20/07/2013
 São Francisco de Assis é um 
dos santos mais amados e populares do povo brasileiro. O novo Papa 
assumiu o nome de Francisco para cumprir a mesma missão que ele teve, há
 mais de 800 anos, a de restaurar a Igreja que estava em ruinas. O Papa 
Francisco tem semelhante missão: a de restaurar uma Igreja arruinada por
 vários tipos de escândalos internos a ela que lhe  tiraram o que de melhor tinha: a credibilidade e a confiabilidade dos fiéis. Aqui transcrevo uma imaginária mensagem de São  Francisco
 de Assis, por ocasião da visita do Papa Francisco de Roma à Jornada 
Mundial da Juventude no Rio de Janeiro. Ela está contida num livro que 
acabo de publicar pela editora Mar de Ideias, com o título: “Francisco 
de Assis e Francisco de Roma: uma nova primavera para a Igreja?” 
         Assim falou São Francisco aos jovens de hoje 
              Queridos jovens, meus irmãos e minhas irmãs.
         Como vocês, também fui jovem. Era filho de um rico comerciante de tecidos: Pedro Bernardone.  Com ele fui às famosas feiras do sul da França e da Holanda. Aprendi francês e conheci um pouco o mundo, especialmente a música  dos jograis e as cantigas de amor da Provence.
         Minha festiva juventude
Meu
 pai, muito rico, me proporcionou todas as facilidades. Eu liderava um 
grupo de jovens boêmios que adoravam passar muitas horas à noite nos 
becos das ruas, cantando poemas de amor cortês e ouvindo menestreis que 
narravam histórias de cavalaria. Fazíamos festins e muita algazarra. 
Assim se passaram vários e alegres anos.
         Depois
 de algum tempo, comecei a sentir um grande vazio dentro de mim. Tudo 
aquilo era bom, mas não me preenchia. Para superar a crise, tentei ser 
cavaleiro e fazer façanhas em batalhas contra os mouros. Mas no meio do 
caminho desisti. Entrei num mosteiro para orar e fazer penitência. Mas 
logo percebi que esse não era o meu caminho.
O chamado para reconstruir a Igreja em ruínas
Lentamente,
 porém, começou a crescer dentro de mim um estranho amor pelos pobres e 
profunda compaixão pelos hansenianos que viviam isolados, fora da 
cidade. Lembrava-me de Jesus que foi  também pobre e o muito que sofreu na cruz.
     Certo
 dia, quando entrei numa igrejinha, de nome São Damião, fiquei 
longamente contemplando o rosto chagado do Cristo Cruficado. De repente,
 me pareceu ter ouvido uma voz vindo dele:”Francisco, vá e repara a 
minha igreja que está em ruinas”
         Aquelas
 palavras calaram fundo no meu coração. Não conseguia esquecê-las. 
Comecei, com minhas próprias mãos, a reconstruir uma pequinina e velha 
igreja em ruinas, chamada de Porciúncula. Depois, pensando melhor, me 
dei conta de que aquela voz se referia à Igreja feita de homens e de 
mulheres, de prelados, abades, padres, não excluindo o própro Papa. Ela 
estava em ruína moral. Grassavam muitas imoralidades, fome de poder, 
acumulação de riquezas, construções de palácios de cardeais, de papas e 
suntuosas igrejas. Tudo aquilo que Jesus  seguramente não queria de seus seguidores.
         A descoberta do evangelho e dos pobres
Achei
 por bem beber da fonte genuina da reconstrução da Igreja: os evangelhos
 e o seguimento de Jesus pobre. Ninguém me inspirou ou mandou; mas foi 
Deus mesmo que me conduziu ao meio dos hansenianos. E tive imensa 
compaixão deles.  Aquilo que antes achava amargo, agora, 
pelo amor compassivo, se me tornava doce. Comecei a pregar pelos burgos 
as palavras de Cristo, em  língua popular que todos entendiam. Via nos olhos da pessoas que era isso que esperavam e queriam ouvir.
