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quarta-feira, 19 de junho de 2024
Salve Chico Buarque! Um de nossos melhores artistas cidadãos brasileiros. Orgulho da raça!!
Muito amor e admiração tanto da minha parte como de milhões de brasileiros e brasileiras. Com Chico Buarque aprendi a gostar mais e acreditar no Brasil. Apesar de todos os percalços e reveses... Nos alimentamos da arte luminosa de Chico Buarque de Holanda. "Luz, quero luz
Sei que além das cortinas são palcos azuis
E infinitas cortinas com palcos atrás
Arranca vida, estufa veia
E pulsa, pulsa, pulsa, pulsa, pulsa mais."
A seleção de textos, artigos, reportagens abaixo, é só uma pequena amostra das homenagens a um de nossos melhores artistas cidadãos brasileiros. Patrimônio vivo da nossa cultura imaterial, não apenas para brasileiros e populações de países da cultura lusofóna. Muitos anos vida amado menestrel..
Zezito de Oliveira - Educador, agente/produtor cultura e editor do blog da cultura
CHICO BUARQUE, 80 ANOS!
"Está provado, quem espera nunca alcança (...) Corro atrás do tempo / Vim de não sei onde / Devagar é que não se vai longe / Eu semeio vento na minha cidade / Vou pra rua e bebo a tempestade" (Da música "Bom conselho", de Chico Buarque, composta em 1972)
Chico Buarque, 80 anos. Vida longa ao compositor popular, poeta, cantor, músico, escritor e dramaturgo! Ao intelectual brasileiro que em suas criações artísticas sintetiza com mestria e autenticidade, o erudito e o popular, a brasilidade e o que é universal!
Tenho Chico como uma referência. Aprendi muitas coisas sobre o país, o amor e o povo com as suas canções. Sobre as misérias da alma humana e do Brasil também. Filho de um dos grandes intérpretes do Brasil, o historiador Sérgio Buarque de Holanda, Chico é pura essência do que nos define como povo brasileiro, diverso e, ao mesmo tempo, uno.
Para homenagear o arquiteto das palavras, deixo aqui o trecho da música "Língua", de Caetano Veloso, outro gigante, que realça a contribuição de Chico para o resgate das ancestralidades que nos formaram como povo e nação: "E que o Chico Buarque de Holanda nos resgate / E – xeque-mate – explique-nos Luanda."
(Mario Fonseca)
LIVE-HOMENGAEM -
A ARTE DE CHICO BUARQUE FOI ESPERANÇA EM TEMPOS DE TERROR
Com Romero Venâncio (UFS)
19/6. Quarta. As 19h
No Instagram romerojunior4503
A ARTE DE CHICO BUARQUE FOI ESPERANÇA EM TEMPOS DE TERROR
Sua arte marcou um processo de modernização turbulenta desse Brasil (quase sempre em transe) em momentos distintos, difíceis, alegres, esperançosos e engolfados pelo egoísmo insano de suas classes dominantes. Chico Buarque cantou e "literatizou" esses momentos por meio da música, do teatro, do romance, dos contos…
Algumas crônicas, charges e pontas no cinema foram consideradas produções menores, o que seria uma trajetória linear de um artista de classe média se o Brasil não tivesse suas peripécias internacionais.
Historiadores e jornalistas costumam chamar a atenção para os "anos de esperança" que foram os anos 50 do século XX entre nós. Era a febre do novo: bossa, cinema, arte, juventude, Brasília. Até a Igreja Católica parecia querer se renovar. Mas, nunca esqueçamos que este país abriga porões velhos que sempre aparecem em momentos inoportunos. E não deu outra.
Em 1946, um Brasil nefasto saiu das sombras e das casernas. Trocou-se João Goulart por generais. Trocaram-se as Ligas camponesas nas ruas por marcha de senhoras ricas com o deus delas. Trocou-se Paulo Freire pelo coronel Jarbas Passarinho. Trocou-se Celso Furtado por Delfim Neto. Trocaram-se tantas coisas simbólica.
