domingo, 14 de julho de 2013

“Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.”


13 de julho de 2013 - Um dia de sábado de muito falar e ouvir e em meio a chuva que ia e vinha.

Começando pela reunião na escola, bate papo sobre o Sarau Multicultural no programa Fala Jovem na Aperipê FM, passando pela assembléia do Ocupa Aracaju, sentado na calçada da assembléia legislativa para se proteger da chuva e terminando com o bate papo sobre o Sarau no programa Purorock, da Anchieta FM.
Em todos estes momentos, a certeza de que quando uma multidão sai as ruas para gritar contra muita coisa que aí está e demandando mais qualidade de vida, bem estar e participação “real” é porque já chegaram ao limite do cansaço e da solidão.
Para as organizações partidárias e movimentos sociais que nunca deixaram de lutar a favor de um mundo mais justo e igualitário e que sofrerem resistências de alguns setores da população que estiveram nas manifestações de junho, é hora de refletir sobre o cansaço que um certo modelo de pensar e organizar os processos de lutas e de conquistas causaram em amplos contingentes de pessoas. Me refiro ao verticalismo, ao burocratismo, as dinastias partidárias que se apoderaram de muitos entidades e organizações, a manipulação dos debates visando favorecer a tomada de certas decisões, entre tantos erros e desvios.
Quanto a solidão, utilizar o imenso potencial que as ferramentas tecnológicas digitais e redes sociais da internet oferecem, para despertar e aproximar pessoas para se encontrarem mais e construir algo juntos, é bem gratificante e desafiador.
Por último, um toque para os partidos de esquerda que ocupam espaço no poder público, tanto faz se municipal, estadual ou federal. Investir na criação de condições e oportunidades para o fortalecimento e criação de outras emissoras de rádio e tvs públicas e comunitárias é urgente, pois as duas emissoras em que participei da programação no dia de sábado tem essa configuração legal. E como é bom poder falar e ouvir músicas e pessoas diferentes, nestes tipos de emissoras.
Um toque para gestores da educação, universidade e professores, é preciso investir mais tempo para conversar com a comunidade escolar, ouvir alunos e pais, é prioritário. Aprender maneiras diferentes sobre como ouvir, é urgente.
A experiência de participar da assembléia do Ocupa Aracaju, por exemplo, com jovens que querem enxergar para além do horizonte ordinário do dia-a-dia, pode acrescentar bastante as pessoas e organizações que não querem se acabar em meio ao cansaço e a solidão impostos pelo modo capitalista de produção e de consumo.
P.S.: 1 - Há tempos eu não sorria tanto em uma reunião, como ontem, ao ouvir os relatos da intervenção do grupo de artivismo do Ocupa e que estiveram participando das manifestações convocadas pelas centrais sindicais e movimentos sociais organizados no recente 11 de julho. A combinação da arte, do protesto e do humor, é bom demais.

2 – Hoje, 14 de julho, prosseguimos a divulgação do Sarau Multicultural. A bola da vez é o programa “No Ritmo da História”, ás 13h, na Aperipê AM 630. O endereço na NET é http://www.ideastek.net/aperipeam/
Zezito de Oliveira - Educador e Produtor Cultural
 
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13/07/2013
           Estimo que parte das razões que levaram multidões às ruas no mes de junho tem sua origem nos equívocos conceptuais presentes nas políticas públicas do governo do PT. Não conseguindo se desvenciliar das amarras do sistema neoliberal imperante no mundo e internalizado, sob pressão, em nosso pais, os governos do PT tiveram que conceder imensos benefícios aos rentistas nacionais para sustentar a política econômica e ainda realizar alguma distribuição de renda, via políticas sociais, aos milhões de filhos  da pobreza.