         Todos os seres da criação são nossos irmãos e irmãs
Nas
 minhas andanças me fascinava a beleza das flores, o canto dos 
passarinhos, o ruido das águas dos riachos. Tirava do caminho poierento a
 minhoca para não ser pisada. Entendi que todos tínhamos nascidos do 
coração do Pai de bondade. Por isso éramos irmãos e irmãs: o irmão fogo,
 a irmã água, o irmão e Senhor Sol e a irmã e  a Mãe Terra.
         Muitos antigos companheiros de festas e diversões se juntaram  a
 mim. Uma bela e querida amiga, Clara de Assis, fugiu de casa e quis 
compartilhar a nossa vida simples. Começamos um movimento de pobres. 
Nada levávamos conosco. Apenas o ardor do coração e a alegria do 
espírito. Trabalhávamos  nos campos ou pedíamos esmolas. 
Queríamos seguir os passos de Cristo humilde, pobre e amigo dos pobres. 
Tive a compreensão do Papa Inocêncio III que aprovou, não sem 
hesitações, o caminho que eu e meus companheiros queríamos seguir.
         Depois
 de alguns anos, já éramos uma multidão a ponto de eu não saber mais 
como abrigar e animar tanta gente. O resto da história vocês conhecem. 
Não preciso repeti-la. Com o apoio do Papa daquele tempo, criou-se a 
Ordem dos Frades  Menores, com diversos ramos, que persiste até os dias de hoje.
         Vejam,
 queridos jovens, irmãos e irmãs meus queridos. Tive uma experiência que
 certamente vocês, como jovens, também tiveram ou estão tendo: de roda 
de amigos, de festas e de folias. Portanto, temos algo em comum.       
Mas aproveito agora que estamos juntos para dizer-lhes algumas coisas que considero de suma importância para os tempos atuais.
A Mãe Terra está doente e com febre
A
 primeira é: como nunca antes, estamos num momento critico da história 
da Terra e da Humanidade. O clamor da natureza se faz ouvir de forma 
cada vez mais forte. Nossa querida Mãe Terra está doente e com febre, 
pois, já há muito tempo, a estamos superexplorando. Tiramos dela mais do
 que ela anualmente pode repor. O ar está contaminado, as águas 
poluidas, os solos envenados e nossos alimentos cada vez mais 
quimicalizados. O aquecimento da Terra não para de aumentar. Milhares de
 espécies de seres vivos, nossos irmãos e irmãs, estão desparecendo por 
ano: uma verdadeira devastação, ocasionada pela forma agressiva com a 
qual nos relacionamos com a natureza, com os seres vivos e a com própria
 a Terra.
Devemos
 urgentemente fazer uma aliança global de cuidar da Terra e uns e dos 
outros, caso não quisermos conhecer grandes dizimações que afetarão toda
 a comunidade de vida. Corremos, portanto, grande risco.  Mas
 se assumirmos uma responsabilidade solidária e um comportamento de 
cuidado com tudo o que existe e vive, poderemos escapar desta tragédia. E
 vamos escapar.
Colocar o coração  no centro de tudo
Uma segunda coisa preciso dizer-lhes como um irmão mais experimentado: temos que mudar a nossa mente e o nosso coração. Mudar a mente
 para olhar a realidade com outros olhos. Os olhos das ciências hoje nos
 comprovam que a Terra é viva e não apenas algo morto e sem propósito, 
uma espécie de baú de recursos ilimitados que podemos usar como 
queremos. Eles são limitados, como a energia fóssil do carvão e do 
petróleo, a fertilidade dos solos  e as sementes. Ela é mãe generosa. Precisa ser cuidada, amada e respeitada como o fazemos com nossas mães.                 
