e certo, e o melhor de tudo, no curto prazo. Não estamos
falando de agropecuária, indústria de transformação, comércio varejista
ou prestação de serviços. Tampouco estamos nos referindo à alguma
atividade econômica de iniciativa privada. Estamos falando de eventos
musicais promovidos por órgãos públicos ou fundações públicas.
O Nordeste gosta de festa, seja ela para marcar uma data religiosa,
civil ou cultural. E em todas elas há música, muita música ao vivo. O
Nordeste também é um celeiro de artistas, muitos deles de qualidade
indiscutível, outros de gosto duvidoso. Mas um fato é unanimidade: a
competência com que gestores públicos, empresários artísticos e
políticos roubam a cena, que dizer, os cofres públicos.
Antigamente as fraudes aconteciam com áreas mais nobres da gestão
pública. Eram desviadas verbas da merenda escolar, do tratamento fora de
domicílio, da construção de pontes, do calçamento de uma rua, da
reforma de uma escola. Os órgãos de fiscalização foram apertando o cerco
e a fonte foi secando. Mas agora descobriram uma fonte perene numa
propriedade esquecida dentro do governo, sem importância política: os
eventos musicais realizados por fundações ou secretarias de cultura.
Ninguém quer saber a origem dos recursos ou como ele foi aplicado.
Ninguém vai denunciar no programa policial do rádio ou da televisão a má
aplicação dos recursos públicos em uma festa na cidade. Pouco importa
se houve superfaturamento dos serviços contratados, causando prejuízo ao
erário público, ou se houve enriquecimento ilícito dos empresários
artísticos, ou ainda violações aos princípios da administração pública.
As pessoas querem mais é assistir show de graça!
Nem mesmo a oposição se pronuncia. O esquema é amplo demais e
beneficia muita gente. O político ganha dinheiro na ida para financiar
sua campanha eleitoral na volta. O deputado aprova uma emenda
parlamentar, o dinheiro federal chega na prefeitura através de um
convênio, uma produtora é escolhida para aplicar o dinheiro e realizar a
festa, os artistas são escalados, a festa acontece naquela data e
pronto, acabou-se. No dia seguinte só a ressaca e a sujeira lembram que
ali houve uma festa. O dinheiro saiu pelo ralo, ou melhor, entrou pelo
bolso.
A produtora de eventos desempenha um papel fundamental nesse esquema
porque administra os recursos. Ela paga as despesas do evento e repassa
as “comissões”. Geralmente é uma pessoa de confiança e próxima dos
políticos. Não há licitação para a escolha da produtora de eventos, mas
deveria haver, assim como existe licitação para a contratação de
agências de publicidade. A meta estabelecida pela Constituição Federal
para a contratação de seviços pela administração pública é assegurar
igualdade de condições entre os concorrentes. Pela lei, apenas a
contratação de artistas é caso de inexigibilidade de licitação.
É um jogo de cartas marcadas. As mesmas produtoras escalam as mesmas
bandas. Pra entrar na programação tem que aceitar as regras do jogo. Se o
artista reclamar, fica de fora (muitos estão nessa situação). Outros
desconfiam do esquema mas preferem fecha os olhos, senão correm o risco
de perder a data ou de serem escanteados de uma vez por todas. Tem ainda
o artista que nem desconfia do que se passa nos bastidores. Mas uma
coisa é certa: o artista é quem menos ganha nesse esquema.
Seria fácil provar o funcionamento dessas organizações criminosas. No
palco, mais do que música, escuta-se o locutor da festa entregando todo
mundo: “obrigado deputado”, “um abraço pro vereador”, “uma salva de
palma pro prefeito”, e assim por diante. Uma interceptação telefônica no
celular do produtor do evento revelaria toda a rede de interesses. Mete
um grampo lá que a casa cai pra todo mundo! Marca uma acareação entre o
artista e o produtor do evento, frente a frente, pra cada um dizer o
valor de fato do cachê.
Próximo ano tem eleições municipais. Preste atenção, a partir
de hoje, nos eventos musicais promovidos em sua cidade. Filme,
fotografe e ofereça uma denúncia ao Ministério Público. Onde há fumaça,
há fogo.
Leonardo Salazar é autor do livro “Música Ltda: o negócio da música para empreendedores”. É especialista em Gestão de Negócios, bacharel em Jornalismo e técnico em Contabilidade. Também é empresário artístico da banda Novos Bossais e instrutor setorial de cultura do SEBRAE.
Leia mais: Há ausência praticamente total de auditoria de custos em tudo que o setor público contrata e de transparência no que executa diretamente. Falta vontade política para verificar o valor que está sendo pago ao prestador de serviço ao executor da obra. Em geral tudo que é entregue ao setor privado para fazer em lugar do setor público pode estar sendo pago com valor acima do que deveria caso o governo se dispusesse a olhar com mais cuidado tudo que contrata e, muitas vezes não o faz por falta de quadros e/ou de competência para isso.
A população que paga a conta tem todo direito de saber o porque do valor cobrado e o governo através dos seus três níveis (federal, estadual e municipal), poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público) e agências "reguladoras" de FHC, o dever de não jogar contas indevidas sobre os usuários e contribuintes. AQUI
Leia mais, AQUI
Leonardo Salazar é autor do livro “Música Ltda: o negócio da música para empreendedores”. É especialista em Gestão de Negócios, bacharel em Jornalismo e técnico em Contabilidade. Também é empresário artístico da banda Novos Bossais e instrutor setorial de cultura do SEBRAE.
Leia mais: Há ausência praticamente total de auditoria de custos em tudo que o setor público contrata e de transparência no que executa diretamente. Falta vontade política para verificar o valor que está sendo pago ao prestador de serviço ao executor da obra. Em geral tudo que é entregue ao setor privado para fazer em lugar do setor público pode estar sendo pago com valor acima do que deveria caso o governo se dispusesse a olhar com mais cuidado tudo que contrata e, muitas vezes não o faz por falta de quadros e/ou de competência para isso.
A população que paga a conta tem todo direito de saber o porque do valor cobrado e o governo através dos seus três níveis (federal, estadual e municipal), poderes (Executivo, Legislativo, Judiciário e Ministério Público) e agências "reguladoras" de FHC, o dever de não jogar contas indevidas sobre os usuários e contribuintes. AQUI
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