Muita gente foi presa, exilada e torturada. Mataram muita gente, não sem alguma resistência. Os militares de plantão e seus empresários de sempre a tiracolo não tiveram paz de cemitério todo o tempo. Guerrilhas, teatros, jornais alternativos, canções, poemas, desbunde. Modernizaram-se "pelo alto", massacraram o povo pobre com inflação e falso milagre, destruíram canais de democracia, injetaram anticomunismo nas forças armadas, controlaram a televisão e fizeram a festa dos ricos com o dinheiro público.
Dentre os canais de comunicação histórica que podemos saber de tudo isso com inteligência, humor, ironia e crítica devastadora está a arte de Chico Buarque de Hollanda. E nisso, ela ficará eterno numa memória que passará de geração em geração. Sem grandes ilusões, porque a memória brasileira é mais um problema do que realidade. Somos de um país que teima em não preservar sua melhor memória. Nem os governos ditos de esquerda escapam desta sina. Mas o fato é que não ficamos “à toa na vida vendo a banda passar”. A música de Chico Buarque, o seu teatro e seus escritos foram testemunhas desses tempos que ele chama em seu mais recente livro de “Anos de chumbo”.
Sabemos que não foi apenas testemunho e registro destes tempos nefastos. Foi mais, foi esperança. Sem cair na pieguice relambida, Chico Buarque escolhe bem em quem depositar suas esperanças e a partir de qual lugar social. Isto é muito na arte brasileira, que quando acerta numa, erra noutra. Chico Buarque foi “forma” e “conteúdo” na medida do momento.
"Ele vinha sem muita conversa, sem muito explicar
Eu só sei que falava e cheirava e gostava de mar..."
Foi jogando com metáforas, mitos antigos, trovando o real, ironizando com o coro dos contentes e tomando posição pelos de baixo que Chico Buarque mostrava-nos outro país que não o dos militares e seus apoiadores de plantão.
De "Roda viva" a "Calabar e chegando a "Gota d`água" vemos em seu teatro como transformou o drama do palco no drama da vida. Toda sua discografia da década de 70 refletia algum momento do país, tomando os de baixo como referência e não os do andar de cima. Transitam em sua obra, os operários, pivetes, guris, travestis, mulheres, malandros, gente humilde.
Quando os de cima apareciam era como o "bispo de óleos vermelhos" (nem imaginem o que habita nesta fina ironia!). Chico apostou nesse povo. Apostou no lugar de seu povo. Esse era o Brasil digno, mas com tantas contradições. Ele sabia e sabe que país algum é feito de santos nem no andar de cima e nem no andar de baixo. Mas, a dignidade estará sempre com as reais vítimas, com os marginalizados, com os oprimidos.
Vieram tempos operários no final dos anos 70 e Chico Buarque estava lá, agora não só. Com sua turma.
"Ao lembrar
Que aqui passaram sambas imortais
Que aqui sangraram pelos nossos pés
Que aqui sambaram nossos ancestrais..."
Hoje, Chico Buarque chega aos 80 anos e os tempos são outros - tempos de neoliberalismo. O Brasil cresceu e tudo cresceu junto, principalmente, a violência sobre os mais pobres. Se pensam que Chico Buarque não pressentiu isso, estão enganados. Leiamos uma obra-prima chamada "Estorvo" (1991). Do título à narrativa está muita coisa lá do que aconteceria terrivelmente. Chegaríamos cruelmente neste país da delicadeza perdida, nesta máquina infernal que mais parece uma luz sem misericórdia. Apesar de tudo, viva Chico Buarque de Hollanda.
Romero Venâncio (UFS)
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CHICO BUARQUE, nosso guri de 80, nasceu quando era bem o momento dele rebentar. Sua história ilumina nossa História.
Com seu engenho e arte, o querido xará sempre falou coisas de amor, mesmo quando chamava a atenção para a romaria dos mutilados, a fantasia dos infelizes e o dia a dia das meretrizes.
Chico desafiou os ferros do suplício da ditadura e o cale-se (cálice amargo) da censura: apesar de você, vai passar!
O velho Francisco, artista brasileiro, na estrada há muitos - pai paulista (Serjão, com a História na mão!), avô pernambucano, bisavô mineiro, tataravô baiano, filho (com outras seis manas e manos) da centenária e eterna Memélia, carioca como ele - aprendeu na escola da vida que amores serão sempre amáveis.