Vocês sabem que os astronautas, lá da Lua ou de suas naves espaciais, nos testemumharam: Terra e Humanidade são inseparáveis;  formam
 uma única entidade, indivisível e complexa. Por isso nós, seres 
humanos, somos aquela porção da Terra que sente, que pensa, que ama e 
que venera. Somos Terra e tirados da Terra como nos dizem as primeiras 
páginas da Bíblia. Mas recebemos uma missão única, como se lê no segundo
 capítulo do Gênesis: somos colocados no Jardim do Eden, quer dizer, na 
Mãe Terra, para cuidar e guardar todas as bondades naturais. Somos os 
guardiães da herança que Deus e o universo nos confiaram e que queremos 
repassar para nossos filhos e netos, conservada e enriquecida.
Além da mente devemos também mudar  o nosso coração.
 O coração é tudo. É o lugar do sentimento profundo, do afeto caloroso e
 do amor sincero. O coração é o nicho de onde crescem todos os valores e
 se expressa o mundo das excelências. Junto com a razão intelectual que 
vocês tanto exercitam na escola, no trabalho e na condução da vida, 
existe a inteligência cordial e sensível. Ela foi, por muito tempo, 
colocada sob suspeita com o pretexto de que ela nos tiraria a 
objetividade do olhar. Puro engano. Hoje entendemos que precisamos 
resgatar, urgentemente, a razão cordial e sensível para enriquecer a 
razão intelectual. Só com a razão intelectual sem a razão cordial não 
vamos sentir o grito dos pobres, da Terra, das florestas e das águas. 
Sem a razão cordial não nos movemos para ir ao encontro dos que gritam e
 sofrem, a fim de socorrê-los, oferecer-lhes um ombro e salvá-los. Da 
razão cordial nasce a ética, aquele conjunto de valores que orientam 
nossa vida.
Por
 isso, meus queridos jovens, vocês que naturalmente são sensíveis para 
os grandes sonhos e para o vôo de águia na direção das alturas, cultivem
 um coração que sente, que se comove e que leva à ação salvadora. Essa 
razão cordial e sensível é mais ancestral que a inteligência 
intelectual. É ela que nos faz guardar as boas ou más experiências.
Proteger a Mãe Terra, cuidar da vida e optar pelos pobres
Uma
 terceira coisa gostaria de dizer-lhes confiadamente: importa nunca 
esquecer os pobres do mundo. São milhões e milhões de irmãos e irmãs que
 nos atualizam a paixão de Jesus. Eles devem ser reforçados em suas 
lutas e movimentos para se libertarem da pobreza que Deus não quer 
porque ela os faz morrer antes do tempo. A fome é assassina e nós não 
podemos permitir esse crime coletivo.  Em seguida faz-se urgente 
proteger a Mãe Terra e cuidar da vida. Ambas estão ameaçadas. Faz-se 
urgente inauguarmos uma forma nova de habitar o planeta Terra. Assim 
como estamos, não podemos continuar. Até agora habitávamos dominando com
 o punho fechado e submetendo tudo. Os novos conhecimentos foram o 
grande instrumento de intervenção na natureza. Em quatrocentos anos 
afetamos as bases naturais que sustentam a nossa vida.  Alimentamos
 um projeto de ilimitado progresso. E de fato trouxemos notáveis 
progressos e comodidades para grande maioria da humanidade. Mas hoje 
estamos conscientes de que a Terra, pequena e limitada, não aquenta um 
projeto ilimitado. Encostamos nos seus limites. Porque continuamos a 
forçar estes limites, a Terra responde com tufões, enchentes, secas, 
terremotos e tsunamis. Esse modelo agressivo de habitar o mundo, cumpriu
 sua missão histórica. A continuar assim, pode nos causar grandes 
prejuizos e eventualmente ameaçar a espécie humana. Temos que mudar se 
quisermos sobreviver.
No
 lugar do punho fechado para submeter, devemos ter a mão aberta para o 
cuidado essencial, para o entrelaçamento dos dedos numa aliança de 
valores e princípios que poderão sustentar um novo ensaio civilizatório.
Precisamos produzir, sim,  para atender as necessidades humanas. Mas temos que aprender a produzir respeitando os limites da natureza e da Terra,  tirando
 delas o necessário e o decente para a vida de todos, com justiça e 
equidade. Será uma sociedade de sustentação de toda a vida. O centro 
será ocupado pela vida da natureza, pela vida humana e pela vida da 
Terra.  A economia e a política estarão a serviço mais da vida do que do mercado.
