segunda-feira, 24 de junho de 2024

VIVA SÃO JOÃO! Chico Alencar e Marcelo Barros

 Eu louvo João, nesse 24 de junho, o filho de Isabel e Zacarias. E peço, São João: acende a fogueira no nosso coração, nos faz arautos da alegria!

Eu te louvo também por sua profecia, voz que clama no deserto, para que aplainemos do Senhor os caminhos, rumo a tempos de mais justiça e carinho!

Louvo a ti, João Batista, que denunciou como 'raça de víboras' os poderosos políticos e religiosos de seu tempo, e aos pequeninos trouxe alento.

Louvo o João Batista, que ungia com água purificadora, e assim o fez, coberto apenas com pele de camelo, com seu primo Jesus, portador maior da necessária Luz e Zelo.

Louvo João que é único, preso e decapitado pelo rei Herodes mas indo muito além de todos os seus algozes.

Louvo e dou axés para o João que é vário, Xangô Senhor da Justiça, orixá que rege os domínios do fogo, dos raios e das lavas do vulcão: dirige para o bem as incandescências da Natureza, para que delas só nos venham belezas.

Viva o São João das fogueirinhas amenas, que relembram o sinal de fumaça com que Isabel anunciou o nascimento de seu filho à prima Maria, com ternura e critério, e nos aquecem nesses dias já não tão frios no Sul do Hemisfério.

Viva São João da colheita do milho verde, verde também das nossas matas ameaçadas: protegei todas elas da ganância e das queimadas!

"Quero ser sempre um menino, Xangô, das fogueiras de São João! Tome conta do destino, Xangô, da beleza e da razão! Viva São João, viva o milho verde, viva o brilho verde das matas de Oxóssi!" (Viva o louvor de Caetano, Gil e de todos os fiéis festeiros que são muitos, bem mais que mil!).

São João Batista, cuide de nosso destino até o fim!

Óleo sobre tela - Militão dos Santos (2009)

Reflexão da Solenidade da Natividade de São João Batista (Ano B) por Ir. Marcelo Barros, OSB
João Batista e a Profecia de um Tempo Novo - Lc 1,57-66.80
Na tradição das antigas Igrejas, João Batista é o único santo do qual, além de celebrar o martírio no dia 29 de agosto, celebra-se também e principalmente o nascimento no dia 24 de junho. Sem dúvida, as festas juninas são festejos que vêm de culturas anteriores ao Cristianismo que festejavam o solstício de verão no hemisfério Norte. Assim como a celebração do Sol Invencível no solstício de inverno no Norte deu origem à festa de Natal (no século IV), também as celebrações do solstício de verão originaram a celebração do nascimento de João Batista, o precursor de Cristo, conhecido como "Amigo do Esposo" e Testemunha da Palavra de Deus.
No Nordeste do Brasil e em várias outras regiões, as festas juninas tomam um caráter semelhante às antigas festas do nascimento do Sol na Europa e correspondem às festas do Inti Raimi, festas do Rei Sol, na tradição indígena dos Andes. Até hoje, por toda a cordilheira da Bolívia ao Peru e Equador, nesta época de junho, espalham-se essas festas que tinham caráter fortemente religioso em adoração ao Sol e hoje continuam como manifestação das culturas originárias.
Temos de apoiar essas tradições e ver nelas a inspiração divina de que o Amor Divino vem como fogueira iluminar e aquecer nossas noites de inverno, libertando-nos do frio que pode gelar o mais profundo de nossas vidas. A festa do nascimento de São João Batista traz para muitas culturas do nosso povo a recordação de nascimentos que representam o início de uma nova aliança que o Amor Divino vem fazer em nossas vidas.
No texto do evangelho de Lucas que conta o nascimento de João (Lucas 1, 57.66-80), afirma-se que, quando se completaram os tempos, Isabel deu à luz a um filho. E todo o texto se centra na discussão sobre o seu nome. O pai confirma: "Ele se chamará João", que significa "Deus dá a graça". O anjo que anunciou o seu nascimento tinha previsto: "Muitos se alegrarão com o seu nascimento".
No Nordeste do Brasil, a maioria do povo toma essa palavra do anjo ao pé da letra. Seja pelos festejos de mudança de estação, que nos legaram a fogueira, os fogos juninos e as danças características deste tempo, seja pela importância do profeta João Batista para a fé cristã, o povo vive em junho algo do que, no mundo inteiro, se celebra no Natal: a alegria da luz. De fato, originalmente na natureza, essas festas juninas são marcadas pelo solstício de inverno (o sol que ressuscita e recomeça a nos dar dias mais longos e luminosos). No Cristianismo, o nascimento de São João Batista significa um solstício dentro do coração da gente: ele anuncia o nascimento do Sol da Justiça, que é o Cristo.
Para o quarto evangelho, João é o amigo do Esposo que se alegra com a sua vinda. Trata-se da alegria messiânica, uma alegria radical, mesmo no meio das dores da vida, a alegria que antecipa a vitória da salvação, ou seja, da libertação definitiva e revolucionária da vida e do universo. Essa subversão divina é profetizada por dois sinais familiares que parecem milagres e o são em um mundo onde nada é gratuito.
Deus faz a mulher estéril dar à luz e assim iniciar o tempo novo da salvação. No Primeiro Testamento, várias das grandes matriarcas do povo de Deus foram apresentadas como mulheres estéreis: em primeiro lugar, Sara, mulher de Abraão; também Raquel, mulher de Jacó; a mãe de Sansão; e ainda Ana, mãe de Samuel, entre outras figuras. O Salmo 113 diz: “Deus torna a mulher estéril mãe feliz de muitos filhos e filhas”. Em um mundo no qual a esterilidade da mulher era sinal de maldição e instrumento de marginalidade, Deus mostra a sua misericórdia ao abrir o útero das mulheres estéreis. Em hebraico, a compaixão divina é "rahamin" e este termo vem de "rehém", útero. Isso significa que a compaixão solidária de Deus é o amor uterino – amor de mãe que se revela ao abrir o útero estéril de nossas vidas. O nascimento de João Batista revela, em primeiro lugar, que Deus renova o seu amor de compaixão, o seu amor uterino pela humanidade. Este foi o primeiro sinal que provoca alegria no nascimento daquele menino.
O segundo é que Deus faz o pai e patriarca que estava mudo falar e profetizar o novo tempo que surge com esse nascimento. O pai de João Batista era sacerdote e se torna profeta. No entanto, o evangelho sublinha no nascimento a figura da mãe. Ao dar à luz a João (o nome significa "Deus acha graça na gente e nos dá a sua graça"), Isabel abre o mundo ao Novo Testamento.
A festa de hoje revela que o Espírito nos fala e o Reino de Deus já começa, seja quando uma florzinha brota na secura das estradas do mundo, seja quando duas pessoas vivem o amor, seja em todos os gestos de generosidade humana, empoçada no coração de cada um e cada uma de nós. Como no evangelho que conta o nascimento do profeta João Batista, o Amor Divino em nós nos faz passar da esterilidade para a fecundidade, da mudez para a comunhão.
Que Deus abra o útero envelhecido, meio endurecido de nossos corações quando parecemos estéreis e nos faça parir o mundo novo do qual tanto precisamos. Solte nossa língua presa a tantas convenções para dizer: o novo chegou! Somos todos e todas profetas e profetizas dessa alegria messiânica!
Viva São João!


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