Chico, depois de tanta mentira, tanta força bruta, sem o desespero de esperar demais, continua nos convocando para o tempo da delicadeza.
O craque, cabeça rolando no Maracanã, sabe que além das cortinas são palcos azuis, de infinitas cortinas com palcos atrás. E clama: luz, quero luz!
Chico, nas lutas contra o rei, nas discussões com Deus, nos ensina que os poetas, como os cegos, podem ver na escuridão.
E seguimos, privilegiados por tê-lo na nossa geração, como seus admiradores e vigias, catando a poesia que entorna no chão.
Chico, com seu navio carregado de ideais (escorrendo feito grãos), sabe que o tempo de criança foi se arrastando, pó a pó. Roda mundo, roda pião...
E que, ainda assim, é preciso navegar: tanto mar, tanto amar!
Evoé, guia das melhores caravanas - as que embaçam os olhos e a razão, rumo ao coração!
Gracias, hermano!
(C.A.)
Nas oito décadas de Chico Buarque, oito momentos para entender sua grandeza… - Veja mais AQUI
Chico Buarque chega aos 80 anos com uma obra grandiosa, fundamental e coerente. AQUI
Cresci escutando Chico Buarque. Os primeiros discos deles tocavam todas as faixas no rádio, por incrível que isso possa hoje parecer. Acho que até início dos anos 80, havia emissoras com o slogan “música exclusivamente música. Um anúncio por intervalo”. Em Campina Grande era o formato da Rádio Cariri, aqui o da Rádio Tamandaré.
Na adolescência escutava a Universitária. Dela me lembro escutando, no radinho de pilha, tarde da noite, Umas e Outras, uma canção de Chico de que pouca gente se lembra. Na letra, ele contrapunha o cotidiano de uma prostituta ao de uma freira. Esta é de 1969. No ano seguinte foi a vez de Construção. Não o compacto, mas o LP inteiro. Pois é, a música que a garotada escutava, O LP Construção e o Let it Be, dos Beatles.
Aliás, Chico Buarque com este disco põe por terra uma asserção que é repetida nas histórias da música popularesca, brega ou cafona, como a chamavam até os anos70. O nicho de artistas do povão, que vendia muito, garantia a permanência dos artistas classe A nas gravadoras. Uma meia verdade. Construção vendeu uma enormidade. O compacto com Apesar de Você, um ano antes, também, até ser proibido e recolhido em todo o território nacional. Aquele Abraço, de Gilberto Gil vendeu horrores também em 1969.
Houve um período em que os bregas venderam muito, e a MPB pouco. Aconteceu quando a censura esteve mais feroz. O pior ano foi 1973. As gravadoras não investiam em discos de Chico Buarque, Taiguara, Gonzaguinha, porque não sabiam se o que gravavam seria liberado pelos censores. Muita gente surpreendeu-se ao ler o Livro Eu Não Sou Cachorro Não, de Paulo César Araújo, sobre a censura ao brega. Houve, claro, em todos os gêneros. Os caras censuravam até música a favor,
Muito mais censurado do que o brega foi o forró da época, quando o duplo sentido esteve na moda. O paraibano João Gonçalves (autor de Severina Xique-Xique) foi muito mais censurado do que qualquer artista brega, incluindo Odair José. João foi até proibido de cantar no palco, composições que nem tinham sido censuradas. No período de 1973 a 1975, Chico Buarque chegou a dizer que era um ex-compositor (...) Leia texto completo em telestoques.com
Historiador, político, artistas: quem é quem na família de Chico Buarque… - Veja mais AQUI
CHICO BUARQUE, 80 ANOS: entenda como compositor criou uma trilha sonora para o Brasil, cantando o amor, a política e o futebol
Filho dileto da bossa nova, ele transformou em samba as belezas e as mazelas do país, a paixão pelos craques da bola e os mistérios do universo feminino. Sua obra conta também as histórias do cinema, do teatro e da literatura nacionais
Por O GLOBO — Rio de Janeiro
Há exatos 80 anos nascia Francisco Buarque de Hollanda, um dos sete filhos do historiador e sociólogo Sérgio Buarque de Hollanda com a pintora e pianista Maria Amélia Cesário Alvim. Cantor e compositor, dramaturgo, autor, ator e vencedor do Prêmio Camões, Chico Buarque é também cronista das belezas e das mazelas do Brasil, autor de canções que se tornaram hinos do combate à ditadura militar e da alegria pelo retorno à democracia, entusiasta do futebol-arte e o compositor favorito das cantoras por sua rara compreensão do universo feminino.