Sejam a mudança que querem para os outros
Caros
 jovens: sejam vocês mesmos a mudança que querem para os outros. Comecem
 vocês mesmos a viver o novo, respeitando cada um dos seres da natureza,
 cada planta, cada animal, cada paisagem porque eles possuem um valor 
intrínseco e em si mesmo, independente do uso racional que fizermos 
deles. São nossos irmãos e irmãs. Com eles fundaremos uma convivência de
 respeito, de reciprocidade e de mutua ajuda para que todos possam 
continuar vivos neste planeta, também os mais vulneráveis para os quais 
devotaremos mais cuidado e amor.
Queridos irmãos e irmãs jovens: resistam à cultura da acumulação e do consumo. Pensem nos outros irmãos e irmãs que são  milhões
 e milhões que vivem e dormem com fome e com sede e passando por grandes
 padecimentos. Nunca, em nenhum dia, deixem de pensar e se preocupar com
 os pobres e com seu destino dramático, principalmente, das crianças 
inocentes.
Tenham
 um consumo solidário e vivam uma sobriedade compartida; façam a 
experiência de que com menos poderão ser mais e que a felicidade reside 
não no enriquecimento e numa boa profissão, mas  no 
compartir e tratar sempre humamente a todos os humanos, nossos 
semelhantes e estar em harmonia com a natureza e os ritmos da Mãe Terra.
Alimentar a dimensão da espiritualidade na vida
Por
 fim, caros jovens, irmãos e irmãs meus queridos: nada disso tudo que 
refletimos terá eficácia se não misturarmos Deus em todos os nossos 
empreendimentos. Ele não está em parte nenhuma, porque está em todas as 
partes. Mas está principalmente no coração de vocês. Dentro de cada um 
de vocês queima uma brasa viva e arde uma chama sagrada: é a presença 
misteriosa e amorosa de Deus. Ele emerge de  forma sensível no fenômeno do entusiasmo, tão forte na idade de vocês. Entusiasmo  significa ter um Deus dentro: é o Deus interior, Deus companheiro e amigo, Deus de amor incondicional.
A  nossa cultura materialista e consumista  cobriu
 de cinzas esta brasa e ameaça apagar a chama sagrada. Afastem essa 
cinza através da abertura do coração a esse Deus; reservem cada dia um 
momento para pensar nele, conversar com ele, queixar-se e chorar  diante dele e dirigir-lhe uma súplica. Às vezes não digam nada. Coloquem-se apenas silenciosos diante dele.  Ele
 poderá lhes falar e lhes suscitar bons sentimentos e luminosas 
intuições. Nunca abandonem Deus, porque Ele nunca os abandona e 
abandonará. Vivam como quem se sente na palma de sua mão. E então 
estarão protegidos porque Ele é Pai e Mãe de infinita ternura.
A última palavra pertence ao Deus da vida
Desde
 que o Filho de Deus por Jesus assumiu a nossa humanidade, ele assumiu 
tambem uma parte da Terra e dos elementos do universo. Portanto, estes 
já foram divinizados e eternizados. Nunca mais serão ameaçados. Mas nós 
podemos. Consolam-nos  s palavras da revelação dos dizem que Ele, Deus, é “o soberano amante da vida”(Sab 11,24).  Ele
 sempre ama tudo o que um dia criou. Não esquece de nenhuma criatura que
 nasceu de seu coração. Por isso, confiemos todos, que Ele vai proteger a
 nossa querida Mãe Terra e garantir o futuro da vida que é o future de 
vocês todos.
Não
 disperdicem o tempo porque ele é urgente. Desta vez não podemos chegar 
atrasados nem cometer erros, pois corremos o risco de não termos volta 
nem formas de correção dos erros cometidos. Mas não percam  o entusiasmo nem esmoreça  a  alegria do coração.  A vida sempre triunfa porque Deus é vivo e nos enviou Jesus que disse ter vindo para trazer vida e vida  em abundância.
