sexta-feira, 28 de junho de 2024

Sobre Adélia Prado. Chico Alencar, Embaixada de Portugal no Brasil

 Chico Alencar   · 

MOMENTO

Enquanto eu fiquei alegre,

permaneceram um bule azul com um descascado no bico,

uma garrafa de pimenta pelo meio,

um latido e um céu limpidíssimo

com recém-feitas estrelas.

Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,

constituindo o mundo pra mim, anteparo

para o que foi um acometimento:

súbito é bom ter um corpo pra rir

e sacudir a cabeça. A vida é mais tempo

alegre do que triste. Melhor é ser.

(Adélia Prado)

BOA NOVA! Adélia Prado ganhou o Prêmio Camões, o mais importante da literatura em língua portuguesa. O prêmio é atribuído ao conjunto da obra. 

Adélia já havia conquistado, semana passada, o Prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras (ABL).

“Estou duplamente em festa. Quero dividir minha alegria com todos os amantes da língua portuguesa, essa fonte poderosa de criação”, disse ela.

Nascida em 1935, em Divinópolis (MG), onde reside até hoje, Adélia lecionou por 24 anos. Só publicou o primeiro livro de poemas, “Bagagem”, em 1976.

A poesia de Adélia é memória, é experiência do vivido, é aprofundar sem se afogar. A cada poema seu abre-se uma nova janela para enxergar o mundo com uma cor diferente.

“Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,

mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,

atravessou minha vida,

virou só sentimento.”

Suas palavras honram o tempo, recuperam o passado e aliviam o presente – tão machucado ultimamente.

Sorte a nossa tê-la!

Viva Adélia Prado!

PS: quem sabe o governador Zema, de MG (do Novo/velho), se interessa agora em conhecer sua obra? Em entrevista a rádio da cidade natal da poeta, ano passado, ele mostrou não ter ideia de quem era Adélia, indagando se ela trabalhava ali...

A Embaixada de Portugal no Brasil felicita Adélia Prado pelo Prémio Camões 2024, a maior distinção da literatura em língua portuguesa. Segundo o júri, "Adélia Prado é autora de uma obra muito original, que se estende ao longo de décadas, com destaque para a produção poética. Herdeira de Carlos Drummond de Andrade, o autor que a deu a conhecer e que sobre ela escreveu as conhecidas palavras

"Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo..", Adélia Prado é há longos anos uma voz inconfundível na literatura de língua portuguesa".

Adélia Prado nasceu em Divinópolis, no estado de Minas Gerais, em 1935. O seu primeiro livro de poesia "Bagagens" (1976) foi elogiado por poetas como Drummond de Andrade. "Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo", escreveu

Drummond à época.

Na semana passada, recebeu o conceituado Prêmio Machado de Assis, atribuído pela Academia Brasileira de Letras.


Veja cinco livros para conhecer Adélia Prado, poeta vencedora do Camões
Escritora mineira recebeu o reconhecimento máximo entre os escritores de língua portuguesa
Por Agências
Publicado em 27 de junho de 2024 | 19:01

A poeta Adélia Prado, uma das maiores em atividade no Brasil, foi agraciada dentro de uma semana com os prêmios Machado de Assis e Camões. O primeiro é a principal premiação da ABL, e o segundo é o reconhecimento máximo entre os escritores de língua portuguesa.

Os troféus vieram às vésperas de seu próximo lançamento, "Jardim das Oliveiras", que marca seu retorno à literatura depois de mais de dez anos.

Confira abaixo uma seleção de obras, em poesia e prosa, que marcaram a carreira da escritora mineira.

BAGAGEM (1976)
Editora: Record; R$ 59,90 (144 págs.)

O primeiro livro de Adélia Prado foi lido com empolgação por Carlos Drummond de Andrade. Os poemas reunidos nesta obra abordam temas variados como o amor carnal e divino, as cores e dores da vida e o fazer poético. Mas, apesar da diversidade temática, os textos formam uma unidade, marcados pelo estilo inconfundível da autora.

O CORAÇÃO DISPARADO (1978)
Editora: Record; R$ 59,90 (160 págs.)

O livro vencedor do Prêmio Jabuti se entranha ainda mais na religiosidade, tema que depois se tornou marca de sua obra. Através de poemas míticos, a autora compartilha sua experiência religiosa a partir de vivências de natureza comum.