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NASCE UM COMPOSITOR
O ano era 1966 e, na contracapa de seu LP de estreia, “Chico Buarque de Hollanda ”, o cantor e compositor de 22 anos de idade admitia: “Pouco tenho a dizer além do que vai nesses sambas”. Ensanduichado entre a explosão da jovem guarda e a revolução tropicalista, Chico assinava seu compromisso com a música inaugurada no começo do século pelos negros Donga, Pixinguinha e João da Baiana.
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No LP, que vinha com clássicos como “A banda” (vencedora de festival, na interpretação de Nara Leão), Chico era a encarnação do samba jovem, o garoto dos olhos magnéticos, de cor nunca identificada. Mais do que isso, o autor de versos como “se o samba quer que eu prossiga/ eu não contrario não” (de “Amanhã, ninguém sabe”), reiterados por ele em “Que tal um samba?” (2022), faixa mais recente desse artista que completa 80 anos na quarta-feira, 19 de junho.
Entre um Chico e outro, está toda a História de um país, da qual é um dos mais poéticos e contundentes cronistas. Criado no seio da intelectualidade (seu pai era o historiador, sociólogo e escritor Sérgio Buarque de Hollanda, autor de “Raízes do Brasil”), o menino cresceu ligado em futebol, em clássicos da literatura e no melhor de uma época de ouro da música brasileira (Noel Rosa, Dorival Caymmi, Ary Barroso, entre outros). A audição do marco inicial da bossa nova, “Chega de saudade”, com João Gilberto, fez com que o violão virasse seu melhor amigo.
Elas respondem: Por que Chico Buarque exerce tanto fascínio sobre as mulheres?
'Afasta de mim esse cálice': Relembre a luta entre Chico Buarque e a censura na ditadura
"Quis ser palhaço, bombeiro, intelectual, jogador de futebol, padre, deputado, ladrão de automóveis, galã e arquiteto. Nada deu certo, e acabei mesmo tocando violão", resumiu ele, em 1967, à “Fatos e Fotos”.
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TRILHA SONORA DO BRASIL
Num tempo em que tudo parecia ser possível, um talentoso contingente jovem batalhava para reorientar a canção brasileira. Enquanto os tropicalistas trilhavam o caminho do pop e da eletricidade, ele seguiu seus próprios desígnios, traçados pelo samba — certa vez, Caetano Veloso chegou a dizer que Chico “anda para a frente arrastando a tradição”.
Um caminho que ele percorreria com grandes parceiros musicais, como Edu Lobo, Francis Hime, Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco e, nos últimos anos, o neto Chico Brown. Entre canções de qualidade cinematográfica e pérolas românticas (com um olhar feminino que o transformou no compositor mais desejado pelas grandes cantoras, de Maria Bethânia a Elza Soares), Chico conquistou popularidade e fez a trilha sonora do Brasil.
Um Brasil que mergulhava nos anos de chumbo da ditadura, a qual ele reagiu com um autoexílio em Roma mas também com sambas como “Apesar de você”, “Construção”, “Acorda amor” (assinado com pseudônimo para escapar à censura) e, à beira da redemocratização, com “Vai passar”, hino do movimento Diretas Já.
Compositor que transitou por vários estilos, sempre ao seu jeito, Chico fez música infantil (“Saltimbancos”) e até rock (“Jorge Maravilha”). Enveredou pelas trilhas de cinema, pelo teatro, pelos musicais e, a partir de “Estorvo” (1991), conquistou o reconhecimento como romancista. Se, depois de certo ponto, silenciou no plano das entrevistas, as obras começaram a falar por ele — como ele desejava desde aquela estreia em 1966.