 Era o que queria, do fundo de meu coração, lhes falar.
Por
 fim, faço-lhes um pedido muito especial: rezem, apoiem, colaborem com o
 Papa que leva o meu nome, Francisco. Ele vai restaurar a Igreja de hoje
 como eu tentei restaurar a Igreja do meu tempo. Sem a ajuda de vocês, 
se sentirá fraco e terá grandes dificuldades. Mas com o entusiasmo e o 
apoio de vocês, com as orações nos seus  grupos e 
movimentos, ele vai cumprir a missão que Jesus lhe conficou: conferir um
 rosto confiável à nossa Igreja e confirmar a todos na fé e na 
esperança. Com vocês ele será forte e irá conseguir.
Agora,  antes de nos despedirmos, lhes darei a bênção que um dia dei ao meu íntimo amigo Fei Leão, a ovelhinha de Deus:
Que Deus vos abençoe e vos guarde!
Que  Ele mostre sua face e se compadeça de vós!
Que volva o seu rosto para vós e vos dê a paz!
Que Deus vos abençoe!
 Paz e Bem
Francisco.  o Poverello e Fratello de Assis
.
Leonardo Boff escreveu:”Francisco de Assis e Francisco de Roma: uma nova primavera na Igreja?” Editora Mar de Idéias, Rio de Janeiro 2013.
Frei Betto é um dos religiosos (é 
dominicano) mais comprometidos com as transformações no Brasil. 
Acompanha os movimentos sociais de base especialmente as Comunidades 
Eclesiais de Base. Teve o mérito de ter sido um dos implantadores do 
projeto inicial do Governo Lula da Fome Zero acompanhada do projeto 
Talher dedicado à educação. Junto do pão deveria chegar tambem a 
instrução. Foi prisioneiro político por 4 anos e escreveu o belíssimo 
livro Batismo de Sangue, transformado em filme. Essa saudação expressa o
 sentimento de muitos cristãos comprometidos, especialmente jovens. Por o
 publico aqui no meu blog: Lboff
****************************
Querido papa Francisco, o povo brasileiro o espera de braços e coração abertos. Graças à sua eleição, o papado adquire agora um rosto mais alegre.
O senhor incutiu em todos nós renovadas esperanças na Igreja Católica ao tomar atitudes mais próximas ao Evangelho de Jesus que às rubricas monárquicas predominantes no Vaticano: uma vez eleito, retornou pessoalmente ao hotel de três estrelas em que se hospedara em Roma, para pagar a conta; no Vaticano, decidiu morar na Casa Santa Marta, alojamento de hóspedes, e não na residência pontifícia, quase um palácio principesco; almoça no refeitório dos funcionários e não admite lugar marcado, variando de mesa e companhias a cada dia; mandou prender o padre diretor do banco do Vaticano, envolvido em falcatrua de 20 milhões de euros.
Em Lampedusa, onde aportam os imigrantes africanos que sobrevivem à travessia marítima (na qual já morreram 20 mil pessoas) e buscam melhores condições de vida na Europa, o senhor criticou a “globalização da indiferença” e aqueles que, no anonimato, movem os índices econômicos e financeiros, condenando multidões ao desemprego e à miséria.
Um Brasil diferente o espera. Como se Deus, para abrilhantar ainda mais a Jornada Mundial da Juventude, tivesse mobilizado os nossos jovens que, nas últimas semanas, inundam nossas ruas, expressando sonhos e reivindicações. Sobretudo, a esperança em um Brasil e um mundo melhores.
É fato que nossas autoridades eclesiásticas e civis não tiveram o cuidado de deixá-lo mais tempo com os jovens. Segundo a programação oficial, o senhor terá mais encontros com aqueles que ora nos governam ou dirigem a Igreja no Brasil do que com aqueles que são alvos e protagonistas dessa jornada.