A FACA NO PEITO (1988) 
Editora: Record; R$ 37,90 (ebook)

Este livro é centrado na figura de Jonathan, um personagem que representa Deus, o sexo masculino e a crença religiosa. Jonathan, para a autora, representa a fuga e a eterna busca por realização.

O HOMEM DA MÃO SECA (1994)
Editora: Record; 192 págs.

Um dos principais trabalhos da autora em prosa, a obra conta a história do casal Antônia e Thomaz. O título faz referência a passagem da Bíblia em que Jesus cura milagrosamente um homem de mão seca, condição que representa a incapacidade humana de dar e receber.

MISERERE (2013)
Editora: Record; R$ 54,90 (96 págs.)

Neste seu livro mais recente, antes que a autora entrasse num "deserto criativo", Prado reúne 38 poemas que articulam lembranças de infância, o desejo de desfrutar o presente e incertezas quanto ao futuro.


Para saber mais:




Adélia Prado, considerada uma das maiores poetas vivas, vence prêmio Machado de Assis

Escritora mineira foi reconhecida pelo conjunto da obra e já inspirou outros grandes nomes da literatura brasileira, como Carlos Drummond e Clarice Lispector


RUBEM ALVES E ADÉLIA PRADO

A poetisa mineira Adélia Prado é a vencedora do Prêmio Camões de Literatura 2024, considerado o mais importante da língua portuguesa. O júri comentou que “Adélia é lírica, bíblica e existencial”. A premiação, no valor de 100 mil euros, é concedida pelos governos de Portugal e do Brasil. Nesta mesma semana, a escritora recebeu o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Adélia Prado é considerada a maior poetisa viva do Brasil. Em sua homenagem, a TV Unicamp resgata um bate-papo imperdível, gravado em 1990, entre a poetisa e o escritor Rubem Alves, na época professor da Unicamp. No encontro, os dois falam sobre literatura, silêncio poético, prosa, licença poética, emoção, produção literária, arte e neurose. Roteiro e apresentação: Silvio Anunciação Imagens: Arquivo TV Unicamp Acervo: Cristina Toledo Edição: Kleber Casabllanca Capa: Paulo Cavalheri Coordenação: Patrícia Lauretti


#Dica para conhecer a obra da escritora Adélia Prado, vencedora do Prêmio Machado de Assis e do Prêmio Camões.
“Poesia Reunida” traz, em um único volume, o imaginário acolhedor de todos os poemas de Adélia Prado contidos nos livros “Bagagem”, “O Coração Disparado”, “Terra de Santa Cruz”, “O Pelicano”, “A Faca no Peito”, “Oráculos de Maio”, “A Duração do Dia” e “Miserere”. A obra conta, ainda, com textos de Carlos Drummond de Andrade e Affonso Romano de Sant’Anna e posfácio de Augusto Massi.
Adélia Prado é uma das mais renomadas autoras brasileiras e sabe como ninguém retratar a alma e os sentimentos femininos em seus poemas, contos e romances. Acostumada a verbalizar em sua obra a perplexidade e o encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico – uma das características de seu estilo único –, a poetisa mineira usa o mais comum da vida cotidiana em um tom doce e apaixonado para recriar a vida do interior mineiro, por meio de uma linguagem inovadoramente feminina.

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RESENHA
Adélia Prado mostra versatilidade em prosa e verso
MARILENE FELINTO
da Equipe de Articulistas