Ele, até hoje, caminha quase todo dia e joga futebol quase toda semana. Tem que estar em ótima forma e vai estar ainda por muito tempo. E eu irei gostar dele cada vez mais, gostando dele igual, como da primeira vez quando ele ainda não tinha 20 anos! Parabéns meu oitentão querido.
— Gilberto Gil, compositor
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O SAMBA COMO ARMA
Num novo milênio em que a violência social se explicitou no limite do insuportável, Chico Buarque seguiu sendo a chave para a compreensão do Brasil. Seja na releitura da sua “Cálice” pela ótica das quebradas do rapper Criolo, ou na incisiva revisão do histórico de escravidão da canção “Sinhá”, lançada em 2011.
Raí e Chico Buarque (com bandeira do MST) em manifestação em Paris — Foto: Reprodução Instagram
Raí e Chico Buarque (com bandeira do MST) em manifestação em Paris — Foto: Reprodução Instagram
Quando necessário, Chico bateu de frente, como quando se manifestou contra o racismo dos que falavam sobre seu neto, Chico Brown, filho de sua filha Helena com Carlinhos Brown. “As pessoas pensam que são brancas, pensam que eu sou branco. Só no Brasil é que eu sou branco ou que minha filha é branca”, disse ele ao diretor Roberto Oliveira em um documentário. No sábado (15) mesmo, em Paris, onde está com a família para comemorar seu aniversário, participou de manifestação contra o avanço da extrema direita na França.
Mas sua arma mais letal e sorrateira continuava mesmo sendo o samba, como reafirmaria em “Que tal um samba”, com o qual exorcizou uma das páginas infelizes de nossa História com um convite à dança e à celebração: “Depois de tanta demência/ e uma dor filha da puta, que tal?/ puxar um samba/ que tal um samba?”
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UM CASO DE AMOR COM O CINEMA
Em 1966, mesmo ano em que lançou seu álbum de estreia e conquistou o Festival da Música Popular Brasileira com “A banda”, Chico fez seu primeiro trabalho para o cinema, compondo uma melodia para o filme “O anjo assassino” (1966), de Dionísio Azevedo.
No ano seguinte, estreou como ator interpretando a si mesmo em “Garota de Ipanema” (1967), de Leon Hirszman. Em cena, ele canta a canção “O chorinho”, composta especialmente para o filme produzido e co-escrito por Vinicius de Moraes.
Achava que poderia ser ator de cinema, mas aí cresci e desisti. Sou um péssimo ator. Geralmente, quando me chamam para atuar é para interpretar a mim mesmo ou a uma versão de mim mesmo.
— Chico Buarque
“Quando o carnaval chegar” (1972), estrelado também por Hugo Carvana, Nara Leão e Maria Bethânia, marca o início de uma grande e frutífera parceria com o diretor Cacá Diegues. Na trilha sonora, canções clássicas como “Mambembe”, “Quando o carnaval chegar”, “Partido alto” e “Bom conselho”.
Outros trabalhos de Chico como ator foram em "Vai trabalhar, vagabundo II: a volta" (1991), de Carvana; "O mandarim" (1995), de Júlio Bressane; "Ed Mort" (1997), de Alain Fresnot; e o drama português "Água e sal" (2001), de Teresa Villaverde.
Após “Quando o carnaval chegar”, voltou a trabalhar com Cacá nas músicas-temas de “Joana Francesa” (1973) e “Bye bye Brasil” (1979). Em 2018, Cacá voltaria a ter seu cinema tomado pela obra buarqueana. O diretor comandou uma adaptação de “O grande circo místico”, baseado em peça de Chico e Edu Lobo.
Chico também construiu parcerias cinematográficas importantes com Hugo Carvana, para quem compôs o hino da malandragem carioca, “Vai trabalhar, vagabundo!”, que virou título de filme em 1973, e Miguel Faria Jr., com quem trabalhou lado a lado inúmeras vezes e de quem segue muito próximo.
De 'Pedro Pedreiro' a 'Que tal um samba?': Livro analisa 80 canções de Chico Buarque
'Insônia, angústias, medo da morte': Filha fala sobre Chico Buarque e revela o que eles têm em comum
“Não sonho mais”, para “República dos assassinos” (1979), e “Imagina”, “Tanta saudade” e “Samba do grande amor”, para “Para viver um grande amor” (1983), são algumas das canções que musicaram obras de Faria Jr., que também dirigiu o documentário “Chico — Artista brasileiro” (2015).