Enquanto nosso povo vive um momento de democracia direta nas ruas, os organizadores de sua visita cuidam de aprisioná-lo em palácios e salões. Assim como seus discursos sofrem, agora, modificações em Roma para estarem mais afinados com o clamor da juventude brasileira, tomara que o senhor altere aqui o programa que lhe prepararam e dedique mais tempo ao diálogo com os jovens.
Não faz sentido, por exemplo, o senhor benzer, na prefeitura do Rio, as bandeiras dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. São eventos esportivos acima de toda diversidade religiosa, cultural, étnica, nacional e política.
Por que o chefe da Igreja Católica fazer esse gesto simbólico de abençoar bandeiras de dois eventos que nada têm de religioso, embora contenham valores evangélicos por zerar divergências entre nações e promover a paz? Talvez seja o único momento em que atletas da Coreia do Norte e dos EUA se confraternizarão.
Como nos sentiríamos se elas fossem abençoadas por um rabino ou uma autoridade religiosa muçulmana?
Nos pronunciamentos que fará no Brasil, o senhor deixará claro a que veio. Ao ser eleito e proclamado, declarou à multidão reunida na Praça de São Pedro, em Roma, que os cardeais foram buscar um pontífice “no fim do mundo.”
Tomara que o seu pontificado represente também o início de um novo tempo para a Igreja Católica, livre do moralismo, do clericalismo, da desconfiança frente à pós-modernidade. Uma Igreja que ponha fim ao celibato obrigatório, à proibição de uso de preservativos, à exclusão da mulher do acesso ao sacerdócio.
Igreja que reincorpore os padres casados ao ministério sacerdotal, dialogue sem arrogância com as diferentes tradições religiosas, abra-se aos avanços da ciência, assuma o seu papel profético de, em nome de Jesus, denunciar as causas da miséria, das desigualdades sociais, dos fluxos migratórios, da devastação da natureza.
Os jovens esperam da Igreja uma comunidade alegre, despojada, sem luxos e ostentações, capaz de refletir a face do Jovem de Nazaré, e na qual o amor encontre sempre a sua morada.
Bem-vindo ao Brasil, papa Chico! Se os argentinos merecidamente se orgulham de ter um patrício como sucessor de Pedro, saiba que aqui todos nos contentamos em saber que Deus é brasileiro!
Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
            
Leia também:
          
        
BOAS-VINDAS AO PAPA CHICO: Frei Betto
18/07/2013
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Querido papa Francisco, o povo brasileiro o espera de braços e coração abertos. Graças à sua eleição, o papado adquire agora um rosto mais alegre.
O senhor incutiu em todos nós renovadas esperanças na Igreja Católica ao tomar atitudes mais próximas ao Evangelho de Jesus que às rubricas monárquicas predominantes no Vaticano: uma vez eleito, retornou pessoalmente ao hotel de três estrelas em que se hospedara em Roma, para pagar a conta; no Vaticano, decidiu morar na Casa Santa Marta, alojamento de hóspedes, e não na residência pontifícia, quase um palácio principesco; almoça no refeitório dos funcionários e não admite lugar marcado, variando de mesa e companhias a cada dia; mandou prender o padre diretor do banco do Vaticano, envolvido em falcatrua de 20 milhões de euros.
Em Lampedusa, onde aportam os imigrantes africanos que sobrevivem à travessia marítima (na qual já morreram 20 mil pessoas) e buscam melhores condições de vida na Europa, o senhor criticou a “globalização da indiferença” e aqueles que, no anonimato, movem os índices econômicos e financeiros, condenando multidões ao desemprego e à miséria.
Um Brasil diferente o espera. Como se Deus, para abrilhantar ainda mais a Jornada Mundial da Juventude, tivesse mobilizado os nossos jovens que, nas últimas semanas, inundam nossas ruas, expressando sonhos e reivindicações. Sobretudo, a esperança em um Brasil e um mundo melhores.
É fato que nossas autoridades eclesiásticas e civis não tiveram o cuidado de deixá-lo mais tempo com os jovens. Segundo a programação oficial, o senhor terá mais encontros com aqueles que ora nos governam ou dirigem a Igreja no Brasil do que com aqueles que são alvos e protagonistas dessa jornada.