         O Atlas da exclusão social – os ricos no Brasil(Cortez, 2004) embora seja de alguns anos atrás, mantem sua validade, como o mostrou o pesquisador Marcio Pochmann (O pais dos desiguais, Le Monde Diplomatique, outubro 2007). Passando por todos os ciclos econômicos, o nível de concentração de riqueza, até a financeirização atual, se manteve praticamente inalterado. São 5 mil famílias extensas que detem 45% da renda e da riqueza nacionais. São elas, via  bancos, que emprestam ao governo; segundo os dados de 2013, recebem anualmente 110 bilhões de reais em juros. Para os projetos sociais (bolsa família e outros)  são destinados apenas  cerca de 50 bilhões. São os restos para os considerados o resto.

         Em razão desta perversa distribuição de renda, comparecemos como um dos países mais desiguais do mundo. Vale dizer, como um dos mais injustos, o que torna nossa democracia extremamente frágil e quase farsesca. O que sustenta a democracia é a igualdade, a equidade e a desmontagem dos privilégios.

         No Brasil se fez até agora apenas distribuição desigual de renda, mesmo nos governos do PT. Quer dizer, não se mexeu na estrutura da concentração da renda. O que precisamos, urgentemente, se quisermos mudar a face social do Brasil, é introduzir uma redistribuição que implica mexer nos mecanismos de  apropriação de renda. Concretamente significa: tirar de quem  tem demais e repassar para quem tem de menos. Ora, isso nunca foi feito. Os detentores do ter, do poder, do saber e da comunicação social conseguiram sempre impedir esta revolução básica, sem a qual manteremos indefinidamente  vastas porções da população à margem das conquistas modernas. O sistema politico acaba servindo a  seus interesses. Por isso, em seu tempo, repetia com frequência Darcy Ribeiro que nós temos uma das elites mais opulentas, antisociais e conservadoras do mundo.

         Os grandes projetos governamentais destinam porções significativas do orçamento para os projetos que as beneficiam e as enriquecem ainda mais: estradas, hidrelétricas, portos, aeroportos, incentivos fiscais, empréstimos com juros irrisórios do BNDES. A isso se chama crescimento econômico, medido pelo PIB que deve se equacionar com a inflação, com as taxas de juros e o câmbio. Priviligia-se o agronegócio exportador que traz dólares à agroecologia, à economia familiar e solidária que produzem 60% daquilo que comemos.        

O que as multidões da rua estão reclamando é: desenvolvimento em primeiro lugar e a seu serviço o crescimento  (PIB). Crescimento é material. Desenvolvimento é humano. Signfica mais educação, mais hospitais de qualidade, mais saneamento básico, melhor transporte coletivo, mais segurança, mais acesso à cultura e ao lazer. Em outras palavras: mais condições de viver minimamente feliz, como humanos e cidadãos e não como meros consumidores passivos de bens postos no mercado.  Em vez de grandes estádios cujas entradas aos jogos são em grande parte proibitivas para o povo, mais hospitais, mais escolas, mais centros técnicos, mais cultura, mais inserção no mundo digital da comunicação.

O crescimento deve ser orientado para o desenvolvimento  humano e social. Se não se alinhar a esta lógica, o governo se vê condenado a ser mais o gestor dos negócios do que  o  cuidador da vida de seu povo, das condições de sua alegria de viver e de sua admirada criatividade cultural.

As ruas estão gritando por um Brasil de gente e não de negócios e de negociatas; por uma sociedade menos malvada devido às desigualdades gritantes; por relações sociais transparentes e menos escusas que escondem a praga da corrupção; por uma democracia onde o povo é chamado a discutir e a decidir junto com seus representantes o que é melhor para o país.

         Os gritos são por humanidade, por dignidade, por respeito ao tempo de vida das pessoas para que não seja gasto em horas perdidas nos péssimos transportes coletivos mas liberado para o convívio  com a família ou para o lazer. Parecem dizer: “recusamos ser apenas animais famintos que gritam por pão; somos humanos, portadores de espírito e de cordialidade que gritamos por beleza; só unindo pão com beleza viveremos em paz, sem violência, com humor e sentido lúdico e encantado da vida”. O governo precisa dar esta virada.

Leonardo Boff é autor de Virtudes por um outro mundo possível (3 vol) Vozes 2006.   

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