Um dos maiores sucessos da história do cinema brasileiro, com 10,7 milhões de espectadores, segundo a Ancine, “Dona Flor e seus dois maridos” (1976), de Bruno Barreto, tem em sua trilha sonora três versões de uma mesma canção: “O que será?”, que marcam momentos diferentes da trama, "Abertura", "À flor da pele" e "À flor da terra".
Sucesso na Itália, a peça infantil “Os saltimbancos”, de Sergio Bardotti e Luis Enríquez Bacalov, foi montada nos palcos do Brasil em versão desenvolvida por Chico, com canções adicionais, em 1976. Poucos anos depois, o compositor voltou ao material e, com a companhia de Bardotti e Bacalov, escreveu novas músicas para o filme “Os saltimbancos Trapalhões” (1981), de J. B. Tanko. Estrelado por Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias, o longa levou 5,2 milhões de pessoas aos cinemas.
A noiva da cidade” (1978), de Alex Viany, “Perdoa-me por me traíres” (1983), de Braz Chediak, “Ópera do malandro” (1985), de Ruy Guerra, “A ostra e o vento” (1997), de Walter Lima Jr., e “A máquina” (2005), de João Falcão, foram outros longas a contar com composições de Chico em suas trilhas.
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ADAPTAÇÕES PARA A TELONA
Outra faceta na relação entre Chico Buarque e o cinema está no fato do artista ter tido várias de suas obras literárias adaptadas para a tela grande.
No ano 2000, Ruy Guerra, que além de dirigir “Ópera do malandro” havia escrito com Chico a peça “Calabar”, adaptou para os cinemas o livro “Estorvo”, primeiro romance do músico, lançado em 1991. Em 2003, foi a vez de “Benjamin” ganhar vida na tela de cinema. Dirigido por Monique Gardenberg, o filme marcou o primeiro grande papel de Cleo (à época Cléo Pires), que protagoniza a produção ao lado de Paulo José, Danton Mello e Chico Diaz.
Dirigido por Walter Carvalho, o romance “Budapeste” chegou aos cinemas em 2009 contando com Leonardo Medeiros, Gabriella Hámori e Giovanna Antonelli como protagonistas. O premiado diretor Karim Aïnouz realizou, em 2011, "O abismo prateado", uma adaptação da canção "Olhos nos olhos" estrelada por Alessandra Negrini e Otto Jr..
No momento, a diretora Anna Muylaert, de "Que horas ela volta?" (2015), trabalha na adaptação do sucesso "Geni e o Zepelim", que será rodado em 2025, com produção da Migdal Filmes e coprodução da Globo Filmes. Originalmente, "Geni e o zepelim" fez parte da trilha sonora de "Ópera do malandro", peça de Chico de 1978.
A trama irá acompanhar Geni, uma jovem profissional do sexo ribeirinha, que vive sob ataque da vizinhança. Quando sua aldeia é dominada pelo terrível exército do Comandante, os moradores tentam escapar pelo rio. Porém, o barco é interceptado e todos são feitos prisioneiros. É quando o inesperado acontece e a liberdade de todos passa a depender exclusivamente do desejo de Geni.
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FAVORITO DAS CANTORAS
Nem Maria Bethânia consegue fingir normalidade diante de Chico Buarque. A cantora que, certa vez, afirmou ser "capotada" por ele e sentir um "ciúmes como se fosse meu namorado", confessou que treme na base quando ele está plateia de seus shows.
Quando Chico apareceu na temporada intimista de "Claros breus", que a baiana fez no Manouche (casa de shows na Zona Sul carioca) em 2019, ela não se aguentou: Mandou um "Buaaarque!" no final do verso da música "Taça" (de Chico César), que diz: "Molhando na chuva chamando o meu nome...". O compositor respondeu com um sonoro "Maria!" ao surgir no camarim para cumprimentá-la após o show. É assim que os dois se tratam: Buarque e Maria.