Enquanto nosso povo vive um momento de democracia direta nas ruas, os organizadores de sua visita cuidam de aprisioná-lo em palácios e salões. Assim como seus discursos sofrem, agora, modificações em Roma para estarem mais afinados com o clamor da juventude brasileira, tomara que o senhor altere aqui o programa que lhe prepararam e dedique mais tempo ao diálogo com os jovens.
Não faz sentido, por exemplo, o senhor benzer, na prefeitura do Rio, as bandeiras dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos. São eventos esportivos acima de toda diversidade religiosa, cultural, étnica, nacional e política.
Por que o chefe da Igreja Católica fazer esse gesto simbólico de abençoar bandeiras de dois eventos que nada têm de religioso, embora contenham valores evangélicos por zerar divergências entre nações e promover a paz? Talvez seja o único momento em que atletas da Coreia do Norte e dos EUA se confraternizarão.
Como nos sentiríamos se elas fossem abençoadas por um rabino ou uma autoridade religiosa muçulmana?
Nos pronunciamentos que fará no Brasil, o senhor deixará claro a que veio. Ao ser eleito e proclamado, declarou à multidão reunida na Praça de São Pedro, em Roma, que os cardeais foram buscar um pontífice “no fim do mundo.”
Tomara que o seu pontificado represente também o início de um novo tempo para a Igreja Católica, livre do moralismo, do clericalismo, da desconfiança frente à pós-modernidade. Uma Igreja que ponha fim ao celibato obrigatório, à proibição de uso de preservativos, à exclusão da mulher do acesso ao sacerdócio.
Igreja que reincorpore os padres casados ao ministério sacerdotal, dialogue sem arrogância com as diferentes tradições religiosas, abra-se aos avanços da ciência, assuma o seu papel profético de, em nome de Jesus, denunciar as causas da miséria, das desigualdades sociais, dos fluxos migratórios, da devastação da natureza.
Os jovens esperam da Igreja uma comunidade alegre, despojada, sem luxos e ostentações, capaz de refletir a face do Jovem de Nazaré, e na qual o amor encontre sempre a sua morada.
Bem-vindo ao Brasil, papa Chico! Se os argentinos merecidamente se orgulham de ter um patrício como sucessor de Pedro, saiba que aqui todos nos contentamos em saber que Deus é brasileiro!
Frei Betto é escritor, autor de “Um homem chamado Jesus” (Rocco), entre outros livros.
“Tenda das juventudes” e Santuário dos Mártires na JMJ"
Conheça a programação da “Tenda das
juventudes” com Santuário dos Mártires na JMJ
Espaço realizará atividades
formativas, celebrações e trocas culturais com foco na vida da juventude
Com o objetivo de mobilizar os jovens presentes na Jornada Mundial da Juventude para a conscientização
e luta em defesa da vida da juventude é que diversas organizações realizarão, durante o evento
no Rio de Janeiro, uma atividade como espaço de
debate e reflexão da realidade juvenil e políticas públicas para a juventude. 
A “Tenda das Juventudes” será espaço
de acolhida, formação, celebração, partilha, diálogo e convivência das mais
diversas juventudes presentes na JMJ. Deseja ser uma verdadeira tenda, onde
todos poderão se aproximar, aconchegar e fazer deste espaço sua morada.
A atividade terá como tema “A
juventude quer viver!”. Frase que tem pautado a luta pela vida da juventude em
especial no combate à violência e ao extermínio que assola a juventude
brasileira. A proposta dos organizadores é que esta pauta seja fomentada para
os jovens de todas as partes do mundo que estarão presentes na JMJ, mobilizando assim para o
engajamento na discussão sobre a banalização da violência e na defesa da vida dos
jovens.