Dois novos livros de Adélia Prado. De novo a versatilidade de escrever bem em verso e em prosa. A coletânea de poemas "Oráculos de Maio" e o romance "Manuscritos de Felipa" são as novidades que chegam juntas às livrarias no dia 3 de abril para ratificar uma reputação poética que se firmou desde o primeiro lançamento, "Bagagem" (1976).
Adélia Prado, 63, ex-professora primária e de filosofia para o segundo grau, mãe, avó -ou, como ela própria se define em uma de suas personagens, "uma dona-de-casa a quem associam pão de queijo e novenas"-, completa agora 11 livros publicados, numa obra de grande latitude de pensamento e de palavra.
Mantêm-se nesses dois novos textos os motivos mais poderosos de seu estilo: a tangência da narrativa com a poesia, a espontaneidade de expressão de uma linguagem poética que lembra a poesia popular (especialmente pela matéria palpável dos temas corriqueiros), mas que a supera, movida principalmente por uma inspiração de fundo religioso.
Adélia Prado é, por um lado, a Christina Rossetti de nosso tempo e em português. Essa poeta inglesa, nascida em 5 de dezembro de 1830, é hoje considerada a grande poeta de vocação religiosa do século 19 na Inglaterra: "Lord, Thou Thyself art Love and/only Thou" (Senhor, Tu mesmo és Amor e somente Tu", diz a poesia de Rossetti. "Allow my plea!/for if Thou disallow" (Aceita a minha súplica! Pois se rejeitas).
"No second fountain can I find but Thee; no second hope and help is left to me." (Nenhuma outra fonte posso encontrar senão a Ti; nenhuma outra esperança ou assistência resta a mim)
Do lado de cá do Equador, nesses tempos mais mundanos, e nessa língua menos nobre (graças a Deus), Adélia Prado responde: "Não há descanso aqui,/estamos no exílio,/edificando móbiles na areia./Os galos sabem,/cantam fora de hora/querendo apressar o dia,/tem deus, tem deus, tem deus (...)".
A diferença é que Adélia Prado (católica) não tem a inclinação monástica da puritana (e anglicana) Christina Rossetti. O texto de Adélia tem corpo, um erotismo de rara beleza ("Meu marido gosta muito de sexo,/mas é também um esposo/capaz de abstinências prolongadas").
Corpo, amor e palavra são a via concreta de uma busca moral e espiritual que vai percorrendo os evangelhos (numa espécie de "Viação São Cristóvão", como é chamado um dos poemas).
Também nesses dois lançamentos da autora está uma das chaves de sua literatura: a reverência a um Deus seu e ao próprio ato de escrever são uma só e única coisa. Os poemas de "Oráculos de Maio" vão do 8 ao 80 na consulta a essa divindade-poesia.
"O Poeta Ficou Cansado" (título de um dos poemas) de ser o "Ajudante de Deus" (título de outro poema). O poeta dialoga com seu deus: "Ó Deus,/me deixa trabalhar na cozinha, nem vendedor nem escrivão,/me deixa fazer Teu pão./Filha, diz-me o Senhor, eu só como palavras".
Em "Manuscritos de Felipa", a mesma reflexão: "Pois é, meu Deus, pois é, meu Senhor, meu Pai Santo, quem sabe se eu escrever sem parar, dia e noite, como um capinador capina sua roça (...). Penetrai-me, ó Espírito Santo (...), falai-me com uma tal voz que mais tenha dela certeza que de minha própria pele: Felipa, você é uma artista, sua roça é aqui, pega seu caderno, seu lápis de boa ponta e capina sem preguiça".
"Manuscritos de Felipa" é um diário assistemático, em que os fatos, os sonhos e as impressões da vida têm peso igual. Um diário "manuscrito" porque entranhado dos borrões, das idas e vindas, dos erros e acertos, dos rabiscos e dos insights da protagonista e narradora Felipa, uma mulher nos conflitos da "terceira idade".
Mas o tema do romance é menos a velhice do que um estado qualquer de nostalgia de uma vida inteira: "Faz muito tempo que estou no mundo", diz a narradora, "certamente nos acomete a todas este arrepio, este fundo no plexo quando os peitos secam, o útero dorme e uma fadiga de que nem no damos conta provoca os que nos rodeiam: você está com muito má postura, o que é isto? Sabemos do que se trata: chegou o futuro".
Nos dois livros, os temas também se tocam, ecoam de um para outro: a saudade da mãe, da infância, do mês de maio como o tempo da bonança, do fim do "desassossego de narrar". Ainda bem para os leitores de Adélia, que ficamos aqui com esse duplo presente.

Livro: Manuscritos de Felipa
Autora: Adélia Prado
Quanto: R$ 17 (161 págs.)

Livro: Oráculos de Maio
Autora: Adélia Prado
Quanto: R$ 15 (131 págs.)
Lançamentos: Siciliano

Fernando Morais
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"Se algum dia morrerem, Lula e seu governo irão para o céu direto, sem pit stop no purgatório. O paraíso será o lugar adequado para a generosidade de um governo de esquerda que indicou a mineira Adélia Prado para receber o Prêmio Camões deste ano. No auge da guerra da extrema-direita contra Dilma, Lula, PT e a esquerda, Adélia Prado foi ao Roda Viva com sua voz de miado encher de porrada a presidente Dilma, Lula, o PT e a esquerda em geral. Um Bolsonaro não prestaria melhores serviços à onda neofascista. Quem quiser ver e ouvir é só pedir “Adelia Prado – Roda Viva”.  Mas Adélia Prado é tão boazinha que acho que só eu e a Marilene Felinto compartilhamos essa opinião."

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