— Além do eu lírico feminino, Chico é um contador de histórias. Acho que o fascínio que ele exerce sobre as mulheres é esse. Nós, talvez, tenhamos mais necessidade de ouvir histórias. A gente fica ouvindo e sonhando. Meu pai sempre falava isso, que o homem você conquista pela imagem, ele gosta do que vê. Já a mulher, é pelo ouvido, pelo que ela escuta. E olha o que Chico diz: "Agora eu era herói/ e meu cavalo só falava inglês ("João e Maria"), "Um dia ele chegou tão diferente/ do seu jeito de sempre chegar ("Valsinha"). Sou muito fã.
Outra fã de carteirinha é a cantora Teresa Cristina. Para ela, Chico "exerceu, exerce e vai continuar exercendo" esse deslumbramento nas mulheres por uma série de razões, que ela lista: genialidade, bom humor, sarcasmo, ironia, pela maneira com que faz o jogo de palavras nas canções que cria e pela timidez
olhar que ele tem sobre as mulheres é o de um homem que observa a mulher com muito detalhe, o olhar do tímido, delicado e muito especial porque é de uma pessoa acostumada a observar e não falar tanto de si — analisa Teresa. — Quando ele se coloca no lugar da mulher, já a observou durante muito tempo assim. Muitas vezes, Chico fala de sensações e sentimentos femininos que a gente tem vergonha de colocar pra fora. E de jeitinho bem buarqueano, coloca na canção de uma forma em que a gente fala: "Nossa, como essa cara descobriu?".
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A PAIXÃO PELO FUTEBOL
O futebol é paixão inquestionável na vida de Chico Buarque desde que ele era criança. Virou torcedor do Fluminense por influência da mãe, Maria Amélia. Ainda jovem, Chico adorava jogar futebol de botão. Aos 15 anos, batizou de Polytheama o seu time de mesa. Do grego, o termo significa "muitos espetáculos". Tempo depois, nos anos 1970, já reconhecido como grande compositor, renovou contrato com a Universal e ganhou de presente da gravadora um campinho de futebol no Recreio dos Bandeirantes. O local se tornou o Centro Recreativo Vinícius de Moraes, casa do Polytheama.
Fizeram parte do time lendário de Chico Buarque, de cores azul e verde-limão, nomes como Fágner, Djavan, Toquinho, Moraes Moreira, Alceu Valença, Carlinhos Vergueiro, Hyldon, o cineasta Ruy Solberg, e Vinícius França (amigo e empresário do compositor).. Também passaram por lá Pelé, Nílton Santos, Tostão, Zico, Júnior, Leandro, Reinaldo, Sócrates, Romário e Ronaldinho.
Chico gosta de jogar no meio, é mais dos passes do que das finalizações. Não gosta de adversários violentos que fazem muita falta. Não costuma ficar para as "resenhas" que acontecem após os jogos. E é bom de bola, garantem amigos.
— Ele é fominha pra caramba — brinca o cantor e compositor Hyldon, que jogou "uns 6 anos" no Polytheama. — Chico tem uma certa habilidade e é muito inteligente jogando bola. Era um pensador do time.
Vale lembrar que é um cara que sempre abriu o campo pra todo mundo. Ele deixava o pessoal do Terreirão, comunidade que existe ali no entorno, jogar lá. Só fechou durante a pandemia.
— Hyldon, cantor e compositor
Há muitos anos que o futebol acontece no Centro Recreativo Vinícius de Moraes religiosamente três vezes por semana, às segundas-feiras, quintas e sábados, no início da tarde. Quando está no Brasil, Chico ainda joga. Quando não está, a pelada rola normalmente mesmo na ausência do presidente de honra do clube.
— Eu já vi ele chegar da Europa e ir direto pra lá — conta Hyldon. — A gente organizava campeonatos com vários times. Tinha o Fumeta, do Evandro Mesquita, o Raça e Simpatia, do João Nogueira. Aos sábados, enchia de gente. Houve uma época em que acabava o futebol e rolava pagode, com João Nogueira, Clara Nunes, ia até 1h da madrugada. O Chico sempre trazia os melhores pro time dele. Quando levava alguém ruim, ficava no time contra.