Dentre os assuntos a serem abordados
nas mesas temáticas destacam-se a juventude quer viver; justiça e transição,
memória e compromisso; desafios socioambientais da humanidade e a juventude; crise
econômica, direitos sociais e juventudes; tráfico de pessoas; juventudes,
cultura, comunicação e direitos humanos; civilização do amor e a evangelização
da juventude na América latina; e solidariedade.
Os oito painéis temáticos contarão com
a participação de convidados que contribuirão com o seu olhar para o mundo
juvenil. Cada mesa temática terá a duração de 1h30 a 2h, garantindo tempo para
a interação dos presentes na atividade. Em breve será divulgado o nome dos
convidados para cada mesa temática.
A abertura da Tenda acontecerá em dois
momentos, sendo eles: celebração de abertura no dia 22 de julho, às 19h30; e mesa
de abertura no dia 23 de julho, às 9h. Ambos os momentos contarão com a
presença de todas as organizações promotoras além de autoridades e entidades
convidadas.
Além disso, a Tenda contará com stands
de exposição das organizações parceiras e um espaço para o Santuário dos
mártires da caminhada. O espaço da Tenda das Juventudes estará disponível para
a visitação durante toda a semana da JMJ, iniciando no dia 22 de julho, a
partir das 15h30 com a acolhida dos participantes e visitação dos stands. O
espaço destinado para o Santuário dos mártires da caminhada foi pensando com a
proposta de resgatarmos a memória daqueles que doaram suas vidas em favor do
compromisso com um mundo mais justo, pacífico e fraterno. Será local de
exposição de imagens dos mártires e de celebrações.
Também estão contemplados na
programação da atividade momentos destinados para a vivência do Ofício Divino
da Juventude e também de atividades culturais com apresentações artísticas
variadas.
Como chegar
A
atividade acontecerá na Paróquia Santa Bernadete, localizada na Av. dos
Democráticos, 896, no bairro Higienópolis, Rio de Janeiro/RJ. O acesso ao local
poderá ser feito preferencialmente pelo Metrô e Trem. O local da tenda está
localizado a cerca de 10 minutos da estação de metrô Maria da Graça (linha 2 –
Verde (sentido Pavuna) e cerca de 15 minutos da estação de trem Maguinhos.
Visando a facilidade de acesso, o trajeto contará com sinalização e pessoas
para orientar os peregrinos.
Para confirmar presença na atividade
ou ter acesso a mais informações do evento, acesse a página da Tenda no
Facebook, por meio do link: http://fb.com/events/1385192211698939/.
Organização
A atividade está sendo organizada pela Pastoral da
Juventude, Cáritas Brasileira, Juventude Franciscana, Comissão Brasileira de Justiça e
Paz, Cajueiro - Centro de Formação, Assessoria e
Pesquisa em Juventude,
REJU – Rede Ecumênica da Juventude, Irmandade
dos Mártires da Caminhada,
Setor Pastoral da PUC/RJ. Com a parceria do PNUD – Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento; da Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal; e da Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude.
A iniciativa acontecerá em sintonia com a organização da
JMJ, sendo uma das inúmeras atividades inscritas junto ao Comitê Organizador
Local/COL e que acontecerá de maneira oficial e simultânea durante a Jornada. A
Tenda está prevista no Guia do Peregrino da JMJ e respeitará a programação dos
atos centrais e demais momentos significativos.
Serviço
Data: 22 a 26 de julho de
2013
Horário: 8h às 23h (a
partir do dia 23 de julho); no dia 22 de julho o horário de funcionamento será
de 15h30 às 23h. Importante verificar a programação descrita no link http://goo.gl/GpKqQ, assim como o mapa
explicando como se chegar ao local.
Local: Paróquia Santa
Bernadete, na Av. dos Democráticos, 896, no bairro Higienópolis, Rio de
Janeiro/RJ.
Contato e informações: tendadasjuventudesjmj@gmail.com
- Thiesco Crisóstomo:
94.8117.6210 – thiesco@gmail.com
- Joaquim Alberto: 61.9214.7664
– joaquimaasilva@gmail.com
- Gabriel Jaste: 21.8337.5287
- gabrieljaste@gmail.comLeia também:

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