Participaram: Bolivar Torres, Gustavo Cunha, Lucas Salgado, Maria Fortuna, Nelson Gobbi, Ricardo Ferreira, Ruan de Sousa, Silvio Essinger e Talita Duvanel
Chico ou o Pais da Delicadeza Perdida
Recomendo demais esse documentário hoje... Vem do final dos anos 80... mas parecia uma premonição do pior que viria, não sem a poesia lírica de Chico Buarque... Vale demais. - Romero Venâncio (UFS)
Um dos melhores livros sobre a trajetória e Chico Buarque... uma síntese!!! (Romero Venâncio - UFS)
80 anos de Chico Buarque.
Comemore dando este livro de presente a quem você ama:
2FranciscoS:
Por um novo humanismo poético e profético - Papa Francisco & Chico Buarque de Hollanda
Editora Recriar
2021
Para mim foi uma honra participar desta obra que nasceu da X Jornada Teológica 2020, na PUC-SP, dos Grupos de Pesquisa: Literatura, Religião e Teologia - LERTE e A Questão de Deus.
Agradeço aos organizadores: Antonio Manzatto, Donizete Xavier e Fernando de Oliveira Amorim, pela confiança depositada em mim para fazer parte do time de autoras e autores do Livro. À Editora Recriar pela coragem em lançar esse livro cheio de esperança.
De fato, a leitura desta obra sobre o humanismo poético e profético em 2 Franciscos é um convite a solicitude do humano em seu estado primigênio de abertura e acolhimento ao outro e ao totalmente Outro.
Que as palavras dos Chicos nos fortaleçam na caminhada e nos façam mais humanos.
Dom Helder Camara era um grande fã do Sr. Francisco, como costumava chamar.
Ele escreveu algumas crônicas para o seu programa de rádio Um OIhar sobre a Cidade, falando de músicas de Chico. Em homenagem aos 80 anos do cantor, vamos hoje postar uma dessas crônicas
A lição de Chico Buarque - Quinta-feira, 19.2.1976
Meus queridos amigos
Quem conhece casais desentendidos, ele pra lá, ela pra cá? Os dois se atacam, os dois se acusam, mas lá no íntimo do íntimo, os dois se amam e se esperam… Ah! Se um dia a “Valsinha” de Chico Buarque se tornasse realidade!
“Um dia ele chegou tão diferente
Do seu jeito de sempre chegar.
Olhou-a de um jeito muito mais quente
Do que sempre costumava olhar.
E não maldisse a vida tanto
Quanto era seu jeito de sempre falar.
E nem deixou-a só num canto,
Pra seu grande espanto
Convidou-a pra rodar.
Então ela se fez bonita
Como há muito tempo não queria ousar.
Com seu vestido decotado,
Cheirando a guardado de tanto esperar.
Depois os dois deram-se os braços
Como há muito tempo não se usava dar.
E cheios de ternura e graça
Foram para a praça
E começaram a se abraçar.
E ali dançaram tanta dança
Que a vizinhança toda despertou
E foi tanta felicidade
Que toda a cidade
Se iluminou.
E foram tantos beijos loucos,
Tantos gritos roucos
Como não se ouvia mais,
Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz.”
Tenho praticamente a certeza de que encontro assim só não se dá muito mais, antes de tudo, porque sobra amor próprio de lado a lado. Ninguém quer ser vencido. Ninguém quer dar parte de fraco.
Ninguém quer ceder.
Quem não sabe que para além do amor próprio há amor dormindo, amor pisado, maltratado dos dois lados, mas amor… E quando há amor de lado a lado, por mais que os dois se escondam, há dias, há momentos em que uma chispa dispararia a “Valsinha” de Chico…
Mas aqui surge um grande entrave: fosse só os dois eles já teriam se reencontrado. Mas há os insufladores e insufladoras… Há quem pague para encher os ouvidos dos outros com informaçoes, com notícias, com segredos, sempre para azedar e desunir.
Mandem as favas o amor próprio. Vocês se feriram de lado a lado. Mandem passear os intrigantes e as intrigantes, por mais que se cubram com máscara de amigos. E quando a “Valsinha” rebentar, quando a vizinha estiver acordando feliz, quando a cidade estiver se iluminando, me chamem que eu pago para ver e saudar e aplaudir corações que se reencontram.
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